18 dezembro 2012

O QUE ESTÁ EM JOGO COM A VIDA DE HUGO CHÁVEZ - Guillermo Almeyra


Por sorte, a cirurgia saiu bem; porém, não gostaria de estar no lugar dos médicos cubanos que assumiram a responsabilidade histórica de combater, com sua ciência e sua vontade de tentar salvar a vida de Hugo Chávez. Porque deles não só depende um homem que, a sua maneira e com seus limites, luta valente e incansavelmente junto a seu povo e por seu povo para assegurar a independência da Venezuela e a unidade latino-americana frente ao imperialismo; pela eliminação da pobreza e da injustiça em seu país e no continente e pela auto-organização dos oprimidos. Porém, também porque desses médicos depende indiretamente o curso da economia cubana, da construção do Mercosul e da Unasul; da luta entre as classes na Venezuela, bem como as licitações entre os setores e forças que, nesse país, retardam e travam o processo de construção de poder popular e os que, ao contrário, tentar impulsioná-lo, combatendo o burocratismo e o paternalismo.

Se Chávez, com sua fortaleza e seu amor à vida, recomeçasse sua recuperação, de todos os modos, dificilmente, poderia assumir no dia 10 de janeiro, como estabelece a Constituição, que outorga o prazo de 90 dias, renováveis, ou seja, seis meses, para sua substituição pelo vice-presidente. Nesse domingo (16/12/12), realizaram-se as eleições legislativas regionais que determinarão a composição dos poderes Legislativos e dos poderes locais. Inclusive, em caso favorável de que nelas triunfasse o chavismo e pudesse conseguir uma cômoda maioria parlamentar, com o controle das principais regiões, se uma grande maioria vota como é de esperar pelos candidatos de Chávez para assegurar a estabilidade política e econômica, de todos os modos aumentaria a pressão da direita e do imperialismo em favor de novas eleições presidenciais. E aumentariam também as tensões internas e interinstitucionais no próprio governo e no chavismo quanto a qual política seguir, se uma conciliadora com a oposição e com Washington ou outra, de frontal oposição.

A Venezuela, portanto, entrará em um período complicado, pois Maduro não tem o carisma do presidente, e, além disso, enfrentará todo tipo de sabotagem econômica, de pressão midiática, de golpismo, aberto ou escondido, tanto se Chávez no prazo de seis meses ocupasse novamente seu cargo quanto se não pudesse fazê-lo ou, pior ainda, se não superasse as consequências pós operatórias.

Chávez e o chavismo se explicam pelo repúdio do povo venezuelano aos velhos partidos ligados à oligarquia e ao imperialismo. Foi o ‘caracazo’ quem abriu o caminho ao golpe dos militares nacionalistas e os tornou populares e foi o levante do povo quem defendeu Chávez contra o golpe de Estado que o destituiu e deteve, reinstalando-o no governo. Chávez é uma produção direta do processo denominado revolução bolivariana, não o seu criador; quando muito, é seu impulsor e, às vezes, inclusive, seu freio. É igualmente um mediador e um árbitro insubstituível entre as diferentes forças que atuam em dito processo, que vão desde a boliburguesia e a burocracia, pela direita; até as tentativas de auto-organização dos camponeses, vizinhos e trabalhadores, pela esquerda, com as forças armadas, cujos mandos declaram sua lealdade ao presidente, entre ambos os setores. Seu debilitamento ou seu desaparecimento criarão um vazio que as diversas forças tentarão ocupar.

Indiscutivelmente, Chávez é também o mais decidido e radical dos governantes latino-americanos. Tanto Dilma Rousseff quanto Cristina Fernández buscam, de fato, a quadratura do círculo; ou seja, desenvolver o capitalismo em seus respectivos países, com os instrumentos do neoliberalismo apenas modificados pelo assistencialismo estatal para que não aumentem muito a pobreza e o desemprego e não têm planos para o futuro imediato, nem muito menos planos de transformação. Além disso, os principais sócios do Mercosul são competidores em itens importantes e isso impede que dita associação avance, já que a Bolívia e o Uruguai são muito débeis e o Equador ainda tem uma economia dolarizada. A Venezuela, portanto, em parte vencendo a resistência da burguesia brasileira e, em menor medida, da Argentina, é o motor da integração sul-americana e, em boa medida, seu financiador. Sem Chávez, o processo integrador, portanto, poderia ser muito mais complexo e dificultoso.

Cuba, Nicarágua e vários países do Caribe dependem do petróleo subsidiado que lhes outorga a Venezuela bolivariana, que Cuba paga com a participação de seus médicos no serviço sanitário venezuelano, coisa que a direita venezuelana quer eliminar. A Bolívia recebe também apoios econômicos e investimentos, da mesma forma que a Argentina, que tem com Caracas negócios que não poderia obter em outros países. Tudo isso correria risco se Chávez deixasse de governar a Venezuela ou, inclusive, desapareceria abruptamente no caso de que, por meios legais ou ilegais, a direita e seus aliados internos no campo chavista pudessem impor uma virada política.

É certo que Chávez é o presidente de um país capitalista, como são os países do mundo e sua vontade socialista é, sobretudo, declarativa e se expressa com muitas contradições e confusão. Porém, é um revolucionário que dirige um processo de revolução democrática e anti-imperialista que, no imediato, está ameaçado pela direita. O mais elementar sentido comum obriga agora a todos aqueles que lutam pela libertação nacional e social de seus países a rechaçar o estéril ultraesquerdismo e unir filas com os trabalhadores e o povo venezuelanos e esperar que os excelentes médicos cubanos que o atendem voltem a colocá-lo em condições de ocupar seu lugar no progresso da Venezuela. Até a vida sempre! Viva a revolução bolivariana!

* Publicado originalmente no periódico La Jornada (México).

Extraído do sítio Adital

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