31 janeiro 2012

PREDOMINÂNCIA MERKEL-SARKOZY IRRITA PEQUENOS PAÍSES EUROPEUS - Bernd Riegert

Líderes europeus se reúnem em cúpulas cada vez mais frequentes. Apesar disso, muitos se sentem excluídos: Alemanha dá o tom, França acompanha, e Itália também começa a erguer sua voz. Quem manda, afinal na Europa?

Monti, Sarkozy e Merkel. 'Merkonti'?
Na reunião de cúpula da União Europeia, nesta segunda-feira (30/01) em Bruxelas, a chanceler federal Angela Merkel representa o último entre os grandes países da Eurozona a ostentar a nota máxima das agências de rating. A Alemanha é a locomotiva de crescimento da Europa – embora em ritmo mais lento em 2012 – e pode assumir créditos estatais a juros quase nulos.

Esse nível de potência econômica, por si, já garante a Merkel um papel de liderança – o qual ela reconheceu de forma hesitante dois anos atrás, mas que assume com convicção crescente, desde a última conferência de cúpula.

Entretanto, no Fórum Econômico da semana anterior, em Davos, a premiê alemã se recusou a colocar mais dinheiro à disposição para deter o alastramento da crise do euro. Isso, apesar dos conselhos que lhe dão, há meses, o Fundo Monetário Internacional (FMI), os Estados Unidos e vários outros dirigentes da Europa. O topo do bloco europeu tornou-se um lugar muito solitário.

Decisão democrática à la 'Merkozy'

Premiê de Luxemburgo e chefe do Europgrupo, Jean-Claude Juncker
Até o momento, Merkel contou com o apoio presidente francês, Nicolas Sarkozy. Em dois anos de gestão de crise, as posições de ambos se aproximaram, o que foi pretexto para a imprensa cunhar o apelido "Merkozy".

No balneário de Deauville, na Normandia, em outubro de 2010, Merkel e Sarkozy definiram o arcabouço do plano de resgate do euro. Sob pressão alemã, o francês aprovou a participação dos credores; enquanto a premiê confirmou que não deve haver punição automática para os países seriamente endividados.

Nesse ínterim, ambas as decisões foram revogadas. A participação dos credores na Grécia é considerada um erro; e o novo pacto fiscal prevê sanções automáticas. Esse pacto foi desenvolvido por Sarkozy e Merkel praticamente da noite para o dia, no início de dezembro de 2011. "Quem quiser participar, que participe; quem não quiser, tudo bem", comentou Nicolas Sarkozy após uma de suas muitas conversas bilateriais, em Paris.

"Não temos culpa de sermos tão grandes"

Esse estilo de liderança à la "Merkozy" – de apresentar propostas supostamente "irrecusáveis" – já irrita seriamente grande parte dos chefes de Estado e governo da União Europeia. O premiê de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, reclamou numa entrevista ao jornal Handelsblatt: "Rebelo-me contra a impressão de que toda a UE esteja sob conspiração perene da casa de máquinas franco-alemã".

Juncker acusa Merkel e Sarkozy de frequentemente vender, como suas, velhas ideias para a estabilização dos 17 países da Eurozona. Na verdade, afirma, essas sugestões seriam do Eurogrupo, a assembleia dos ministros de Finanças, da qual Juncker é presidente até meados de 2012.

A própria Angela Merkel rebate tais acusações. Com ar inocente, explicou numa coletiva de imprensa, na última semana em Berlim: "Não temos culpa de sermos tão grandes". Não é, absolutamente, que ela dite aos outros o que devem decidir, argumentou a chanceler federal. "E aí não podemos simplesmente ficar olhando e dizer que cada um vai acabar fazendo tudo certo. Também estamos prontos a aprender uns dos outros. Isso não tem nada a ver com dominação."

Falsa santidade

O líder da bancada social-democrata no Parlamento Europeu, Hannes Swoboda, possivelmente expressa os sentimentos de muitos representantes das nações de menor porte da UE, ao reclamar: "Conversei muito com chefes de Estado e governo de países menores. O que realmente os aborrece é esse método de dizer: 'Nós temos uma sugestão. Precisamos implementá-la agora. Não há outra opção. E não se fala mais no assunto'."

Deputado Swoboda: irado com potências europeias

O parlamentar austríaco comentou à Deutsche Welle que todos deveriam se sentar à mesma mesa e procurar uma solução realmente comum. O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, se mostra igualmente descontente com os processos atuais. Ele gostaria de realizar consultas mais estreitas com aqueles países da UE que não têm o euro como moeda corrente, mas que participarão do novo pacto fiscal.

O chefe de governo luxemburguês, Jean-Claude Juncker, também quer evitar que as nações menores saiam prejudicadas. Afinal, a participação per capita da população de seu país no mecanismo de resgate do euro é maior do que a da Alemanha, assinala. Além disso, "não me agrada esse jeito de a Alemanha agir como se tivesse que defender a ortodoxia orçamentária contra os pequenos caloteiros", diz Juncker. E lembra: dos 27 Estados da UE, 17 têm menos dívidas do que a Alemanha.

O futuro é "Merkonti"?

Até o momento, o presidente Sarkozy tem procurado passar aos franceses a impressão de ser aquele quem manda, na dobradinha "Merkozy". Contudo desde que, duas semanas atrás, a França perdeu o rating máximo AAA, e que seus prognósticos econômicos se apresentam bem modestos, está obviamente relativizada sua importância dentro do duo de líderes.

Na luta para ser reeleito em abril próximo, Sarkozy precisa convencer os franceses das vantagens das reformas e da disciplina orçamentária. Intencionalmente, ele procura a proximidade da chanceler alemã – a qual é tida em alta estima na França e até ajudará o amigo, apresentando-se a seu lado durante a campanha eleitoral. Afinal, em 2009, Sarkozy também apoiou os esforços eleitorais de Merkel.

Quem ganha significado crescente na liderança da Europa é o chefe de governo italiano, Mario Monti. O professor de Economia sem filiação partidária impôs em seu país, em curto período de tempo, reformas e planos de contenção que durante anos pareceram impossíveis, sob o regime do escandaloso Silvio Berlusconi.

Monti sabe que o euro só resistirá se a Itália conseguir vencer a crise. Com firmeza, ele pede à Alemanha mais solidariedade – ou seja: mais dinheiro. Um apelo que, por sua vez, não agrada muito a Merkel. Afinal de contas, foram ela e Sarkozy quem pressionaram para que Berlusconi renunciasse, liberando o caminho para Monti.

Merkel, Monti e Sarkozy se encontraram a três, logo antes da cúpula extraordinária – já pela terceira vez, desde meados de dezembro de 2011. Assim, o duo da liderança europeia se amplia, em um trio que já recebeu o apelido "Merkonti".

Extraído do sítio da Deutsche Welle

SÍMBOLO DO DECLÍNIO CUBANO, PORTO REVIVE COM INVESTIMENTO BRASILEIRO - João Fellet

Objetivo de obras é transformar porto em um dos maiores da América Latina. Uma parceria entre Brasil e Cuba pretende transformar o Porto de Mariel, a 40 km de Havana, em um dos maiores da América Latina.


Objetivo de obras é transformar porto em um dos maiores da América Latina. Uma parceria entre Brasil e Cuba pretende transformar o Porto de Mariel, a 40 km de Havana, em um dos maiores da América Latina.

