30 dezembro 2012

TV MANIPULA NOTÍCIA SOBRE CRIAÇÃO DE EMPREGOS - Fernando Branquinho


Na quarta-feira (19/12), no Jornal Nacional, o gráfico atrás da apresentadora Patrícia Poeta mostrava a criação de 1,77 milhão de empregos até agora, em 2012. Considerada a pindaíba econômica do mundo ocidental, qualquer cidadão de outro país olharia com inveja para cá. Mas na Globo não é assim: toda notícia que venha do governo tem que ser “negativada”.

Foi o que fizeram. Este foi o texto lido pela apresentadora:

“A criação de empregos com carteira assinada, este ano, foi 23% menor do que em 2011. É o pior resultado desde 2009. Mas, isoladamente, os números de novembro mostram um aumento de quase 8% no emprego formal.”

Quem estivesse jantando nessa hora sem olhar para a TV não veria o gráfico e faria juízo sobre a informação apenas com o que estivesse ouvindo. Desta vez mudaram a técnica: deram a notícia positiva de forma negativa, e no fim veio o “mas” positivando parcialmente os fatos. Isso é democracia, liberdade de expressão e tudo o mais que eles dizem quando se quer acabar com o oligopólio da mídia? O nome disso é partidarismo de mídia através de manipulação da notícia.

Paranoia? Perseguição à Globo? Coisa de esquerdista, de petista, de lulista, brizolista? Confira aqui mais essa vergonha. Agora veja a notícia por outro ângulo: “Brasil cria 1,77 milhão de empregos com carteira assinada em 2012”.

Os dados do Caged

De janeiro a novembro deste ano, foram abertos 1.771.576 postos de trabalho com carteira assinada no Brasil, o que representa uma expansão de 4,67% no nível de emprego comparado com o final de 2011, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado na quarta-feira (19/12) pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Os dados de novembro, segundo o MTE, mostram continuidade à tendência de crescimento do emprego no Brasil, que registrou pela terceira vez em 2012 um saldo superior ao do ano anterior. Foram declaradas 1.624.306 admissões e 1.578.211 desligamentos no referido mês. Como resultado, o saldo do mês foi de 46.095 novos empregos com carteira assinada no Brasil, correspondentes ao crescimento de 0,12% em relação ao registrado no mês anterior.

Segundo o Caged, apresentaram desempenho positivo no mês o comércio, com 109.617 postos (1,27%), sendo o terceiro melhor saldo para o período; e serviços, com 41.538 postos (0,26%). Por outro lado, alguns setores apresentaram desempenhos negativos. A construção civil teve baixa de 41.567 postos (-1,34%), decorrente de atividades relacionadas à construção de edifícios (-15.577 postos) e construção de rodovias e ferrovias (-8.803 postos), associados a términos de contratos e a condições climáticas.

Complexo sucroalcooleiro puxa emprego para baixo

Na agricultura, houve retração de 32.733 postos (-1,98%), devido à presença de fatores sazonais negativos. A indústria de transformação teve perda de 26.110 postos (-0,31%), proveniente dos ajustes da demanda das festas do fim do ano, queda menor que a ocorrida em novembro de 2011 (-54.306 postos ou -0,65%).

O emprego cresceu em três das cinco grandes regiões, sendo a Sul, com 29.562 postos (0,41%); Sudeste, com 17.946 vagas (0,08%), e Nordeste, com 17.067 empregos (0,28%). As exceções ficaram por conta da região Centro-Oeste (-14.820 postos ou -0,50%), cuja redução deu-se ao desempenho negativo da agricultura (-9.130 postos); da construção civil (-6.393 postos) e da indústria de transformação (-5.929 postos); e da região Norte (- 3.660 postos ou -0,21%), onde a construção civil (-3.371 postos) e a indústria e transformação (-2.084 postos) foram os principais setores responsáveis pela queda no mês.

Por unidade da federação, dezesseis tiveram expansão do emprego. Os destaques foram Rio Grande do Sul (+15.759 postos ou 0,61%); Rio de Janeiro (+13.233 postos ou 0,36%); Santa Catarina: (+8.046 postos ou 0,42%); São Paulo (+7.203 postos ou 0,06%); Paraná (+5.757 postos ou 0,22%) e Bahia (+5.695 postos ou 0,34%). Os estados que demonstraram as maiores quedas no nível de emprego foram: Goiás (-8.649 postos ou -0,75%), devido, principalmente, às atividades relacionadas ao complexo sucroalcooleiro, e Mato Grosso (-5.910 postos ou -0,97%), por causa do desempenho negativo do setor agrícola (-4.798 postos) [ver aqui].

Fernando Branquinho é jornalista, Brasília, DF.

Extraído do sítio Observatório da Imprensa

EMOCIONANTE: O PAUTEIRO DE VEJA CASA E BEIJA OS PÉS DA NOIVA - Milton Ribeiro

Carlos Cachoeira beija os pés da noiva


O que é mais incrível não é a Folha de S.Paulo mandar uma repórter “enviada especial” a Goiânia para cobrir o casamento de um mafioso com uma mulher indiciada por chantagear um juiz federal para tirá-lo da prisão, e sequer citar esse fato.

Carlinhos Cachoeira, vocês sabem, tem trânsito livre na imprensa brasileira. Dava ordens na redação da Veja, em Brasília, e sua turma de arapongas abastecia boa parte das demais coirmãs da mídia na capital federal.

Andressa, a noiva, foi indiciada por corrupção ativa pela Polícia Federal por ter tentado chantagear o juiz Alderico Rocha Santos.

Ela ameaçou o juiz, responsável pela condução da Operação Monte Carlo, com a publicação de um dossiê contra ele. O autor do dossiê, segundo a própria? Policarpo Jr., diretor da Veja em Brasília.

Mas nada disso foi sequer perguntado aos pombinhos. Para quê incomodar o casal com essas firulas, depois de um ano tão estressante?

O destaque da notícia foi o mafioso se postar de quatro e beijar os pés da noiva, duas vezes, a pedido dos fotógrafos.

No final, contudo, descobre-se a razão de tanto interesse da mídia neste sinistro matrimônio no seio do crime organizado nacional.

Assim, nos informa a Folha:

“Durante o casamento, o noivo recusou-se a falar sobre munição que afirma ter contra o PT: ‘Nada de política. Hoje, só falo de casamento. De política, só com orientação dos meus advogados’.”

É um gentleman, esse Cachoeira.

Extraído do sítio Sul21

CRISE DA MÍDIA IMPRESSA COMPROMETE QUALIDADE DO JORNALISMO? - Richard A. Fuchs


Grandes jornais eram vistos tradicionalmente como garantia para o jornalismo de qualidade. Mas a concorrência da internet já deixa marcas: alguns jornais já pararam as máquinas e muitos diminuíram o número de tiragens.

A nova geração já definiu onde quer buscar informação e escolheu pela forma instantânea e gratuita: a internet. Como consequência, a circulação dos jornais impressos apresentou uma queda acentuada nos últimos tempos e alguns meios de comunicação impressos já declararam falência, como o jornal Frankfurter Rundschau e o jornal de economia Financial Times Deutschland.

Já o renomado Süddeutsche Zeitung prepara um corte de gastos. Na redação dos jornais regionais a situação segue a tendência e são tomadas medidas de sobrevivência como fusões e cortes de funcionários.

Velocidade e precisão

Há uma década a informação impressa e digital conviviam lado a lado e ampliaram a diversidade dos meios de comunicação na Alemanha. No entanto, de acordo com o analista Sven Gabor Janszky, a triagem começou e o impresso já perdeu grande espaço: "O setor de informação em massa no futuro vai funcionar quase completamente de forma eletrônica", prevê o chefe da empresa de pesquisa de tendências 2b Ahead. "Quem ganha dinheiro com os meios de comunicação impresso terá dificuldade para continuar lucrando."

Dois grandes jornais fecharam as portas na Alemanha: 'Frankfurter Rundschau' e 'Financial Times Deutschland'
Para Janszky o jornal impresso se tornou obsoleto porque é muito lento."Queremos ter a informação a todo momento e onde quer que estejamos." Com os smartphones, laptops e redes sociais, não há mais espaço para produtos impressos, diz Janszky. Os programas eletrônicos que analisam automaticamente e de forma muito precisa o tipo de busca de cada usuário se tornam cada vez mais importantes.

Na área de comunicação de massa, a ferramenta de filtro absorveria cada vez mais a tarefa dos jornalistas. Isso permitiria que a informação fosse adaptada precisamente de acordo com as preferências de um usuário, prevê o analista: "O jornal na minha tela apareceria diferente do seu."

