O editorial do jornal O Globo de ontem (16) é preocupante. Como na véspera do golpe militar de 1964, quando a famiglia Marinho alardeou o perigo do comunismo para justificar o atentado à democracia, o jornalão agora enxerga um pretenso “cerco à liberdade na América Latina” – segundo o título apocalíptico do texto. O alerta tem como base as resoluções da 68ª assembleia geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), o convescote dos barões da mídia encerrado nesta terça-feira (16) em São Paulo.
Para o jornal, “qualquer pessoa medianamente informada sabe que a democracia representativa passa por mais um ciclo de ataques na América Latina, região com longa história de recaídas autoritárias. Mas, quando é traçado o cenário de cada país, constata-se que há uma tendência de agravamento deste quadro... O destaque fica com a Argentina, onde o governo de Cristina Kirchner, que se mostra cada vez mais uma aplicada aluna do caudilho venezuelano Hugo Chávez, prepara uma espécie de assalto final ao grupo Clarín”.
Como nos pactos mafiosos, os barões da mídia se unem para defender o monopólio do Grupo Clarín, que está com seus dias contados. Em 7 de dezembro entra em vigor o capítulo da Ley de Medios que obriga este império a se desfazer de parte dos seus canais de rádio e tevê como forma de se estimular a pluralidade informativa e a concorrência no setor. O projeto foi aprovado por ampla maioria no parlamento argentino e tem o apoio da população, que saiu às ruas para criticar a ditadura midiática exercida pelo Grupo Clarín.
Para a famiglia Marinho, que não respeita as leis e os poderes constituídos, o fim do monopólio do Clarín é um “atentado à liberdade”. Pior ainda, ele sinalizaria um perigoso retrocesso na América Latina, que precisa ser contido. “No Equador, onde o governo também é plasmado pelo chavismo, e na Venezuela - nesta, por óbvio, por ser o farol do ‘socialismo bolivariano’ - os casos de violência contra jornalistas e veículos se sucedem... Há uma nuvem de autoritarismo sobre o continente. Ela se move e fica cada vez mais densa”.
Se bobear, a Rede Globo – que também exerce um monopólio no Brasil, com a propriedade cruzada de jornais, revistas, rádios, tevês abertas e a cabo, sítios e outros meios – daqui a pouco vai convocar uma “Marcha com Deus, pela família e em defesa dos impérios midiáticos”. O discurso terrorista da “nuvem de autoritarismo sobre o continente” servirá como pretexto para acirrar o clima político e para encontrar uma forma de novo golpe contra a democracia – talvez com a ajuda do Supremo Tribunal Federal (STF).
Extraído do Blog do Miro
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