31 outubro 2011

QUAL O MELHOR ESQUEMA NO FUTEBOL? - José Roberto Torero*

O primeiro grande teórico do futebol foi Adam Smith, técnico do Liberal Esporte Clube. Um século depois surgiu K. Henrich Marx, que dirigiu o Grêmio Recreativo Das Kapital. Por fim, houve o caso de Mikhail Bakunin, jogador do Dínamo de Premikhimo. Mas houve um técnico melhor que todos eles. Quem é ele e qual seu segredo?

Desde o início dos tempos a humanidade se faz três perguntas: 

O que existe depois da morte?

Qual o sentido da vida?

E qual o melhor esquema no futebol?

São três perguntas que estão presentes nas estantes das bibliotecas e nas mesas dos bares. 

Para as duas primeiras, eu responderia simplesmente “nada e nenhum”. Mas a terceira questão é bem mais complexa. Esta, sim, exige raciocínio, debate e conhecimentos filosóficos.

Adam Smith
O primeiro grande teórico do futebol foi Adam Smith, técnico do Liberal Esporte Clube, time escocês da pequena cidade de Kirkcaldy. Smith acreditava que os jogadores só dariam o máximo de si se fossem movidos pelo próprio interesse. Assim, sua equipe cultivava o individualismo ao extremo, com muitos dribles e poucos passes.

Karl Marx
Um século depois surgiu outro importante filósofo ludopédico: K. Henrich Marx, que dirigiu o Grêmio Recreativo Das Kapital, time alemão que privilegiava o jogo coletivo, com um sólido planejamento central, feito pelo técnico no vestiário. O Das Kapital criou um novo conceito de futebol, com uma interessante filosofia de conjunto.

Mikhail Bakunin
Por fim, houve o caso de Mikhail Bakunin, jogador do Dínamo de Premikhimo, que dizia que o melhor era que não houvesse técnico e que cada atleta um fizesse o quisesse, mas sempre pensando no time. A equipe deveria ser como um organismo vivo, feito a partir da liberdade de seus jogadores. Infelizmente as experiências com times que seguiam a tese de Bakunin não duraram muito, e assim ainda não podemos saber como seria sua equipe na prática.

Pois bem, nenhum desses esquemas deu muito certo até hoje. O de Adam privilegia demais o individualismo, o de Henrich engessa as habilidades individuais, e o de Mikhail é tão complexo que ainda não conseguiu ser testado.

Mas há um técnico que conseguiu unir o melhor destes três esquemas. Um técnico que finalmente amalgamou o melhor das três grandes teorias. Quem é este gênio? O senhor Josep Guardiola i Sala. 


Sim, revolucionários leitores, Pep Guardiola, o técnico do Barcelona, conseguiu unir as três grandes filosofias ludopédicas.

Quereis provas? É só ver um jogo da equipe catalã. Ali você terá belos avanços individuais, cheios de dribles desconcertantes, terá um jogo coletivo, repleto de passes inteligentes, e perceberá que os jogadores têm a liberdade para criar novas jogadas a partir das circunstâncias, com a equipe atuando como se fosse um organismo vivo. 

Mas Pep não inventou sua teoria do nada. Assim como os grandes filósofos, ele teve antecessores. Antes dele, no Barcelona passaram Johan Cruyff, Bobby Robson, Van Gaal e Frank Rijkaard, que foram dando a base da filosofia atual.

Para os que pensam que o time apenas joga bonito (como se jogar bonito fosse “apenas” um detalhe), eis o que o clube ganhou este ano: Campeonato Espanhol, Copa da Espanha, Copa dos Campeões e Supercopa da Europa. Ou seja, tudo que disputou.

Pep Guardiola conseguiu unir talento individual, organização coletiva e liberdade. Beleza e eficiência. Solidariedade e prazer. É meu candidato ao Nobel de economia.

* José Roberto Torero é formado em Letras e Jornalismo pela USP, publicou 24 livros, entre eles O Chalaça (Prêmio Jabuti e Livro do ano em 1995), Pequenos Amores (Prêmio Jabuti 2004) e, mais recentemente, O Evangelho de Barrabás. É colunista de futebol na Folha de S.Paulo desde 1998. Escreveu também para o Jornal da Tarde e para a revista Placar. Dirigiu alguns curtas-metragens e o longa Como fazer um filme de amor. É roteirista de cinema e tevê, onde por oito anos escreveu o Retrato Falado.

Extraído do sítio Carta Maior

"É UM ERRO BASEAR TODA A RELAÇÃO COM A CHINA NO ASPECTO ECONÔMICO - Marcelo Justo

Em entrevista à Carta Maior, Sun Hongbo, especialista do Instituto de Estudos Latinoamericanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais, fala sobre as relações econômicas entre seu país e a América Latina. Para ele, o caminho para a solução de desequilíbrios é inovar na cooperação e na integração dos interesses econômicos de ambas as partes. A China é o parceiro comercial mais importante do Brasil desde 2009. É também o primeiro destino das exportações brasileiras e a sua segunda fonte de importações.

Shangai - China
O comércio entre a América Latina e a China passou da casa dos 10 bilhões de dólares em 2000 para mais de 100 bilhões, em 2009. O investimento chinês também deu um salto importante nos últimos anos, sobretudo no Brasil. E, no entanto, a relação que parecia de amor eterno durante a viagem de Hu Jintao para a América Latina em 2004 deu lugar a uma mistura de necessidade mútua e desconfiança. 

Pouco antes de assumir, Dilma Rousseff visitou a China, para mostrar reconhecimento da importância que a relação bilateral adquiriu, mas ao mesmo tempo, tanto no Brasil como na Argentina ou no México, há um debate crescente a respeito do que parece uma reedição do velho modelo colonial de exportação de bens primários e importação de produtos industrializados. O especialista do Instituto de Estudos Latinoamericanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Sun Hongbo, conversou com a Carta Maior e já se referiu, de início, à vitória de Cristina Fernández na Argentina.

