29 novembro 2011

GLOBO PREPAROU COLLOR CONTRA LULA - Antonio Lassance

Os dois candidatos, em 1989, se cumprimentam antes do debate
Iniciativa teve o consentimento do próprio Roberto Marinho.

José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, principal executivo da Rede Globo à época da campanha presidencial de 1989, diz que orientou Collor antes do debate que antecedeu o segundo turno daquela eleição.

A informação não é nova, mas o importante é que agora ela é confirmada pelo próprio Boni e também por Ali Kamel, atual diretor da Central Globo de Jornalismo, segundo o qual "o episódio era factível no contexto histórico da época". Assim, deixou de ser boato e já pode entrar para a história.

As afirmações de Boni foram feitas em entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto e transmitidas pela Globo News (26/11/2011). Estão também em “O Livro do Boni”. 



"Conseguimos tirar a gravata do Collor, botar um pouco de suor com uma glicerinazinha, e colocamos as pastas todas que estavam ali, com supostas denúncias contra o Lula. Mas estavam vazias", disse Boni.

"Nós fomos procurados pela assessoria do Collor", afirma. Boni foi escalado para que "desse alguns palpites" a Collor para enfrentar Lula no debate. "Todo aquele debate foi produzido", relatou.

O articulista Nelson de Sá, da Folha de São Paulo, reproduz desmentido do hoje senador Fernando Collor, que ao mesmo tempo admite: "meu contato era direto com o doutor Roberto" (Roberto Marinho, então presidente das Organizações Globo).

Ex-executivo da Globo mentiu sobre debate, diz Collor

Nelson de Sá, da Folha de São Paulo, 29/11/2011

Ex-presidente nega ter recebido ajuda de Boni ao se preparar para confronto com Lula na eleição de 1989

Envolvimento com a campanha de Collor teve caráter "pessoal e informal", afirma diretor da Rede Globo

NELSON DE SÁ - ARTICULISTA DA FOLHA

O ex-presidente Fernando Collor reagiu ontem a uma entrevista em que José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, principal executivo da Rede Globo durante a campanha eleitoral de 1989, descreveu os "palpites" que teria dado ao então candidato, antes do debate que antecedeu o segundo turno da eleição.

"Nós fomos procurados pela assessoria do Collor", declarou Boni à Globo News, no sábado. Miguel Pires Gonçalves, então superintendente da Globo, teria pedido a Boni que "desse alguns palpites" para a apresentação de Collor no debate.

"Nunca pedi a ninguém para falar com o Boni, meu contato era direto com o doutor Roberto", rebate Collor, referindo-se a Roberto Marinho, na época presidente das Organizações Globo.

Collor também nega as outras declarações de Boni, que detalhou o que teria feito: "Conseguimos tirar a gravata do Collor, botar um pouco de suor com uma glicerinazinha, e colocamos as pastas todas que estavam ali, com supostas denúncias contra o Lula, mas que estavam vazias ou com papéis em branco".

"Nunca tirei a gravata nos debates. Mentira", rebate Collor. "Suor: nem natural nem aspergido pelo Boni. Glicerina: mais uma viajada na maionese. Pastas vazias: ao contrário, cheias de papéis, números da economia, que sequer utilizei."

Segundo Boni, "todo aquele debate foi produzido", na "parte formal", sendo de Collor "o conteúdo". E novamente, segundo Collor, não houve "debate produzido: um foi na Manchete e o segundo foi na Band". Em "resumo, o Boni despirocou".

GLOBO

Já o atual diretor da Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, diz que "a afirmação de Boni só pode surpreender a quem não acompanha de perto a história da Globo" e que "no livro "Notícias do Planalto" (1999), de Mario Sergio Conti, há referências minuciosas ao episódio". Cita ainda uma entrevista de Boni à revista "Imprensa" em 2010.

O livro, sublinha Kamel, relata como "Roberto Marinho disse que gostaria que ele fizesse essa análise [do primeiro debate] à campanha de Collor, e Boni aceitou dar palpites para o segundo "em caráter pessoal e informal, até mesmo porque pretendia votar no candidato do PRN"".

Segundo Kamel, "foi uma iniciativa do Boni, como cidadão, mesmo que com o consentimento de Roberto Marinho". Ele acrescenta, "com segurança, que, se o episódio era factível no contexto histórico da época, hoje ele seria de todo impossível", na Globo.


Extraído do Blog de Antonio Lassance

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