31 janeiro 2013

HILDEGARD ANGEL: "MINHA FALA NO ATO DA ABI PELA ANULAÇÃO DO JULGAMENTO DO MENSALÃO"


Venho, como cidadã, como jornalista, que há mais de 40 anos milita na imprensa de meu país, e como vítima direta do Estado Brasileiro em seu último período de exceção, quando me roubou três familiares, manifestar publicamente minha indignação e sobretudo minha decepção, meu constrangimento, meu desconforto, minha tristeza, perante o lamentável espetáculo que nosso Supremo Tribunal Federal ofereceu ao país e ao mundo, durante o julgamento da Ação Penal 470, apelidada de Mensalão, que eu pessoalmente chamo de Mentirão.

Mentirão porque é mentirosa desde sua origem, já que ficou provada ser fantasiosa a acusação do delator Roberto Jefferson de que havia um pagamento mensal de 30 dinheiros, isto é, 30 mil reais, aos parlamentares, para votarem os projetos do governo.

Mentira confirmada por cálculos matemáticos, que demonstraram não haver correlação de datas entre os saques do dinheiro no caixa do Banco Rural com as votações em plenário das reformas da Previdência e Tributária, que aliás tiveram votação maciça dos partidos da oposição. Mentirão, sim!

Isso me envergonhou, me entristeceu profundamente, fazendo-me baixar o olhar a cada vez que via, no monitor de minha TV, aquele espetáculo de capas parecendo medievais que se moviam, não com a pretendida altivez, mas gerando, em mim, em vez de segurança, temor, consternação, inspirando poder sem limite e até certa arrogância de alguns.

Eu, que já presenciara em tribunais de exceção, meu irmão, mesmo morto, ser julgado como se vivo estivesse, fiquei apavorada e decepcionada com meu país. Com este momento, que sei democrático, mas que esperava fosse mais.

Esperava que nossa corte mais alta, composta por esses doutos homens e mulheres de capa, detentores do Supremo poder de julgar, fosse imune à sedução e aos fascínios que a fama midiática inspira.

Que ela fosse à prova de holofotes, aplausos, projeção, mimos e bajulações da super-exposição no noticiário e das capas de revistas de circulação nacional. E que fosse impermeável às pressões externas.

Daí que, interpretação minha, vimos aquele show de deduções, de indícios, de ausências de provas, de contorcionismos jurídicos, jurisprudências pós-modernas, criatividades inéditas nunca dantes aplicadas serem retiradas de sob as capas e utilizadas para as condenações.

Para isso, bastando mudar a preposição. Se ato DE ofício virasse ato DO ofício é porque havia culpa. E o ônus da prova passou a caber a quem era acusado e não a quem acusava. A ponto de juristas e jornalistas de importância inquestionável classificarem o julgamento como de “exceção”.

Não digo eu, porque sou completamente desimportante, sou apenas uma brasileira cheia de cicatrizes não curadas e permanentemente expostas.

Uma brasileira assustada, acuada, mas disposta a vir aqui, não por mim, mas por todos os meus compatriotas, e abrir meu coração.

A grande maioria dos que conheço não pensa como eu. Os que leem minhas colunas sociais não pensam como eu. Os que eu frequento as festas também não pensam, assim como os que frequentam as minhas festas. Mas estes estão bem protegidos.

Importa-me os que não conheço e não me conhecem, o grande Brasil, o que está completamente fragilizado e exposto à manipulação de uma mídia voraz, impiedosa e que só vê seus próprios interesses. Grandes e poderosos. E que para isso não mede limites.

Esta mídia que manipula, oprime, seduz, conduz, coopta, esta não me encanta. E é ela que manda.

Quando assisti ao julgamento da Ação Penal 470, eu, com meu passado de atriz profissional, voltei à dramaturgia e me lembrei de obras-primas, como a peça As feiticeiras de Salém, escrita por Arthur Miller. É uma alegoria ao Macartismo da caça às bruxas, encetada pela direita norte-americana contra o pensamento de esquerda.

A peça se passa no século 17, em Massachusets, e o ponto crucial é a cena do julgamento de uma suposta feiticeira, Tituba, vivida em montagem brasileira, no palco do Teatro Copacabana, magistralmente, por Cléa Simões. Da cena participavam Eva Wilma, Rodolpho Mayer, Oswaldo Loureiro, Milton Gonçalves. Era uma grande pantomima, um julgamento fictício, em que tudo que Tituba dizia era interpretado ao contrário, para condená-la, mesmo sem provas.

Como me lembro da peça Joana D’Arc, de Paul Claudel, no julgamento farsesco da santa católica, que foi para a fogueira em 1431, sem provas e apesar de todo o tempo negar, no processo conduzido pelo bispo de Beauvais, Pierre Cauchon, que saiu do anonimato para ao anonimato retornar, deixando na História as digitais do protótipo do homem indigno. E a História costuma se repetir.

No julgamento de meu irmão, Stuart Angel Jones, à revelia, já morto, no Tribunal Militar, houve um momento em que ele foi descrito como de cor parda e medindo um metro e sessenta e poucos. Minha mãe, Zuzu Angel, vestida de luto, com um anjo pendurado no pescoço, aflita, passou um torpedo para o então jovem advogado de defesa, Nilo Batista, assistente do professor Heleno Fragoso, que ali ele representava. O bilhete dizia: “Meu filho era louro, olhos verdes, e tinha mais de um metro e 80 de altura”. Nilo o leu em voz alta, dizendo antes disso: “Vejam, senhores juízes, esta mãe aflita quebra a incomunicabilidade deste júri e me envia estas palavras”.

Eu era muito jovem e mais crédula e romântica do que ainda sou, mas juro que acredito ter visto o juiz militar da Marinha se comover. Não havia provas. Meu irmão foi absolvido. Era uma ditadura sanguinária. Surpreende que, hoje, conquistada a tão ansiada democracia, haja condenações por indícios dos indícios dos indícios ou coisa parecida…

Muito obrigada.

SHOW DE UNIDADE TUCANA É ENCENAÇÃO - José Dirceu


O senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidenciável da oposição em 2014 com candidatura já lançada, passou os dois últimos dias em articulações em São Paulo. Jantou anteontem com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, almoçou ontem com o governador Geraldo Alckmin e depois tomou um café com José Serra, duas vezes derrotado em disputa pelo Palácio do Planalto (2002 e 2010). Aécio havia programado essa ofensiva junto ao tucanato paulista assim que voltasse das férias nos Estados Unidos.