A presidente Dilma Rousseff visita nesta terça-feira o local, que deve se tornar o principal símbolo do recente processo de abertura econômica da ilha.

Serão investidos, em quatro anos, US$ 957 milhões, dos quais US$ 682 milhões (71%) financiados pelo BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social). Trata-se da maior obra em Cuba desde que, em 1959, Fidel Castro liderou a Revolução que o levou ao poder e instaurou o socialismo no país.

Três décadas atrás, o Porto de Mariel foi o local de partida de cerca de 125 mil cubanos que deixaram a ilha caribenha rumo aos Estados Unidos em 1980 atrás de melhores condições de vida e acabou tornando-se um símbolo da derrocada da economia cubana.

O êxodo precedeu o declínio do então maior parceiro econômico de Cuba, a União Soviética, e teve o dedo do presidente Fidel Castro, que, diante de uma onda de invasões da embaixada peruana por cubanos desejosos de emigrar, declarou que todos que quisessem abandonar a pátria poderiam fazê-lo.

A migração em massa dos "marielitos", como ficaram conhecidos, prejudicou as ambições de reeleição do então presidente americano Jimmy Carter quando se descobriu que parte do grupo era integrada por presos e doentes mentais cubanos.

'Zona Especial de Desenvolvimento'

A viagem de Dilma a Cuba ocorre uma semana após a liberação da última parcela do empréstimo à obra, executada pela empresa brasileira Odebrecht, iniciada em 2010 e prevista para terminar em 2014.

Em visita ao porto em setembro, o presidente Raúl Castro, que sucedeu o irmão Fidel em 2008, afirmou: "Esta obra tem uma importância econômica extraordinária, não só para o desenvolvimento presente do país, mas também para o futuro".

O empreendimento inclui uma "zona especial de desenvolvimento" de 400 quilômetros quadrados, que abrigará indústrias voltadas à exportação e ao mercado cubano.

Segundo diplomatas brasileiros, além de ajudar Cuba em sua missão de "atualizar" o socialismo e diversificar suas fontes de receitas, a ampliação do porto abrirá oportunidades de negócios para empresas brasileiras interessadas em se instalar ou expandir as operações na América Central.

E caso os Estados Unidos suspendam seu embargo econômico à ilha, as empresas instaladas no porto terão acesso privilegiado ao maior mercado global, uma vez que Mariel está a apenas 160 km do Estado americano da Flórida.

Fábrica de vidro
"Esta obra tem uma importância econômica extraordinária, não só para o desenvolvimento presente do país, mas também para o futuro." Raúl Castro, Presidente de Cuba
Por ora, uma companhia brasileira – a fabricante de vidro Fanavid – já se prepara para abrir uma unidade no local, em associação com o governo cubano. Cerca de 80% da produção da fábrica deverá se destinar à exportação.

As obras em Mariel incluem ainda ações para facilitar o acesso de produtos ao porto, como a reforma de mais de 30 km de estradas e a construção de 18 km de rodovias, 63 km de estrutura para ferrovias e quase 13 km de vias ferroviárias.

Com a dragagem do porto, que permitirá seu uso por navios de grande calado, ele poderá movimentar 1 milhão de contêineres por ano. Comparado com portos brasileiros, Mariel só terá capacidade inferior ao de Santos, que em 2011 movimentou 2,7 milhões de contêineres.

Também serão construídos 700 metros de cais para o terminal de contêineres, um centro de carga, pátios, redes de abastecimento de água e tratamento de resíduos, além de toda infraestrutura para o fornecimento de energia elétrica.

Atualmente 2,7 mil trabalhadores atuam nas obras; após a conclusão do porto, espera-se que ele gere 3 mil empregos diretos e 5 mil indiretos.

Notoriedade histórica

Com a reabertura de Mariel, o porto deve recuperar a notoriedade que experimentou há décadas, mesmo antes do êxodo dos "marielitos" rumo à Flórida, em 1980.

Em 1962, auge da Guerra Fria e no caso que ficou conhecido como a Crise dos Mísseis de Cuba, aviões americanos fotografaram sete barcos lança-mísseis Komar, de fabricação soviética, ancorados no porto.

A descoberta gerou temores nos Estados Unidos de que os soviéticos estivessem se preparando para um ataque nuclear às terras americanas, suspeita reforçada após a divulgação de imagens que mostravam cerca de 40 silos para abrigar armas atômicas em Cuba.

Em discurso, o presidente americano John F. Kennedy ameaçou atacar Cuba caso o país se tornasse uma base militar soviética. Uma semana depois, o Senado americano aprovou o uso da força para garantir a segurança dos Estados Unidos diante da ameaça das instalações russas.

Já Nikita Kruschev, à época o primeiro-ministro soviético, disse que os mísseis visavam apenas defender Cuba de eventuais invasões. A precaução se justificava por acontecimento do ano anterior, quando cubanos residentes na Flórida patrocinados pelos Estados Unidos fracassaram após tentar invadir Cuba pela baía dos Porcos. Os temores de que a Crise dos Mísseis poderia desencadear uma guerra nuclear, porém, jamais se concretizaram.


Extraído do sítio da BBC Brasil

BLOQUEIO CONTRA CUBA: SEM MUDANÇAS APÓS MEIO SÉCULO DE OFICIALIZADO

Havana (Prensa Latina) Há meio século de oficializado, o bloqueio econômico, comercial e financeiro dos Estados Unidos contra Cuba segue intacto, apesar de não conseguir seus objetivos e receber a rejeição quase unânime da comunidade internacional.


Em 3 de fevereiro de 1962, o então presidente norte-americano, Jonh F. Kennedy, decretou a proclama 3447, que deu luz verde a uma política de estrangulamento colocada em prática a partir do triunfo da revolução na ilha, em 1 de janeiro de 1959.

"Um total de nove administrações, tanto republicanas como democratas, têm mantido e com frequência recrudescido a sanção, a qual Washington se empenha em identificar com o nome de embargo" e o argumento de que "é um tema bilateral".

A Lei Torricelli -promulgada em 1992 por George Bush- foi um dos mecanismos adotados para apertar o cerco, cerceando o comércio de medicamentos e alimentos de Cuba com as subsidiárias de companhias estadunidenses assentadas em terceiros países.

Outra prova da extraterritorialidade do bloqueio e da busca de sua intensificação chegou em 1996, quando a Casa Branca pôs em vigor sob o governo de William Clinton a Lei Helms-Burton.

Praticamente não escapa nenhum setor na ilha ao impacto de uma medida condenada 20 vezes consecutivas na Assembleia Geral de Nações Unidas, a mais recente em outubro passado por 186 países, com Estados Unidos e Israel como seus únicos defensores.

Segundo cálculos moderados, os danos econômicos ocasionados pela sanção superam os 104 bilhões de dólares, cifra que rondaria os 975 bilhões se se considera a depreciação dessa divisa em frente ao ouro nas últimas décadas.

A propósito do objetivo explícito de provocar insatisfação econômica, fome, desespero e o derrocamento do governo cubano, o chanceler Bruno Rodríguez recém recordou na ONU a Convenção de 1948 contra o Genocídio.

Esta, em seu artigo 2 inciso b, qualifica como ato de genocídio a "lesão grave à integridade física ou mental dos membros do grupo" e em seu inciso c, a "submissão intencional do grupo a condições de existência que tenham de acarretar sua destruição física, total ou parcial", assinalou ante a Assembleia Geral.