Mudança de conteúdo

Sven Gabor Janszky: o jornalismo impresso seria apenas semanal ou mensal
O fim do jornal impresso, no entanto, não significa necessariamente o fim da informação em papel, acalma Janszky os fãs da mídia impressa. Porém, no futuro será um item de luxo. "As informações impressas serão direcionadas para um segmento privilegiado que busca informação num contexto editorial."

Não haverá mais notícias factuais impressas, haverá apenas publicações direcionadas para uma elite que circulam uma vez por semana, uma vez por mês ou até trimestralmente, explicou.

As análises e material de background seriam apenas um complemento da informação já obtida diariamente na rede. Um exemplo positivo é o semanário Die Zeit que, ao contrário da tendência dos meios impressos, registra a cada semana novos recordes de vendas.

Para o resto do setor impresso, fechar as portas é algo que está por vir, prevê o analista de tendências. Para ele, a qualidade da cobertura jornalística será prejudicada. “Nós vamos ver que o jornalismo de qualidade vai se reduzir a um nicho que é muito caro, mas que possui um público-alvo. Teremos que nos despedir dos produtos de massa que ainda são de qualidade”, afirma Janszky, provocando pessoas como Frank Schirrmacher.

Schirrmacher é editor de um dos jornais alemães mais respeitados, o Frankfurter Allgemeine Zeitung(FAZ), e luta fortemente contra a completa digitalização do setor de informação. "O que aconteceu com a democratização da informação?", questionou Schirrmacher de forma retórica seus leitores numa das edições de seu jornal. A resposta dele, contudo, é pouco favorável aos meios digitais: A "nova e bela economia da informação" resultou no surgimento de grandes empresas como Amazon, Google, Facebook e Apple.

Solução em conteúdo digital pago

A crise do impresso entrou na agenda do governo alemão, influenciado também por acontecimentos na imprensa dos EUA e Reino Unido. Recentemente, a revista norte-americana Newsweek encerrou a edição impressa após 80 anos de circulação. A partir de 2013, o conteúdo será apenas disponibilizado online. No vídeo semanal gravado pela chanceler federal Angela Merkel e veiculado pela internet, ela comentou estar preocupada com essa tendência e desejou um bom futuro para os jornais e revistas tradicionais.

Klaus Meier: a qualidade depende do modelo de gestão
Já o professor de jornalismo Klaus Meier ainda demonstra otimismo frente à mídia impressa alemã. "Eu não acho que num futuro próximo novos jornais serão completamente fechados na Alemanha", diz o especialista em Crossmedia da Universidade Católica de Eichstätt-Ingolstadt.

Os jornais impressos já percorreram um longo caminho, diz Meier, "Se comparar o jornal de hoje com o de 20 anos atrás, é possível notar a diferença gráfica e o quanto são mais avançados."

Para Meier, apesar do declínio nas vendas, o jornal impresso ainda é forte e ele prevê que a longo prazo a mídia online conviverá com uma mídia impressa reduzida. "Os jornais que eram diários vão aparecer ainda uma ou duas vezes por semana com uma edição impressa, ao contrário da edição online, então com publicações atuais e interativas."

Modelo de gestão

Se essa mudança vai afetar a qualidade do jornalismo, a decisão dependerá de qual será o modelo de gestão que os donos dos meios de comunicação irão impor. É cada vez mais frequente o sistema "Paywall", no qual o usuário paga pelo conteúdo digital do site, diz o professor. "Por outro lado, vamos perceber cada vez mais que o jornalismo não é 100% comercializável, e que precisamos pensar em modelos de instituição, talvez por meio de investimentos do Estado."

Como exemplo, ele comenta a criação de organizações não governamentais, como a Pro Publica, nos Estados Unidos, que apoia os jornalistas ou editores através de bolsas de estudos para pesquisas. No entanto, nem mesmo o especialista pode afirmar se isso seria suficiente para garantir o espaço da mídia impressa.

Extraído do sítio Deutsche Welle

CHAVISMO E RESPONSABILIDADE HISTÓRICA - Félix Lopes

A recente vitória eleitoral em 20 dos 23 estados da Venezuela representa para o processo bolivariano e seus seguidores uma nova e grande chance para o avanço revolucionário.


Depois das recentes eleições para governadores e vereadores na Venezuela proliferam análises de todas as cores. Mas a imensa maioria das opiniões parece coincidir num elemento: ao obter o triunfo em 20 dos 23 estados, as forças revolucionárias conseguiram uma vitória rotunda, ratificando o chavismo como um movimento histórico e o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) como a principal força política da nação. Em resumo, o mapa do país sul-americano agora é mais vermelho que quatro anos atrás.

Essa realidade não pode ser vista desligada das circunstâncias e do tempo. O triunfo é mais alentador e convincente, se levarmos em conta que o processo eleitoral se realizou sem a presença na Venezuela do líder e principal referente da revolução, o comandante Hugo Chávez. Anotemos a favor do processo bolivariano uma indiscutível elevação da consciência política e classista de seus seguidores, algo que um analista bem qualificou de "o batizo do chavismo como identidade política autônoma na sociedade venezuelana".

Mas o resultado obtido em 16 de dezembro passado não deveria injetar, unicamente, alegria e confiança ao folguedo de natal. Agora — como advertiu o esperto político José Vicente Rangel, na sua coluna O Espelho (no jornal Últimas Noticias) — "se torna premente analisar as gestões regionais e sua repercussão em alguns magros resultados, assim como que o triunfalismo não contribua a que a análise e a autocrítica sejam perturbados". Rangel refere-se, sem dúvida, a um tema ao qual o presidente Chávez deu máxima prioridade: mais eficiência na gestão de governo, acompanhamento e efetividade nas soluções.

O povo bolivariano, a partir das organizações de base criadas pelo Poder Popular e utilizando os meios alternativos de comunicação, apoia e acompanha Chávez na sua batalha contra a ineficiência e o burocratismo. Caso se disseminasse esse espírito pelos governos estaduais e prefeituras nas mãos do PSUV, a revolução sairá favorecida e isso influirá positivamente na elevação da participação do povo nos próximos processos eleitorais. Ficou demonstrado que as pessoas votam naquilo que acreditam.

APONTAMENTOS SOBRE A ABSTENÇÃO

A maioria dos órgãos da mídia, analistas e políticos vem tentando justificar a tradicional alta abstenção nas eleições regionais. Desta vez, 46% da população não foi às urnas. Examinando os números finais, a mais golpeada por isto foi a oposição, ainda sob os efeitos da ressaca dos resultados das eleições presidenciais de 7 de outubro passsado.

Historicamente, as eleições para governadores e vereadores tiveram baixa participação: em 2000 (43,55%), 2004 (54,27%), 2008 (34,5%)... Para o politicólogo Nicmer Evans, os "níveis de abstenção (em) processos regionais são tipicamente altos", contudo, ressaltou a baixa participação "da oposição, já que pretendia tirar a legitimidade de que goza o Poder Eleitoral. Agora, esta derrota a obriga a reconstruir-se ou reinventar-se". Segundo a opinião de Jesús Silva, professor de estudos políticos da Universidade Central da Venezuela (UCV), "a tese de um projeto nacional de inclusão social venceu, mais uma vez, a oposição burguesa".

A força da revolução conseguiu um total de 4,84 milhões de votos (55%) e a extrema direita obteve 3,83 milhões (43%). A força chavista, ademais, conquistou 186 assentos (78%) dos 237 que estavam sendo definidos. Estes resultados devem ser entendidos como uma grande e nova chance, numas circunstâncias muito especiais para as forças revolucionárias. Os números por muito ilustrativos e contundentes que eles forem, reclamam uma leitura bem calma e exigem às filas revolucionárias novas estratégias para derrotar a abstenção entre seus potenciais seguidores: o povo.

CAPRILES, O GRANDE PERDEDOR

Segundo o resultado eleitoral no estado Miranda, pareceria que Henrique Capriles Radonski (junto a outros dois governadores da direita) emerge como o grande triunfador da oposição. Ao menos é o que querem apresentar os meios da oligarquia. Mas os números finais falam doutra realidade muito complexa para Capriles e suas aspirações como candidato dos ianques e os grupos econômicos de poder.

Para José Vicente Rangel, a reeleição do opositor Capriles Radonski, em Miranda, por tão só quatro pontos, "mais do que um sucesso pessoal, é o equivalente a um chocolate envenenado, já que não é expressão da consolidação de uma liderança mas sim por causa do antichavismo dos setores sociais que votam nesse estado".

