23 abril 2012

A ORIGEM DE CACHOEIRA - Déborah Gouthier

Patriarca da família inseriu os filhos no "lucrativo" negócio dos jogos de azar. 

O pai de Carlos Cachoeira, Tião Cachoeira - mentor dos negócios no jogo do bicho. Foto: Dida Sampaio/AE

Uma família mineira que veio para Goiás ganhar a vida, procurar um negócio rentável e trabalhar. Como tantas outras. A diferença é que essa família decidiu investir num ramo ilegal: o jogo do bicho.

O patriarca Sebastião Almeida Ramos, conhecido como Tião Cachoeira, era motorista de caminhão quando transferiu a família para Anápolis. Em Minas, eles moravam em Araxá, na Fazenda Cachoeira, nome que originou o apelido da família. Já em Goiás, ele deixou a profissão para trabalhar com o comércio ambulante e como apontador do jogo do bicho – responsável por anotar as apostas, o que gerou uma sociedade com um tradicional bicheiro da cidade.

Conforme apurou a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, publicada neste final de semana, ainda nos anos 60, Tião e sua esposa Maria José se separaram, e quatro dos 14 filhos foram trabalhar com o pai: Julinho, Paulinho, Marquinhos e Carlinhos, o Carlos Cachoeira – preso no dia 29 de fevereiro, apontado como líder da máfia dos caça-níqueis em Goiás.

Após alguns atritos, Tião e o sócio acabaram dividindo as bancas de jogo pela cidade e, com o tempo, Carlinhos foi assumindo o negócio do pai. Já nos anos 90, o então governador Maguito Vilela deu ao seu colega de futebol na infância, a concessão da LEG (Loteria do Estado de Goiás) e Carlos Cachoeira começou a desenvolver um verdadeiro império dos jogos de azar. Chegou a se encontrar com os maiores bicheiros do Rio de Janeiro, foi pioneiro no bingo eletrônico e no jogo de caça-níquel, do qual o pai se tornou grande e fiel apostador. No fim da década, ampliou sua rede de contatos e se mudou com alguns dos irmãos de Anápolis para Goiânia, onde passou a residir em um apartamento de luxo no Setor Marista. Cada um dos irmãos Cachoeira ficou responsável por um dos ramos do negócio, inclusive o ramo legal, como a indústria farmacêutica localizada no DAIA (Distrito Agroindustrial de Anápolis).

Além dos familiares, Carlinhos Cachoeira sempre englobou em seus negócios os amigos da família, além de nomes influentes como políticos, empresários e policiais. Um parente chegou a declarar ao Estadão que ele sempre motivou os amigos a crescerem na vida. De acordo com seu irmão Marquinhos, o problema era mesmo o envolvimento com a política, para onde Carlinhos teria repassado cerca de R$ 1 bilhão nos últimos anos.

Entretanto, nas últimas semanas, com o andamento da Operação Monte Carlo e o desenrolar das ações envolvendo a rede de influências do grupo, a família Cachoeira degringolou. A mãe, Maria José de Almeida Ramos faleceu no dia 16 de abril, aos 79 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos. Tião Cachoeira, pai e mentor dos negócios, aos 82 anos vive sozinho em um quarto do Hotel Palace, um prédio decadente no centro de Anápolis. E o Carlinhos estampa as páginas dos principais jornais brasileiros: o “líder da máfia”, o “rei da jogatina”, o “maior bicheiro do Estado de Goiás”.


Extraído do sítio do Jornal Opção

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