Obama e o discurso da flexibilização 

Consciente da rejeição do bloqueio no mundo e em sintonia com a pretensão de mostrar-se como uma mudança na agressividade tradicional dos Estados Unidos, seu atual presidente, Barack Obama, e servidores públicos de sua administração mencionam uma suposta flexibilidade no cerco. Cuba desmente tais comentários, ao amparo de sistemáticas evidências do impacto do bloqueio e de seu recrudescimento.

"O bloqueio e as sanções permanecem intactos, em completa aplicação (... ) Como característica distintiva do período do presidente Obama, se reforça a perseguição às transações financeiras cubanas em todo mundo, sem respeito às leis de terceiros países nem a oposição de seus governos", advertiu no ano passado na ONU o chanceler Rodríguez.

Multas a estadunidenses por viajar à ilha e castigos a empresas e bancos por negociar com Havana constituem provas da vigência, engrossadas no final de 2011 em Trinidad e Tobago, onde teve que ser mudada a sede da IV Cúpula Caricom-Cuba -prevista no Hotel Hilton- por pressões de Washington.

Ao intervir em dezembro último no Oitavo Período Ordinário da Assembleia Nacional do Poder Popular, o presidente Raúl Castro ratificou a proposta de avançar para a normalização dos vínculos com Estados Unidos, apesar da continuidade de sua política hostil.

"Ao mesmo tempo em que atualizamos nosso socialismo, mudando tudo o que deve ser mudado, o governo dos Estados Unidos segue ancorado no passado", apontou.

Raúl Castro considerou que a administração de Obama -o décimo primeiro chefe da Casa Branca desde 1959- inventa pretextos "a cada vez mais insustentáveis" para justificar o bloqueio.

O mandatário ratificou ademais a vontade dos cubanos de defender a revolução e potenciar o desenvolvimento socioeconômico do país, ainda sob a continuidade da unilateral medida com já meio século em vigor.

"Com equanimidade e paciência, nos dedicaremos a cumprir os acordos do Congresso enquanto decorrem as eleições estadunidenses".

"Sabemos que o bloqueio continuará e que se incrementará o financiamento e as tentativas de converter a um punhado de mercenários em uma oposição desestabilizadora, mas isso não lhe tira o sonho a um povo revolucionário...", advertiu.

Em abril de 2011, o VI Congresso do Partido Comunista de Cuba aprovou alinhamentos dirigidos a atualizar o modelo econômico do país.

O fracasso de uma política 

A saúde é um dos setores mais atacados pelo bloqueio em suas cinco décadas de aplicação; no entanto, a ilha mostra nessa área indicadores à altura do chamado Primeiro Mundo.

Proibições e obstáculos no acesso a tecnologias, equipes e medicamentos fazem parte do arsenal empregado por Washington contra Cuba, que fechou 2011 com uma mortalidade infantil abaixo do cinco por cento pela cada mil nascidos vivos e uma taxa de sobrevivência em menores de cinco anos do 99,4 por cento.

Todos os resultados que podemos mostrar ante o mundo, os conseguimos apesar dos 50 anos do férreo e brutal bloqueio dos Estados Unidos, destacou o ministro cubano de Saúde Pública, Roberto Morales.

De acordo com o titular, o impacto econômico da sanção supera no setor os dois bilhões de dólares.

A vontade política do governo tem permitido garantir o mais sagrado dos direitos cidadãos sob tão complexo cenário, disse Morales no ano passado, poucos dias antes da condenação -por vigésima ocasião- à unilateral medida nas Nações Unidas.

Também em educação, igualdade de gênero, segurança alimentar e proteção do meio ambiente a ilha apresenta avanços reconhecidos internacionalmente, cumprindo assim a maioria das metas do milênio fixadas por ONU para 2015.

Extraído do sítio da Agência Prensa Latina

DILMA CONDENA BLOQUEIO ECONÔMICO A CUBA - Luciana Lima

Brasília – Ao visitar Cuba pela primeira vez como presidenta da República, Dilma Rousseff condenou o bloqueio econômico imposto ao país. Segundo a presidenta brasileira, a melhor forma de o Brasil ajudar o país caribenho é furar esse bloqueio e continuar investindo em parcerias que também são estratégicas para o Brasil.


"Eu acredito que a grande contribuição que nós podemos dar aqui, a Cuba, é ajudar a desenvolver todo o processo econômico", disse. "A melhor forma de o Brasil ajudar Cuba é contribuir para acabar com esse processo, que eu considero que não leva à grande coisa, leva mais à pobreza das populações que sofrem a questão do bloqueio, a questão do embargo, do impedimento do comércio".

Dilma citou as iniciativas brasileiras em Cuba que ela considera estratégicas, como a política de crédito para compra de alimentos. Por meio de um crédito rotativo, o Brasil financia para Cuba a compra de produtos alimentícios brasileiros. Essa linha oferece US$ 400 milhões em crédito.

Além disso, o programa federal Mais Alimentos financia a compra de máquinas e equipamentos para a produção de alimentos em Cuba. Nessa modalidade, o crédito oferecido ao país caribenho é de US$ 200 milhões, de acordo com informações da própria presidenta. "É impossível considerar correta a política de bloqueio de alimentos para um povo", enfatizou.

Dilma também citou a parceria para a ampliação e modernização do Porto de Mariel, estratégico para o comércio externo do país. "Trata-se de um sistema logístico de exportações de bens", disse. Dos cerca de US$ 900 milhões investidos no porto, o Brasil contribui com cerca de US$ 640 milhões. "Nós achamos que é fundamental que se crie aqui condições de estabilidade para o desenvolvimento do povo cubano", disse a presidenta.

Extraído do sítio da Agência Brasil

DILMA EVITA DISCUTIR DIREITOS HUMANOS EM CUBA E DIZ QUE BRASIL TEM "TELHADO DE VIDRO" - Luciana Lima

Brasília – A presidenta Dilma Rousseff disse hoje (31), na capital cubana, Havana, que sua posição é a de defender os direitos humanos de maneira global e não tratar dos assuntos ligados a violações específicas atribuídas a Cuba. "O mundo precisa se comprometer em geral. Não é possível fazer da política de direitos humanos só uma arma de interesse político e ideológico. O mundo precisa se convencer que é algo que todos os países do mundo têm de se responsabilizar, inclusive o nosso", disse a presidenta.


A visita oficial da presidenta brasileira à ilha caribenha vem sendo cercada de expectativa sobre seu posicionamento em relação às liberdades individuais, principalmente por parte de dissidentes do regime comunista no país. Dilma sinalizou que não tratará desse assunto com as autoridades locais dizendo que o Brasil, em matéria de direitos humanos, também tem "telhado de vidro".

"Quem atira a primeira pedra tem telhado de vidro. Nós, no Brasil, temos os nossos", alertou a presidenta em entrevista coletiva. "Eu concordo em falar de direitos humanos dentro de uma perspectiva multilateral. Acho que esse é um compromisso de todos os povos civilizados. Há necessariamente muitos aspectos a serem considerados, mas, de fato, é algo que nós temos que melhorar no mundo de maneira geral”, destacou Dilma.

Ontem (30), dissidentes cubanos chegaram a dizer que não esperavam que a presidenta fosse interceder junto ao governo de Cuba sobre as questões relativas à liberdade de expressão. O posicionamento de Dilma diante do tema, no entanto, vem sendo esperado pela blogueira cubana Yoani Sanchez, que enviou uma carta à presidenta pedindo sua interferência para que ela consiga autorização do governo cubano para deixar o país e viajar ao Brasil.