Rangel nos está advertindo de uma realidade que se sustenta nas estatísticas e no estado mental desse conglomerado antichavista do Leste de Caracas. Que dizem os números? Primeiro que o "teto" eleitoral de Capriles em Miranda ficou estagnado e não consegue chegar aos 600 mil votos. Nas eleições regionais de 2008, Capriles obteve 583.795 votos (53,11%), contra 506.753 (46,10%) de Diosdado Cabello. Agora, Capriles foi eleito com 582.305 votos (51,94%), isto é, 1.490 votos menos que em 2008. E Elías Jaua, o contrincante chavista, conseguiu 534.937 votos (47,71%), um incremento de 28.184 votos mais que os obtidos por Diosdado Cabello em 2008.

Vencendo, Capriles tem menos votos que os obtidos em 2008.Perdendo, Elías Jaua conseguiu em apenas três meses e participando pela primeira vez de uma contenda eleitoral, que quase 30 mil moradores mais de Miranda aderissem ao voto revolucionário.

O segundo e não menos importante é que agora Capriles tem que governar com um Conselho Legislativo dominado pelo chavismo, com oito dos 15 deputados submetidos à eleição popular. E isso que significa? A vitória do PSUV, como maioria legislativa no estado, permitirá exercer maior controle legal e constitucional sobre a gestão do governador Capriles. Significa, simplesmente, que acabou a corrupção de Capriles, de sua família e de seus parceiros do partido Primeiro Justiça.

O novo Conselho Legislativo de Miranda poderá exigir uma exaustiva auditoria da gestão de Capriles 2008-2012, para demonstrar ao país o que ele fez com o dinheiro da governação, durante quatro anos. E a partir de agora não poderá aprovar projetos fantasmas, ou manter os parasitos de seu partido com o dinheiro do povo. A esta hora, Capriles também tirou essas contas e sabe que ao perder o poder de manobra, fica estagnado, do ponto de vista eleitoral e político.

A LIÇÃO HISTÓRICA

Várias são as conclusões às que se pode chegar, após os resultados eleitorais venezuelanos de 16 de dezembro passado: a mais importante tem a ver com a confirmação de uma frase utilizada por Chávez para despedir-se de seu povo, antes de viajar a Havana: "Não se enganem, temos Pátria". Essa Pátria é a que acaba de recuperar cinco estados chaves (outrora baluartes da oposição), com implicações sociais, geopolíticas e populacionais: Táchira, Zulia, Carabobo, Monagas e Nova Esparta.

Por outro lado, embora o chavismo não vencesse em dois estados importantes do país (Miranda e Lara), obteve a vitória nos Conselhos Legislativos, o que permite assegurar que estamos diante do triunfo mais importante das forças revolucionárias bolivarianas desde 1998. Para a oposição a perda é significativa e sua frustração se evidencia de várias maneiras: uns bradam que houve fraude, outros arremetem contra o povo, entretanto os três vencedores tentam converter-se nos líderes da esfacelada oposição.

O vice-presidente executivo do governo bolivariano, Nicolás Maduro, fez um apelo aos opositores a manterem a equanimidade: "A estreia foi muito péssima, com uma fanfarrice e uma prepotência, que já entra no campo da loucura. Eu acho que eles não perceberam que 20 governações são mais do que três... O povo dissolveu a chamada Mesa da Unidade Democrática (MUD), que vem sofrendo derrota após derrota, como aconteceu nos anos 2002 e 2003; e nas eleições presidenciais de 7 de outubro passado".

Sem dúvida, depois dessa lição histórica, se abre um novo cenário de confronto, onde a oposição voltará a tentar tudo contra essa "rara ditadura venezuelana" que, segundo afirma o escritor uruguaio Eduardo Galeano, vive de eleição em eleição e permite que o povo seja quem decida.

Extraído do sítio Granma

29 dezembro 2012

TARSO GENRO CRITICA "MÁ FÉ" EM REPORTAGEM DE ZERO HORA SOBRE CONSELHEIROS DE ESTATAIS - Marco Aurélio Weissheimer

O governador Tarso Genro enviou nota ao RS Urgente criticando e qualificando como “equivocada” a abordagem feita pelo jornal Zero Hora sobre a remuneração e indicação de conselheiros das estatais. Tarso afirma:

A reportagem parte do pressuposto que as pessoas indicadas para a composição dos conselhos não possuem qualificação para exercer as funções. Além disso, e mais grave, deixa em segundo plano a informação que estes colegiados e a remuneração aos seus integrantes estão previstos em lei e sequer são obra do atual governo. Portanto, não existe nem imoralidade nem ilegalidade, como a matéria deixa a entender. A mera exposição de pessoas e de suas respectivas remunerações, somada à repercussão de formadores de opinião e potencializada nas redes sociais, levou o cidadão a uma leitura parcial sobre o tema.

Cito dois exemplos que sustentam o entendimento de que houve “má fé”, como afirmei em entrevista ao Conversas Cruzadas, na forma de publicação da reportagem: no Facebook de ZH a matéria recebeu a chamada “Conselheiros de Bolsos Cheios”, já a jornalista Letícia Duarte, na premissa que antecedeu sua pergunta sobre o tema no Conversas Cruzadas, disse que o pagamento das remunerações aos conselheiros “soava como escândalo”. Ressalto que a expressão “má fé” foi dirigida à forma de apresentação da reportagem. Os exemplos referidos, como no caso da manifestação da jornalista, são apenas conseqüência.

Este tipo de matéria está muito em voga num certo jornalismo “pós-moderno”, nos dias de hoje: usar uma verdade factual disposta de forma milimétrica para despertar preconceitos e produzir “escândalos”; é uma espécie de “pegadinha” política. Esta reportagem foi excepcionalmente feliz neste objetivo, pois o preconceito foi despertado na voz da própria colega de trabalho do autor da matéria, que já iniciaria tratar a questão como um escândalo de governo.

Na nota, Tarso Genro também explicita quais são os critérios de indicação do governo para a composição destes conselhos no setor público:

São critérios políticos e técnicos. Todas as pessoas indicadas possuem experiência no setor público e estão acostumadas a compor colegiados dentro das estruturas partidárias, sindicais, administrativas, etc. Elas representam o governo dentro dos conselhos e, por isso, possuem a confiança do governador para gerir e fiscalizar, principalmente no que se refere ao vínculo sadio que as empresas estatais devem ter com as políticas públicas. Pessoas com experiências diversificadas são essenciais para o processo de formulação e discussão de idéias. É importante salientar que estas pessoas não substituem os conselheiros técnicos nem os órgãos de controle destas empresas.

Extraído do sítio RS Urgente

NUVENS NO HORIZONTE NEOLIBERAL - Frei Betto

Passei agradável fim de semana de novembro em companhia de Boaventura de Sousa Santos e outros amigos. Em sua fecunda reflexão, o cientista social português apontou as carregadas nuvens que pesam sobre a conjuntura mundial.


Há uma flagrante desconstrução da democracia. Desde o século XVI a Europa tem a sua história manchada de sangue, devido à incidência de guerras. Nos últimos 50 anos, contudo, acreditou ter conquistado a paz consolidada pela democracia fundada em direitos econômicos e sociais.

De fato, tais conquistas funcionaram como antídoto à ameaça representada pelo socialismo que abarcou a metade leste do continente europeu. Com a queda do Muro de Berlim, o capitalismo rasgou a fantasia e mostrou sua face diabólica (etimologicamente, desagregadora).

Os direitos sociais passaram a ser eliminados, e os países, antes administrados por políticos democraticamente eleitos, são governados, agora, pela tróica FMI, BCE (Banco Central Europeu) e agências de risco estadunidenses.

Nenhum líder dessas instituições foi eleito democraticamente. E qual a credibilidade das agências de risco se na véspera da quebra do banco Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008, as agências atribuíram a seus papéis a nota mais alta – triplo A?

Hoje, o único espaço ainda não controlado é a rua. Mesmo assim, há crescente criminalização das manifestações populares. A TV exibe, todos os dias, multidões inconformadas, reprimidas violentamente pela polícia.

Dos dois lados do Mediterrâneo o povo protesta. As mobilizações, contudo, têm efeito limitado. A indignação não resulta em proposição. O grito não se consubstancia em projeto. Wall Street (Rua do Muro) é ocupada, não derrubada, como o Muro de Berlim. Não são sinalizados "outros mundos possíveis”.

