24 abril 2012

ZERO HORA TROCA JORNALISMO POR ESPECULAÇÃO PARA ATACAR O MST - Alexandre Haubrich

A ânsia do jornal Zero Hora por encontrar formas de criminalizar os movimentos sociais parece não conhecer limites. As ações do MST que lembraram o massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido 16 anos atrás, foram cobertas de forma absolutamente vazia pelas emissoras de televisão, e a pauta seguiu rendendo, no jornal Zero Hora, até a última quinta-feira. A partir da sexta, a cobertura começou a ser esvaziada. Mas não sem motivo.

Na quarta, os sem-terra que haviam ocupado um espaço do Laboratório Nacional Agropecuário, em Sarandi (RS), foram retirados de lá pela polícia, sob ordem judicial. A capa da edição de quinta de Zero Hora traz uma grande (no tamanho) fotografia de Diogo Zanatta, e a chamada “Vandalismo em 15 horas”. Na legenda, “(…) técnicos avaliam estragos em pesquisas sobre febre aftosa”.


Na matéria da página 34, também com foto, o texto cita “prejuízos” e explica: “havia veículos e máquinas danificados e pichados. As casas dos trabalhadores do laboratório foram reviradas. Estavam sujas, com objetos quebrados e portas arrombadas. Houve a destruição de cercas, e várias pichações foram feitas nas paredes (…). (…) três bovinos abatidos e alguns itens subtraídos. (..) Uma contagem será feita até o meio-dia de hoje para verificar se outras das 757 cabeças de gado que havia no local antes da invasão chegaram a ser perdidas. O cálculo será crucial para verificar se o lote atual poderá ser aproveitado. Uma avaliação realizada por veterinários irá apurar se há animais feridos”. Toda essa “destruição”, e Zero Hora publicou duas enormes fotos dos manifestantes cercados pela polícia. Praticamente foto-release da BM. Nada de fotojornalismo, nenhuma imagem da “destruição” dos “vândalos”.

No dia seguinte, sem capa e sem foto sequer na parte interna, o jornal foi obrigado a admitir que toda a sua tese sobre “prejuízos” e “estragos em pesquisas sobre febre aftosa”, acusações que funcionaram anteriormente como carro-chefe dos ataques do jornal à ação do movimento, não passava de especulação. Zero Hora especulou de forma irresponsável sobre as “possíveis consquências” da mobilização, e deu pouco espaço, na sequência, para a admissão de que as pesquisas não sofreram qualquer prejuízo.


A matéria de Leandro Becker é a demonstração de que o texto da quinta-feira fora construído apenas com especulações. É a não-matéria. Logo no primeiro parágrafo, ZH admite que “a invasão (sic) (…) não causou prejuízos à campanha de vacinação contra a febre aftosa no país”. Em seguida, relata declaração do coordenador do laboratório, que afirma que “a contagem dos animais revelou o sumiço de três dos 757 bovinos do rebanho. Mas ele esclarece que o abate não traz problemas (…). (…) nenhum animal foi ferido pelos sem-terra. – A falta de trato aos animais também não interferiu, pois eles se alimentaram de capim e tinham acesso à água”.

O texto do dia 20 serviu apenas para desconstruir as especulações levantadas no dia anterior. Não acrescenta qualquer informação, não traz qualquer fato novo. Apenas desmente o que foi publicado anteriormente. É mais uma demonstração, dessa vez construída pela própria Zero Hora, de que o jornal precipita-se na ânsia de atacar e criminalizar o MST, deixando de lado o compromisso com a apuração séria das notícias e com a publicação de informações devidamente checadas para que o leitor possa formar sua percepção sobre a realidade. Especulação não é informação, e utilizar o espaço do jornal para especular, mesmo que o desmentido venha na sequência, é irresponsabilidade e oportunismo.


Extraído do sítio Jornalismo B

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