30 novembro 2011

O FUTURO DO PARÁ NAS URNAS - Márcio Zonta

Há menos de um mês do plebiscito que pode definir a divisão do estado do Pará em três – Tapajós, Carajás e Novo Pará –, a primeira pesquisa encomendada ao Datafolha pela TV Tapajós (Santarém), TV Liberal (Belém) e o jornal Folha de S. Paulo revela que a decisão do próximo dia 11 de dezembro tenderia pela não separação do estado paraense.

Carreata favorável à criação de Carajás e Tapajós provoca manifestantes contrários à divisão do Pará - Foto: Antonio Cicero/Folhapress
Há menos de um mês do plebiscito que pode definir a divisão do estado do Pará em três – Tapajós, Carajás e Novo Pará –, a primeira pesquisa encomendada ao Datafolha pela TV Tapajós (Santarém), TV Liberal (Belém) e o jornal Folha de S. Paulo revela que a decisão do próximo dia 11 de dezembro tenderia pela não separação do estado paraense.

Dos 880 eleitores ouvidos em 42 municípios paraenses, entre os dias 7 e 10 de novembro, 58% se manifestaram contra a criação do Estado do Tapajós,– resultando, pela margem de erro, entre 55 e 61%; 33% são favoráveis a divisão – pela margem de erro, somando entre 30 e 36%; e 10% não sabem ou não responderam.

Segundo a pesquisa, os eleitores que votariam contra o novo estado somam 58% – entre 55 e 61%, pela margem de erro; votariam a favor 33% – pela margem de erro, 30 e 36%; e 8% não sabem ou não responderam.

Conforme definiu o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os 4.839.384 eleitores paraenses terão de marcar em uma cédula na cor amarela se são a favor ou contra a divisão do Estado para a criação do estado de Tapajós. Em outra cédula, de cor branca, a escolha será pela divisão ou não do Pará para a criação do estado do Carajás.

Gigante

O Pará é o segundo maior estado do Brasil em superfície, com uma área correspondente a 1.247.689 km2. Ocupa mais de 16% do território nacional, sendo duas vezes maior que o território da França. Ainda, no estado paraense se localiza o maior município do mundo, Altamira, com sua área de 159.696 km2. Caso a pesquisa realizada pelo Datafolha não confirme a composição do estado paraense delimitaria 17% do montante da área do estado ao Pará; Carajás, localizada na região sul ficaria com 35 %; e Tapajós, no oeste do estado ficaria com 58%.

Assim, o provável estado de Carajás seria composto por 39 municípios, tendo Marabá como capital, com uma população estimada em 1,6 milhões de habitantes. O Estado de Tapajós fi caria com 27 cidades, sendo Santarém sua capital, com uma população de cerca de 1,2 milhão de habitantes.

Já o Pará, seria composto por 78 municípios, com população de 4,6 milhões de habitantes, permanecendo Belém como capital. Segundo estudos feitos pelas frentes pró-divisão, o Novo Pará ficaria com quase 56% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, Carajás com 33% das riquezas e Tapajós com 11% do que é atualmente produzido.

Porém, a divisão deixaria, segundo argumentação do grupo que articula campanha contra a divisão do estado, o novo Pará sem 87% dos rios e florestas e 85% das riquezas minerais.

Mineração

Para Raimundo Gomes, presidente do Centro de Educação Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular (Cepasp), a divisão do Pará não resolveria os principais problemas da população.

“Está claro que é uma disputa de recursos da região entre a classe burguesa, sobretudo, pela mineração”.

Onde o estado de Carajás abocanharia 29 municípios com atividade de mineração desenvolvida pela mineradora Vale, entre eles, estaria Parauapebas, cidade detentora da maior mina de ferro do mundo, cujo crescimento econômico é equiparado ao crescimento chinês.

Parauapebas cresceu, em média, 20% ao ano, nos últimos dez anos. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a cidade é a segunda maior exportadora do país em 2011. Com US$ 8,7 bilhões alcançados com minerais.

Gomes reclama: “é um verdadeiro saque sobre nosso minério”, já que as contrapartidas da empresa na região não condizem com seus ganhos. Frederico Drummond Martins, Analista Ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), faz coro com as palavras de Gomes, “hoje R$ 20 milhões ao mês são pagos à prefeitura de Parauapebas pela atividade de mineração, frente um faturamento diário de 50 milhões de dólares bruto”.

O economista Josemir Gonçalves Nascimento, secretário executivo da Associação dos Municípios do Araguaia, Tocantins e Carajás (Anamat) alerta: “A influência da Vale sobre o novo estado será enorme. Só o lucro da companhia em 2010 foi de R$ 30 bilhões, corresponde a mais de dez vezes o valor das receitas previstas para Carajás, que são de R$ 2,9 bilhões”.

O mais violento

Se criado, o Estado de Carajás, já nasceria como o mais violento do Brasil, com o maior índice de homicídio da taxa nacional.

Segundo dados do Mapa da Violência do Ministério da Justiça, referentes a 2008, a taxa de homicídios dolosos de Carajás seria de 68,1 assassinatos por ano para um grupo de 100 mil habitantes.

Índice superior ao registrado no mesmo ano em Alagoas (66 homicídios por 100 mil habitantes) até então estado mais violento do Brasil. Os índices de violência de Carajás deixam, ainda, para trás, o Estado do Rio de Janeiro (33 por 100 mil) e revelam a região como sendo seis vezes mais violenta do que São Paulo (11/100 mil).

Os homicídios, na região que delimitaria o novo estado, também superariam o país mais violento do mundo, Honduras, com 58 assassinatos para 100 mil habitante em 2008.

Das dez cidades mais violentas do Brasil, três estariam no novo Estado de Carajás, Itupiranga,que lidera o ranking nacional, além de Marabá, na quarta posição, inclusive considerada pelo Índice de Vulnerabilidade Juvenil (IVJ) como a cidade mais perigosa do Brasil para jovens entre 19 e 29 anos viverem. Goianésia do Pará viria na sexta posição.

Ainda, Rondon do Pará, Tucuruí, Novo Repartimento, Eldorado dos Carajás, Pacajá, Jacundá, Nova Ipixuna e Parauapebas superariam Honduras nas taxas de homicídios dolosos, segundo o Ministério da Justiça.


Extraído do sítio Brasil de Fato

Ler: Divisão do Pará pode criar três estados deficitários, diz pesquisa do IPEA

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