O bem estar que se procura assegurar, hoje, é o do mercado financeiro. O Estado deixou de ser financiado somente pelos impostos pagos por empresas e cidadãos. Antes, os mais ricos pagavam mais impostos (nos países nórdicos, ainda hoje chegam a 75% dos ganhos), de modo a redistribuir a renda através dos serviços oferecidos pelo Estado à população.

A partir do momento em que a elite começou a exigir dum Estado mínimo e pagar cada vez menos impostos (como vimos proposto na campanha presidencial dos EUA), os Estados viram crescer suas dívidas e se socorreram junto aos bancos que, fartos em liquidez, emprestavam a juros reduzidos. Assim, muitos países se tornaram reféns dos bancos.

Caso típico é a relação da Alemanha com seus pares na União Europeia. Os bancos alemães emprestaram dinheiro à Espanha – desde que ela adquirisse produtos alemães. Agora, a Alemanha é credora de metade da Europa.

Isso dissemina uma nova onda de antigermanismo no continente europeu. No século 20, duas vezes a Alemanha tentou dominar a Europa, o que resultou em duas grandes guerras, nas quais foi derrotada. Agora, no entanto, ela ameaça consegui-lo por meio da guerra econômica. Mais uma vez a pedra no sapato é a França de Hollande que, contrariando todas as expectativas, escapou este ano da maré recessiva que assola a Europa.

Países da América Latina e da África resistem à crise através da exploração e exportação da natureza – minérios, produtos agrícolas, combustíveis fósseis, etc. Porém, quem fixa o preço das commodities são os EUA, a China e a Europa. Cada vez pagam menos dinheiro por maior volume de mercadorias. O mercado futuro já fixou preços para as colheitas de 2016! Tal especulação fez subir, nos últimos anos, o número de famintos crônicos, de 800 milhões para 1,2 bilhão!

Infla, assustadoramente, o preço de mercado dos dois principais bens da natureza: terra e água. As multinacionais investem pesado na compra de terra e fontes de água potável na América Latina, Ásia e África. Nossos países se desnacionalizam pela desapropriação de nossos territórios. A grilagem é desenfreada. O curioso é que as terras são adquiridas com os habitantes que nela se encontram..., como se fizessem parte da paisagem.

Há uma progressiva desmaterialização do trabalho. A atividade humana cede lugar à robotização. Nos setores em que não há robotização, campeiam a terceirização e o trabalho escravo, como a mão de obra boliviana e asiática usadas em confecções brasileiras.

Já não há distinção entre trabalho pago e não pago. Quem remunera o trabalho que você faz via equipamentos eletrônicos ao deixar o local físico em que está empregado?

Outrora se brigava pela remuneração de horas extras e do tempo gasto entre o local de trabalho e a moradia. Hoje, via computador, o trabalho invade o lar e sonega o espaço familiar. A relação das pessoas com a máquina tende a superar o contato com seus semelhantes. O real cede lugar ao virtual. Suprime-se a fronteira entre trabalho e domicílio.

O conhecimento é mercantilizado. Nas universidades tem importância a pesquisa capaz de gerar patentes com valor comercial. O conhecimento é aferido por seu valor de mercado, como nas áreas de biologia e engenharia genética. O professor trancado em seu laboratório não está preocupado com o avanço da ciência, e sim com seu saldo bancário a ser engordado pela empresa que lhe banca a pesquisa.

Essa mercantilização do conhecimento reduz, nas universidades, os departamentos considerados não produtivos, como os de ciências humanas. Decreta-se, assim, o fim do pensamento crítico. E, de quebra, o do conhecimento científico inventivo, que nasce da curiosidade de desvendar os mistérios da natureza, e não da sua manipulação lucrativa, como é o caso dos transgênicos.

A esperança reside, pois, nas ruas, na mobilização organizada de todos aqueles que, de olho nas nuvens, são capazes de evitar a borrasca por transformar a esperança em projetos viáveis. 

* Reproduzido do sítio Adital.

Extraído do sítio Granma

"LA DOLCE VITA" DE YOANI SÁNCHEZ EM CUBA

Ao contrário do que afirma, dissidente possui padrão de vida inacessível para a imensa maioria dos cubanos.

Ao ler o blog da dissidente cubana Yoani Sánchez, é inevitável sentir empatia por esta jovem mulher, que expressa abertamente sua oposição ao governo de Havana. Descreve cenas cotidianas de privações e de penúrias de todo tipo. “Uma dessas cenas recorrentes é a de perseguir os alimentos e outros produtos básicos em meio ao desabastecimento crônico de nossos mercados”, escreve em seu blog Generación Y. [1]

De fato, a imagem que Yoani Sánchez apresenta dela mesma – uma mulher com aspecto frágil que luta contra o poder estatal e contra as dificuldades de ordem material – está muito longe da realidade. Com efeito, a dissidente cubana dispõe de um padrão de vida que quase nenhum outro cubano da ilha pode se permitir ter. 

Mais de seis mil dólares de renda mensal.

A SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa), que agrupa os grandes conglomerados midiáticos privados do continente, decidiu nomeá-la vice-presidente regional de sua Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação [2] por Cuba. Sánchez, que como de costume, é tão expressiva em seu blog, manteve um silêncio hermético sobre seu novo cargo. Há uma razão para isso: sua remuneração. A oposicionista cubana dispõe agora de um salário de seis mil dólares mensais, livres de impostos. Trata-se de uma renda bastante alta, habitualmente reservada aos quadros superiores das nações mais ricas. Essa importância é ainda maior considerando que Yoani Sánchez reside em um país de Terceiro Mundo em que o Estado de bem-estar social está presente e onde a maioria dos preços dos produtos de necessidade básica está fortemente subsidiada.

Em Cuba, existe uma dupla circulação monetária: o CUC e o CUP. O CUC representa aproximadamente 0,80 dólares ou 25 CUP. Assim, com seu salário da SIP, Yoani Sánchez dispõe de uma renda equivalente a 4.800 CUC ou a 120.000 CUP.

O poder aquisitivo de Yoani Sánchez

Avaliemos agora o poder aquisitivo da dissidente cubana. Assim, com um salário semelhante, Sánchez poderia pagar, a escolher:

- 300.000 passagens de ônibus;
- 6.000 viagens de táxi por toda Havana [3]
- 60.000 entradas para o cinema;
- 24.000 entradas para o teatro;
- 6.000 livros novos;
- 24.000 meses de aluguel de um apartamento de dois quartos em Havana [4]; 
- 120.000 copos de garapa (suco de cana);
- 12.000 hambúrgueres;
- 12.000 pizzas;
- 9.600 cervejas;
- 17.142 pacotes de cigarro;
- 12.000 quilos de arroz;
- 8.000 pacotes de macarrão;
- 10.000 quilos de açúcar;
- 24.000 sorvetes de cinco bolas;
- 40.000 litros de iogurte;
- 5.000 quilos de feijão;
- 120.000 litros de leite (caso tenha um filho de menos de 7 anos);
- 120.000 cafés;
- 80.000 ovos;
- 60.000 quilos de carne de frango;
- 60.000 quilos de carne de porco; 
- 24.000 quilos de bananas;
- 12.000 quilos de laranja;
- 12.000 quilos de cebola;
- 20.000 quilos de tomate;
- 24.000 tubos de pasta de dente;
- 24.000 unidades de sabão em pedra;
- 1.333.333 quilowatts-hora de energia [5]; 
- 342.857 metros cúbicos de água potável [6]; 
- 4.800 litros de gasolina;
- um número ilimitado de visitas ao médico, dentista, oftalmologista ou qualquer outro especialista da área de saúde, já que tais serviços são gratuitos;
- um número ilimitado de inscrições a um curso de esporte, teatro, música ou outro (também gratuitos).

Essas cifras ilustram o verdadeiro padrão de vida de Yoani Sánchez em Cuba e dão uma ideia sobre a credibilidade da opositora cubana. Ao salário de seis mil dólares pagos pela SIP, convém agregar a renda que cobra a cada mês do diário espanhol El País, do qual é correspondente em Cuba, assim como as somas coletadas desde 2007.

Com efeito, no período de alguns anos, Sánchez recebeu múltiplas distinções, todas financeiramente remuneradas. No total, a blogueira recebeu uma retribuição de 250.000 euros, ou seja, 312.500 CUC ou 7.812.500 CUP, quer dizer, uma importância equivalente a mais de 20 anos de salário mínimo em um país como a França, quinta potência mundial.

A dissidente, que primeiro emigrou à Suíça depois de optar por voltar a Cuba, é bastante sagaz para compreender que o fato de adotar um discurso a favor de uma mudança de regime agradaria aos poderosos interesses contrários ao governo e ao sistema cubanos. E eles, por sua vez, saberiam se mostrar generosos com ela e permitiriam gozar da dolce vita em Cuba.