Sua intenção é eliminar resistências internas, manifestadas sobretudo por Alckmin e aliados - até publicamente - ao seu projeto de antecipar o lançamento da candidatura presidencial. Já em várias oportunidades, Alckmin veio a público considerar "prematuro" falar em sucessão para o Planalto agora, principalmente lançar uma candidatura. Ele está mal no Estado, muito desgastado nas pesquisas - até setembro tinha em média 40% de aprovação a seu governo e de lá para cá despencou para 27% - e quer tempo para se recuperar.

Tudo o que Alckmin não quer, portanto, é ter o espaço político ocupada por uma candidatura presidencial de Aécio desde já. E no início desta semana, na sede paulista do PSDB, o senador Aloysio Nunes Ferreira Filho (PSDB-SP) defendeu que Alckmin também coloque seu nome no páreo da disputa pelo Planalto no ano que vem. O governador paulista foi o candidato do PSDB ao Planalto em 2006, quando foi derrotado pelo presidente Lula.

Tucanos fingem unidade e derrotam uns aos outros

Com tanta armação, o que fica claro, também, é que José Serra e os serristas paulistas não ficarão nem um pouco chateados se Alckmin morder a isca, começar a batalhar para ser candidato a presidente e sobrar para ele (Serra) a candidatura a governador do Estado. De novo.

Aliás, se vocês fizerem um retrospecto, pelo lado tucano só Serra e Alckmin se revezam (ou disputam juntos) as eleições majoritárias em São Paulo desde 2002. Não há renovação no partido, são 10 anos que os eleitores tucanos não têm outra opção para presidente da República, governador e prefeito de São Paulo.

Outro aspecto que fica claro também em toda essa armação? É que esse show de unidade tucana é tudo apenas encenação. Os tucanos estão e continuam divididos e sem direção. É tudo para ocupar espaço no noticiário, não é para valer.

Ou vocês acham que Alckmin, que destruiu o serrismo na máquina do Estado, já esqueceu que Serra o derrotou em 2008 quando ele disputou a prefeitura e não foi nem para o 2º turno porque Serra apoiou a reeleição do prefeito Gilberto Kassab? E acham que Serra e Alckmin perdoam Aécio por tê-los derrotado em 2002, 2006 e 2010 quando disputaram o Planalto e perderam a eleição em Minas?

Extraído do Blog do Zé Dirceu

SANTA MARIA E OS RATOS DE PAVLOV - Paulo Moreira Leite


Quando eu tinha a idade dos meninos e meninas que morreram na balada em Santa Maria, uma tragédia igual à que ocorreu no último sábado seria usada para massacrar a liberdade da juventude.

Com seus reflexos condicionados, que permitem a um ser humano ficar idêntico aos ratos de laboratório de Pavlov – nome muito em voga na época – eles diriam que o caso demonstrava que essa juventude não tem eira nem beira, não merece a confiança dos pais, pois passam o dia fumando maconha, ouvindo rock e pensando em dormir com a namorada.

Os tempos mudaram mas é preciso reconhecer que os ratos de Pavlov permanecem. Seu alvo, agora, é o universo Lula-Dilma.

É um pouco difícil achar culpados diretos no PT, desta vez. A tragédia tem muito a ver com questões de prefeitura, e o prefeito de Santa Maria, reeleito em 2012 com mais de 54% dos votos, é do PMDB. Complica bater no sujeito, que, além de tudo, tem fama de bom político, com um histórico de atitudes respeitáveis em sua passagem por Brasília. 

Nós sabemos que, do ponto de vista pavloviano, esse tipo de questão não importa. Importa o alvo. Mas desta vez não dá para bater direto e começar a procurar relações entre as tragédias. Com cartilagem, em vez de ossos, os ratinhos conseguem atravessar as menores brechas, não é mesmo?

Lembram-se do desastre da TAM? Teve até passeata para denunciar o governo federal como culpado. Quando a causa do acidente apareceu... os ratinhos deram um jeito de atacar um assessor do presidente em vez de pedir desculpa. 

Dessa vez, o pavlovianismo acha ruim que Lula e sua mulher, Marisa, colocaram no Facebook uma nota de pesar pela tragédia. 

Claro: é oportunismo, é intromissão. Um ex-presidente, o mais popular da história brasileira, só pode ter intenções maléficas quando coloca uma nota na internet. 

Vamos combinar que, salvo amigos e parentes próximos, todo mundo poderia ser chamado de oportunista no caso.

Um observador frio pode dizer que principalmente os jornalistas estão querendo faturar com a tragédia, pois ela ajuda a aumentar a audiência e a vender jornais. Seria estúpido, mas juro que tem gente que pensa assim.

As emissoras de TV costumam ganhar audiência e prestígio com esse tipo de cobertura. Pesquise a história das grandes emissoras e garanto que vai encontrar um episódio desses, que marcou a história de todas elas. Não é vergonhoso. Não é oportunismo. 

Quantos blogueiros não conquistaram audiência no tsunami da Ásia?

Um político como Mário Covas deixou de ser um engenheiro de Santos como tantos outros por causa de uma enchente em sua cidade natal. Ele mostrou-se à altura de suas responsabilidades como cidadão e, a partir de então, conseguiu apoio popular para sua carreira política, que o levou ao Senado, ao governo de São Paulo e a uma candidatura a presidente da República.

Não vejo nada de errado na solidariedade de Lula nem de ninguém. Acho natural. Como achei natural que Zeca Pagodinho desfilasse por Xerém a bordo de seu triciclo motorizado. Só achei um pouquinho exagerada a reação favorável. Será que isso tem a ver com seus patrocinadores? 

E tenho certeza de que, para desgosto de nossos ratos de Pavlov, a solidariedade vai se ampliar nos próximos dias. Outros políticos vão se manifestar. É absurdo ficar em silêncio e cruzar os braços numa hora dessas.

É possível inverter o raciocínio. Em vez de achar que Lula está usando a tragédia para se promover, pode-se dizer que os ratos de Pavlov querem tirar proveito da tragédia para atacar o ex-presidente. Ou seja: os oportunistas de verdade são eles.

A maldade dos ratinhos de Pavlov não tem limites. Compreende-se. Eles trocaram a consciência pelos reflexos condicionados.