Dilma, no entanto, deixou claro que a ação do Brasil se limitará à concessão de visto de turista, o que já ocorreu na semana passada. "O Brasil deu seu visto para a blogueira. Os demais passos não são da competência do governo brasileiro", disse a presidenta.

Extraído do sítio da Agência Brasil

30 janeiro 2012

FERNANDO MORAIS VERSUS YOANI SÁNCHEZ - Altamiro Borges

Conhecido defensor de Cuba e um dos jornalistas mais renomados do Brasil, autor do clássico “A Ilha” e do recém-lançado “Os últimos soldados da guerra fria”, Fernando Morais não se curva diante do endeusamento midiático da dissidente Yoani Sánchez. De Porto Alegre, onde participou do Fórum Social Temático, ele foi taxativo: “Não mexerei um palito pela blogueira cubana”.

O motivo é simples. Para ele, toda a campanha midiática em defesa de Yoani Sánchez e as críticas à revolução cubana “só ajudam o inimigo” – os Estados Unidos, que mantêm um criminoso bloqueio à ilha. “Sou defensor da liberdade de expressão. Mas, em primeiro lugar, defendo o direito de 11 milhões de cubanos que estão sendo espezinhados pelos americanos”.

Sem inocência diante dos EUA

Fernando Morais participou de um debate na sexta-feira (27) sobre o seu novo livro, “Os últimos soldados da guerra fria”, que trata da prisão e condenação nos EUA dos cinco cubanos que investigavam as ações terroristas da máfia de Miami. Ele conhece a fundo as provocações patrocinadas e financiadas pelo império contra a revolução cubana e não se ilude com o alarde midiático.

“Já perdi a inocência com os Estados Unidos. Na política externa, não faz a menor diferença se é democrata ou republicano. Quem meteu os americanos nas piores aventuras externas foram os democratas”, argumentou. Para ele, o governo Obama “não mudou absolutamente nada” nas relações com Cuba e mantém o bloqueio, as provocações e os subsídios à conspiração na ilha. 

Em defesa da soberania cubana

“Em nome das minhas convicções, não posso apoiar uma moça que vem dedicando sua vida a combater a revolução. Eu não vou mexer um palito para que essa moça venha ao Brasil”, concluiu. Fernando Morais reconhece que há erros e limitações em Cuba, mas afirma que isto não justifica as tentativas do império para derrubar o regime cubano, ferindo sua soberania e independência.

Extraído do Blog do Miro

A REVOLTA DA BURGUESIA ASSALARIADA - Slavoj Žižek

Embora os protestos sociais em curso nos países ocidentais desenvolvidos pareçam indicar o renascimento de um movimento emancipatório radical, uma análise mais detalhada nos compele a elaborar uma série de distinções precisas que, de alguma forma, embaçam essa clara imagem. Três coisas caracterizam o capitalismo de hoje: a tendência de longo prazo de transformação do lucro em renda (em suas duas principais formas: a renda do “conhecimento comum” privatizado e a renda pelos recursos naturais); o papel estrutural mais forte do desemprego (a própria chance de ser “explorado” em um emprego duradouro é percebida como um privilégio); e a ascensão de uma nova classe que Jean-Claude Milner chama de “burguesia assalariada” [Veja Jean-Claude Milner, Clartes de tout, Paris, Verdier, 2011].

Recriação do jogo Monopoly instalada por Banksy no acampamento do Occupy London
Para explicar a relação entre estas características, comecemos com Bill Gates: como ele se tornou o homem mais rico do mundo? Sua riqueza não tem nada a ver com o custo de produção daquilo que a Microsoft vende (pode-se até mesmo argumentar que a Microsoft paga a seus trabalhadores intelectuais um salário relativamente alto), isto é, a riqueza de Gates não é o resultado de seu sucesso em produzir bons softwares por preços mais baixos do que seus concorrentes ou por uma “maior exploração” de seus trabalhadores intelectuais contratados. Se este fosse o caso, a Microsoft teria ido a falência há muito tempo: as pessoas teriam optado massivamente por programas como Linux que são de graça e, de acordo com especialistas, de melhor qualidade que os programas da Microsoft. Por que, então, existem milhões de pessoas que ainda compram Microsoft? Porque a Microsoft se impôs como um padrão quase universal, “quase” monopolizando o setor, uma espécie de personificação direta daquilo que Marx chamou de General Intellect (Intelecto Coletivo), o conhecimento coletivo em todas as suas dimensões, da ciência ao prático know how. Gates se tornou o homem mais rico em algumas décadas através da apropriação da renda pela permissão de que milhões participem na forma do “intelecto coletivo” que ele privatizou e controla.

Deve-se transformar criticamente o aparato conceitual de Marx: por causa de sua negligência em relação à dimensão social do “intelecto coletivo”, Marx não vislumbrou a possibilidade de privatização do próprio “intelecto coletivo”. É isto que está no coração da luta contemporânea pela propriedade intelectual: a exploração tem cada vez mais a forma de renda, ou, como diz Carlo Vercellone, o capitalismo pós-industrial é caracterizado pelo “tornar-se renda do lucro” [Veja Capitalismo cognitivo, editado por Carlo Vercellone, Roma, manifestolibri, 2006]. Em outras palavras, quando, por conta do papel crucial do “intelecto coletivo” (conhecimento e cooperação social) na criação de riqueza, as formas de riqueza se tornam cada vez mais desproporcionais em relação ao tempo de trabalho diretamente empregado na produção, o resultado não é, como Marx parecia esperar, a autodissolução do capitalismo, mas a transformação gradual do lucro gerado pela exploração da força de trabalho em renda apropriada pela privatização do “intelecto coletivo”. 

O mesmo acontece com os recursos naturais: sua exploração é uma das maiores fontes de renda hoje, acompanhada da luta permanente pra saber quem ficará com esta renda – os povos do Terceiro Mundo ou as corporações ocidentais (a suprema ironia é que, para explicar a diferença entre força de trabalho – que, em seu uso, produz mais-valia sobre seu próprio valor – e outras mercadorias – que somente consomem seu próprio valor em seu uso e, portanto, não envolvem exploração -, Marx menciona como exemplo de uma mercadoria ordinária o petróleo, a própria mercadoria que hoje é a fonte de extraordinários “lucros”…). Aqui também não faz sentido vincular as altas e baixas do preço do petróleo com altos e baixos custos de produção ou preços do trabalho explorado – custos de produção são negligenciáveis, o preço que pagamos pelo petróleo é a renda que pagamos para os proprietários deste recurso por conta de sua escassez e oferta limitada.