(*) Doutor em Estudos Ibéricos e Latinoamericanos pela Universidade Paris Sorbonne-Paris IV, Salim Lamrani é professor titular da Université de la Réunion e jornalista, especialista das relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu último livro é intitulado Etat de siège: les sanctions economiques des Etats-Unis contre Cuba, París, Edições Estrella, 2001, com prólogo de Wayne S. Smith e prefácio de Paul Estrade. 

Referências bibliográficas:
[1] Yoani Sánchez, “Atacado vs varejo”, Generación Y, 5 de junho de 2012. http://www.desdecuba.com/generaciony/ (site consultado em 26 de julho de 2012).
[2] El Nuevo Herald, “Yoani nomeada na Comissão da SIP”, 9 de novembro de 2012.
[3] De Havana Velha até o bairro Playa.
[4] 85% dos cubanos são proprietários de suas casas. Essa tarifa é reservada exclusivamente para os cidadãos cubanos da ilha.
[5] Até 100 quilowatt-hora, o preço é de 0,09 CUP a cada quilowatt-hora.
[6] 0,35 CUP por m³.

Extraído do sítio Opera Mundi

28 dezembro 2012

A VANGUARDA POPULAR DA DIREITA SAI DO ARMÁRIO - Alex Solnik

Detalhe de banner do Endireita Brasil (reprodução Viomundo)

É didático assistir à palestra de Helio Beltrão Filho postada no site do Instituto Mises Brasil, do qual é o presidente. Ele fala em perfeito inglês na sede do Mises americano, em Auburn, Alabama, mostrando entusiasmo e alegria. “Hoje é carnaval no meu País, o Brasil”, diz ele, esbanjando simpatia. “Os brasileiros estão gozando do seu sagrado direito à felicidade… Eu digo no sentido bíblico…”

Risos discretos pontuam sua observação. O jovem Helio Beltrão Filho vai em frente: “Com toda a festa que ocorre hoje no meu País, escolhi estar aqui porque a minha festa é aqui”.

Ele é a face mais visível e, ao mesmo tempo, menos assustadora da articulação de direita que grassa no Brasil desde 2005. Assustador é o brasão do Instituto Mises Brasil que lembra, por tudo, a TFP (Tradição, Família e Propriedade). O lema do instituto é “Propriedade, Liberdade e Paz”.

O rosto do brasão é do “patrono” do instituto, o economista conservador austríaco de origem judaica Ludwig von Mises, de frente e de perfil. A imagem de perfil guarda uma profunda semelhança com o general Costa e Silva. Talvez seja uma menção proposital. Helio Beltrão, pai do jovem Helio, foi ministro dos presidentes Costa e Silva e João Figueiredo. Presidiu a Petrobras e foi acionista do Grupo Ultra. Com sua morte, as ações foram herdadas pelo filho.

O brasão é medieval, mas sua utilização é moderna. Ele aparece estampado em camisetas, bonés, chaveiros, moletons, adesivos, todos os tipos de acessórios familiares aos jovens. Até mesmo em shapes de skate. Acompanhado de frases como “Inimigo do Estado”, “Privatização Total” e “Imposto é Roubo”, o busto de Von Mises também aparece isolado em camisetas, fora do brasão. Talvez uma tentativa de transformá-lo em Che Guevara da direita. Todos os produtos são vendidos na loja virtual do instituto.

Guevara de Mickey Mouse

A direita se modernizou, essa é a verdade. (“E a esquerda ficou velha”, comenta um amigo, guerrilheiro dos anos 1970). Helio Beltrão Filho é um importante articulador da aliança de direita no Brasil, mas não é o único a utilizar as mesmas armas da esquerda para outros fins.

O Movimento Endireitar, por exemplo, comercializa uma coleção de camisetas com nome muito sugestivo: Vanguarda Popular. Vanguarda Popular Revolucionária é o nome do grupo de guerrilha em que atuou, na juventude, a presidenta Dilma Rousseff. Faz parte da coleção de estampas uma montagem em que um Che Guevara aparvalhado aparece vestindo orelhas de Mickey Mouse. Em outros modelos, há inscrições como Enjoy Capitalism, grafada com as letras da Coca-Cola.

Há dezenas de blogs de direita explícita rolando na internet. Mas o mais importante deles é um portal que se chama Instituto Millenium. É um senhor portal. Perdão, ele não se assume de direita. Mas nem precisava se assumir. O flerte com a direita é explícito. Basta conhecer a lista dos institutos associados, OSCIPs ou ONGs criados depois do Millenium – Movimento Endireita Brasil, Mises Brasil, Instituto Ling, Instituto Liberal, Instituto Liberdade, Instituto de Estudos Empresariais…

Dez ao todo. Ou consultar a lista de livros indicados com destaque para Por que Virei à Direita, assinado por Luiz Felipe Pondé, João Pereira Coutinho e Denis Rosenfield. O curioso é que o contraponto a esse lançamento da Editora Três Estrelas (de propriedade do grupo Folha de S. Paulo) – A Esquerda que Não Teme Dizer seu Nome, de Vladimir Safatle da mesma editora – é tacitamente ignorado.

Por trás de um nome solene, Millenium, não poderia haver menos solenidade no organograma. Os dirigentes fazem parte do Conselho de Governança, há Câmaras de Doadores, de Mantenedores, o linguajar remete aos tempos dos Cavaleiros da Távola Redonda.

Pedro Bial é fundador

Mas não importa. O portal é grandioso. Não podia ser diferente, se dois de seus pilares são Roberto Civita e Grupo Abril e João Roberto Marinho, sem Rede Globo, porque os dois outros irmãos não estão no jogo. Roberto e João Roberto são mantenedores e integram o Conselho de Governança. Nomes de alta estirpe comandam a operação, como Jorge Gerdau Johannpeter, Armínio Fraga, Helio Beltrão Filho (novamente) e outros rostos conhecidos da TV também estão lá. Pedro Bial, por exemplo, é fundador e curador.

A lista de doadores traz uma surpresa: Leandro Narloch. Um nome familiar. Há muitas semanas frequenta a lista de best sellers da revista Veja, publicada pela Editora Abril, e cujo redator-chefe, Eurípedes Alcântara, integra com Antonio Carlos Pereira, chefe dos editorialistas do Estadão, o Conselho Editorial do Instituto Millenium. Há pouco tempo, o best seller de Narloch, Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, ganhou uma réplica de Luiz Felipe Pondé, que lançou o Guia Politicamente Incorreto da Filosofia. E também entrou na lista de best sellers da Veja.

Haja colaboradores!

Convém explicar que o Millenium é um portal de artigos e notícias (texto e vídeo) fornecidos por seus 450 colaboradores e especialistas. Você leu certo: 450. Ives Gandra Martins, Nelson Motta, Marcelo Madureira, José Padilha, Josué Gomes da Silva, Claudia Costin, Bolívar Lamounier, Reinaldo Azevedo, Eurípedes Alcântara, Roberto da Matta, Pedro Malan, Carlos Vereza, Luiz Felipe D’Ávila, Carlos Alberto Sardenberg, Demetrio Magnoli e Marco Antonio Villa, entre muitos outros. Nenhuma revista tem tantos. Nem a Veja. Nenhum jornal. Nem o Estadão, nem a Folha. Ninguém.

Amaury de Souza

Mas antes de ser portal, Millenium é um instituto sediado no Rio de Janeiro, que promove fóruns, simpósios e colóquios sobre os temas que mais lhe são gratos: a forma de diminuir o tamanho do Estado brasileiro e como preservar a liberdade de expressão que, segundo seus líderes, está ameaçada.

O interessante é que, quando a liberdade de expressão não foi apenas ameaçada, mas suprimida nos tempos da ditadura militar, esses mesmos paladinos da democracia não foram vistos nas trincheiras da liberdade de expressão. Muito ao contrário.

Presidente do Instituto Milleniun até 17 de agosto último, quando não resistiu a um câncer do pâncreas, aos 69 anos, o cientista político Amaury de Souza tem, em seu pomposo e elogiado currículo, passagem como professor emérito da Escola de Comando e Estado Maior do Exército (ECEME), o que leva a crer que ele e os militares dividiam, no mínimo, as mesmas convicções.

Tanto é verdade, que, em 1999, ele recebeu da Escola Superior de Guerra a Medalha do Mérito Marechal Cordeiro de Farias. Que serviços terá ele prestado à ditadura? Não foram pequenos, caso fossem não seria tão grande a honraria. Sua barba bem comportada jamais compareceu a algum protesto, nos anos 1960 e 1970, contra a censura à imprensa.

