31 janeiro 2012

PREDOMINÂNCIA MERKEL-SARKOZY IRRITA PEQUENOS PAÍSES EUROPEUS - Bernd Riegert

Líderes europeus se reúnem em cúpulas cada vez mais frequentes. Apesar disso, muitos se sentem excluídos: Alemanha dá o tom, França acompanha, e Itália também começa a erguer sua voz. Quem manda, afinal na Europa?

Monti, Sarkozy e Merkel. 'Merkonti'?
Na reunião de cúpula da União Europeia, nesta segunda-feira (30/01) em Bruxelas, a chanceler federal Angela Merkel representa o último entre os grandes países da Eurozona a ostentar a nota máxima das agências de rating. A Alemanha é a locomotiva de crescimento da Europa – embora em ritmo mais lento em 2012 – e pode assumir créditos estatais a juros quase nulos.

Esse nível de potência econômica, por si, já garante a Merkel um papel de liderança – o qual ela reconheceu de forma hesitante dois anos atrás, mas que assume com convicção crescente, desde a última conferência de cúpula.

Entretanto, no Fórum Econômico da semana anterior, em Davos, a premiê alemã se recusou a colocar mais dinheiro à disposição para deter o alastramento da crise do euro. Isso, apesar dos conselhos que lhe dão, há meses, o Fundo Monetário Internacional (FMI), os Estados Unidos e vários outros dirigentes da Europa. O topo do bloco europeu tornou-se um lugar muito solitário.

Decisão democrática à la 'Merkozy'

Premiê de Luxemburgo e chefe do Europgrupo, Jean-Claude Juncker
Até o momento, Merkel contou com o apoio presidente francês, Nicolas Sarkozy. Em dois anos de gestão de crise, as posições de ambos se aproximaram, o que foi pretexto para a imprensa cunhar o apelido "Merkozy".

No balneário de Deauville, na Normandia, em outubro de 2010, Merkel e Sarkozy definiram o arcabouço do plano de resgate do euro. Sob pressão alemã, o francês aprovou a participação dos credores; enquanto a premiê confirmou que não deve haver punição automática para os países seriamente endividados.

Nesse ínterim, ambas as decisões foram revogadas. A participação dos credores na Grécia é considerada um erro; e o novo pacto fiscal prevê sanções automáticas. Esse pacto foi desenvolvido por Sarkozy e Merkel praticamente da noite para o dia, no início de dezembro de 2011. "Quem quiser participar, que participe; quem não quiser, tudo bem", comentou Nicolas Sarkozy após uma de suas muitas conversas bilateriais, em Paris.

"Não temos culpa de sermos tão grandes"

Esse estilo de liderança à la "Merkozy" – de apresentar propostas supostamente "irrecusáveis" – já irrita seriamente grande parte dos chefes de Estado e governo da União Europeia. O premiê de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, reclamou numa entrevista ao jornal Handelsblatt: "Rebelo-me contra a impressão de que toda a UE esteja sob conspiração perene da casa de máquinas franco-alemã".

Juncker acusa Merkel e Sarkozy de frequentemente vender, como suas, velhas ideias para a estabilização dos 17 países da Eurozona. Na verdade, afirma, essas sugestões seriam do Eurogrupo, a assembleia dos ministros de Finanças, da qual Juncker é presidente até meados de 2012.

A própria Angela Merkel rebate tais acusações. Com ar inocente, explicou numa coletiva de imprensa, na última semana em Berlim: "Não temos culpa de sermos tão grandes". Não é, absolutamente, que ela dite aos outros o que devem decidir, argumentou a chanceler federal. "E aí não podemos simplesmente ficar olhando e dizer que cada um vai acabar fazendo tudo certo. Também estamos prontos a aprender uns dos outros. Isso não tem nada a ver com dominação."

Falsa santidade

O líder da bancada social-democrata no Parlamento Europeu, Hannes Swoboda, possivelmente expressa os sentimentos de muitos representantes das nações de menor porte da UE, ao reclamar: "Conversei muito com chefes de Estado e governo de países menores. O que realmente os aborrece é esse método de dizer: 'Nós temos uma sugestão. Precisamos implementá-la agora. Não há outra opção. E não se fala mais no assunto'."

Deputado Swoboda: irado com potências europeias

O parlamentar austríaco comentou à Deutsche Welle que todos deveriam se sentar à mesma mesa e procurar uma solução realmente comum. O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, se mostra igualmente descontente com os processos atuais. Ele gostaria de realizar consultas mais estreitas com aqueles países da UE que não têm o euro como moeda corrente, mas que participarão do novo pacto fiscal.

O chefe de governo luxemburguês, Jean-Claude Juncker, também quer evitar que as nações menores saiam prejudicadas. Afinal, a participação per capita da população de seu país no mecanismo de resgate do euro é maior do que a da Alemanha, assinala. Além disso, "não me agrada esse jeito de a Alemanha agir como se tivesse que defender a ortodoxia orçamentária contra os pequenos caloteiros", diz Juncker. E lembra: dos 27 Estados da UE, 17 têm menos dívidas do que a Alemanha.

O futuro é "Merkonti"?

Até o momento, o presidente Sarkozy tem procurado passar aos franceses a impressão de ser aquele quem manda, na dobradinha "Merkozy". Contudo desde que, duas semanas atrás, a França perdeu o rating máximo AAA, e que seus prognósticos econômicos se apresentam bem modestos, está obviamente relativizada sua importância dentro do duo de líderes.

Na luta para ser reeleito em abril próximo, Sarkozy precisa convencer os franceses das vantagens das reformas e da disciplina orçamentária. Intencionalmente, ele procura a proximidade da chanceler alemã – a qual é tida em alta estima na França e até ajudará o amigo, apresentando-se a seu lado durante a campanha eleitoral. Afinal, em 2009, Sarkozy também apoiou os esforços eleitorais de Merkel.

Quem ganha significado crescente na liderança da Europa é o chefe de governo italiano, Mario Monti. O professor de Economia sem filiação partidária impôs em seu país, em curto período de tempo, reformas e planos de contenção que durante anos pareceram impossíveis, sob o regime do escandaloso Silvio Berlusconi.

Monti sabe que o euro só resistirá se a Itália conseguir vencer a crise. Com firmeza, ele pede à Alemanha mais solidariedade – ou seja: mais dinheiro. Um apelo que, por sua vez, não agrada muito a Merkel. Afinal de contas, foram ela e Sarkozy quem pressionaram para que Berlusconi renunciasse, liberando o caminho para Monti.

Merkel, Monti e Sarkozy se encontraram a três, logo antes da cúpula extraordinária – já pela terceira vez, desde meados de dezembro de 2011. Assim, o duo da liderança europeia se amplia, em um trio que já recebeu o apelido "Merkonti".

Extraído do sítio da Deutsche Welle

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