A consequência deste crescimento na produtividade alavancado pelo impacto exponencialmente crescente do conhecimento coletivo é a transformação do papel do desemprego: embora o “desemprego seja estruturalmente inseparável da dinâmica de acumulação e expansão que constitui a própria natureza do capitalismo enquanto tal” [Fredric Jameson, em Representing Capital, Londres, Verso Books, 2011, p. 149], o desemprego adquiriu atualmente um papel qualitativamente diferente. Naquilo que, possivelmente, é o ponto extremo da “unidade dos opostos” na esfera da economia, é o próprio sucesso do capitalismo (crescimento produtivo etc.) que produz desemprego (produz mais e mais trabalhadores inúteis) – o que deveria ser uma benção (menos trabalho duro necessário) se torna uma sina. O mercado global é, assim, em relação a sua dinâmica imanente, “um espaço no qual todos já foram, um dia, trabalhadores produtivos, e no qual o trabalho, em todos os lugares, foi aos poucos retirando-se do sistema” [Fredric Jameson, em Valences of the Dialetic, Londres, Verso Books, 2009, p. 580-1]. Isso é, no atual processo de globalização capitalista, a categoria dos desempregados adquire uma nova qualidade além da clássica noção de “exército industrial de reserva”: devemos considerar em relação a categoria do desemprego “aquelas enormes populações, que ao redor do mundo foram ‘expulsas da história’, que foram deliberadamente excluídas dos projetos modernizadores do capitalismo de primeiro mundo e apagadas como casos terminais sem esperança” [Jameson, em Representing Capital, p. 149]: os assim chamados estados falidos (Congo, Somália), vítimas da fome ou de desastres ecológicos, presos a “rancores étnicos” pseudo-arcaicos, objetos da filantropia e das ONGs, ou (frequentemente os mesmos personagens) da “guerra contra o terror”. A categoria dos desempregados deve assim ser expandida para agregar uma população de largo alcance, dos temporariamente desempregados, passando pelos não mais empregáveis, até pessoas vivendo nas favelas e outras formas de guetos (todos aqueles desconsiderados pelo próprio Marx como “lúmpem-proletariado”) e, finalmente, áreas inteiras, populações ou estados excluídos do processo capitalista global, como os espaços em branco nos mapas antigos.

Mas esta nova forma de capitalismo não traz também uma nova perspectiva de emancipação? Nisto reside a tese de Hardt e Negri em Multidão: guerra e democracia na Era do Império [Rio de Janeiro: Record, 2005] onde eles pretendem radicalizar Marx, para quem o capitalismo corporativo altamente organizado já era uma forma de “socialismo dentro do capitalismo” (uma espécie de socialização do capitalismo, com os proprietários tornando-se cada vez mais supérfluos), de maneira que seria necessário apenas cortar a cabeça do proprietário nominal e nós teríamos socialismo. Para Hardt e Negri, entretanto, a limitação de Marx foi estar historicamente limitado ao trabalho industrial mecanicamente industrializado e hierarquicamente organizado, razão pela qual a sua visão de “intelecto coletivo” seria como uma agência central de planejamento; somente hoje, com a elevação do trabalho imaterial ao padrão hegemônico, a transformação revolucionária se torna “objetivamente possível”. Esse trabalho imaterial se desdobra entre dois pólos: trabalho (simbólico) intelectual (produção de ideias, códigos, textos, programas, figuras etc. por escritores, programadores…) e trabalho afetivo (aqueles que lidam com afecções corpóreas, de médicos a babás e aeromoças). O trabalho imaterial é hoje hegemônico no sentido preciso em que Marx proclamou que, no capitalismo do século XIX, a produção industrial em larga escala era hegemônica, como a cor específica dando o tom da totalidade – não quantitativamente, mas cumprido um papel chave, emblematicamente estrutural. Assim, o que surge é um inédito vasto domínio dos “comuns”: conhecimento compartilhado, formas de cooperação e comunicação etc. que não podem mais ser contidos na forma da propriedade privada – por quê? Na produção imaterial, os produtos já não são objetos materiais, mas novas relações sociais (interpessoais) – em suma, a produção imaterial já é diretamente biopolítica, produção de vida social.

A ironia é que Hardt e Negri se referem aqui ao próprio processo que os ideólogos do capitalismo “pós-moderno” celebram como a passagem da produção material para a simbólica, da lógica centralista-hierárquica para a lógica da autopóiese e da auto-organização, cooperação multi-centralizada etc. Negri é aqui efetivamente fiel a Marx: o que ele tenta provar é que Marx estava certo, que a ascensão do intelecto coletivo é, em longo prazo, incompatível com o capitalismo. Os ideólogos do capitalismo pós-moderno estão afirmando exatamente o oposto: é a teoria marxista (e sua prática) que permanecem dentro dos limites de uma lógica hierárquica e sob controle centralizado do Estado, e assim não conseguem lidar com os efeitos sociais da nova revolução informacional. Existem boas razões empíricas para esta afirmação: de novo, a suprema ironia da história é que a desintegração do Comunismo é o exemplo mais convincente da validade da tradicional dialética marxista entre forças produtivas e relações de produção com a qual o marxismo contou na sua tentativa de superar o capitalismo. O que arruinou efetivamente os regimes Comunistas foi sua inabilidade em acomodar-se à nova lógica social sustentada pela “revolução informacional”: eles tentaram dirigir esta revolução com um novo projeto de planejamento estatal centralizado de larga escala. O paradoxo, assim, é que aquilo que Negri celebra como chance única de superação do capitalismo, é exatamente o que os ideólogos da “revolução informacional” celebram como ascensão de um novo capitalismo “sem fricção”.

A análise de Hardt e Negri possui três pontos fracos que, em sua combinação, explicam como o capitalismo pode sobreviver ao que deveria ser (em termos marxistas clássicos) uma nova organização da produção que o tornaria obsoleto. Ela subestima a extensão do sucesso do capitalismo contemporâneo (pelo menos em curto prazo) de privatizar o “conhecimento comum”, assim como a extensão com que, mais do que a burguesia, são os próprios trabalhadores que se tornam “supérfluos” (número cada vez maior deles torna-se não somente desempregado, mas estruturalmente inempregável). Além disso, mesmo que seja verdade, em princípio, que a burguesia está progressivamente se tornando desfuncional, deve-se qualificar esta afirmação – desfuncional para quem? Para o próprio capitalismo. Isto quer dizer que, se o velho capitalismo envolvia idealmente um empreendedor que investia dinheiro (seu ou emprestado) em produção organizada e dirigida por ele próprio, recolhendo o lucro, hoje está surgindo um novo tipo ideal: não mais o empreendedor que possui sua própria empresa, mas o gerente especialista (ou um conselho administrativo presidido por um CEO) de uma empresa de propriedade dos bancos (também dirigidos por gerentes que não possuem os bancos) ou investidores dispersos. Neste novo tipo ideal de capitalismo sem burguesia, a velha burguesia desfuncional é refuncionalizada como gerentes assalariados – a nova burguesia recebe cotas, e mesmo se ela possui uma parte na empresa, eles recebem as ações como parte da remuneração pelo trabalho (“bônus por sua gerência bem sucedida”).

Esta nova burguesia ainda se apropria da mais-valia, mas da forma mistificada daquilo que Milner chama de “mais-salário”: em geral, a eles é pago mais do que o salário mínimo do proletário (este ponto de referência imaginário – frequentemente mítico – cujo único verdadeiro exemplo na economia global de hoje é o salário de um trabalhador numa sweat-shop na China ou na Indonésia), e é esta diferença em relação aos proletários comuns, esta distinção, que determina seu status. A burguesia no sentido clássico, assim, tende a desaparecer. Os capitalistas reaparecem como um subconjunto dos trabalhadores assalariados – gerentes qualificados para ganhar mais por sua competência (razão pela qual a “avaliação” pseudo-científica que legitima os especialistas a ganharem mais é crucial hoje em dia). A categoria dos trabalhadores que recebem mais-salário não está, obviamente, limitada aos gerentes: ela se estende a todos os tipos de especialistas, administradores, funcionários públicos, médicos, advogados, jornalistas, intelectuais, artistas… O excesso que eles recebem tem duas formas: mais dinheiro (para gerentes etc.), mas também menos trabalho, isto é, mais tempo livre (para alguns intelectuais, mas também para setores da administração estatal).