Denúncia do Casseta

De 2005 para cá – enquanto vivo, claro – à frente do Millenium, Amaury de Souza organizou colóquios, simpósios e fóruns a dar com pau. Um deles, denominado Democracia e Liberdade de Expressão, em 24 de março de 2010, com a participação impagável de Reinaldo Azevedo e Marcelo Madureira. Esses encontros se resumem em cada um dos participantes listar o que há de pior no Estado brasileiro sob a batuta do PT.

Marcelo Madureira, que era conhecido até então apenas como humorista, fez uma denúncia sensacionalista: a democracia no Brasil estava em perigo. “Quero denunciar o seguinte: a sociedade brasileira é vítima de ataques à democracia! São ataques à democracia, como o mensalão é um ataque à democracia, a legislação eleitoral é um ataque à democracia. E a sociedade tem de reagir com firmeza a isso!”.

“Eu sou de direita!”

Reinaldo Azevedo mal tinha saído das fraldas, fez 3 anos em 1964, muito cedo para entender o que estava acontecendo. Em 1968, completou o sétimo aniversário. Mas, em 1984, quando ele estava com 21 e todas as pessoas de bem do Brasil foram às ruas para derrubar a ditadura militar sem um tiro sequer, não sabemos onde Reinaldo Azevedo se encontrava. Nos palanques das Diretas Já não foi visto.

Hoje, no entanto, ele se acha em condições de dar aulas sobre democracia, como fez nesse fórum do Instituto Millenium, em que deblaterou sobre política e economia com a mesma falta de conhecimento: “Todos nos tornamos reféns de uma questão que se chama estabilidade econômica. A ditadura militar ruiu por conta da inflação e, enfim, a militância, etc. Mas por conta da inflação, que se estendeu Nova República adentro, de maneira dramática (…). Nós tínhamos um partido que passou vinte e tantos anos fazendo a guerra de valores, sabotando todas as tentativas de estabilização, as honestas e as atrapalhadas, de maneira que chega em 2002, o PT se elege, faz uma carta ao povo brasileiro e todos, especialmente os setores mais conservadores, fatias importantíssimas do empresariado: ‘Ahhh, eles aderiram finalmente à economia de mercado, então vamos todos respirar aliviados. Finalmente, eles não vão querer fazer o socialismo’. (Levantando a voz, quase colérico.) A questão é se eles conseguiriam fazer se quisessem! (Mais calmo). Porque não conseguiriam! E por quê? Eles nos ofereceram estabilidade e, então, de algum modo, nós entregamos tudo a eles”.

Reinaldo Azevedo continua: “Existe uma guerra em curso. O lado de cá, o lado de cá que eu digo é o lado da democracia…Marcelo Madureira disse: ‘Eu sou PSDB’. Eu não sou! Sou de direita! O PSDB não é. É da direita democrática. Eu sou um liberal democrata, não sou um social democrata!”.

O verme dos arrozais

No dia 20 de março de 2012, Arnaldo Jabor dá a sua contribuição ao Fórum Democracia e Liberdade de Expressão do mesmo Instituto Millenium: “Vamos falar claro: o Lula, apesar de bater cabeça pros dois lados, de bater uma no cravo e outra na ferradura, uma na caldeirinha e outra na cruz, ele manteve os bolchevistas, os jacobinos fora do poder de alguma maneira. Manteve certa cerca ao jacobinismo. Com seu temperamento conciliador, etc. E chega momento em que fica até repulsivo. Mas ele conseguiu isso. É um mérito real. Agora, o perigo é que… Eu conheço, como alguns aqui conhecem, como o Amaury (de Souza) conhece cabeça de comunista. Cabeça de comunista não muda, ela é feita de pedra, de granito, aquilo não muda. Fui do Partido Comunista, mudei, mas sou um caso raro… Sou um comunista autocrítico. Não aquelas autocríticas que eles faziam, extraordinárias… Eu me lembro de uma famosa do Lin Piao que começava assim: ‘Eu sou um cão imperialista, eu sou um verme dos arrozais…”.

Mas o que eles querem, afinal, com tudo isso? Qual é o objetivo? Derrubar o governo atual? Tomar o poder? Como? Talvez a melhor resposta seja a intervenção de Alberto Carlos Almeida no 5o Colóquio Impostos, Consumo e Cidadania no dia 24 de agosto de 2010, em que ensina a um pequeno grupo de formadores de opinião como convencer a população brasileira a exigir do Congresso Nacional a redução de impostos: “O que a população quer é redução de impostos de alimentos. Nós temos de mobilizar a sociedade brasileira e simplesmente dizer: vamos colher dez milhões de assinaturas para os congressistas votarem redução de impostos nos alimentos. Isso pode virar um rastilho de pólvora. Aí, precisaremos de alguns mecenas. Você vai falar para os empresários: ‘Temos de reduzir impostos e vocês são mecenas’. ‘Não, eu não vou contribuir porque tenho medo do governo.’ Então, esqueçamos, vai cada um para sua casa sonegar impostos. O brasileiro é pragmático. Ele quer comprar mais. O brasileiro não tem doutrina contra o imposto, contra o governo. Tem de vender isso pra ele. ‘Ah, você quer comprar mais? Então, assina aqui a favor da redução de impostos.’ Pronto!”.

O mundo da demagogia

Conselheiro de políticos, Alberto Carlos Almeida, a quem, aliás, Reinaldo Azevedo chama de “trapaceiro” e “plagiador”, enquanto é taxado por ele de “ultradireitista”, tem uma visão muito particular sobre democracia: “Democracia, por definição, é o mundo da demagogia! Ou você vai chegar na campanha e dizer: ‘Olha, vou aumentar seus impostos. Por favor, vote em mim!’? Você tem de prometer reduzir imposto! Quando chegar lá, você vê o que vai fazer! É assim que funciona em qualquer lugar do mundo!”.

Amparado em pesquisas, revela conhecer as entranhas do pensamento da classe média brasileira: “Funcionário público para a população brasileira se resume a três: policial, médico e professor. O resto que se dane! A população pensa assim. Porque é quem lida com ela”.

Ele tem a fórmula para acender o pavio de sua revolução contra a grandiosidade do Estado: “A comunicação com o povo brasileiro é simples: ‘Olha, vamos reduzir impostos, mas não vamos mexer em direito trabalhista e vamos impedir que aconteça greve de policial, médico e professor. Você me apoia?’. Ele vai dizer: ‘Claro que apoio’. A comunicação tá pronta”.

Por trás de tantas palavras, pesquisas e elucubrações de tantos luminares como Alberto Carlos Almeida – a maioria de barba bem aparada, geralmente grisalha e um estranho modo empolado de falar – há um projeto que pode ser sintetizado dessa forma. O que eles querem primeiro é “levantar” a população contra o Estado, convencê-la de que é muito grande e ineficaz, que o caminho para tal é diminuir impostos.

Cortar impostos, em última análise, equivale a dar menos dinheiro para o Estado petista. Com menos Estado, com menos impostos a serem recolhidos, o governo do PT fica fragilizado, perde sua base de sustentação, que são os pobres e, então, a direita poderá entrar com seu discurso nesse vácuo. E tentar o caminho das urnas. Será? Mas quem será seu líder?

Nêumanne: não sei de nada

Um paraibano alto, de cabeça grande, que fala grosso. Essa é uma descrição aproximada e sintética de José Nêumanne Pinto, cuja foto e nome constam da lista de colaboradores e especialistas do Instituto Millenium.

No café que marcamos em um bar do bairro de Higienópolis, na região central de São Paulo, ele nega conhecer o Instituto Millenium. A situação se inverte: ele pede que eu explique do que se trata.

“Mas sua foto está lá, com seu nome e seus artigos”, tento argumentar. Ele alega pirataria. Ademais, não tem tempo para ler todos os blogs e portais que replicam seus artigos. Não são seus três empregos os responsáveis por lhe tomar tanto tempo.

Em um dia apenas, ele escreve um editorial para o Jornal da Tarde, grava um comentário político para a Rádio Jovem Pan e outro para o Jornal do SBT. Perde mais tempo, porém, com outras dores de cabeça. Ele tornou-se alvo, uma espécie de Geni, na qual os petistas já se acostumaram a jogar pedra. Claro que a resposta dos petistas é muitas vezes mais virulenta que seus comentários anti-Lula. (Em seu livro mais recente, O Que Sei de Lula, ele acusa o ex-presidente da República de ter delatado colegas na época do sindicato de São Bernardo do Campo.) Um deles começou a denunciá-lo sistematicamente por estupro.

