22 dezembro 2011

EM DEFESA DOS POVOS DA FLORESTA, CHICO MENDES MORRIA HÁ 23 ANOS

No dia 22 de dezembro de 1988, o Brasil perdia uma de suas lideranças mais destacadas, o seringueiro e líder sindical Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes. Ele foi assassinado com um tiro de escopeta na porta de sua casa em Xapuri, no Acre, por dois fazendeiros, pai e filho, que foram condenados pelo homicídio.

Chico Mendes militava
 pela criação de  reservas
extrativistas no Acre.
 Foto: Reprodução
Defensor dos povos da floresta, Chico Mendes combatia os fazendeiros que desmatavam extensas áreas de terra para a criação de gado. A profissão de seringueiro ele herdou do pai. Chico só aprendeu a ler aos 20 anos, já que na maioria dos seringais as escolas não eram prioridade para os proprietários de terras.

Em 1975, Chico Mendes começou a atuar como líder sindical e no ano seguinte começou a participar dos chamados “empates”, manifestações pacíficas em que os seringueiros buscavam impedir o corte de árvores, colocando-se à frente de tratores e serras elétricas. Chico Mendes também militava pela criação de reservas extrativistas no Acre.

Em 1977, participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri e foi eleito vereador pelo MDB. Quando assumiu seu mandato, as ameaças de morte tiveram início. Um dos fundadores do PT, em 1980, Chico Mendes tornou-se dirigente da legenda no Acre. Em duas oportunidades — em 1982 e 1986 — foi candidato a deputado estadual, mas não conseguiu se eleger.

O líder dos seringueiros organizou o Primeiro Encontro Nacional de Seringueiros, cujo resultado foi a criação do Conselho Nacional de Seringueiros e da proposta de “União dos Povos da Floresta”, que visava defender os interesses e direitos dos habitantes da floresta por meio da criação de reservas extrativistas.

Esta proposta buscava unir os interesses dos indígenas, seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores, quebradeiras de coco babaçu e populações ribeirinhas, através da criação de reservas extrativistas. Essas reservas preservam as áreas indígenas e a floresta, além de ser um instrumento da reforma agrária desejada pelos seringueiros.

Em 1980, foi enquadrado na Lei
 de Segurança Nacional a pedido
 dos fazendeiros da região de
 Xapuri| Foto: Reprodução
Além das ameaças de morte, Chico Mendes enfrentava diversos processos que tentavam frear suas lutas, além de pressão por parte da ditadura que o acusava de subversão. Em 1980, foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional a pedido de fazendeiros da região. Em 1984, foi acusado de incitar posseiros à violência. Foi absolvido das duas acusações. Chico Mendes também foi submetido a duros interrogatórios, mas sem apoio, não conseguiu registrar denúncias de tortura.

A notícia de seu assassinato teve repercussão internacional em função de Mendes ter recebido em 1987, em Xapuri, uma comissão da Organização das Nações Unidas (ONU) a fim de demonstrara a devastação causada na floresta por empresas financiadas pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Mendes também foi ao Senado dos Estados Unidos expor a situação. Como resultado, o repasse dos financiamentos foram suspensos para essas empresas, fato que provocou a ira por parte dos fazendeiros que o acusavam de ser contra o desenvolvimento econômico da região.

No mesmo ano, ele recebeu vários prêmios por sua atuação em defesa do meio ambiente, sendo um deles, o “Global 500”, entregue pela ONU.

A tensão em Xapuri aumentou quando o fazendeiro Darly Alves da Silva decidiu desmatar o seringal Cachoeira, que havia sido desapropriado para a criação de uma reserva extrativista. Mendes liderou o “empate” no terreno. Com a desapropriação, aumentaram as ameaças. Em diversas ocasiões, Mendes denunciou que vinha sendo ameaçado, e por causa das denúncias, um mandado de prisão chegou a ser emitido para Darly Alves da Silva, mas ele foi informado antes de a polícia chegar e conseguiu fugir.

Após o homicídio, organizações sindicais, religiosas, políticas, de direitos humanos e ambientalistas formaram o Comitê Chico Mendes para cobrar por justiça.


Em dezembro de 1990, aconteceu o julgamento de pai e filho – Darly Alves da Silva e Darcy Alves Ferreira. Silva foi condenado como mandante e Ferreira, como autor do crime. Sentenciados a 19 anos de prisão, fugiram em 1993. Silva se escondeu em um assentamento do Incra em Medicilândia, no Pará. Em 1996, os dois foram detidos novamente. Três anos depois, Silva conquistou o direito de cumprir sua pena em prisão domiciliar, e Ferreira, em regime semiaberto no presídio da Papuda, em Brasília.

Em 2008, a Justiça anistiou Chico Mendes, perseguido durante a ditadura (1964-1985) por suas atividades sindicais, e sua viúva passou a receber uma indenização retroativa de R$ 337 mil, além de R$ 3 mil mensais.

Extraído do sítio do Jornal Sul21

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