O procedimento de avaliação que qualifica alguns trabalhadores para receberem mais-salário é, claramente, um mecanismo arbitrário de poder e ideologia sem nenhuma ligação séria com a competência real – ou, como diz Milner, a necessidade de mais-salário não é econômica, mas política: para manter uma “classe média” com o propósito de estabilidade social. A arbitrariedade da hierarquia social não é um erro, mas todo o seu propósito, de forma que a arbitrariedade da avaliação cumpre um papel homólogo à arbitrariedade do sucesso de mercado. Isto é, a violência ameaça explodir não quando existe muita contingência no espaço social, mas quando se tenta eliminar esta contingência. É neste nível que se deve buscar pelo que se pode chamar de, em termos um tanto vagos, a função social da hierarquia. Jean-Pierre Dupuy [em La marque du sacre, Paris, Carnets Nord, 2008] concebe a hierarquia como um dos quatro procedimentos (“dispositivos simbólicos”) cuja função é fazer com que a relação de superioridade não seja humilhante para os subordinados: ahierarquia (a ordem externamente imposta de papéis sociais em clara contraposição ao valor imanente dos indivíduos – eu, portanto, experimento meu menor status social como totalmente independente do meu valor intrínseco); a desmistificação (o procedimento crítico-ideológico que demonstra que as relações de superioridade/inferioridade não estão fundamentadas na meritocracia, mas são resultado de lutas objetivamente ideológicas e sociais: meu status social depende de processos sociais objetivos, não de méritos – como diz Dupuy sarcasticamente, a desmistificação social “cumpre o mesmo papel, em nossas sociedades igualitárias, competitivas e meritocráticas do que a hierarquia nas sociedades tradicionais” [p. 208] – isto nos permite evitar a conclusão dolorosa de que “a superioridade do outro é o resultado de seus méritos e conquistas”; a contingência (o mesmo mecanismo, porém sem a sua forma crítico-social: nossa posição em escala social depende de uma loteria natural e social – sortudos são aqueles que nascem com melhores disposições e em famílias ricas); a complexidade (superioridade ou inferioridade dependem de um processo social complexo independente das intenções ou méritos dos indivíduos – digamos, a mão invisível do mercado pode causar o meu fracasso ou o sucesso do meu vizinho, mesmo que eu tenha trabalhado muito mais e seja muito mais inteligente). Ao contrário do que parece, todos estes mecanismos não contestam ou sequer ameaçam a hierarquia, mas a tornam palatável, uma vez que “o que desencadeia o turbilhão da inveja é a ideia de que o outro merece a sua sorte e não a ideia oposta, a única que pode ser abertamente expressa” [p.211]. Dupuy extrai desta premissa a conclusão (óbvia, para ele) de que é um grande erro pensar que uma sociedade que seja justa e que se perceba como justa será assim livre de todo o ressentimento – ao contrário, é precisamente em tal sociedade que aqueles que ocupam posições inferiores encontraram uma válvula de escape para seu orgulho ferido em violentas explosões de ressentimento.

Aí reside um dos maiores impasses da China hoje: o objetivo ideal das reformas de Deng Xiaoping era introduzir um capitalismo sem burguesia (como classe dominante); agora, entretanto, os líderes chineses estão descobrindo dolorosamente que o capitalismo sem hierarquia estável (conduzida pela burguesia como nova classe) gera permanente instabilidade – portanto, que caminho tomará a China? Mais genericamente, esta é possivelmente a razão pela qual (ex-)comunistas reaparecem como os mais eficientes gestores do capitalismo: sua histórica inimizade com a burguesia enquanto classe se encaixa perfeitamente na tendência do capitalismo contemporâneo em direção a um capitalismo gerencial sem burguesia – em ambos os casos, como Stalin disse a muito tempo, “os quadros decidem tudo” (está surgindo também uma diferença interessante entre a China de hoje e a Rússia: na Rússia os quadros universitários eram ridiculamente mal pagos, eles de fato se confundiam com os proletários, enquanto na China eles são bem remunerados com um “mais-salário” como meio de garantir sua docilidade). 

Além disso, esta noção de “mais-salário” também nos permite lançar novas luzes sobre os atuais protestos “anti-capitalistas”. Em tempos de crise, o candidato óbvio para “apertar os cintos” são os níveis mais baixos da burguesia assalariada: uma vez que o seu mais-salário não cumpre nenhum papel econômico imanente, a única coisa que permite diferenciá-los do proletariado são seus protestos políticos. Embora estes protestos sejam nominalmente dirigidos pela lógica brutal do mercado, eles efetivamente protestam contra a gradual corrosão de sua posição econômica (politicamente) privilegiada. Lembremos da fantasia ideológica favorita de Ayn Rand (de seu Atlas Shrugged), a de “criativos” capitalistas em greve – esta fantasia não encontra sua realização perversa nas greves de hoje, que em sua maioria são greves da privilegiada “burguesia assalariada” motivada pelo medo de perder seu privilégio (o excedente sobre o salário mínimo)? Não são protestos proletários, mas protestos contra a ameaça de ser reduzido à condição proletária. Isto quer dizer: quem ousa se manifestar hoje, quando ter um emprego permanente já se tornou um privilégio? Não os trabalhadores mal pagos (no que sobrou) da indústria têxtil etc. mas o estrato de trabalhadores privilegiados com empregos garantidos (muitos da administração estatal, como a polícia e os fiscais da lei, professores, trabalhadores do transporte público etc.). Isto também vale para a nova onda de protestos estudantis: sua maior motivação é o medo de que a educação superior não mais lhes garanta um mais-salário na vida futura.

Está claro, obviamente, que o enorme renascimento dos protestos no último ano, da Primavera Árabe ao Leste Europeu, do Occupy Wall Street à China, da Espanha à Grécia, não devem definitivamente ser desconsiderados como uma revolta da burguesia assalariada – eles guardam potenciais muito mais radicais, de forma que devemos nos engajar numa análise concreta caso a caso. Os protestos estudantis contra a reforma universitária em curso no Reino Unido são claramente opostos às barricadas do Reino Unido em agosto de 2011, este carnaval consumista de destruição, a verdadeira explosão dos excluídos. Em relação aos levantes do Egito, pode-se argumentar que, no começo, houve um momento de revolta da burguesia assalariada (jovens bem educados protestando contra a falta de perspectiva), mas isto foi parte de um amplo protesto contra um regime opressivo. Entretanto, até que ponto o protesto conseguiu mobilizar trabalhadores e camponeses pobres? Não seria a vitória eleitoral dos islâmicos também uma indicação da base social estreita do protesto secular original? A Grécia é um caso especial: nas últimas décadas surgiu uma nova “burguesia assalariada” (especialmente na administração estatal superdimensionada) graças à ajuda financeira e empréstimos da União Europeia, e muitos dos protestos atuais, mais uma vez, reagem à ameaça de perda destes privilégios.

Além disso, esta proletarização da baixa “burguesia assalariada” vem acompanhada do excesso oposto: as remunerações irracionalmente altas dos grandes executivos e banqueiros (remunerações economicamente irracionais, uma vez que, como demonstraram as investigações nos Estados Unidos, elas tendem a ser inversamente proporcionais ao sucesso da empresa). É verdade, parte do preço pago por essa super remuneração é o fato dos executivos ficarem totalmente disponíveis 24 horas por dia, vivendo assim num estado de emergência permanente. Mais do que submeter estas tendências a uma crítica moralista, deveríamos interpretá-las como a indicação de como o próprio sistema capitalista não é mais capaz de encontrar um nível interno de estabilidade autorregulada e de como esta circulação ameaça sair do controle.     

* Traduzido por Chrysantho Sholl e Fernando Marcelino.

Extraído do Blog da Boitempo

EUA E ISRAEL CRIAM NOVA DOUTRINA DOS 'ASSASSINATOS SELETIVOS PREVENTIVOS' - Reginaldo Mattar Nasser

Está circulando pelos blogs e redes sociais trecho de um programa de TV paga em que um dos comentaristas, Sr Caio Blinder (assista aqui e aqui) ) , apoia o “assassinato” de cientistas que participam do “programa de enriquecimento de urânio do Estado Terrorista iraniano”. Argumenta que é “preciso matar gente agora” para evitar mais mortes do futuro, além do que, acrescenta, “você intimida outros cientistas”. O tema já foi intensamente debatido nos EUA, em 2007, quando o professor de direito Glenn Reynolds criticou o presidente Bush por não fazer o suficiente para parar o programa nuclear iraniano (vejam só Bush acusado de ser soft demais!) e, em seguida, defendeu que os EUA deveriam assassinar líderes religiosos e cientistas nucleares iranianos com o objetivo de intimidar o governo do Irã. Portanto, se nos EUA a justificativa para esse tipo de crime não é algo incomum, no Brasil - salvo engano meu - é a primeira vez que aparece publicamente nos meios de comunicação e por isso julgo necessário tecer algumas considerações.
Casos
"90% das mortes de norte-americanos no mundo ocorrem devido à utilização de armas e munições produzidas no próprio EUA. Portanto, somos tentados a concluir que os responsáveis pela indústria bélica (armas leves) nos EUA deveriam ser assassinados, pois evitaria a morte de milhares de norte-americanos"
No dia 11 de Janeiro de 2012, Ahmadi Roshan, engenheiro químico da usina de enriquecimento de urânio de Natanz, foi assassinado nas ruas de Teerã após explosão de uma bomba em seu carro. É mais um de uma série de acontecimentos similares. Em dezembro de 2011, sete pessoas morreram em uma explosão em Yazd. Em 28 de novembro, uma bomba explodiu nas instalações nucleares em Isfahan. Em 12 de novembro, 17 pessoas foram mortas por uma explosão perto de Teerã.. Em 29 de novembro de 2010, o cientista Shahriari foi morto da mesma forma como Roshan, com uma bomba plantada em seu carro. Em todos os casos as autoridades dos EUA e de Israel negaram veementemente qualquer envolvimento.

Mas qual é o problema? De forma declarada ou encoberta tanto EUA, como Israel, sempre adotaram a tática do assassinato seletivo. Desde 11 de setembro, o governo dos EUA tem realizado operações similares (“assassinatos seletivos”) mesmo fora dos campos de batalha do Afeganistão e do Iraque, como no Iêmen, Paquistão, Somália, Síria e possivelmente em outros lugares, causando a morte de mais de 2 mil supostos terroristas e de incontáveis vítimas civis. A justificativa está fundamentada numa autorização legal, aprovada na Câmara e no Senado, atribuindo ao presidente o poder para adotar as medidas que julgue necessárias para impedir ou prevenir atos de terrorismo internacional contra os Estados Unidos.

Nova doutrina

É importante notar que até pouco tempo atrás a justificativa para assassinar civis pressupunha a participação direta desses nas hostilidades. Quando se diz que um assassinato seletivo é "necessário" entende-se que matar era a única maneira de evitar um ataque iminente. Mas no caso dos cientistas é praticamente impossível afirmar que matá-los era necessário para impedir o Irã de lançar um ataque nuclear iminente contra Israel ou qualquer outro país. A não ser que haja uma nova doutrina em formação: “assassinato seletivo preventivo”

Voltando ao porta-voz brasileiro dos fundamentalistas norte-americanos, o sr. Blinder, que é uma pessoa bem informada, sabe que além da quantidade e qualidade de urânio ou plutônio, a produção de armas nucleares também requer os meios para levá-las ao seu destino (mísseis e ogivas). Portanto, é um projeto que envolve grande quantidade de cientistas, engenheiros e operadores. 

Levando à extremidade lógica o argumento dos fundamentalistas, será preciso assassinar mais algumas centenas ou mesmo milhares de pessoas. Claro, com o nobre objetivo de evitar mais mortes! Aliás, 90% das mortes de norte-americanos no mundo ocorrem devido à utilização de armas e munições produzidas no próprio EUA. Portanto, somos tentados a concluir que os responsáveis pela indústria bélica (armas leves) nos EUA deveriam ser assassinados, pois evitaria a morte de milhares de norte-americanos? 

A ser levada a sério essa proposta (assassinato de cientistas), não é improvável que os congressos científicos internacionais acabem se convertendo em um verdadeiro festival de tiroteios e bombas. Aliás, o suposto efeito da intimidação, pressuposto dessas ações, está gerando um efeito oposto. Cerca de 1.300 estudantes universitários iranianos pediram para mudar as suas áreas de estudo para o campo das ciências nucleares após o assassinato. Veja só Sr Blinder! Será preciso eliminar esses estudantes também porque um dia eles serão cúmplices do projeto nuclear iraniano!

Obama

Dentro da mesma linha de raciocínio o proprietário do Atlanta Jewish Times, Andrew Adler, pediu desculpas na semana passada depois de sugerir que o assassinato do presidente Obama era uma opção que deveria ser considerada pelo governo israelense, conforme relatado pelo Huffington Post (veja aqui). De acordo com Adler, Israel tem apenas três opções disponíveis para se manter seguro: 1. atacar Hezbollah e o Hamas, 2. destruir as instalações nucleares do Irã; 3. assassinar Obama!

Estranhamente o “assassinato seletivo” ocorreu três dias após a afirmação do secretario de Defesa dos EUA de que era improvável que os iranianos estivessem tentando desenvolver uma arma nuclear e no momento em que governo iraniano reiniciava as negociações com o grupo (P5 +1) para autorizar a realização de uma visita de delegados da Agência Internacional de Energia Atômica em seu pais.

Fica claro que o objetivo do assassinato dos cientistas é provocar uma forte reação da linha dura iraniana justificando, dessa forma, os famosos ataques preventivos. De acordo com reportagem na Foreign Policy (leia aqui), que teve acesso a memorandos elaborados pelo governo Bush, a Mossad usa as credenciais da CIA para recrutar membros da organização Jundallah (considerada terrorista pelo governo dos EUA) para lançar ataques contra o Irã. Como notou o analista internacional, Pierre Sprey, vivemos um daqueles raros e perigosos momentos da história, quando o “Big Oil” e os israelenses estão pressionando a Casa Branca na mesma direção. A última vez que isso aconteceu resultou na invasão do Iraque.

