14 março 2013

CENSURA E FÉ

Jorge Bergoglio é acusado de envolvimento com o regime autoritário argentino da década de 1970. Entenda a polêmica.


Nesta quinta (14), o jornalista argentino Horacio Verbitsky, diretor do Centro de Estudos Legais e Sociais (Cels), escreveu um artigo inflamado no jornal Página 12 em que acusa novamente o atual papa Francisco de envolvimento com a ditadura civil-militar argentina. Para o jornalista, o jesuíta Jorge Bergoglio é um ‘populista conservador’ que vai introduzir apenas mudanças ‘cosméticas’ em seu pontificado. No artigo intitulado ‘Un ersatz’ ele afirma que o sucessor do trono de Pedro é uma opção da “pior qualidade”, e o compara com “a água com farinha que as mães indigentes usam para enganar a fome de seus filhos” [tradução livre]. A escolha do título dá o tom do texto: a palavra alemã ersat – que não possui tradução para línguas latinas – dá ideia de substituição de mesmo nível, ou seja, para o autor, Francisco teria uma veia ultraconservadora tal como acusam os opositores de Bento XVI – que, quando jovem, foi membro da Juventude Hitlerista (segundo Joseph Ratzinger, isso aconteceu apenas quando ele foi obrigado).

A alfinetada não é nova, acontece há décadas. Em 1986, o advogado Emilio Mignone publicou o controverso livro Igreja e ditadura (1986), na qual levantava suspeitas sobre a participação de Bergoglio no sequestro de dois sacerdotes, em 1976. Nesta época, a ditadura civil-militar argentina estava no ápice e Bergoglio era presidente da Ordem Jesuíta. Segundo Mignone e também Verbitsky – na obra O silêncio (2005)– o sacerdote teria retirado a proteção da Igreja dos padres Francisco Jalics e Orlando Yorio, envolvidos com grupos da esquerda revolucionária.

O jornalista argentino acusa o atual papa Francisco, na obra e no presente artigo, de ter, inclusive, delatado os colegas ao regime ditatorial, fato que teria causado o sequestro e desaparecimento deles. A acusação poderia ser reforçada pelo testemunho recente de cinco pessoas: um sacerdote, um ex-sacerdote, uma teóloga, um integrante de uma fraternidade leiga que denunciou no Vaticano o que acontecia na Argentina em 1976 e um cidadão que também foi sequestrado à época.

Chamado a depor pela Justiça argentina, o então cardeal negou participação no caso. Em 2010, uma biografia autorizada sobre a vida do atual pontífice foi publicada. Na obra, o hoje papa Francisco nega as acusações e ainda afirma que tentou resgatar seus colegas do local onde eles estavam presos. O suspense permanece.

Extraído do sítio Revista de História

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