Alguns já chamam a crise de Primavera Russa enquanto outros não escondem a preocupação pelo que pode ocorrer no que sobrou da antiga União Soviética, onde está fermentando uma situação que pode agravar ainda mais a atual crise no modelo politico e financeiro da União Européia.
Como já havia acontecido em países árabes e no movimento Ocupar Wall Street, a mobilização dos manifestantes russos está sendo feita basicamente pela internet, que incorpora de vez as ferramentas digitais no arsenal dos protagonistas dos principais conflitos sociais contemporâneos.
Já não se trata mais de uma excentricidade ou curiosidade política, mas de um novo modelo de ação política que, pelo menos até agora, não tem um antídoto rápido desenvolvido pelos sistemas governamentais de segurança.
No fundamental, o modelo se baseia na disseminação viral de informações cujo potencial político é maximizado pela existência de um ambiente de exaustão ou de duvida. No caso das rebeliões árabes, foi o cansaço em relação a regimes autoritários vigentes havia décadas. No caso dos protestos em Wall Street, Grécia, Espanha e agora em Moscou, é a dúvida sobre a legalidade de procedimentos políticos e/ou eleitorais.
O caso russo é complexo porque é generalizada a impressão de que as eleições parlamentares do dia 4 de dezembro foram manipuladas pelo governo do primeiro ministro Wladimir Putin, que pretende voltar a ser presidente, em 2012. O premier reagiu de forma dura ordenando que a Policia Federal Russa (FSB) obrigasse a principal rede social do pais, a VKontakte, a bloquear todo o tráfego de mensagens políticas entre usuários da internet.
Em vez de recorrer ao fechamento puro e simples da rede, seguindo o exemplo do ex-presidente egípcio Osni Mubarak, os adeptos de Putin resolveram partir para a guerra nas próprias redes sociais, criando centenas de milhares de contas no Twitter para congestionar a circulação de notícias sobre novas manifestações de protesto. A estratégia surpreendeu os opositores, mas não impediu novos protestos de rua no sábado (10/12), os mais violentos registrados em Moscou desde o fim da União Soviética há exatos 20 anos.
Os acontecimentos dos últimos dias na Rússia indicam que a informação passou a ser a arma preferida tanto pelos opositores a Putin, entre os quais se destaca o Partido Comunista, o segundo maior país, como pelo governo. Nesse conflito, os jovens russos, a maioria dos quais ainda era criança quando o comunismo foi afastado do poder, mostram um maior dinamismo político mesmo sendo absolutamente céticos com relação à política.
Para eles, usar a internet e as ferramentas digitais para protestar é uma afirmação existencial mais do que uma profissão de fé em ideologias. É que eles cresceram escutando histórias sobre a burocracia e a corrupção no sistema comunista e agora testemunham a mesma corrupção num regime que prometera combatê-la. Eles estão desiludidos com todas as formas tradicionais de protestar e passam a usar as redes sociais com o entusiasmo de quem está descobrindo algo novo.
A crise russa é muito importante porque ela pode funcionar como estopim para a explosão de conflitos sociais na maioria dos países que se tornaram autônomos depois da implosão da União Soviética. Esses países são politicamente considerados como verdadeiros barris de pólvora porque passaram a ser governados por políticos oportunistas, e onde a corrupção também cresceu rapidamente e com ela a desilusão das pessoas.
Uma convulsão na Europa central agora é tudo o que os líderes da União Européia não querem, porque pode precipitar o Velho Mundo no período de instabilidade critica, com conseqüências para o resto do mundo.
Extraído no sítio Observatório da Imprensa
Extraído no sítio Observatório da Imprensa
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