Sun Hongbo: A reeleição é um grande acontecimento no quadro da transformação política que a Argentina vive, que vai ajudar a unificar o país e manter o atual crescimento. A Argentina está num extraordinário processo de desenvolvimento econômico com um crescimento anual em torno de de 9% desde 2004, se não incluirmos 2009 na crise econômica mundial. A sua [de Cristina] vitória dá ao governo o espaço político necessário para implementar uma estratégia coerente nos âmbitos fiscal, monetário e comercial para enfrentar a atual crise econômica global. Estou certo de que essa vitória estimulará uma integração maior na América do Sul. Um aprofundamento da integração a América do Sul pode ajudar à construção de mecanismos de diálogo mais produtivos entre a China e a região.

Carta Maior – No Brasil, na Argentina e em outros países da América Latina há uma percepção de um desequilíbrio na relação comercial por meio da qual se vende para a China produtos primários e se compra industrializados. É possível mudar essa dinâmica?

Sun Hongbo – A raiz do problema é inovar na cooperação e na integração dos interesses econômicos de ambas as partes. A China é o parceiro comercial mais importante do Brasil desde 2009. É também o primeiro destino das exportações brasileiras e a sua segunda fonte de importações. Em 2010 o Brasil foi o novo sócio comercial da China e o comércio bilateral ultrapassou os 62 bilhões de dólares, um aumento de 47,5% em relação ao ano anterior. Isso representa 34% do comércio da China com a região. 

A importância e a profundidade do vínculo bilateral é inegável. Conheço o debate na imprensa brasileira a respeito de se China é um sócio ou uma ameaça para o Brasil. O argumento de que as exportações de produtos primários do Brasil não têm o valor agregado necessário e gerariam dependência. Também se percebe uma manipulação do valor do Yuan, o que gera uma concorrência desleal para os produtos brasileiros noutros mercados, algo que estaria causando um processo de desindustrialização.

Inclusive o investimento recente da China no Brasil deveria reforçar o diálogo sobre esses temores e discutir meios de otimização de sua estrutura de investimentos e a promoção do comércio bilateral. Ao mesmo tempo, ambos os países deveriam mudar sua cooperação bilateral comercial e econômica, e reforçar a cooperação tecnológica em áreas de enorme potencial, como a agricultura, a energia, a biologia, a indústria aeroespacial, a manufatura e os equipamentos.

Carta Maior – Há outra dimensão que é a relação político-diplomática da China com a América Latina. Isso é muito evidente com o Brasil e a estrutura do BRIC. 

Sun Hongbo – É um erro basear toda a relação no aspecto econômico. No atual panorama mundial há uma interdependência política e diplomática que se percebe nas parcerias estratégicas que a China tem estabelecido com o Brasil, a Argentina, o México, Venezuela e Peru. No nível diplomático, a China percebe que esta nova presença latino-americana favorecerá a criação de um mundo multipolar e melhor governado. Isto já se vê nas alianças formadas na Organização Internacional do Trabalho, no Fundo Monetário Internacional, no G20 e no Banco Mundial. Se a relação da China com o Brasil e com outros países latino-americanos ficar concentrada só no comércio, não será sustentável no futuro. 

Carta Maior – Agora se aproxima a reunião do G20. O que a China espera do Brasil?

Sun Hongbo – Acredito que Brasil, Argentina e China, como economias emergentes importantes têm um papel muito ativo no G20 e um interesse em comum que é mudar a ordem financeira internacional atual, promovendo a reforma do Fundo Monetário Internacional e alterando a proporção de votos dos países desenvolvidos. Também há interesses muito concretos em comum, como proteger o valor de suas reservas estrangeiras. Isso deveria aproximá-los para realizarem projetos de cooperação financeira bilateral que incluam intercâmbios de moeda, empréstimos para projetos de infraestrutura e desenvolvimento dos recursos naturais.

(Artigo de Marcelo Justo - direto da China. Tradução: Katarina Peixoto)

Extraído do sítio Carta Maior

CÂNCER ACONTECE QUANDO LULA AINDA É 'MAIS DOMINANTE' NO BRASIL, DIZ NYT

O diagnóstico do câncer do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva repercutiu na imprensa internacional neste domingo.

O jornal americano The New York Times publicou uma reportagem na qual afirma que o diagnóstico do câncer acontece em um momento em que o ex-presidente é visto como dominante na política brasileira.

"Desde que deixou a presidência, Silva, um ex-líder sindical, manteve ampla influência na política brasileira. Ele viajou muito dentro do Brasil e no exterior, fazendo discursos por cachês altos, e na semana passada ele apareceu ao lado [da presidente Dilma] Rousseff na inauguração de uma ponte na cidade amazônica de Manaus.""A revelação da sua condição acontece em um momento em que ele ainda é admirado aqui como o líder político contemporâneo mais dominante do Brasil", escreve o jornalista do New York Times Simon Romero, do Rio de Janeiro.

O New York Times diz que a notícia sobre Lula mostra um "contraste grande" em relação à forma como o presidente venezuelano, Hugo Chávez, revelou seu câncer, em junho.

Enquanto o brasileiro optou por revelar rapidamente a doença, Chávez "surpreendeu os venezuelanos" ao anunciar que já havia sido submetido a uma cirurgia, segundo o New York Times. O jornal também lembra que o venezuelano nunca revelou o tipo de câncer que teve.

Lula foi diagnosticado com câncer na laringe. A informação foi divulgada no sábado pelo hospital Sírio-Libanês, onde o ex-presidente fez exames após se queixar de dores na garganta. Ele começará quimioterapia na segunda-feira.
'Incerteza'

Uma reportagem do jornal argentino La Nacion afirma que o câncer do ex-presidente desperta incerteza entre os brasileiros sobre o futuro político de Lula.

