25 novembro 2011

MARACANÃ: RJ TORRA MILHÕES PARA ENTREGAR À INICIATIVA PRIVADA - Mauro César Pereira

Márcia Lins: secretária demonstra otimismo. E você, está animado?
O Maracanã está em reformas. Pelo menos algo perto de R$ 900 milhões serão torrados em mais uma remodelação do estádio que viveu várias outras transformações nos últimos anos, a mais recente para os Jogos Pan-americanos de 2007. E como a Secretária de Turismo, Esporte e Lazer do Rio de Janeiro, Márcia Lins, já adiantava em setembro do ano passado neste blog, ele será mesmo entregue a um dono. Sim, o estádio passará por um processo de privatização depois de centenas de milhões de reais oriundos dos impostos serem ali enterrados.

Claro, óbvio, evidente, que o mais razoável seria termos dinheiro privado bancando a reforma, ou pelo menos a maior parte dela. O que estão fazendo com a grana do contribuinte? Praticamente reconstruindo algo caro e grandioso para, depois, deixar alguém explorar e lucrar com a obra paga pela verba pública. Em evento promovido pelos jornais O Globo e Extra, Márcia Lins afirmou: "A concessão será feita até meados do ano que vem, antes mesmo da Copa das Confederações".

As obras, diz a secretária, terminarão em fevereiro de 2013, e vão custar R$ 860 milhões. E mais: antes mesmo de ser entregue para os jogos de futebol, o (ex)Maracanã será cedido à iniciativa privada, que não põe um centavo sequer desse quase meio bilhão de dólares do nosso dinheiro e que sustentam as transformações exigidas pela "Dona" Fifa. "A concessão será feita até meados do ano que vem, antes mesmo da Copa das Confederações", disse ela.

Os argumentos da secretária são frágeis como um castelo de areia. No ano passado, ela tentou justificar a curiosa estratégia, pagar a reforma para depois entregar a terceiros, a particulares — clique aqui e veja o vídeo da entrevista feita em setembro de 2010. Agora ela insiste que "apesar do investimento alto no início, ganharemos depois com a economia na manutenção. Acreditamos que ele terá sua receita quadriplicada no futuro".

Sim, ela acredita. Eu não, e você? Será que a palavra da secretária é o bastante? Por onde andam as provas concretas, reais, verossímeis, de que esse dinheiro virá? É assim que se deve administrar o dinheiro público? Por que não foi feita uma verdadeira parceria-público-privada, com os interessados bancando a obra ou parte significativa da mesma para depois terem o direito de explorar o estádio?

Sequer é original o argumento de que o Estado economizará ao entregar a um novo dono o Maracanã estuprado pelas exigência de Sepp Blater e seus Blue Caps. Querem dar ao antigo templo do futebol o mesmo destino do Engenhão, que consumiu perto de R$ 380 milhões antes do Pan 2007 e foi parar nas mãos do Botafogo por R$ 36 mil mensais. Se fossem prestações fixas e sem juros, em 88 anos (em 2095) o clube devolveria o valor investido na construção. A concessão vai até 2028.

Sim, claro, o Estado também dirá que ao entregar o estádio nas mãos da iniciativa privada irá economizar com a manutenção, que deixará de ser de sua responsabilidade. Foi o mesmo argumento utilizado pelo ex-prefeito César Maia ao repassar o Engenhão ao Botafogo. Em 14 de novembro de 2008, questionado a respeito por este blog, Maia respondeu por e-mail: "O que a prefeitura recebe não é o aluguel, mas o custo que deixa de pagar".

Pena que no Brasil os governantes não tenham que justificar como autorizam uma obra cara com dinheiro dos contribuintes e depois não sabem o que fazer com ela. E para se livrar do prejuízo, entregam ao primeiro que aparece, como se os milhões ali investidos não pertencessem a ninguém, ou seja, não fosse dinheiro que deveria melhorar as condições de vida da sociedade.

Hoje o Botafogo lucra com o Engenhão, em parte em função da interdição do Maracanã, mas lucra. Serão cerca de R$ 7,5 milhões no ano até o final de 2011. Claro que alguém lucrará com o estádio da Copa. Eu e você apenas pagamos a conta. E ainda querem aplausos por isso? Mais eleições virão. Quando votar, pense a respeito.

Extraído do sítio da ESPN Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário