Foram 15 minutos. Pasmem! Quinze minutos do telejornal com maior audiência no Brasil! Apenas para anunciar a troca de apresentadoras. Inacreditável! Não me lembro de qualquer outra notícia com tanto espaço no Jornal Nacional, que informa – ou deveria informar – sobre fatos que interferem na vida dos cidadãos. A mudança na bancada do jornal é mais importante, por exemplo, que a falta de capacidade nacional para atender os que dependem do SUS?
Entendo o desespero da TV Globo em tornar os seus telejornais mais populares. A concorrência nesta área é grande. Mas, não precisa exagerar, não é mesmo? Fico me perguntando: qual a importância das matérias editadas – ou pelo menos apresentadas – pelo chefe do JN, William Bonner, sobre a carreira da sua mulher, Fátima Bernardes, que deixa o telejornal, e de sua substituta Patrícia Poeta? Não consigo encontrar resposta. William, Fátima e Patrícia deveriam ser profissionais que transmitem, com seriedade, as informações do dia, sem se transformarem em notícia.
Aprendi – faz tempo, é verdade – que jornalista não é personagem. É, isto sim, responsável por traduzir para os leitores, ouvintes, telespectadores, internautas, as informações que recebe, que levanta, que busca, que investiga. Seu maior patrimônio é a credibilidade. A televisão, no entanto, parece ter invertido estes princípios. Os telejornalistas são estrelas, perseguidos por fotógrafos, com a vida exposta em revistas, jornais e sites de variedades. Não há quem resista! Assim, a proposta de um novo programa, apresentada por Fátima Bernardes e a sua saída do jornal nacional se sobrepôs a qualquer outra notícia. Virou celebridade!
A bancada do Jornal Nacional se transformou numa mesa de bar (faltaram os comes e bebes, é verdade), com lembranças do passado, muitos “eu fiz”, “eu faço”, eu farei”, como se um profissional de comunicação, em especial na TV, conseguisse fazer algo sozinho. O mito da personalidade passa outra informação errada para o público: o que o jornalista é um ser acima de qualquer suspeita e que consegue tudo sozinho. O resto da equipe não conta. É apenas uma escada para os coleguinhas do vídeo. Quem acredita neste tipo de telejornalismo?
* Nubia Silveira é jornalista.
Extraído do sítio Sul21
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