"A inesperada notícia sobre a doença surpreendeu a todos os brasileiros e despertou uma grande incerteza sobre um eventual regresso de Lula à Presidência do Brasil, onde ele mantinha uma enorme influência política no atual governo", escreve o jornal argentino.

O La Nacion diz que o "carismático e popular" ex-presidente brasileiro terá pela frente uma "nova e inesperada batalha".

Já o jornal argentino El Clarin destacou que a notícia sobre a doença de Lula "surpreendeu os veículos brasileiros de imprensa", já que o ex-presidente havia anunciado que tinha começado a deixar de fumar cigarrilhas.

O El Clarin também destacou a repercussão da doença no Twitter, com várias mensagens de solidariedade acompanhadas das hashtags #vivalula e #forçalula.

O jornal espanhol El País disse que a notícia sobre Lula "correu como pólvora em todo o país".

Já o americano The Wall Street Journal destaca a importância "literal" da voz de Lula na política brasileira.

"Muito do sucesso de Lula se deve à sua voz. Como um país grande e recentemente industrializado sofrendo com uma ditadura militar, os sindicatos brasileiros estavam maduros para um rompimento nos anos 70", escrevem os jornalistas Matthew Cowley e Tom Murphy.

"No sentido literal, Lula, um ex-sindicalista, deu aos trabalhadores uma voz."

Extraído de BBC Brasil

TKCSA ATACA A PESQUISA CIENTÍFICA BRASILEIRA - Saulo Machado

A grande imprensa e os paladinos da liberdade (da imprensa, apenas) somem, ou fogem, de um gravíssimo caso que fere a independência da pesquisa científica e a liberdade do corpo acadêmico em desenvolver estudos e gerar conhecimento.

Este mês o Jornal do Brasil online publicou que a ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA) – famosa por sua atuação na região da Baia de Sepetiba – está movendo uma ação contra pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Hospital Pedro Ernesto (UERJ). Tudo isso por causa de pesquisas onde são apontados danos à população local causados pela atividade da CSA .

Segundo o jornal (confirmado pelo site da Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP/Fiocruz), o pneumologista e pesquisador Hermano Castro, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) e o engenheiro sanitarista Alexandre Pessoa Dias, da Fiocruz, são alvos das ações da Thyssen. Além de Mônica Cristina Lima, bióloga do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Uerj).

Agora só falta soltarem os cães
sobre  os pesquisadores da
Fiocruz
Segundo o JB, a lista de malefícios à população é extensa. A pesquisadora Mônica Lima disse ao jornal que o “risco de câncer e aborto espontâneo a longo prazo devido aos gases tóxicos, além de casos de alergia relacionados ao material expelido pela empresa” já são bem relatado na literatura abordando atividade de siderúrgicas. Porém foram ignorados no estudo de impacto ao meio ambiente (RIMA) encomendado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro e realizado pela empresa de consultoria ERM Brasil.

Mas essa introdução toda foi para chegar ao ponto crucial para este texto: A CSA quer calar os pesquisadores tentando qualificar os estudos independentes como “danos morais” (tática cada vez mais utilizada ultimamente por grandes empresas para calar quem as contradiz).

A questão é séria e o silêncio da imprensa bem estranho!

O desfecho neste caso, se for parar na justiça, pode definir o exercício livre da pesquisa científica no país. Se a justiça entender que realmente os estudos científicos se caracterizam danos morais à CSA, imaginem a enxurrada de processos que teremos contra estudos avaliando o impacto desde um boteco na esquina que lança esgoto em um rio, até grandes corporações, como indústria de cosméticos ou petrolífera que representam uma ameaça ainda maior (com relação à sua estrutura).

Poderão calar qualquer um. Desde estudos que apontem malefícios de medicamentos (como recentemente com emagrecedores a base de anfetaminas) até o risco de instalação de empreendimentos que potencialmente impactariam o meio ambiente.

Sem falar no conflito de interesses envolvido no caso. Como garantir que uma empresa contratada pelo interessado atuaria com lisura no estudo dos possíveis impactos de determinada obra ou atividade, embora posteriormente tenham, ou não, que se explicar às autoridades quanto aos resultados de tais estudos?

Dá para entender como se daria isso?

Quem seria a autoridade quando a empresa contratada para o estudo, foi contratada pela “autoridade” (no caso o Governo do Estado)? Essa é uma outra questão séria que está começando a despertar a atenção no país. 

O mesmo jornalismo investigativo, que se auto-intitula independente se cala neste momento (é só fazer uma busca rápida no google para constatar isso).

Quando, na falta de jornalismo e autoridades independentes, querem calar até pesquisa científica, necessária para geração de conhecimento e livre para contestar casos como este, se acende o sinal amarelo.

Apenas um jornal (online e de média abrangência se comparamos com O Globo e Folha) noticiou o caso. Na internet poucos blogs tratam do assunto, para mim, infinitamente mais importante do que se ministro cai ou não. Ministros caem e sobem em questão de dias. Já mordaças, podem durar décadas.

Em tempo: Segundo a matéria do JB “A ThyssenKrupp não tem um histórico exatamente positivo. Um dos mais notórios líderes da empresa, Alfried Krupp, foi condenado após a Segunda Guerra Mundial por crimes de guerra graças a sua estreita relação com o governo nazista. Nos tempos de Hitler, a 23% dos 100 mil trabalhadores da Krupp eram prisioneiros de guerra e trabalhavam em regime de escravidão.”
***
Atualização (18:20): 

Dia 20 de outubro o Blog Maria Frô já havia noticiado os impactos socioambientais causados pela TKCSA.

ABRASCO manifesta seu apoio ao pesquisador Hermano Albuquerque de Castro:

A Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO) vem a público se solidarizar com o pesquisador Dr. Hermano Albuquerque de Castro, membro do Grupo Temático de Saúde e Ambiente da ABRASCO e docente da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), diante da tentativa de desqualificação técnica a ele perpetrada pela empresa ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA). Após dois graves acidentes, ocorridos por falhas no processo da siderurgia, a população vizinha à fábrica instalada em Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro, foi atingida por poluentes ambientais. Ambos episódios geraram queixas e exacerbações de doenças entre a comunidade vizinha ao empreendimento. O pesquisador prontamente atendeu e acolheu a população que procurou o ambulatório de doenças ocupacionais e ambientais daquela Instituição. O atendimento gerou um laudo orientador para a Saúde Pública onde se aponta a necessidade de maiores investigações e vigilância por parte das autoridades públicas. O empreendimento, ao invés de buscar o diálogo e o desenvolvimento de ações necessárias para proteger a saúde a população, e desse modo agir dentro do princípio precaucionário da Organização Mundial de Saúde, preferiu desqualificar publicamente o pesquisador, distribuindo à comunidade um folheto corporativo de conteúdo panfletário e distorcido. Veja o documento completo clicando aqui.




Extraído do sítio Ponto & Contraponto

CÂNCER DE LULA FAZ FOLHA DE S. PAULO SE ENVERGONHAR - Ana Helena Tavares

Seguindo dica da amiga Luciana Rocha, o QTMD? reproduz abaixo dois textos da Folha de S. Paulo. Estão envergonhados das pessoas que desejam a morte de Lula e que pedem que ele vá para o SUS. Não digo com isso que querer que Lula vá pro SUS seja querer sua morte, muito ao contrário. O INCA, que pertence ao SUS, é centro de referência no tratamento de câncer. Mas muitos brasileiros têm, de fato, expressado o desejo de ver Lula morto. E, ao que parece, isso está envergonhando até a Folha. Mas quem alimenta cobras, o que pode esperar senão veneno?

Sob anonimato, brasileiro não é solidário no câncer - Por Xico Sá

É, tio Nelson, o brasileiro, quando protegido pelo anonimato, não é solidário nem no câncer.
E não estamos batucando na tecla e no lengalenga do politicamente correto. Corta essa.
O brasileiro não é solidário nem no câncer em muitas ocasiões.
É o que vemos nos comentários de blogs e redes sociais agora em relação à doença do ex-presidente Lula.
Nas ruas, nas famílias e na missa de corpo presente, ainda vale a comoção, a compaixão, piedade e outros sentimentos. 
Sob o capa de um anônimo e furioso Batman, o ataque dos comentaristas é fulminante, a doença vira metáfora para o desabafo e a ira política dos fundamentalistas que enfrentam diuturnamente o lulismo-petista.
“Minha suspeita é que a interatividade democrática da internet é, de um lado um avanço do jornalismo e, de outro, uma porta direta com o esgoto de ressentimento e da ignorância”, escreveu Gilberto Dimenstein, espantado com as manifestações recebidas na caixa de comentários da sua coluna aqui na Folha.com (confira abaixo).
Vasculhando as caixas postais de vários blogs e colunas que trataram sobre o assunto, observamos que não é um caso isolado. É tendência. Tem, mas está faltando a referida solidariedade.
Agora vemos o personagem Edgar, da peça “Bonitinha mas ordinária”, do tio Nelson Rodrigues, salivando, obsessivo, atribuindo a sentença ao Otto Lara Resende: ”O mineiro só é solidário no câncer.”
O mineiro aqui entra como parte pelo todo, claro, mas deixemos o próprio canalha Edgar com o verbo, de novo:
“Mas olha a sutileza, não é bem o mineiro, ou não é só o mineiro. É o homem, o ser humano. Eu, o senhor ou qualquer um, só é solidário no câncer. Compreendeu?”
É, tio Nelson, este último reduto da solidariedade está indo para o saco. Pelo menos no baile de mascarados da internet.

O câncer de Lula me envergonhou - Por Gilberto Dimenstein

Senti um misto de vergonha e enjoo ao receber centenas de comentários de leitores para a minha coluna sobre o câncer de Lula. Fossem apenas algumas dezenas, não me daria o trabalho de comentar. O fato é que foi uma enxurrada de ataques desrespeitosos, desumanos, raivosos, mostrando prazer com a tragédia de um ser humano. Pode sinalizar algo mais profundo.
Centenas de e-mails pediam que Lula não se tratasse num hospital de elite, mas no SUS para supostamente mostrar solidariedade com os mais pobres. É de uma tolice sem tamanho. O que provoca tanto ódio de uma minoria?
Lula teve muitos problemas – e merece ser criticado por muitas coisas, a começar por uma conivência com a corrupção. Mas não foi um ditador, manteve as regras democráticas e a economia crescendo, investiu como nunca no social.
No caso de seu câncer, tratou a doença com extrema transparência e altivez. É um caso, portanto, em que todos deveriam se sentir incomodados com a tragédia alheia.
Minha suspeita é que a interatividade democrática da internet é, de um lado um avanço do jornalismo e, de outro, uma porta direta com o esgoto de ressentimento e da ignorância.
Isso significa quem um dos nossos papéis como jornalistas é educar os e-leitores a se comportar com um mínimo de decência.

