Dia desses, debatia com alguns tuiteiros a possibilidade de a CPI da Privataria Tucana ser enterrada num grande acordo entre tucanos e petistas. Internautas que defendem o governo de forma incondicional ficaram ofendidos. Aí, lembrei o episódio (narrado no livro de Amaury Ribeiro Jr.) do acordo entre parlamentares do PT e do PSDB pra encerrar a CPI do Banestado sem alardes e sem escândalos, em 2003.
Marco Maia vai fazer cara de paisagem? E o PT? |
Não acho impossível que um outro acordo desses seja costurado ou desejado por alguns “pragmáticos” do PT. Mas tenho certeza que, se fizer isso, o partido pagará um preço muito alto. Talvez, mais alto do que na Reforma da Previdêcia no início do governo Lula ou mesmo na “Crise do Mensalão” em 2005. Naqueles dois episódios, o PT e o governo sofreram desgaste, houve defecções de parlamentares que seguiram para o PSOL. Mas boa parte da ”base organizada” petista e lulista (falo de sindicatos, movimentos sociais e partidos) seguiu a apoiar o governo. Viu nos episódios fatos graves, mas deu o desconto: era o preço a se pagar (será?) para obter “governabilidade”. As concessões (e os erros) de Lula foram compensados por resultados concretos que melhoraram a vida de milhões de brasileiros.
Agora, é diferente. O livro de Amaury traz à tona denúncias graves contra os maiores adversários do lulismo. Não são críticas no vazio. Mas fatos e documentos, a mostrar o percurso suspeito de dinheiro rumo a contas em paraísos fiscais. A filha de Serra e amigos muito próximos do tucano estão citados no livro. Serra recusa-se a falar sobre os fatos. Tenta desqualificar o livro (“lixo, lixo, lixo”, balbuciou para as câmeras de TV).
A imprensa serrista também se recusa a falar sobre o livro. De forma didática, nas duas últimas semanas, ficou demonstrada a hipocrisia da mídia que cobra “moralidade pública” desde que isso não inclua o Serra… O PT também não fez muito alarde. Até porque parte do partido não sai bem da história (Amaury narra a guerra interna no comitê petista em 2010, que teria incluído parceria de petistas com a “Veja”, para atingir outros petistas).
Coube ao deputado Protógenes Queiroz (PCdoB/SP), um franco atirador com fama de “doido”, botar o livro debaixo do braço e sair pedindo assinaturas para uma CPI da Privataria. Mais de duzentos deputados assinaram. A ‘Veja”, a “Folha”, os mervais e outros bossais tentaram desqualificar Amaury. Ainda assim, mais de 200 deputados assinaram. É a força da internet: dos blogs “sujos” e das redes sociais… Por isso, falei que a CPI é uma vitória dos “sujos” e “doidos”.
Nessa quarta-feira, Protógenes entregou o pedido de CPI ao presidente da Câmara. Marco Maia (PT-RS) diz que é preciso conferir as assinaturas e, lá por fevereiro de 2012, quem sabe, pode ser instalada a CPI.
Hum…
Natal, Reveillon e férias de janeiro. Os tucanos ganharam 45 dias para negociar o enterro da CPI. Emissários de banqueiros, políticos e empresários vão conversar muito nos próximos dias… Dilma já disse que CPI só se faz “em casos extremos”. Governo não quer marola nem confusão. Quer administrar a economia e gerar emprego. Isso até se compreende.
Mas será que o PT vai entrar nessa? Como eu disse acima, dessa vez não haverá boa vontade na base lulista. Como acalmar as bases organizadas, se o PT por acaso aliviar pro Serra e deixar de investigar denúncias (concretas, graves e documentadas) contra o maior (e mais ardiloso) adversário? Dessa vez, um acordo com o PSDB seria visto como traição.
Por isso tudo, acho difícil que um ”acordão” prospere. Seria visto como traição pela base. Falando português claro: seria como se o time do Flamengo entregasse o jogo pro Vasco. No dia seguinte, a Gávea viraria uma praça de guerra. Jogador pode não ter amor à camisa. Mas tem medo da reação da torcida. Nesse caso da CPI, também, o resultado depende da “torcida”. Da pressão social. Do “bafo” das ruas e da internet… Claro que existe gente séria no Parlamento, e muito deputado combativo no PT e nos partidos aliados. Mas a maioria atua na base da pressão.
Não se espera que o governo e o PT trabalhem ardorosamente pela CPI. Mas se perceberem que a base quer a CPI será difícil aos parlamentares do PT e dos partidos aliados dizerem “não”. É essa a chance de ver instalada a CPI. Uma chance histórica para o país. Seria a primeira CPI – em muitos anos – que não surgiria das pautas impostas pela velha mídia. Seria uma CPI feita contra a vontade da velha mídia. Por isso, essa briga é tão importante: estratégica!
Extraído do Blog Escrevinhador de Rodrigo Vianna
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