Será que o diálogo em que o ministro do STF promete uma vantagem àqueles que o nomeariam ("matar no peito" o julgamento do mensalão) pode ser considerado um ato de ofício? Paulo Henrique Amorim já pede abertamente seu impeachment. Reinaldo Azevedo vê conspiração para derrubá-lo e avisa que vem chumbo grosso em 2013; em Honduras, ministros da suprema corte foram derrubados pelo poder Legislativo.
247 - Foi calculada a entrevista do ministro Gilberto Carvalho ao jornalista Kennedy Alencar no último domingo? Nela, o ministro disse que, antes de ser nomeado para o Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux o procurou e que, sem que nada fosse perguntado a ele, começou a dizer que não havia provas no processo do mensalão e que "mataria no peito" a questão. A depender da interpretação, pode-se caracterizar aí um ato de ofício, ou seja, uma promessa de vantagem feita por aquele que concorria a um cargo a quem teria o poder de nomeá-lo. As confissões de Fux, constrangedoras, já abrem uma guerra na blogosfera. De um lado, Reinaldo Azevedo denuncia uma trama para derrubá-lo. Paulo Henrique Amorim, por sua vez, pede abertamente seu impeachment. Em Honduras, recentemente, diversos ministros da suprema corte foram derrubados por iniciativa do Poder Legislativo.
Confira, abaixo, o texto de Reinaldo Azevedo, que fala em chumbo grosso contra Fux:
Eis-me aqui, leitores, a fazer algumas considerações, conforme disse que poderia acontecer. Depois retomo o meu descanso. O ministro Luiz Fux, do STF, continua na mira dos petistas. E eles não o deixarão tão cedo, a menos que este membro da corte máxima do país pague a fatura na qual figura, segundo os petistas, como devedor. O mensalão já é jogo jogado. Ainda que o tribunal venha a admitir os embargos infringentes, de divergência, é difícil supor que Fux dê um voto oposto àquele que proferiu durante o julgamento. Mas sabem como é: o governo tem muitas demandas no Supremo. A coisa está feia: para o tribunal, para Fux, para as instituições. E o ministro pode se preparar porque vem mais bomba por aí.
O mais recente ataque a Fux partiu de Gilberto Carvalho, ninguém menos: ele é, por excelência, o braço de Lula no governo Dilma, mas é também homem de confiança da presidente. Quando fala, ele o faz em nome da chefe, a menos que seja desautorizado. E ele não foi. O que fez Carvalho?
Afirmou num programa de TV que manteve um encontro com Fux antes de este ser nomeado para o Supremo e que o então candidato a ministro lhe havia assegurado que lera o processo do mensalão e não encontrara provas contra os réus. Mais uma vez, os petistas estão afirmando, por palavras nem tão oblíquas, que Fux lhes prometera uma coisa — “matar a bola no peito” — e não entregou o prometido.
É espantoso! Mais do que sugestão, o conjunto das declarações — de Carvalho, de Dirceu e do próprio Fux, em entrevista — nos autoriza, por indução, a concluir que um dos critérios para a indicação do agora ministro foi a sua opinião de então sobre o mensalão. Depois, tudo indica, ele mudou. Fux já confirmou ter estado com José Dirceu antes de ser indicado por Dilma. Reuniu-se também com João Paulo Cunha. O que um pretendente ao cargo máximo do Judiciário tem a conversar com dois réus daquele calibre? Ninguém sabe. E isso Fux também não conseguiu explicar na entrevista que concedeu.
Ao anunciar a suposta mudança de opinião de Fux, Carvalho está confessando o que eles lá, ao menos, tinham entendido como uma conspirata a favor dos mensaleiros. Pior: como foi Dilma que indicou o ministro, Carvalho e todos os que insistem nessa linha de argumentação comprometem a presidente com uma óbvia agressão ao Supremo e à independência entre os Poderes: Fux teria sido escolhido para cumprir uma missão — que não seria, por óbvio, fazer justiça.
Os antecedentes e o que se viu
O leitor tem o direito de saber que petistas viviam falando pelos cantos, para repórteres, algo mais ou menos assim: “Fux tá no papo; é nosso!”. Os mais boquirrotos davam o acordo como celebrado. A metáfora do “matar a bola no peito” já era muito conhecida. Os votos do ministro pegaram, sim, os petistas de surpresa e, em larga medida, os jornalistas. E petistas não o perdoam por isso. Se acham Joaquim Barbosa — o “negro que nós [Eles!!!] nomeamos”, como disse João Paulo — ingrato, eles têm Fux na cota de um traidor.
E não pensem que já esvaziaram todo o saco de maldades. Pelo cheiro da brilhantina, como se dizia antigamente, vem mais coisa contra o ministro em 2013. Os mais exaltados chegam a prometer que ele terá de deixar o tribunal porque acabaria ficando provado que não tem condições de exercer a função. Até onde pode ir o ódio punitivo? É o que veremos.
O QUE NÃO ESTÁ CLARO NO TRIBUNAL INFORMAL DO PETISMO É SE HÁ OU NÃO CONDIÇÕES DE FUX SER REABILITADO PELA COMPANHEIRADA — vale dizer: ainda não se decidiu se vão lhe apresentar uma fatura, exigindo, em troca, o bom comportamento ou se a condenação já pode ser considerada transitada em julgado — nessa hipótese, só restaria mesmo o paredão.
A tropa não brinca em serviço. Nesse momento — é Fux não deve ignorá-lo —, a sua carreira de juiz no Rio está sendo escarafunchada. Não é que os petistas não gostem de uma coisa ou de outra e tenham sido tomados por um surto de moralidade ou de moralismo. Não! Vigora a palavra de ordem de sempre: “Quem está conosco é gente boa; quem não está vai para a boca do sapo”.
Fux pode se preparar que vem chumbo grosso por aí. Ou, então, se anula como membro da nossa Corte Suprema e se torna mero esbirro de um projeto partidário — nesse caso, tem até modelo a ser seguido. A “máquina” está lhe dizendo algo assim: “Ou se entrega ou nós acabamos com a sua reputação”. A chantagem é asquerosa, e só nos resta torcer para que as ameaças sejam inúteis porque brandidas no vazio.
Nunca antes na história destepaiz um ministro de estado confessou que um candidato a ministro do Supremo lhe havia feito juízo de mérito sobre um processo em tramitação na Corte para a qual este pretendia ser nomeado.
Se você acharam 2012 animado, esperem só para ver 2013…
Por Reinaldo Azevedo
E também o texto de Paulo Henrique Amorim:
OPOSIÇÃO VAI PEDIR
O IMPEACHMENT DE FUX ?
Informa o Estadão que líderes do Governo, como Eduardo Braga e Walter Pinheiro, se calaram diante da notícia. E Fux também.
A oposição quer explicações do secretário-geral da Presidência da República, ministro Gilberto Carvalho, sobre uma conversa dele com o ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux. Antes de ser indicado à Corte, Fux teria procurado Carvalho e afirmado que o processo do mensalão “não tinha prova nenhuma” e que “tomaria uma posição muito clara” durante o julgamento.
“É um fato gravíssimo. Primeiro porque é um ministro antecipando seu voto em um julgamento. Segundo, porque dá a entender que o Fux só foi indicado (ao STF) porque havia se posicionado daquela maneira”, afirmou o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO). A declaração de Carvalho foi dada em entrevista ao programa É Notícia, exibido na noite de anteontem pela Rede TV.
A oposição, segundo o Estadão, também chama Fux às falas.
Informa o Estadão que líderes do Governo, como Eduardo Braga e Walter Pinheiro, se calaram diante da notícia.
E Fux também.
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