Esclarecimento

Mais de um leitor escreveu para informar Pavlov não fazia experiências com ratos, mas com cães. Confesso que fui atrás do Google e vi que era isso mesmo. O próprio Pavlov usou cães em exercícios de psicologia, em que descobriu os reflexos condicionados. Mas eu sempre ouvi falar em ratos de Pavlov e é fácil entender por quê. O uso de ratos, em laboratório, universalizou-se muito mais tarde. Quando os experimentos de Pavlov foram repetidos, décadas mais tarde, eles substituíram os cães. Ficaram, então, conhecidos como ratos de Pavlov. Não eram cobaias originais mas serviam ao mesmo propósito.

Parece que tanto ratos como cães tinham uma mesma reação quando recebiam um sinal de que era hora de comer - começavam a salivar com mais intensidade.

Extraído do sítio Revista IstoÉ

A INQUESTIONÁVEL PARTIDARIZAÇÃO DA IMPRENSA - Venício A. de Lima


Se o leitor (a) ainda precisa de alguma comprovação sobre o comportamento partidário dos jornalões brasileiros, sobretudo nos períodos eleitorais, recomendo a leitura do excelente A Ditadura Continuada – Fatos, Factoides e Partidarismo da Imprensa na Eleição de Dilma Rousseff, resultado de uma cuidadosa pesquisa realizada por Jakson Ferreira de Alencar, recentemente publicado pela editora Paulus.

O livro se concentra na cobertura política oferecida pelo jornal Folha de S.Paulo e parte da divulgação da falsa ficha “criminal” dos arquivos do Dops da militante da VAR-Palmares Dilma Rousseff, então pré-candidata à Presidência da República, em 4 de abril de 2009.

Jakson Alencar faz um acompanhamento minucioso de todo o caso, ao longo dos três meses seguintes, registrando a “semirretratação” do jornal, em matéria antológica para o estudo da ética jornalística, na qual se reconhece como erro “tratar como autêntica uma ficha cuja autenticidade, pelas informações hoje disponíveis, não pode ser assegurada – bem como não pode ser descartada” (p. 67).

Chama a atenção no episódio a “condução”, pela repórter da Folha, da entrevista – que mais parece um interrogatório – realizada com Dilma. Há uma indisfarçável tentativa de comprovar a hipótese do jornal de envolvimento da entrevistada não só com o sequestro (não realizado) do então ministro Delfim Netto, mas também com a luta armada. A entrevista de outro militante, Antonio Espinosa, usada como suporte à tese do jornal, jamais foi publicada na íntegra, apesar de os trechos publicados haverem sido reiteradamente desmentidos pelo entrevistado.

Jakson Alencar mostra, com riqueza de detalhes, o comportamento arrogante do jornal, ao tempo em que a própria Dilma tratava de comprovar a falsidade da ficha, além do descumprimento sistemático de seu próprio Manual de Redação. Fica clara a “tese central de toda a reportagem, segundo a qual a resistência à ditadura é criminosa, e não o regime totalitário e violento, implantado de maneira ilegal” (p. 95) e, mais ainda, que essa tese “continuou sendo difundida em muitos veículos da imprensa brasileira durante todo o período da campanha eleitoral de 2010”.

“Hipóteses furadas”

A segunda parte do livro trata do período da campanha eleitoral, de abril a agosto de 2010. Aqui o ponto de partida é o 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, promovido pelo Instituto Millenium, em março. Como se sabe, essa ONG é um dos think tanks da direita conservadora brasileira, financiado, entre outros, pelos principais grupos da grande mídia. Segundo Jakson Alencar, teria surgido nesse fórum a “Operação Tempestade no Cerrado”, que orientaria a cobertura política dos jornalões e teria como objetivo impedir a eleição de Dilma Rousseff (p.105).

Concentrado na Folha de S.Paulo, o livro mostra o esforço cotidiano para ressuscitar escândalos passados e a busca de novos escândalos do governo do PT, além de tropeços e temas negativos relativos a Dilma. Paralelamente, o tratamento leniente e omisso dispensado ao candidato do PSDB.

Na terceira e última parte, o livro aborda a “Operação Segundo Turno” e cobre o período que vai de 26 de agosto a 3 de outubro. A partir do momento em que as pesquisas de intenção de voto confirmam a tendência de eleição de Dilma, tem início “uma maciça ação da imprensa contra a candidata às vésperas da eleição e uma chamada ‘bala de prata’, com o intuito de alterar os rumos da campanha” (p. 145).

Destacam-se nesse período “acusações, ilações e insinuações que viraram condenações sumárias” (p. 147), sobretudo o caso do suposto “dossiê” preparado pelo PT sobre dirigentes tucanos, com dados fiscais sigilosos, e o “escândalo” envolvendo a então substituta de Dilma na Casa Civil (registro: o Tribunal Regional Federal da 1ª Região arquivou o processo contra Erenice Guerra por suposto tráfico de influência, depois de acatar recomendação do Ministério Público Federal e por decisão do juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal, em 20 de julho de 2012).

Nas suas conclusões, Jakson Alencar afirma que “a cobertura (da Folha de S. Paulo) (...) misturou frequentemente fatos com opiniões e boatos, somando-se a isso outros elementos, como torcida, manifestação de desejos travestidos de informação, argumentação frágil e com pouca lógica, estratégias óbvias e já desgastadas pelo uso repetitivo em diversas eleições, incapacidade de analisar processos econômico-sociais para construir posicionamentos e críticas com um mínimo de sofisticação; teses e hipóteses furadas; narrativas e entrevistas enviesadas; fontes de baixíssima credibilidade” (p. 252).

Manual desobedecido

Curiosamente (ou não?), na mesma época em que a Paulus publicava o livro de Jakson Alencar, a Publifolha lançava na Coleção “Folha Explica” o livro sobre a própria Folha, escrito por Ana Estela de Souza Pinto, ela mesma jornalista da casa desde 1988. Neste, o “erro” do episódio da ficha falsa de Dilma no Dops merece registro em função do “fato de a Folha ter voltado sua bateria investigativa para todos os governantes, de diferentes partidos”. Segue-se um parágrafo que reproduz a “retratação” que a Folhaofereceu, já citada, na qual, apesar de todas as evidências em contrário, se afirma que a autenticidade da ficha do Dops “não pode ser assegurada – bem como não pode ser descartada”. Nem uma única observação sobre a cobertura partidária das eleições de 2010.

