01 novembro 2011

QUANDO OS SEGREDOS NÃO ESTÃO SEGUROS COM OS JORNALISTAS

Artigo de 31/10/2011. Tradução de Larriza Thurler. Edição de: Leticia Nunes.

Alguns corajosos jornalistas já desafiaram ordens da corte e chegaram a ser presos para manter o compromisso ético de confidencialidade das suas fontes. No entanto, na medida em que se torna cada vez mais fácil grampear telefones e rastrear computadores, a segurança das fontes anônimas depende não apenas da ética dos profissionais de imprensa, mas de suas habilidades computacionais, observa Christopher Soghoian, especialista em privacidade e vigilância governamental da Universidade de Indiana, em artigo no New York Times [27/10/11].

Infelizmente, diz Soghoian, segurança operacional de computadores ainda não é disciplina da maior parte das faculdades de jornalismo e práticas de segurança fracas continuam a ser utilizadas nas redações. Informações confidenciais ainda são enviadas por meio de linhas telefônicas regulares, e-mails ou mensagens de texto de celulares – que são facilmente interceptáveis. Poucos jornalistas usam ferramentas de comunicação seguras, mesmo as disponíveis e fáceis de serem usadas.

Funcionários do governo geralmente tentam fazer com que jornalistas revelem suas fontes por meio de intimações. No entanto, em algumas situações isto não é sequer necessário, porque as fontes já se expuseram por conta de troca de informações sem o devido cuidado. Há, ainda, o monitoramento ilícito por parte do governo americano e de outros países. Há alguns meses, o ministro de Interior da França, Claude Guéant, admitiu que agências de inteligência obtiveram listas detalhadas de telefonemas feitos por um jornalista do Le Monde. Isto permitiu a identificação de uma fonte do governo que revelou informações confidenciais sobre uma investigação sobre a bilionária Liliane Bettencourt.

Investimento

Soghoian frequentemente conversa com jornalistas de grandes veículos, nos EUA e no exterior. Das centenas de conversas que teve nos últimos anos, são raras aquelas em que jornalistas mencionaram o uso de alguma ferramenta de comunicação encriptada. A responsabilidade por esta falha de segurança não é inteiramente dos profissionais, mas também das universidades e organizações de mídia, que não investem recursos para tecnologia em treinamento de segurança.

Em junho de 2010, Bill Keller, então editor-executivo do New York Times, e Alan Rusbridger, editor-chefe do Guardian, debateram sobre as informações confidenciais obtidas pelo WikiLeaks por meio de linhas telefônicas regulares. É preocupante que o NYTimes não tenha meio de segurança de telecomunicações, pois fontes confidenciais ajudaram, na última década, o jornalão a expor diversas operações secretas do governo – incluindo o monitoramento de telefonemas internacionais de milhares de americanos pela Agência de Segurança Nacional em nome da chamada guerra contra o terror. Em outro caso conhecido, agentes do FBI obtiveram, em 2004, de maneira imprópria, registros telefônicos de jornalistas do NYTimes na Indonésia.

WikiLeaks

Muitas organizações de mídia distanciaram-se do WikiLeaks com a justificativa de que a organização não se compromete com o jornalismo e é negligente. No entanto, se a marca de um jornalismo de qualidade é a habilidade de proteger fontes confidenciais, então o WikiLeaks deveria, diz Soghoian, ser visto como um guia de boas práticas. Ao contrário das práticas “vergonhosas” da maior parte dos veículos de comunicação tradicionais, o WikiLeaks tem uma operação de segurança espetacular: mensagens instantâneas encriptadas são usadas para todas as comunicações em tempo real, tecnologia forte de criptografia é usada para proteger arquivos quando eles são passados entre indivíduos, e servidores são escondidos usando o Tor Project, ferramenta de privacidade que permite a comunicação anônima.

Julian Assange, fundador do site, é um especialista em segurança de dados e sabe muito mais sobre o tema do que qualquer jornalista, defende o autor do artigo no Times. Sua plataforma parece ter funcionado, pois nenhuma das fontes confidenciais do WikiLeaks foi, até hoje, exposta pela organização. Bradley E. Manning, membro do Exército americano acusado de vazar informações confidenciais, foi exposto por um conhecido.

Extraído do sítio Observatório da Imprensa

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