(Extraído do blog Quem tem medo da democracia)

OUT/2011 - POLÍTICA

  1. O DNA de Bin Laden - Drauzio Varella 
  2. Che Guevara e os mortos que nunca morrem - Eric Nepomuceno 
  3. Os 99% que ocuparam Wall Street - Amy Goodman 
  4. Charge: 'Occupy Wall Street' - Latuff 
  5. 'New York Times' e 'Financial Times' dizem que indignação é justa 
  6. A espiral da insensatez - Silvio Caccia Bava 
  7. 43 milhões de europeus sem dinheiro para comer 
  8. Maioria dos nova-iorquinos apóia o 'Occupy Wall Street', aponta pesquisa 
  9. O autismo da direita chegou a seu limite - Flávio Aguiar 
  10. Reforma política e referendo depois - Marcos Coimbra 
  11. Polícia Civil indicia dois brigadianos por protestos e ameaças de bomba no RS 
  12. Dilma apóia transição na Líbia, mas diz que morte não deve ser "comemorada" - Daniel Gallas 
  13. "A Comissão da Verdade é uma imposição da consciência" - Eduardo Sá 
  14. Os 'donos' do mundo - Frade Marcos Sassatelli 
  15. STF revoga lei e reabre chance à fraude - Brizola Neto 
  16. Os 'gangsters' imperialistas - Guillermo Almeyra 
  17. A globalização da revolta - Antônio Lassance 
  18. OTAN e o mundo - Ivan Lessa 
  19. Occupy Wall Street: chega de chiclete! - Mike Davis 
  20. Líbia: Haverá paz depois da guerra? - Jan Oberg 
  21. Michael Moore: "Sobreviver, cercado pelos 1%" 
  22. Berlusconi Swings Softly - Ivan Lessa 
  23. A pauta que não quer calar - Luciano Martins Costa
  24. A depravação da América - John Kozy 
  25. Câncer acontece quando Lula ainda é "mais dominante" no Brasil, diz New York Times 
  26. EUA cortam repasse de recursos à UNESCO após reconhecimento do Estado Palestino 

OUT/2011 - IMPRENSA

  1. Caso Bünchen: onde está a censura? - Venício A. de Lima 
  2. Veja: descoberta a origem da poluição do rio Pinheiros em SP - Leonardo Arndt 
  3. Por que derrubar Orlando Silva? Siga o dinheiro em Liechtenstein pago pela TV Globo 
  4. Aqui a gente se vê: 'O GLOBO' todo indignado, em 'ÉPOCA' de marchas e mudanças, e 'VEJA' só 'O ESTADÃO' da imprensa nacional. 'ISTO É' ou não uma vergonha? - Zeca Ermida 
  5. Ditadura da mídia mantém operação derruba ministro a pleno vapor - José Dirceu 
  6. Passo a passo do golpe (tutorial do Millenium) - LEN 
  7. Globo organiza o partido da despolitização da política - Milton Temer 
  8. Tarso: grande mídia quer instituir 'justiça paralela' no Brasil - Igor Natusch 
  9. Tarso rechaça editorial da RBS e diz que empresa manipulou conteúdo de conferência - Marco Aurélio Weissheimer 
  10. Quem tem medo da democratização da mídia? - Emir Sader
  11. Máfia midiática do Rio Grande do Sul - Cloaca News 
  12. Juiz critica monopólios na mídia e aponta manipulação em cobertura da RBS - Marco Aurélio Weissheimer 
  13. Uma aula sobre o P.I.G. - Partido da imprensa golpista 
  14. Da leniência ao denuncismo midiático 
  15. Wikileaks: William Waack, da Globo, é citado três vezes como informante dos EUA 
  16. Waack também almoçou na Casa Grande - Miguel do Rosário 
  17. Charge do Bessinha 
  18. Porta-voz do Wikileaks diz que "bloqueio financeiro" impede retorno das atividades 
  19. Câncer de Lula faz Folha de S. Paulo se envergonhar - Ana Helena Tavares 
  20. TKCSA ataca a pesquisa científica brasileira - Saulo Machado

OUT/2011 - ECONOMIA

30 outubro 2011

PORTA-VOZ DO WIKILEAKS DIZ QUE "BLOQUEIO FINANCEIRO" IMPEDE RETORNO DAS ATIVIDADES

Segundo Kristinn Hrafnsson, que participa do 1º Encontro Mundial de Blogueiros, em Foz do Iguaçu (PR), ainda não há prazo para retorno do serviço, suspenso desde o início da semana. Entidade precisa de US$ 3,2 milhões em 2012. Visa, Mastercard, Paypal e Bank of America deixaram de receber doações após pressão do governo dos EUA. Matéria de Marcel Gomes

Foz do Iguaçu - O jornalista islandês Kristinn Hrafnsson, porta-voz do WikiLeaks, disse que a organização está "sob ataque dos poderes financeiros do mundo" e ainda "não encontrou uma solução para garantir sua sobrevivência". No início desta semana, o WikiLeaks anuncicou que suspenderia temporariamente suas atividades por falta de recursos financeiros.

"Paramos porque precisamos nos dedicar integralmente a obter fundos", explicou Hrafnsson, que participa do 1º Encontro Mundial de Blogueiros, nesta sexta-feira (28), em Foz do Iguaçu (PR). Segundo ele, as empresas que intermediavam as doações para a organização - Visa, Mastercard, Paypal e Bank of America - suspenderam unilateralmente o serviço por pressão do governo dos Estados Unidos.

Criado em 2006 na Suécia, o WikiLeaks ganhou notoriedade por divulgar documentos secretos de governos, empresas e organizações, e sobrevive através de doações. O bloqueio financeiro foi estabelecido após a divulgação de 250 mil despachos diplomáticos dos EUA, no final do ano passado. Os documentos revelavam que diplomatas norte-americanos buscavam dados pessoais de líderes estrangeiros, em atividade considerada similar à espionagem.

"É uma batalha muito custosa para nós. Já levamos esse assunto para a Comissão Européia, os governos do Reino Unido e da Austrália, mas ainda não há nenhuma solução à vista", declarou. O fim da parceira com as empresas financeiras já impediu que 1,6 milhão de dólares alcançassem os cofres da entidade. Para funcionar em 2012, o orçamento necessário é de pelo menos 3,2 milhões de dólares.

Apesar das dificuldades, Hrafnsson trata a suspensão do funcionamento do WikiLeaks como temporária. A organização trabalha para lançar em breve um novo método de submissão (dropbox) de documentos que permitirá que pessoas de mais países - inclusive do Brasil - enviem informações para divulgação.