O resultado de tudo isso, como se sabe, é que Dilma Rousseff – apesar da grande mídia e do seu partidarismo – foi eleita presidenta da República.

A Ditadura Continuada – Fatos, Factoides e Partidarismo da Imprensa na Eleição de Dilma Rousseff, de Jakson Alencar, demonstra e confirma o que já sabemos: os jornalões brasileiros, além de partidarizados, não têm compromisso nem mesmo com seus manuais de redação.

Venício A. de Lima é jornalista e sociólogo, pesquisador visitante no Departamento de Ciência Política da UFMG (2012-2013), professor de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor de Política de Comunicações: um Balanço dos Governos Lula (2003-2010), Editora Publisher Brasil, 2012, entre outros livros.

** Reproduzido da revista Teoria e Debate nº 108, janeiro/2013.

Extraído do sítio Observatório da Imprensa

BLOGUEIRA YOANI SÁNCHEZ JÁ PODE SAIR DE CUBA

Yoani tornou-se uma das principais vozes da oposição ao criticar regime em seu blog

A blogueira cubana Yoani Sánchez anunciou em sua conta no Twitter que recebeu o passaporte, com o qual poderá deixar Cuba.

Uma das principais vozes da oposição ao regime hoje comandado por Raúl Castro, Yoani se beneficiou do fim das medidas que proibiam o livre deslocamento de cubanos para fora do país.

O relaxamento das normas é parte das medidas de abertura do regime.

Yoani já havia pedido autorização várias vezes para participar de eventos no exterior, inclusive no Brasil. Todas as vezes teve seus pedidos negados.

Extraído do sítio BBC Brasil

30 janeiro 2013

UNIÃO EUROPEIA: A CRISE É TANTO DEMOCRÁTICA COMO FINANCEIRA - Slavoj Zizek


O espírito de ditadores como Nicolae Ceausescu ganha nova vida na resposta da elite europeia à crise da zona euro, assegura o pensador esloveno Slavoj Žižek. A mesma desconfiança na democracia que outrora restringiu o desenvolvimento dos países pós-comunistas está agora a ganhar terreno na Europa. 

Numa das últimas entrevistas antes da queda do regime, um jornalista ocidental perguntava a Nicolae Ceausescu como justificava o facto de os cidadãos romenos não poderem viajar livremente para o estrangeiro, embora a liberdade de circulação estivesse garantida na Constituição.

A sua resposta fez jus à melhor tradição do raciocínio estalinista: é verdade, a Constituição garante a liberdade de circulação, mas também garante o direito a uma vida segura e próspera. Portanto, temos aqui um potencial conflito de direitos: se os cidadãos romenos fossem autorizados a deixar o país, a prosperidade da sua terra natal ficaria ameaçada. Neste conflito, há que fazer escolhas, e o direito a uma pátria próspera e segura goza de clara prioridade...

Parece que o mesmo espírito está bem vivo na Eslovénia de hoje. No mês passado, o Tribunal Constitucional considerou que fazer um referendo sobre legislação de criação de um “mau banco” e uma holding soberana seria inconstitucional, o que equivale a proibir uma votação popular sobre o assunto. O referendo foi proposto pelos sindicatos, num desafio à política económica neoliberal do Governo, e a proposta recolheu assinaturas suficientes para torná-lo obrigatório.

Bruxelas entrou em pânico

A ideia de “mau banco” consiste num lugar para transferir todo o crédito tóxico dos principais bancos, a ser recuperado com dinheiro do Estado (ou seja, à custa dos contribuintes), evitando assim qualquer investigação séria sobre quem foi responsável por esse mau crédito. Esta medida, debatida durante meses, está longe de ser consensual, mesmo para especialistas financeiros. Então, porquê proibir o referendo?

Em 2011, quando o Governo de George Papandreou, na Grécia, propôs um referendo sobre as medidas de austeridade, Bruxelas entrou em pânico, mas nem assim alguém se atreveu a proibi-lo diretamente.

Segundo o Tribunal Constitucional esloveno, o referendo “teria acarretado consequências inconstitucionais”. Como? O tribunal reconhece o direito constitucional do referendo, mas alega que a sua execução poria em perigo outros valores constitucionais que devem ter prioridade em tempos de crise económica: o eficiente funcionamento do aparelho de Estado, nomeadamente a criação de condições para o crescimento económico; e o exercício dos direitos humanos, especialmente os direitos à segurança social e à livre iniciativa económica.

Em suma, para avaliar as consequências do referendo, o tribunal aceita simplesmente como um facto que não obedecer aos ditames das instituições financeiras internacionais (ou não satisfazer as suas expectativas) pode levar a uma crise política e económica, e é, portanto, inconstitucional. Sem rodeios: como corresponder a esses ditames e expectativas é condição para manter a ordem constitucional, pelo que passam a ter prioridade sobre a Constituição (e o mesmo é dizer, a soberania do Estado).

Tendência para a limitação da democracia

A Eslovénia pode ser um país pequeno, mas esta decisão é um sintoma de uma tendência mundial para a limitação da democracia. A ideia é que, numa situação económica complexa como a de hoje, a maioria das pessoas não está qualificada para decidir – não se apercebem das consequências catastróficas que decorreriam se as suas exigências fossem atendidas.

Este tipo de argumentação não é novo. Numa entrevista na televisão há um par de anos, o sociólogo Ralf Dahrendorf associava a crescente desconfiança na democracia com o facto de, após cada mudança revolucionária, o caminho para a nova prosperidade atravessar um “vale de lágrimas”. Após o colapso do socialismo [regimes com ênfase no Estado social], não é possível passar diretamente para a abundância de uma economia de mercado livre bem-sucedida: há que desmantelar o limitado, mas real, apoio e segurança social socialistas, e esses primeiros passos são necessariamente dolorosos.

O mesmo se aplica à Europa Ocidental, onde a passagem do Estado social do pós-guerra para a nova economia global envolve renúncias dolorosas – menos segurança, menos garantias de assistência social. Para Dahrendorf, o problema restringe-se ao simples facto de esta travessia dolorosa do “vale de lágrimas” durar mais tempo do que o período médio entre eleições, pelo que há uma grande tentação em adiar as mudanças difíceis em nome de ganhos eleitorais de curto prazo.