“Pegamos o Nêumanne”

O que mais machucou Nêumanne, no entanto, foi saber, por meio de um amigo comum, que o ministro da Justiça José Eduardo Cardoso tinha comemorado a denúncia, antes de a Justiça considerá-la falsa e obrigar o Google a retirá-la, sob pena de multa de R$ 10 mil por dia. “Pegamos o Nêumanne”, teria comentado o ministro. Outra aporrinhação partiu de um sujeito que decidiu enviar ameaças de morte, via internet, para ele “parar de falar mal do Lula”. Uma das mensagens mostrava um revólver apontado para o jornalista. O autor foi identificado, compareceu à delegacia, prestou depoimento e foi liberado.

Tento arrancar de Nêumanne alguma reação. Pergunto se não se incomoda em participar de uma orquestração de direita, mesmo sem se dar conta disso. Ele não dá a mínima, diz apenas: “Ah, eles me convidam de vez em quando para alguma conferência, mas nunca fui”. Nêumanne admite, no entanto, conhecer o presidente do Instituto Millenium, Amaury de Souza. “Ele é meu amigo. E não é de direita.” (Uma semana depois do nosso encontro, Amaury de Souza morreu.)

Tropa de elite

Outra foto e nome que estão lá e ninguém mandou tirar: José Padilha, o diretor de Tropa de Elite. Ele também não dá muita importância ao e-mail que lhe envio, pois o que recebo de volta é uma mensagem de sua assessora, Rafaela Panico, com o seguinte teor: “O José Padilha está em pré-produção com seu próximo filme no exterior. Ele está muito ocupado e não está podendo dar entrevistas nem por e-mail nesse momento. Peço desculpas e espero poder te ajudar em uma próxima oportunidade”.

Quem diria: Bolívar Lamounier também aparece como colaborador e especialista do Instituto Millenium. Eu jamais o identificaria com o pensamento de direita. Mas ele é parceiro de Amaury de Souza no livro A Classe Média Brasileira: Ambições, Valores e Projetos. Bolívar mantém certa distância do Millenium, pero no mucho: “Eu participei uma vez ou duas de seminários deles. Não tenho participação regular e não sou articulista, mas não vejo motivos para criar arestas, só se houver um problema específico”.

“Cuide dos seus comunistas”

No tempo em que bandeiras vermelhas da TFP saíam às ruas de São Paulo para combater as bandeiras vermelhas do comunismo – anos 1960, 70 –, jornalistas de esquerda predominavam nas redações. Um empresário reconhecidamente de direita, como Roberto Marinho, não deixava os militares prenderem “seus” comunistas para não desfalcar seu time. “Cuide dos seus comunistas que eu cuido dos meus”, disse certa vez a um general de plantão no poder.

Os “comunistas” tinham fama de trabalhadores sérios, competentes e criativos. Dono de jornal, precisava vender jornal. Ainda que houvesse censura, imprensa precisava ser de “oposição”.

Ninguém compra um jornal para ler elogios. O empresário não corria riscos de ver a ideologia de seu funcionário estampada nas páginas. Disso cuidava a censura. Do esquerdista, o empresário aproveitava o talento, a força de trabalho, o fato de ser “pau pra toda obra”.

Era contraditório: a direita tinha ganhado a guerra pelo poder, mas a esquerda comandava as redações. A esquerda mandava tanto na imprensa, que um grupo de jornalistas do Pasquim conseguiu acabar com a carreira do mais famoso cantor da época, Wilson Simonal, acusado de ser dedo-duro da direita. Em uma ditadura de direita, a esquerda derrubou um artista de direita!

Diogos Mainardis

Mais adiante, anos depois, a situação se inverteu. A ditadura caiu, em 1985, graças ao empenho da esquerda, pois a direita ficou até a última hora ao lado da ditadura militar. Mas nas redações a situação se inverteu. A direita ocupou as posições da esquerda. Havia, em 2002, apenas um Diogo Mainardi – que saiu da Veja e entrou na Globo News. Agora, são dezenas.

Para ter um bom emprego, bem remunerado, numa publicação de grande porte, a senha agora é ser de direita. Mais precisamente: falar mal de Lula e do PT. Falar mal de Lula e do PT passou a significar espaço garantido nos grandes veículos de comunicação, com as devidas recompensas monetárias.

Os esquerdistas perderam seu encanto? Seu talento? Não. Com o advento da democracia e o fim da censura, manter esquerdistas tornou-se perigoso. Agora, eles podem esparramar sua ideologia nas páginas dos jornais e revistas. A censura acabou. Ao invés de vigiá-los, os patrões (de direita) preferem contratar profissionais de direita, que pensam como eles (os patrões). Devido a esse fenômeno, o pensamento de direita está disseminado em um número cada vez maior de veículos de comunicação no Brasil.

“Por que todo mundo tem de ser progressista?”

Não por acaso, ideias de direita estão de volta à circulação no Brasil. Seus principais propagadores são jovens, como Ricardo Salles, um advogado de 37 anos, de São Paulo, que em nada lembra, no trajar, um sujeito de direita. Mas é. Tanto é que o grupo que preside se chama Movimento Endireita Brasil. Em seis anos, desde 2006, ele conseguiu aglutinar 450 participantes ativos.

Salles já foi candidato pelo PFL, hoje critica o DEM. Está filiado ao PSDB, mas não se entusiasma pelo partido. Participa das atividades do Instituto Millenium, mas gostaria que ele se assumisse como direita, assim como o Endireitar.

Numa rápida conversa que tivemos em seu escritório, ele disse, em resumo, o que pensa sobre as desigualdades sociais no Brasil: “Tem muita gente que é pobre porque não quer trabalhar! Tem muita gente que não vai pra frente na vida porque não quer se esforçar. Tem muita gente que comete o crime porque realmente não tem valores. Não tem nada a ver com problema social, que ela foi criada em favela”.

Ideologia: “Por que todo mundo tem de ser de esquerda? Por que todo mundo tem de ser progressista? Por que todo mundo tem de ser pró-interferência do Estado na economia? Pró-Bolsa Família? Pró-BNDES?”.

Lady Baginski

O discurso de Ricardo Salles, contrário a qualquer ditadura, até à militar, virou lugar comum entre os jovens direitistas brasileiros. E também a versão de que a ditadura de direita no Brasil foi um mal menor, estabelecida para evitar uma ditadura de esquerda que estaria sendo engendrada.

Talvez a mais excêntrica das jovens brasileiras de direita atualmente seja a advogada de Caxias do Sul de apenas 22 anos, muito bonita e ligeiramente punk. Usa piercing no lábio inferior.

Embora defenda a legalidade democrática, Cibele Bumbel Baginski ou Lady Baginski, como ela prefere ser chamada, decidiu, com seu grupo, em junho deste ano, relançar um partido que foi criado para apoiar a ditadura militar de 1964: Arena. Ela jura de pés juntos à Brasileiros que ditadura não é papo para ela, o nome é só um nome. No entanto, muita água ainda vai rolar debaixo da ponte até que sua Arena reúna os 500 mil votos necessários para disputar eleições em 2014, como ela e seu grupo planejam.

Nenhum partido, em uma democracia, é óbvio, vai declarar publicamente que pretende chegar ao poder pela força, e não pelo voto. É pelo voto. Hitler chegou ao poder pelo voto. A incógnita é como a direita vai agir depois de chegar ao poder pelo voto. O problema não é a direita entrar, é a direita sair. É uma hipótese bem difícil de acontecer, essa de a direita chegar ao poder pelo voto no Brasil.

Políticos experientes não se arriscam a fundar um partido de direita em um País com as desigualdades sociais do Brasil. Os partidos de direita sempre tiveram de esconder a palavra direita. Direita não dá voto. Qual é o discurso da direita para o povão? Para o trabalhador? Quando a direita foi a favor de aumentar salário de trabalhador?

A direita só tem discurso para a classe média e daí pra cima. A direita só terá sucesso eleitoral no Brasil quando a classe média tiver votos suficientes para elegê-la. Enquanto os pobres e os trabalhadores formarem a maioria dos brasileiros, a direita não terá vez nas urnas.

Direitas Já

Suponhamos, no entanto, que ela ganhe uma eleição presidencial. Governo da direita democrática. Como o governo de Lady Baginski vai reagir em caso de greve de trabalhadores? Como será seu diálogo com os índios? E com os sem-terra? E com os sindicatos? A direita no poder saberá negociar com o Congresso Nacional ou vai impor sua vontade pela força? E se o Congresso Nacional resolver peitar o governo de direita, o que poderá acontecer?

