Deixando para o próximo papa uma igreja dividida e um balaio de problemas, que vão dos escândalos de pedofilia abafados por cardeais, a negócios escusos flagrados no Banco do Vaticano e o roubo de documentos pessoais que se tornaram públicos, Bento 16 encerrou nesta quinta-feira (28) os oito anos de seu melancólico pontificado.
No ritual do "beija-mão" do qual participaram cerca de cem cardeais, o ainda papa Bento 16 resumiu assim seu trabalho como chefe da Igreja Católica: "Nesses oito anos, vivemos com fé momentos belíssimos de luz radiosa no caminho da igreja, junto a momentos em que algumas nuvens se adensaram no céu".
Como tem feito em todas as suas aparições públicas desde que anunciou a sua renúncia em meio ao Carnaval, Bento 16 não explicou quais foram os momentos de luz nem a que nuvens ele se refere, "em que o Senhor parecia estar adormecido", como disse no dia anterior em sua derradeira aparição pública na praça de São Pedro, diante de 150 mil fiéis.
O fato é que ele passou suas últimas semanas no trono de São Pedro se queixando das dificuldades que enfrentou na vida de papa, não vendo a hora de se retirar para o palácio de Castel Gandolfo, onde passará os próximos dois meses, enquanto não são concluídas as reformas do convento que escolheu para morar dentro do Vaticano.
Ficam para trás três encíclicas, quatro exortações apostólicas, a nomeação de 83 cardeais e 53 viagens, mais da metade dentro da Itália _ nada que tenha mudado os rumos da igreja, mas apenas reafirmado velhos dogmas.
"Prometo minha incondicional obediência e reverência ao futuro papa", disse Bento 16, ao final do encontro com os cardeais reunidos para lhe dar adeus na Sala Clementina, em seu último dia de um papado que não deixará saudades. Melhor assim.
Afinal, pela primeira vez em mais de dois mil anos de história, teremos um papa e um ex-papa convivendo na minúscula Cidade do Vaticano.
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