24 abril 2012

GRANDE IMPRENSA FOI PARCEIRA DE DEMÓSTENES - Aline Scarso


Além de revelar de forma ímpar como as relações privadas se confundem com a ação pública, o caso Demóstenes também chama a atenção para outro ponto: a construção pela mídia de representantes da moralidade que nem sempre condiz com a verdade dos fatos. 

Demóstenes sempre teve acesso aos grandes jornais de circulação nacional. De perfil agressivo e direto, ganhou destaque na grande imprensa como genuíno defensor da política nacional livre dos corruptos e corruptores. Sua imagem estava associada à credibilidade e à responsabilidade com a vida pública. 

As últimas denúncias, entretanto, resultaram na inevitável desconstrução. Mesmo a revista Veja que teve seu nome ligado ao bicheiro Carlos Cachoeira por meio do seu editor-chefe Policarpo Júnior, e por essa razão se manteve calada por uma sequência de seis edições, viu-se obrigada a se pronunciar sobre o fato. Outros veículos da grande mídia também se apressaram a produzir matérias sobre as investigações da Operação Monte Carlo, sabendo que a fonte já estava perdida diante da gravidade das acusações. 

Para a colunista de política da Agência Carta Maior, Maria Inês Nassif, a imprensa caiu no conto do seu próprio discurso. “A grande mídia assumiu no último período uma tonalidade de discurso-denúncia que casou muito bem com o próprio discurso do Demóstenes. O discurso da moralidade, ligado ao pensamento conservador, acabou convencendo. Foi um personagem que se adequou a esse roteiro traçado para a política brasileira. Foi um bom ator”, destaca. 

De acordo com o senador do Psol Randolfe Rodrigues, a primeira lição para se tirar desse caso é que não se pode confiar em qualquer um que se alcunhe como proprietário dogmático da ética. 

“Não acredite em qualquer um que venha dizendo que é a igrejinha solitária das virtudes e não pecados. A segunda lição desse caso é que é lamentável para a política quando um suposto defensor de valores republicanos se revela como agente dos interesses privados”. Para seu colega de partido, o deputado Chico Alencar (Psol/RJ), parte da oposição ao governo também ficou desmoralizada depois dessa Operação, já que as evidências mostram que praticam os mesmos procedimentos que criticavam no PT e nos partidos da base aliada. 

“Tucanos e demos repetem a velha prática do conluio entre negócios privados e a vida política. Negócios de bastidores, financiamento de campanhas, facilitações em todas as esferas do poder público, são práticas recorrentes no Brasil há muito tempo. E aí a gente vê que a oposição de direita, conservadora, com um discurso muito cínico, tinha uma conduta cotidiana de desmoralização da ética pública. Isso choca”, pontua.

Extraído do sítio Brasil de Fato

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