“O voto não vem em primeiro lugar”, antecipa-se um dos participantes de um blog chamado Direitas Já, Renan Felipe, de 21 anos. Antes, é necessário conscientizar a população, o que o seu e outros dezenas de blogs de direita estão fazendo atualmente.

Tanto Lady Baginski quanto Renan Felipe estão nas águas da direita sem conhecer muito bem aquele que foi e é até hoje a expressão máxima desse caminho político, o abominável Adolf Hitler. “Ele tinha qualidades e defeitos como qualquer ser humano”, arrisca La Baginski. “Li Mein Kampf, assim como muitos outros para trabalho escolar, superficialmente, como material de pesquisa. Sobre o autor da obra, diria que tem um estilo de escrita que não é extremamente cativante, apesar de objetivo nas suas ideias e, bem ou mal, acreditava no que dizia. Teve defeitos e qualidades, como todos os seres humanos. Como político, creio que cometeu erros crassos e deu vazão a consequências muito desagradáveis de se rememorar na história.”

Falando à Brasileiros, Renan Felipe culpa a esquerda pela existência da direita: “Esse é um preconceito muito difundido no Brasil, que é o de associar nacional-socialismo ou fascismo com direita política. Tanto o nacional-socialismo quanto o fascismo nascem da esquerda política e se dirigem para o centro, mesclando elementos de nacionalismo e socialismo. Nunca li o livro de Adolf Hitler, apenas excertos, discursos e citações. De modo geral, as ideias nacional-socialistas são ruins porque mesclam tudo que não presta: socialismo, racismo e nacionalismo fanático”.

A direita brasileira nunca esteve tão ativa intelectualmente como hoje. A direita brasileira nunca teve adeptos tão jovens como tem hoje. O que falta ainda à direita brasileira é um grande orador – parafraseando a epígrafe de Hitler aqui acima – capaz de ganhar a maioria dos brasileiros para a “causa”.

SÓ NÃO VALE DAR TIRO NO BLOGUEIRO

Seu lema é: “Estamos chegando! A nova direita do Brasil!”. Suas palavras de ordem são: “Deus é supremo… Comunismo é do demo!”, “Vote no PT de novo para ele entrar mais fundo no rabo do povo”, “Diga não à política narcótica vermelha”. Sua mensagem, ele transmite em vídeo postado em seu blog, que faz referências ao Movimento Endireita Brasil. Ricardo Gama é bem diferente de outros direitistas, que falam para a classe média de forma tranquila e ponderada. Ele tenta ser entendido pelo povão, seu discurso é mais chulo e ditatorial: “Ahhh… As minhas razões e as minhas emoções pra fazer esse vídeo… É sobre o vídeo que eu fiz sobre o Sérgio Cabral e o Anthony Garotinho que postei agora no meu blog… Tão me metendo porrada… Dá mais porrada! Só não vale dar tiro no blogueiro!”

Gama fala mais: “Mermão, quando Garotinho foi governador do Rio, eu não morava aqui, eu morava em Minas. Hoje, eu tô no Rio de Janeiro. Você tá criticando Garotinho, você tá criticando Sérgio Cabral, tão dizendo que os dois… Critica, mermão, mas faz alguma coisa!”. Mais ainda: “Mas olha só: não faz só no mundo virtual, não, faz no mundo real também. O governo do Anthony Garotinho já passou, agora tá no governo Sérgio Cabral, que tá essa zona toda e ninguém faz porra nenhuma!”. Outro: “Ficam teclando na internet. Poucos têm coragem de dar as caras. Liberdade de expressão! Senta porrada no deputado Anthony Garotinho! Mas por quê? Quando ele era governador, nego não saiu na rua quando ele fez alguma coisa errada, claro que ele deve ter feito alguma coisa errada, ninguém é perfeito”.

Gama continua: “Mas por que o povo não saiu na rua? Não quebrou a porra toda? Não se rebelou? Agora ficam criticando! Agora tá o Sérgio Cabral, roubando pra caralho, ninguém faz porra nenhuma! E aí o quê? Quando entrar o próximo governador…” Ele escreve mais: “Mermão, não fica só no protesto virtual… Dá as caras! Sai na rua! Se mobiliza! Reclama! Reclama com o atual, porque o passado não adianta mais, não”. Outro post: “Em 2014, vai ter eleição. Preste atenção em quem você vai votar, mas reclama, mermão! Pode me usar. Pode me xingar. Pode me meter a porrada. Mas reclama! Digita aí mesmo. Mas vê se faz um favor: sai na rua!” Ainda: “A vida, mermão, não é só futebol, novela e mulher bonita na praia. ‘Ah, eu não gosto de política’. Foda-se que você não gosta. Mas você é governado por políticos e a sua omissão tá fazendo o povo viver na merda! Eu sou Ricardo Gama. Um abraço. Aflora, meu irmão! Põe pra fora! Vamo dar um basta!”.

QUEM É QUEM NO MILLENIUM

Um dos fundadores e curadores é o conhecido apresentador do BBB Brasil, da Rede Globo, Pedro Bial. Mas o Instituto Millenium é composto por:

Câmara de Fundadores e Doadores

Uma lista de 16 nomes, entre eles, os mais conhecidos são Guilherme Fiuza (jornalista), Gustavo Franco (ex-presidente do Banco Central no governo FHC), Helio Beltrão Filho (presidente do Mises Brasil e sócio e ex-presidente do Grupo Ultra), Paulo Guedes (economista) e Pedro Bial (apresentador do BBB, da TV Globo)

Câmara de Mantenedores

Alguns: Roberto Civita (presidente do Grupo Abril), João Roberto Marinho (um dos sócios da Rede Globo), Arminio Fraga (economista do governo FHC), Helio Beltrão Filho, Jorge Gerdau Johannpeter (presidente do Grupo Gerdau), Josué Gomes da Silva (filho de José Alencar, vice-presidente da República no governo Lula), Maristela Mafei (presidente da Máquina Public Relations), Nelson Sirotsky (presidente do Grupo RBS)

Câmara de Instituições

Confederação Nacional dos Jovens Empresários, Espírito Santo em Ação, Instituto Atlântico, Instituto de Cultura da Cidadania, Instituto de Estudos Empresariais, Instituto Liberal, Instituto Liberdade,
Instituto Ling, Instituto Mises Brasil e Movimento Endireita Brasil

Conselho de Governança

Presidente Amaury de Souza (morto em agosto passado), Antonio Carlos Pereira, Helio Beltrão Filho, João Roberto Marinho, Jorge Gerdau Johannpeter, Luiz Eduardo Vasconcelos, Roberto Civita, Paulo Guedes, Salim Mattar, William Ling e Pedro Henrique Mariani

Gestor do Fundo Patrimonial Armínio Fraga

Conselho Editorial

Antonio Carlos Pereira e Eurípedes Alcântara

Mantenedores e Parceiros

Abril, Gerdau, Localiza, Statoil (Grupo Líder), Suzano (Grupo Master), Instituto Ling, Mises Brasil (Grupo Associado), Thomsom Reuters, Maquina Public Relations, Grupo M&M, Grupo RBS, O Estado de S. Paulo

Doadores

Uma lista extensa, da qual constam João Roberto Marinho, Roberto Civita, Arminio Fraga, Josué Gomes da Silva, Leandro Narloch (o escritor best seller)

POR QUE NINGUÉM MATOU ESSE CARA?

“Não ignoro que é pela palavra muito mais do que por livros que se ganha os homens: todos os grandes movimentos que a História registrou ficaram a dever muito mais aos oradores do que aos escritores” Adolf Hitler, em Mein Kampf.

Fui ler, depois de velho (para esta reportagem) o tal do Mein Kampf, do canalha Adolf Hitler. Fiquei indignado. E recomendo a leitura para que todos percebam que esse foi o maior canalha da História.

O que ele escreve sobre os judeus é asqueroso. Não entendo como algum judeu alemão não o matou naqueles idos de 1924, quando ele escreveu esse lixo de ofensas. O maior gênio da humanidade, então, se chamava Albert Einstein, um judeu. E alemão. O maior gênio do cinema era outro judeu Charles Chaplin. Hitler, no entanto, afirma que os judeus “até parecem gente”, “não tomam banho”, “são covardes”, e os insulta com um sem-número de impropérios que só podiam sair da boca de um covarde, sádico, imoral e genocida, cujo assassinato, então, poderia ter salvo milhões de vidas de pessoas maravilhosas.

Extraído do sítio Viomundo