Em sua fala no encontro dos blogueiros, o jornalista islandês ainda criticou as parcerias feitas pelo WikiLeaks com empresas de mídia tradicional - como The Guardian, New York Times, El Pais, Der Spiegel e Le Monde - para uso de documentos na produção de reportagens. "Não vou dizer que erramos, porque nosso primeiro compromisso é conseguir o máximo de impacto com nossos serviços. Mas precisamos reestruturar esses acordos", afirmou.

Ele admitiu que reportagens feitas com o material oferecido pelo WikiLeaks censuraram informações, e outras optaram por tratar de questões menores - "casos particulares como os das celebridades de Hollywood" - do que do problema central divulgado pelos documentos, que muitas vezes envolviam poderosos atores políticos e econômicos.

(Extraída do Portal Carta Maior).

ESPANHA E PORTUGAL PEDEM AJUDA FINANCEIRA PARA AMÉRICA LATINA

Durante Cúpula Ibero-americana no Paraguai, europeus recorrem a suas antigas colônias para tentar reerguer suas economias, abaladas pela crise da dívida na zona do euro. Brasil teria demonstrado interesse em ajudar.

A crise da dívida que atinge a Europa é assunto dominante nos dois dias da 21º Cúpula Ibero-americana, que termina neste sábado (29/10), em Assunção. Ainda sem encontrar uma saída definitiva para a crise enfrentada por alguns de seus países-membros, a zona do euro busca ajuda de economias emergentes com alta liquidez, como China e Brasil.

"Pela primeira vez a América Latina não é parte do problema, mas sim da solução", disse o titular da Secretaria-Geral Ibero-americana (Segib), Enrique Iglesias. O economista apelou aos países da América Latina por solidariedade para com Espanha e Portugal, países os quais, segundo ele, fizeram investimentos importantes e crescentes no continente americano.

"Agora o processo é inverso, o que vai criar um balanço positivo entre as duas partes", disse o economista. "Esta cúpula coincide com um dos momentos mais confusos e turbulentos da economia mundial nos últimos 70 anos", ressaltou.

O encontro na capital paraguaia reúne os chefes de governo dos 19 países latino-americanos, além de Espanha e Portugal. A situação dos europeus ainda preocupa. Portugal precisou de recursos do fundo de resgate do euro para alavancar sua economia e a Espanha implantou duras medidas de austeridade para tentar reconquistar a confiança de seus investidores.

Ajuda brasileira

Depois de Grécia e Irlanda, Portugal foi o terceiro país da zona do euro a se ver obrigado a apelar para o pacote de resgate europeu. Seus parceiros no bloco e o Fundo Monetário Internacional (FMI) autorizaram uma injeção financeira no país de 78 bilhões de euros.

Para o primeiro-ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, a crise mundial obriga os países afetados a rever sua gestão política e econômica a fim de que possam se manter competitivos. Antes de sua chegada em Assunção, Coelho e o presidente português, Aníbal Cavaco e Silva, estiveram em São Paulo e Brasília, onde se reuniram com a presidente Dilma Rousseff. O teor da conversa entre os chefes de Estado durante a visita não-oficial não foi divulgado, mas há especulações de que os portugueses tenham interesse na participação de empresas brasileiras em processos de privatização em Portugal.

O Brasil – sétima maior economia do mundo – teria apresentado, segundo o FMI, planos para comprar títulos da dívida europeia juntamente com outros integrantes dos BRICS (que, além de Brasil reúne Rússia, Índia, China e África do Sul). A proposta brasileira, no entanto, teria sido retirada após a manifestação morna de seus parceiros emergentes.

América Latina agora é vista como parte da solução para crise na Europa.
Os europeus querem incrementar o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) por meio de um instrumento chamado "veículo de inversão com propósito especial" (SPIV, sigla em inglês). Fontes do governo brasileiro afirmaram que o país está disposto a ajudar a Europa por meio de um acordo com o FMI, descartando no momento, porém, investir no SPIV, já que os detalhes do plano ainda não estão claros. A maior economia da América Latina acredita que rota bilateral, na qual o FMI repassaria recursos brasileiros a um país atribulado, seria a forma mais rápida de ajudar os países da zona do euro, que tentam recuperar a confiança dos mercados.

Grandes expectativas

A Espanha ainda não precisou de ajuda do fundo. No entanto, após o estouro da bolha imobiliária, o país chegou a um máximo histórico em sua taxa de desemprego, que alcançou 21,5% da população economicamente ativa – o mais alto índice da União Europeia. Além disso, a população espanhola vem se submetendo a duras medidas de austeridade introduzidas por Zapatero. Os mercados financeiros ainda se mostram desconfiados e pedem altas taxas de juros em troca de capital. Já os bancos espanhóis também enfrentam um grande desafio: reunir 26 bilhões de euros para elevar sua taxa de capital básico.

"Esta crise nos mostra que não há saídas isoladamente, por mais poderosos que sejam os países", afirmou o presidente paraguaio, Fernando Lugo, anfitrião do encontro, em seu discurso de abertura.

Antes do início da cúpula, o primeiro-ministro espanhol, José Luis Zapatero, afirmou que as expectativas com o encontro eram grandes. " A América Latina está passando por um momento muito bom e esperamos que este encontro sirva para fortalecer vínculos", disse.

Durante a cúpula também foi debatido o papel dos governos na atual conjuntura financeira. Apesar da crise financeira, a América Latina prevê alcançar um crescimento médio este ano de 6%, embora a prosperidade não chegue a toda a população. Um em cada três habitantes do continente vive na pobreza. A região é considerada como uma das mais desiguais do mundo no que diz respeito à distribuição de renda.