* Reginaldo Mattar Nasser é professor de Relações Internacionais da PUC (SP) e Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e Puc-SP)

Extraído do sítio da Revista Caros Amigos

DILMA NO FÓRUM SOCIAL TEMÁTICO - Emir Sader

Por ser o país e a cidade sede original do Fórum Social Mundial, os governantes brasileiros sempre tiveram presença importantes nos Foros. Lula esteve aqui ainda candidato, em 2001, voltou várias vezes. Se pode dizer que Lula esteve aqui em diferentes momentos do seu governo e do próprio Fórum, desde a vez em que esteve em Porto Alegre e em Davos, em seguida, gerando mal estar em Porto Alegre, até sua participação já como presidente consagrada, dentro do país e internacionalmente, no Fórum Social Mundial de Belem, em 2008, situação confirmada na ida de Lula ao FSM do Senegal, no ano passado.



O Brasil – e Porto Alegre, em particular – foi escolhido como sede do FSM por ser, ao mesmo tempo, país do Sul do mundo, vítima privilegiada do neoliberalismo; por ter uma esquerda viva e atuante; por ter uma prefeitura com as politicas públicas mais avançadas. O PT ainda não governava o país. O FSM se consagrava como o espaço de congregação e intercâmbio entre a grande maioria dos movimentos que resistiam ao neoliberalismo.

Quando Dilma – que havia estado com Lula em Belem – volta a um evento do FSM, o Brasil é outro e o próprio FSM é outro. O governo Lula, por vias menos previsíveis, foi um sucesso. E o FSM está longe do vigor que teve no passado.

As reuniões dos membros do Conselho Internacional com os presidentes brasileiros foram momentos tradicionais do FSM. Desta vez a Dilma estreou nessa circunstância, da melhor maneira possível. A reunião foi realizada no hotel Plaza São Rafael, onde ela e uma parte dos que viemos a Porto Alegre estamos hospedados. Em torno de uma mesa retangular, tendo a seu lado Gilberto Carvalho – que dirigiu brevemente a palavra aos presentes, antes da fala da Dilma -, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, aa ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosario e o assessor especial Marco Aurelio Garcia, Dilma ouviu 6 intervenções de membros do FSM, 3 brasileiros e 3 de outros países – uma uruguaia, um português (Boaventura de Sousa Santos) e um venezuelano.

A principal intervenção foi a de Joao Pedro Stedile, que se valeu dos seus 5 minutos da melhor maneira possível. Em primeiro lugar saudando que a presidenta do Brasil tenha vindo a Porto Alegre e não ido a Davos. Em seguida, Stedile colocou, objetivamente, com argumentos diretos, reivindicações importantes sobre a política de reflorestamento, sobre a situação dos quilombolas, sobre a economia familiar, sobre a reforma agrária. Que Dilma respondeu, incluindo o reconhecimento de que a extensão dos assentamentos tem que ser agilizada, com a observação de que a qualidade de vida e de trabalho nos assentamentos tem que ser substancialmente melhorada.

No conjunto da sua intervenção pudemos ver a uma Dilma muito segura de si, muito à vontade diante das observações críticas, enfrentando a todas com desenvoltura e argumentos. Um acento fundamental na aceleração do ritmo de crescimento econômico e de fortalecimento das políticas sociais, com a obsessão em torno do programa Brasil sem Miséria – é o eixo central do seu discurso, o compromisso de terminar com a miséria no país.

Dilma declarou que o povo brasileiro não aceitará mais políticas neoliberais. Que seu governo faz, multiplica e tem orgulho de desenvolver políticas de subsídios, como instrumento de se opor aos automatismos do mercado, de promover os setores que foram vítimas privilegiadas do neoliberalismo – os mais pobres.

A presidenta reiterou múltiplas vezes a necessidade da criação do outro mundo possível, que temos que lutar conjuntamente para que seja a mensagem central da Rio+20. Ela alertou que nenhum governo vai defender posições anticapitalistas na Rio+20, que isso é tarefa dos movimentos sociais.

A exposição da Dilma deixou claro que o Brasil está engajado, desde o governo Lula, na construção de uma alternativa ao neoliberalismo. Retomou a declaração de Mujica de que o Brasil não tem culpa de ser um país grande, como o Uruguai não tem culpa de ser um pais pequeno, mas que se relacionam em igualdade de condiçoes, respeitando a soberania de cada um. 

No Gigantinho lotado, Dilma retomou vários desses pontos, começando pela afirmação de que na América do Sul sao os povos os que ordenam. Que o Brasil está mostrando que é possível crescer, incluir e proteger ao mesmo tempo. Que a retirada de 40 milhões de pessoas da pobreza é uma conquista, que terá continuidade no seu governo, até o término da pobreza no país.

Que o Brasil hoje já é um outro país, mais forte, mais desenvolvido e mais respeitado. Que conversa com todos os países do continente de igual para igual, qualquer que seja o tamanho de cada um, de forma soberana e solidária.

Dilma manifestou sua esperança de que logo a Palestina possa ter seu Estado, livre e soberano. Que o mundo possa se transformar em um mundo multipolar. Que o século XXI há de ser o século da mulheres, que o Brasil contribui fortemente para isso. 

Que a longa luta que sua geração desenvolveu valeu a pena. Que consigamos construir juntos o outro mundo possível e marcou encontro na Rio+20. 

Os dois encontros mostram como precisamos multiplicar essas conversas e que Dilma precisa contar com canais de difusão das suas palavras, que hoje são filtradas pela velha mídia, que impede que o povo conheça na integralidade as posições da sua Presidenta. Para isso, a democratização dos meios de comunicação é um passo essencial.


Extraído do sítio da Carta Maior

DAVOS: AMÉRICA LATINA É UM "OÁSIS" DE ESTABILIDADE E CRESCIMENTO

Brasília - No contexto de incerteza que domina a atual crise econômico-financeira internacional, a América Latina foi identificada como um “oásis” de estabilidade, crescimento e oportunidades durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, que termina hoje (29).



O pessimismo justifica-se com a falta de soluções para o problema da dívida soberana da zona do euro, a lentidão de recuperação dos Estados Unidos e a desaceleração do crescimento dos países emergentes, enquanto o otimismo aumenta do lado dos países latino-americanos, como adianta a agência de notícias espanhola EFE.

Presidentes e ministros dessa região do globo tiveram de cumprir agendas bastante apertadas, devido às reuniões sucessivas com responsáveis de multinacionais e de grandes empresas. “Francamente, não tivemos tempo para mais nada, a não ser reuniões, receber empresários e investidores interessados nos setores mineral e energético da Colômbia”, comentou à EFE o ministro colombiano da Energia e Minas, Mauricio Cárdenas.

Nesse sentido, esta edição de Davos foi bastante diferente das anteriores, em que o “apetite” estava direcionado para os grandes países emergentes, em particular China e Índia que, este ano, assumiram mais nitidamente o seu novo papel de países investidores também à procura de oportunidades de negócio na América Latina.

Os governos tentam igualmente aproveitar o Fórum de Davos para ajudar as suas empresas a fazer negócios no estrangeiro, caso do ministro das Relações Exteriores da Austrália, Kevin Rudd, que esteve reunido com o chanceler peruano, Rafael Roncagliolo. “A razão dessa reunião é porque olhamos para a América como um pilar sólido de crescimento econômico global nas próximas décadas e queremos estreitar relações agora”, explicou Rudd.

Segundo vários políticos e empresários, ao contrário do que acontecia no ano passado, o interesse na América Latina permite aos investidores escolher os investimentos que melhor correspondem aos critérios de responsabilidade ecológica e social dos seus governos, particularmente na indústria de minérios e de recursos não renováveis.

Extraído do sítio da Agência Brasil