Populismo que termina em catástrofe

Para ele, o paradigma é a deceção de amplos estratos de nações pós-comunistas em relação aos resultados económicos da nova ordem democrática: nos dias gloriosos de 1989, equiparava-se democracia com a abundância das sociedades consumistas ocidentais; 20 anos depois, a abundância continua a não chegar, e culpa-se a própria democracia.

Infelizmente, Dahrendorf concentra-se muito pouco na tentação oposta: se a maioria resiste às mudanças estruturais necessárias à economia, não seria uma conclusão lógica pensar que, durante uma década ou mais, uma elite esclarecida devia tomar o poder, até por meios não democráticos, para obrigar à aplicação das medidas necessárias e, assim, lançar as bases de uma democracia verdadeiramente estável?

Na mesma linha de pensamento, o jornalista Fareed Zakaria apontava há dias que a democracia só pode “pegar” em países economicamente desenvolvidos. Se os países em desenvolvimento forem “prematuramente democratizados”, o resultado é um populismo que termina em catástrofe económica e despotismo político – não admira que os países do Terceiro Mundo (Formosa, Coreia do Sul, Chile) hoje economicamente mais bem-sucedidos só tenham abraçado a plena democracia após um período de governo autoritário. Já agora, esta linha de pensamento não fornece o melhor argumento ao regime autoritário da China?

O que é novo hoje é que, com a crise financeira que começou em 2008, está a ganhar terreno, também no próprio Ocidente, este tipo de desconfiança na democracia – em tempos limitado ao Terceiro Mundo e aos países pós-comunistas em desenvolvimento. O que, há uma ou duas décadas, eram conselhos paternalistas para os outros, agora diz-nos respeito também a nós.

Reduzir défices rapidamente é contraproducente

O mínimo que se pode dizer é que esta crise vem provar que não é o povo, mas os especialistas que não sabem o que andam a fazer. Na Europa Ocidental, estamos efetivamente a testemunhar uma crescente incapacidade da elite dominante – sabem cada vez menos como governar. Veja-se como a Europa está a lidar com a crise grega: exercendo pressão sobre a Grécia para pagar dívidas, mas, ao mesmo tempo, arruinando-lhe a economia com imposição de medidas de austeridade, garantindo assim que a dívida grega nunca será reembolsada.

No final de outubro do ano passado, o próprio FMI publicou um relatório mostrando que os danos económicos de medidas de austeridade agressivas podem ser três vezes maiores do que inicialmente se supunha, anulando assim o seu próprio conselho sobre austeridade na crise da zona euro. Agora, o FMI admite que forçar a Grécia e outros países sobrecarregados de dívidas a reduzir os seus défices muito rapidamente é contraproducente, mas só depois de centenas de milhares de postos de trabalho terem sido perdidos devido a tais “erros de cálculo”.

E é essa a verdadeira mensagem dos protestos populares “irracionais” por toda a Europa: os manifestantes sabem muito bem o que desconhecem; não têm a pretensão de ter respostas rápidas e fáceis para dar. Mas o que o seu instinto lhes diz não deixa de ser verdade: que quem está no poder também não sabe o que anda a fazer. Na Europa de hoje, são cegos a guiar outros cegos.

* Traduzido por Ana Cardoso Pires. Artigo original – The Guardian 

Extraído do sítio Press Europ

O FUTURO ESCREVE-SE EM MANDARIM - Luís Ribeiro, Thiago Mourão e Lorena Amazonas


Um em cada quatro jovens portugueses está desempregado. Para conseguirem trabalho, não hesitam em emigrar. Alemão, russo, chinês ou árabe são as línguas que aprendem antes de partir: eis o mapa das novas terras prometidas.

Num momento como este, nenhuma empresa portuguesa contrata um especialista em programação robótica. O receio de Gonçalo Gomes, 30 anos, logo se transformou numa dolorosa certeza, a cada novo currículo enviado e invariavelmente ignorado. Para piorar a situação, também a sua mulher, Marta, enfermeira, de 25 anos, não conseguia mais do que uns trabalhos precários e a meio tempo, numa clínica ou noutra.

“Decidimos abrir os nossos horizontes e enviar currículos para o estrangeiro. E, em junho, tivemos excelente feedback de empresas alemãs. O único problema é que exigiam que soubéssemos falar a língua.” Em setembro, Gonçalo e Marta entraram para um curso intensivo na DUAL, o departamento de qualificação profissional da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemão, em Lisboa.

“Temos tido muitas solicitações de empresas germânicas para profissionais de diferentes áreas”, diz Elísio Silva, gestor da DUAL. “Na maior parte das profissões, é indispensável conhecer a língua, pelo que será sempre uma boa aposta aprender alemão.” Nada disto significa que o inglês está a perder importância. Ser fluente na língua universal, no entanto, não diferencia um candidato dos outros. Além disso, na maior parte das profissões é obrigatório dominar o idioma do país.
Uma língua muito procurada

Com o país em crise profunda e a apresentar taxas de desemprego recorde (sobretudo entre os jovens, quase 40% entre os que têm menos de 25 anos), muitos portugueses já se aperceberam da importância crescente de alguns países, na economia internacional. Uns no centro da Europa, como a Alemanha, que continua a crescer em contracorrente, e outros bem mais longe. Nos últimos anos, o aumento da procura de cursos de russo, árabe e mandarim mostram bem de onde vem o poderio económico.

Sem surpresas, atendendo ao crescimento imparável da China, o mandarim é o que tem atraído mais atenções.

Nos últimos anos, surgiram em Portugal vários cursos de mandarim. Entre os mais populares, destacam-se as aulas para crianças, procuradas por pais especialmente preocupados com o futuro dos filhos.

A China não é só futuro – a sua pujança em todos os setores da economia é já uma realidade. E, apesar de o inglês ser ensinado nas escolas daquele país, a falta de prática dos chineses e, acima de tudo, as diferenças culturais obrigam os forasteiros a aprenderem algumas noções básicas de mandarim.

“Quando sabem que falamos mandarim, os chineses ficam agradavelmente surpreendidos”, assegura Sara Veiga Silva, 21 anos e com um diploma em Estudos Asiáticos, além de um curso de mandarim do Instituto Confúcio. A China é a potência económica do momento, mas não está sozinha. Nos últimos anos, com a economia nacional congelada, as empresas lusas têm seguido o rasto do dinheiro dos países árabes que, por sua vez, acolhem de braços abertos o nosso know how nas mais diversas áreas.