(Reportagem de Eva Usi - extraído de Deutsch Welle)

29 outubro 2011

A DEPRAVAÇÃO DA AMÉRICA - John Kozy*


A cultura dos Estados Unidos foi inundada por um tsunami de mentiras. O marketing se tornou a atividade predominante da cultura. É uma coisa seguida por pessoas de negócios, políticos e pela mídia. O dinheiro é tudo o que importa. Foi-se o tempo em que a ética protestante definia o caráter dos EUA. Ela foi usada pelos sociólogos como fator responsável pelo sucesso do capitalismo na Europa do Norte e nos EUA, mas a ética protestante e o capitalismo se tornaram incompatíveis. A "América" está se tornando uma região de depravação raramente superada pelas piores nações da história. O artigo é de John Kozy - Global Research

Foi-se o tempo em que a ética protestante definia o caráter dos Estados Unidos. Ela foi usada como fator responsável pelo sucesso do capitalismo na Europa do Norte e na América, pelos sociólogos, mas a ética protestante e o capitalismo são incompatíveis, e o capitalismo, em última análise, faz com que a ética protestante seja abandonada.

Há um novo ethos que emergiu, e as elites governamentais não o entendem. Trata-se do etos da “grande oportunidade”, do “prêmio”, da “próxima grande ideia”. A marcha lenta e deliberada em direção ao sucesso é hoje uma condenação do destino. Junto à próxima grande ideia comercial está o novo modelo do "sonho americano". Tudo o que importa é o dinheiro. Dada essa atitude, poucos na América expressam preocupações morais. A riqueza é só o que se tem em vista; vale inclusive nos destruir para alcançá-la. E se não chegamos lá ainda, certamente em breve chegaremos. 

Eu suspeito que a maior parte das pessoas gostaria de acreditar que sociedades, não importa as bases de suas origens, tornam-se melhores com o tempo. Infelizmente a história desmente essa noção; frequentemente as sociedades se tornam piores com o tempo. Os Estados Unidos da América não é exceção. O país não foi benigno em sua origem e agora declina, tornando-se uma região de depravação raramente superada pelas piores nações da história.

Embora seja impossível encontrar números que provem que a moralidade na América declinou, evidências cotidianas estão onde quer que se veja. Quase todo mundo pode citar situações nas quais o bem estar das pessoas foi sacrificado pelo bem das instituições públicas ou privadas, mas parece impossível citar um só exemplo de instituição pública ou privada que tenha sido sacrificada em nome do povo. 

Se a moralidade tem a ver com o modo como as pessoas são tratadas, pode-se perguntar legitimamente onde a moralidade desempenha um papel no que está se passando nos EUA? A resposta parece ser: “Em lugar nenhum!” Então, o que tem aconteceu nos EUA para se ter a atual epidemia de afirmações de que a moralidade na América colapsou? 

Bem, a cultura mudou drasticamente nos últimos cinquenta anos. Foi isso o que aconteceu. Houve um tempo em que a "América", o "caráter americano", era definido em termos do que se chamava de Ética Protestante. O sociólogo Max Weber atribuiu o sucesso do capitalismo a isso. Infelizmente, Max foi negligente; ele estava errado, completamente errado. O capitalismo e a ética protestante são inconsistentes entre si. Nenhum dos dois pode ser responsável pelo outro.

A ética protestante (ou puritana) está baseada na noção de que o trabalho duro e a ascese são duas consequências importantes para ser eleito pela graça da cristandade. Se uma pessoa trabalha duro e é frugal, ele ou ela é considerado como digno de ser salvo. Esses atributos benéficos, acreditava-se, fizeram dos estadunidenses o povo mais trabalhador do que os de quaisquer outras sociedades (mesmo que as sociedades protestantes europeias fossem consideradas parecidas e as católicas do sul da Europa fossem consideradas preguiçosas). 

Alguns de nós afirmam agora que estamos testemunhando o declínio e a queda da ética protestante nas sociedades ocidentais. Como a ética protestante tem uma raiz religiosa, o declínio é frequentemente atribuído a um crescimento do secularismo. Mas isto seria mais facilmente verificável na Europa do que na América, onde o fundamentalismo protestante ainda tem muitos seguidores. Então deve haver alguma outra explicação para o declínio. Mesmo que o crescimento do secularismo tenha levado muita gente a dizer que ele destruiu os valores religiosos juntamente aos valores morais que a religião ensina, há uma outra explicação.

No século XVII, a economia colonial da América era agrária. Trabalho duro e ascese combinam perfeitamente com essa economia. Mas a América não é mais agrária. A economia dos EUA hoje é definida como capitalismo industrial. Economias agrárias raramente produzem mais do que é consumido, mas economias industriais o fazem diariamente. Assim, para se manter a economia industrial funcionando, o consumo deve não apenas ser contínuo, como continuamente crescente.

Eu duvido que haja um leitor que não tenha escutado que 70% da economia dos EUA resulta do consumo. Mas 70% de um é 0,7, ou de dois é 1,4, de três, 2,1, etc. À medida que economia cresce de um a dois pontos do PIB, o consumo deve crescer de 0,7 para 1,4 pontos. Mas o aumento crescente do consumo não é compatível com a ascese. Uma economia industrial requer gente para gastar e gastar, enquanto a ascese requer gente para economizar e economizar. A economia americana destruiu a ética protestante e as perspectivas religiosas nas quais foi fundada. O consumo conspícuo substituiu o trabalho duro e a poupança.

No seu A Riqueza das Nações, Adam Smith afirma que o capitalismo beneficia a todos, desde que cada um aja em benefício dos outros. Agora estão nos dizendo que “economizar mais e cortar gastos pode ser um bom plano para lidar com a recessão. Mas se todo mundo proceder assim isso só vai tornar as coisas piores....aquilo de que a economia mais precisa é de consumidores gastando livremente”. A grande recessão atingiu Adam Smith na sua cabeça, mas o economista admitiria isso. “Um ambiente em que todos e cada um quer economizar não pode levar ao crescimento. A produção necessita ser vendida e para isso você precisa de consumidores”.