“Já há uma centena de empresas nacionais e seis ou sete mil trabalhadores portugueses espalhados pelos países árabes, que são dos mercados mais vivos, atualmente”, adianta Allaoua Karim Bouabdellah, secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa. “Mas saber inglês ou francês não é suficiente. Muitos empresários árabes dominam apenas a sua própria língua, e é muito mais fácil fazer negócios quando nos exprimimos na língua do cliente.” No meio da letargia empresarial do País, os portugueses parecem despertos para este cenário, indica António Dias Farinha, professor catedrático e diretor do Instituto de Estudos Árabes e Islâmicos da Faculdade de Letras de Lisboa. “Só na minha Universidade, temos mais de cem alunos a aprender árabe, e existem muitos mais cursos, aqui e noutras cidades.”

Na mira está a emigração

Após vários anos a ser ignorada, também a língua de Tolstoi e Dostoievski ganha cada vez mais adeptos – a Rússia encontra-se em ascensão económica, sustentada pelas suas reservas energéticas, de que a Europa do Norte e Centro dependem.

“Há três anos, começou a notar-se um maior interesse pela língua. Temos, atualmente, mais de duzentas inscrições nos dois semestres de russo”, sublinha Rita Marnoto, diretora do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Os objetivos dos alunos passam, aqui e ali, pela perspetiva de conseguir emprego na área da tradução e em empresas russas a trabalhar em Portugal. Mas a emigração é outra das finalidades de muitos estudantes.

Portugal está na moda, entre a classe russa mais rica. Muitos moscovitas de carteiras recheadas fazem férias no nosso país, em detrimento de outros destinos de praia (Grécia, Egito, Espanha), precisamente por ser mais caro – dessa forma, mostram aos amigos a sua saúde financeira. Por outro lado, a comunidade de Leste, russófona, que vive em Portugal, ainda é um mercado para algumas profissões, mesmo que a maioria desses imigrantes fale português.

Nem sempre a solução está do outro lado do planeta ou da Europa. Logo a seguir a Espanha, numa crise quase tão profunda como a nossa, existe um país de finanças aparentemente saudáveis. Assim pensou Joana Rodrigues, 23 anos, licenciada em engenharia biomédica. “Como quero ir trabalhar para fora e o inglês não é suficiente, decidi melhorar o meu francês”, explica.

A quantidade de países europeus em que o francês é o idioma oficial influenciou a sua decisão. “Além de França, temos a Bélgica, o Luxemburgo e a Suíça”, enumera Joana. A França pode não ter o elã económico da Rússia, do Golfo Pérsico ou da China, mas sempre fica mais perto de casa.

Extraído do sítio Press Europ

ZERO HORA: DEMAGOGIA, FILISTINISMO E ÜBER CINISMO - Cristovão Fell


Ganância que mata? Como assim?

O grupo RBS/jornal Zero Hora tem uma visão de mundo (e difunde-a diariamente nos seus veículos) que estimula precisamente a ganância - a mesma que afirma ter matado centenas de vidas em Santa Maria, domingo último, numa arapuca funérea com fachada de casa de diversão noturna. 

As empresas de comunicação da família Sirotsky são pródigas em difundir a ideologia e as práticas do capitalismo selvagem e do darwinismo social mais predatório. Como podem - agora - apontar a ganância como elemento simbólico que mata e destroi famílias? ZH quer empilhar convexo com convexo, não dá certo, nem na geometria, muito menos na concretude das palavras metafóricas. As peças dessa retórica esfarrapada não se encaixam. Tudo fica postiço e falso, resultando num jornalismo de fachada recamado por uma retórica de ocasião - demagógica e filisteia. 

De Zero Hora pinga o cinismo e vaza a impostura. Resulta um veneno perigoso e letal, se engolido por ingênuos e desavisados. Veneno que mata!

Fac-símile acima da página 6 da edição de hoje do jornal Zero Hora: 

A título de sugestão aos familiares das vítimas da boate Kiss: organizem-se. Não esperem o esbulho e o descaso acontecer. Somente haverá justiça depois de muita luta organizada e preventiva. O Estado que temos, o Judiciário que contamos, são muito pequenos e inorgânicos para darem conta de direitos e garantias de que esses familiares e amigos de vítimas buscam, com legitimidade e dor. 

Organizem-se e lutem de forma unitária e intensivamente. Nada cairá do céu. A justiça e a conquista de direitos ainda são exclusivo resultado da nossa luta. Neste campo, nada é automático e mecânico, tudo é movimento e luta. 

Extraído do sítio Diario Gauche

ÓDIO DA MÍDIA CONSERVADORA AUMENTA APÒS ENCONTRO ENTRE DILMA E FRANKLIN MARTINS


O tom desesperado dos editoriais da mídia conservadora, que embasa a representação entregue na véspera pelo PSDB à Procuradoria-Geral da República contra a presidente Dilma Rousseff, não encontrará eco na Corte Suprema. A previsão é do ministro Luis Inácio Adams, da Advocacia-Geral da União. Em conversa com jornalistas, na manhã desta quarta-feira, ele afirmou que a tendência é a do procurador-geral arquivar a medida.

– Não tem nenhum fundamento, nenhuma substância jurídica – disse Adams.

O que os tucanos pedem é uma investigação sobre o pronunciamento da presidenta, transmitido em cadeia nacional de rádio e televisão na última quarta-feira, que teria sido uma peça de propaganda política, na visão dos conservadores de direita, expressa no ódio com que a mídia conservadora se refere ao governo da presidenta Dilma. Segundo afirma o documento, o anúncio de que a conta de luz ficará menor tratou-se de uma “cristalina promoção da presidente da República”, uma antecipação da campanha pela sua reeleição.

– Não estamos em período eleitoral, o pronunciamento não faz referência a partidos, entidades, nada – afirma.

Em seu discurso, Dilma críticou, sim, mas os “pessimistas” ao anunciar a redução na tarifa de energia. Para o senador tucano Aécio Neves (MG), ela falou como um partido, e não como presidenta. Em defesa de Dilma, o advogado-geral da União afirma que ainda não analisou a representação e que Dilma não está “nem um pouco” preocupada com ela. Ainda não foi definido se a AGU irá se antecipar a um eventual pedido do Ministério Público em defesa da presidente. Ele afirmou que é permitido por lei que o presidente da República faça pronunciamentos quando há fatos relevantes a serem anunciados.