Poupar é (presumivelmente) bom para indivíduos, mas ruim para a economia, a qual requer gasto contínuo crescente. Se um economista tivesse dito isso na minha frente, eu teria lhe dito que isso significa claramente que há algo fundamentalmente errado com a natureza da economia, que isso significa que a economia não existe para prover as necessidades das pessoas, mas que as pessoas existem apenas para satisfazer as necessidades da economia. Embora não pareça isso, uma economia assim escraviza o povo a quem diz servir. Então, de fato, o capitalismo industrial perpetrou a escravidão; ele tem reescravizado aqueles que um dia emancipou.

Quando o consumo substituiu a poupança na psique americana, o resto de moralidade afundou junto na depravação. A necessidade de vender requer marketing, o que nada mais é que a mentira das mentiras. Afinal de contas, toda empresa é fundada no que disse o livro de Edward L. Bernays, de 1928: Propaganda. A cultura americana tem sido inundada por um tsunami de mentiras. O marketing se tornou a atividade predominante da cultura. Ninguém pode se isolar disso. É uma coisa seguida por pessoas de negócios, políticos e pela mídia. Ninguém pode ter certeza de estarem lhe contando a verdade a respeito de alguém. Nenhum código moral pode sobreviver numa cultura de desonestidade, e de resto, ninguém pode!

Tendo subvertido a ética protestante, a economia destruiu toda ética que a América um dia promoveu. O país tornou-se uma sociedade sem um etos, uma sociedade sem propósito humano. Os americanos se tornaram cordeiros sacrificáveis para o bem das máquinas. Então, um novo etos emergiu do caos, um etos que a elite governamental desconhece completamente.

Diz-se frequentemente que Washington perdeu o contato com as pessoas que governa, que não entende mais seu próprio povo ou como sua cultura comum funciona. Washington e a elite do país não entendem isso, mas a cultura não valoriza mais o certo sobre o errado ou o trabalho duro e a ascese sobre a preguiça e a extravagância. Hoje os americanos estão buscando a “grande oportunidade”, o “prêmio”, a “próxima grande ideia”. O Sonho Americano foi hoje reduzido ao “acertar em cheio!”. A longa e deliberada estrada para o sucesso é uma condenação. Vejam American Idol, The X-Factor e America’s Got Talent e testemunhe a horda que se apresenta para os auditórios. Essas pessoas, em sua maior parte, não trabalharam duro em nada na vida. Contem o número de pessoas que regularmente apostam na loteria. Esse tipo de aposta não requer trabalho algum. Tudo o que essas pessoas querem é acertar em cheio. E quem é nosso homem de negócios mais exaltado? O empreendedor!

Empreendedores são, na sua maior parte, fogo de palha, mesmo que haja exceções notáveis. O problema com o empreendedorismo, no entanto, é a alta conta em que passou a ser tomado. Mas o único valor ligado a ele é a quantidade de dinheiro que os empreendedores têm feito. Raramente ouvimos alguma coisa a respeito do modo nefasto como esse dinheiro foi feito. Bill Gates e Mark Zuckerberg, por exemplo, dificilmente representam imagens de pessoas com moralidade exemplar, mas na economia sem escrúpulos morais, ninguém se importa; tudo o que importa é o dinheiro. 

Dada essa atitude, por que alguém, nessa sociedade, expressaria preocupações morais? Poucos na América o fazem. Assim, enquanto a elite americana fala na necessidade de produzir força de trabalho sustentável para as necessidades de sua indústria, as pessoas não querem nada disso. 

A elite frequentemente lastima a falência do sistema educacional americano e tem tentado melhorá-lo sem sucesso, por várias décadas. Mas se alguém presta atenção no atual estado de coisas na América, vê que a maior parte dos empreendedores de sucesso são pessoas que abandonaram faculdades. Como se pode convencer a juventude de que a educação universitária é um empreendimento que vale a pena? Assim como Bill Gates, Steve Jobs e Mark Zuckerberg mostraram, aprender a desenhar um software não requer graduação universitária. Nem ganhar na loteria ou vencer o American Idol. Fazer parte da Liga Nacional de Futebol pode requerer algum tempo na universidade, mas não a graduação. Todo o empreendedorismo requer uma nova ideia mercantil. 

Entretenimento e esportes, loterias e programas de jogos e disputas, produtos de consumo de que as pessoas não tiveram necessidade por milhões de anos são agora as coisas que formam a cultura americana. Mas não são coisas, são lixo; não podem formar a base de uma sociedade humana estável e próspera. Esta é uma cultura governada meramente por um atributo: a riqueza, bem ou mal havida!

A capacidade humana de auto-engano é sem limites. Os estadunidenses vêm se enganando com a crença de que a riqueza agregada, a soma total de riquezas, em vez de como ela é distribuída, dá certo. Não importa como foi obtida ou o que foi feito para se obter tal riqueza. A riqueza agregada é a única coisa que se tem em vista; é algo pelo que vale à pena destruir a nós mesmos. E mesmo que não o tenhamos alcançado ainda, em breve certamente o conseguiremos. 

A história descreve muitas nações que se tornaram depravadas. Nenhuma delas jamais se reformou. Nenhum garoto bonito pode ser convocado para desfazer a catástrofe do Toque de Midas. O dinheiro, afinal de contas, não é uma coisa de que os humanos precisem para sobreviver, e se o dinheiro não é usado para produzir e distribuir as coisas necessárias, a sobrevivência humana é impossível, não importa o quanto de riqueza seja agregada ou acumulada. 

*  John Kozy é professor aposentado de filosofia e lógica que escreve sobre assuntos econômicos, sociais e políticos. Depois de ter servido na Guerra da Coréia, passou 20 anos como professor universitário e outros 20 trabalhando como escritor. Publicou um livro de lógica formal, artigo acadêmicos. Sua página pessoal é http://www.jkozy.com onde pode ser contatado.

Tradução: Katarina Peixoto. 
Artigo extraído do Portal Carta Maior