Visita de Franklin Martins

A má vontade dos diários conservadores paulistas e cariocas, que servem como únicos pilares à representação conta Dilma, cristaliza-se de forma a evidenciar, segundo analistas políticos ouvidos pelo Correio do Brasil, a existência de um cartel formado com o objetivo de atuar como um partido político não convencional. Para tratar da questão da mídia, Dilma chamou nesta manhã, ao Palácio do Planalto, o ex-ministro da secretaria de Comunicação Social da Presidência da República,Franklin Martins, que defende a edição de marcos reguladores para o setor.

Em recente pronunciamento, o PT apontou a intenção de a mídia conservadora promover, no país, um ambiente de conflagração, a exemplo daquele havido na época dos estadistas Getúliio Vargas e João Goulart. Segundo o partido, ambos foram vítimas de uma “insidiosa campanha de forças políticas” para desestabilizar seus governos e que o país, atualmente, vive processo semelhante, desde 2003, para desmoralizar o ex-presidente petista e o seu legado.

“A partir de 2003, de forma intermitente, tratou-se de anular os notórios êxitos do governo, com campanhas que procuravam ou desconstruir as realizações do governo Lula ou tachá-lo de ‘incapaz’ e ‘corrupto’ (…). Sabe-se que denúncias de corrupção sempre foram utilizadas pelos conservadores no Brasil para desestabilizar governos populares, como os já citados casos de Vargas e Goulart”, afirma o documento.

Franklin editou um projeto-de-lei que determina parâmetros para que a concentração de poder neste segmento, no país, não seja alvo de novos escândalos, como aquele noticiado pela organização não governamental Repórteres Sem Fronteiras, com sede em Paris, que aponta a existência, no Brasil, de 30 berlusconis, referindo-se ao capo da mídia italiana.

Segundo o relatório da RSF, divulgado na semana passada, o Brasil é “o país dos 30 Berlusconis”, numa crítica à concentração dos veículos de comunicação do país em poucas mãos. “O Brasil apresenta um nível de concentração de mídia que contrasta totalmente com o potencial de seu território e a extrema diversidade de sua sociedade civil”, analisa a ONG de defesa da liberdade de imprensa. “O colosso parece ter permanecido impávido no que diz respeito ao pluralismo, um quarto de século depois da volta da democracia”, destaca a RSF.

O relatório foi composto após visitas de membros da ONG a Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Segundo o RSF, “a topografia midiática do país que vai receber a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 pouco mudou nas três décadas que sucederam a ditadura militar de 1964-1985″. O documento destaca que as 10 maiores companhias de mídia do país estão baseadas em São Paulo ou Rio de Janeiro, o que “enfraquece a mídia regional”.

“A independência editorial da mídia impressa e transmitida e minada pela pesada dependência de propaganda do governo e suas agências”, analisa o relatório, que destaca que, em 2012, houve 11 jornalistas mortos no país. Segundo a ONG, um dos problemas endêmicos do setor da informação no Brasil é a figura do magnata da imprensa, que “está na origem da grande dependência da mídia em relação aos centros de poder”. “Dez principais grupos econômicos, de origem familiar, continuam repartindo o mercado da comunicação de massas”, lamenta a RSF.

Soluções

Segundo a ONG, outro problema no Brasil é a censura na internet, com denúncias que levaram ao fechamento de blogs durante as eleições municipais de 2012. O documento cita o caso do diretor do Google Brasil, Fábio José Silva Coelho, que ficou preso brevemente por não retirar do YouTube um vídeo que teoricamente atacava um candidato a prefeito. Coelho foi preso pela Polícia Federal em setembro passado a pedido do candidato a prefeito de Campo Grande, Alcides Bernal.

Para reequilibrar o cenário da mídia brasileira, a Repórteres Sem Fronteiras recomenda reformar a legislação sobre a propriedade de grandes grupos e seu financiamento com publicidade oficial. Além disso, a ONG sugere a melhoria da atribuição de frequências audiovisuais, para favorecer os meios de comunicação, e um novo sistema de sanções que não inclua o fechamento de mídias ou páginas, entre outras medidas.

Extraído do sítio Correio do Brasil

29 janeiro 2013

LISTA SUJA DO TRABALHO ESCRAVO TEM 409 EMPREGADORES - Carolina Sarres


Brasília – No Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, lembrado ontem (28), 409 empregadores estão na lista suja do trabalho escravo, elaborada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Instituto Ethos, a Organização Não Governamental (ONG) Repórter Brasil e o Ministério do Trabalho. A lista reúne empresas ou contratantes (pessoa física) que mantêm trabalhadores em condições análogas às de escravidão.

Calcula-se que os citados no cadastro empregam 9,1 mil trabalhadores, em setores majoritariamente agropecuários – como na criação e no abate de animais, no plantio e no cultivo de espécies vegetais, segundo apurou a Agência Brasil. Ainda há empresas de extração mineral, comércio e construção civil.

A lista suja do Trabalho Escravo está disponível na íntegra na internet, e pode ser consultada por qualquer pessoa por meio do nome da propriedade, do ramo de atividade, do nome do empregador (pessoa jurídica ou física), dos cadastros de Pessoa Física (CPF) ou de Pessoa Jurídica (CNPJ), do município ou do estado. A lista foi criada em 2004 por meio de resolução do Ministério do Trabalho.

O infrator (pessoa física ou empresa) é incluído na lista após decisão administrativa sobre o auto de infração lavrado pela fiscalização. Os dados são atualizados pelo setor de Inspeção do Trabalho do ministério. Quando entra na lista, o infrator é impedido de ter acesso a crédito em instituições financeiras públicas, como os bancos do Brasil, do Nordeste, da Amazônia, e aos fundos constitucionais de financiamento. O registro na lista suja só é retirado quando, depois de um período de dois anos de monitoramento, não houver reincidência e forem quitadas todas as multas da infração e os débitos trabalhistas e previdenciários.

Na última sexta-feira (25), foi publicado no Diário Oficial da União o resultado das auditorias fiscais do trabalho em 2012. De janeiro a dezembro do ano passado, foram cerca de 757,4 mil ações. Do total, 241 foram para combater o trabalho escravo.

Durante esta semana, serão promovidos diversos eventos em várias cidades do país para debater a questão. O ministro do Trabalho, Brizola Neto, se reuniu hoje com membros da Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae), em Belo Horizonte, para discutir os desafios e os avanços do tema - como o trâmite no Congresso Nacional da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do Trabalho Escravo, que prevê a expropriação de terras urbanas e rurais onde for comprovado o uso desse tipo de trabalho. A PEC já foi aprovada pela Câmara e precisa passar pelo Senado, o que está previsto para ocorrer ainda este ano.

Na próxima quinta-feira (31), estão previstos debates com a ministra da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), Maria do Rosário, em São Paulo, quando será levado ao prefeito da cidade, Fernando Haddad, a necessidade de avanços da Carta-Compromisso contra o Trabalho Escravo, firmada em agosto de 2012, ainda quando o petista era candidato à prefeitura da capital paulista.

É considerado trabalho escravo reduzir uma pessoa à essa situação, submetendo-a a trabalhos forçados, jornada exaustiva, condições degradantes, restringir sua locomoção em razão de dívida com o empregador ou por meio do cerceamento de meios de transporte, manter vigilância ostensiva no local de trabalho e reter documentos ou objetos do trabalhador com o intuito de mantê-lo no local.

Extraído do sítio Agência Brasil

E A GLOBO VAI SE SUPERANDO NA BARBÁRIE DA COBERTURA DA TRAGÉDIA DE SANTA MARIA - Maria Frô

O desserviço que a grande mídia está prestando na cobertura da tragédia de Santa Maria me lembra a cobertura do acidente da TAM onde o governo Federal virou um vilão sem precedentes, para depois com a maior cara de pau ser provado que não se fez jornalismo e sim o velho golpismo barato de uma imprensa partidarizada.


Ando realmente sem tempo e sem paciência pra falar sempre a mesma coisa: não temos mídia, temos empresários da comunicação que trata a notícia como negócio e as tragédias são um grande negócio para essas redes que perderam completamente qualquer constrangimento: Como ser um grupo de comunicação sem Noção? Seja Rede Globo

Eduardo Guimarães e Luiz Carlos Azenha tiveram mais estômago que eu para responder esses carniceiros:




Extraído do sítio Maria Frô

TRAGÉDIA DE SANTA MARIA VIRA ALVO DE POLITICAGEM E DEBOCHE - Eduardo Guimarães


Confesso que adiei a composição deste texto o quanto pude. Passado o choque inicial com a tragédia épica que se abateu sobre Santa Maria, ainda que pouco confiante em que não acontecesse não quis considerar a hipótese de que sobreviesse o espetáculo de selvageria que se seguiu neste país.

Lembro-me de que, no domingo, minutos após saber que serei avô pela segunda vez, então ainda na mesa do almoço com os pais da criança (meu filho e minha nora), ouço a emissora FM em que escutávamos música falar sobre a tragédia, interrompendo o almoço em família e nos obrigando a ir à internet em busca de maiores informações.

Naquele instante, senti vergonha do pensamento que me tomou. Um horror humanitário como aquele e eu fui logo pensar em que arrumariam um jeito de criticar Lula ou Dilma ou até o PT pelo que ocorrera. Senti-me fanático e insensível.

Não tive que esperar muito para me redimir, ainda que preferisse ter me sentido mal comigo mesmo a ter que encarar a dura realidade de que há uma infestação de desumanidade no país.

Jornalistas conhecidos, órgãos de imprensa e internautas anônimos das redes sociais protagonizaram um show dos horrores. Frases e até imagens repugnantes foram construídas a toque da mais absoluta insensibilidade e falta de limites éticos.

Tudo em que o blogueiro e colunista da revista Veja Reinaldo Azevedo conseguiu pensar, poucas horas após a tragédia vir a público, foi em criticar o ex-presidente Lula por ter sido postado em seu perfil no Facebook uma mensagem de solidariedade às famílias das vítimas de Santa Maria (?!!).

No jornal O Globo e no site “Blog do Noblat”, hospedado no portal da Globo na internet, uma charge de Chico Caruso espantou multidões pelo mau-gosto, pelo oportunismo, pela insensibilidade e até pela burrice.

O que tem Dilma Rousseff a ver com a falta de fiscalização de uma casa noturna em um dos mais de cinco mil municípios brasileiros? Nada? Pois o cartunista que serve à família Marinho achou relevante colocá-la à frente de uma jaula flamejante exclamando “Santa Maria!”.

Que mensagem o cartunista mandou? O que ele quis dizer? Por que Dilma tinha que ser associada à tragédia? Não seria mais inteligente uma charge crítica à falta de fiscalização das autoridades de Santa Maria ou ao descaso do empresário inescrupuloso que dirigia aquela arapuca?

Por que não fazer uma charge poética sobre o sofrimento de toda uma nação? Não havia idéia melhor para aquele cretino usar em uma charge, já que, por alguma razão, julgou que tinha que fazer uma?

O envolvimento de Dilma no episódio via essa cretinice da charge se conectava com os comentáristas dos blogs de Noblat e Azevedo, que se uniam para acusá-la pela tragédia sob razões malucas, ininteligíveis, que nem seus formuladores souberam explicar.

Mas, tragicamente, não foi só. O jornal O Estado de São Paulo começou a espalhar, acriticamente, matéria insultuosa ao Brasil divulgada por um dos dois jornais ingleses que abriu guerra contra o governo Dilma. O subtítulo da matéria fez troça do lema de nossa bandeira.

O diário Financial Times trocou o lema Ordem e Progresso por “Idiotia e Progresso”. Ou seja: 200 milhões de brasileiros se tornaram “idiotas” por um tipo de tragédia que vem ocorrendo em várias partes do mundo, até nos Estados Unidos (2003).

Pior que tudo isso têm sido perfis nas redes sociais Twitter e Facebook, entre outras. Internautas anônimos estão se fartando de debochar do sofrimento que se abateu sobre o país inteiro usando, sem piedade, o que há de mais estupefaciente e repugnante no “humor negro”.

O que está acontecendo no país? Tenho 53 anos. Já vi muita coisa, mas essas pessoas capazes de não sentir um pingo de comiseração em um momento de tanta comoção não existiam. Ou, se existissem, ao menos tinham um mínimo de pudor.

Explorar politicamente uma tragédia como essa, no entanto, talvez seja o pior. Porque essa conduta asquerosa não veio de algum moleque cretino e mimado ou revoltado com o mundo, mas de homens supostamente esclarecidos e maduros.

Extraído do Blog da Cidadania