21 fevereiro 2013

YOANI NO PAÍS DAS MARAVILHAS - Eduardo Guimarães


A visita da blogueira cubana Yoani Sanchez ao Brasil ganhou uma dimensão muito maior do que deveria – mas que, claro, teria ocorrido de qualquer forma por conta do uso político-ideológico que setores da grande imprensa nacional fariam de sua imagem e de suas ideias mesmo sem os fatos que contribuíram para aumentar sua exposição pública.

Os fatos que aumentaram a exposição de Yoani são as manifestações de protesto contra sua presença em nosso país, nada que não aconteça em muitos outros países quando recebem visitas de pessoas ditas “importantes”.

Todavia, a cubana não chega a ser um presidente dos Estados Unidos ou um poderoso banqueiro internacional daqueles que ficam inacessíveis ao diálogo, deixando a quem deles diverge a única alternativa de protestar.

Não se pode escapar de reconhecer, entretanto, que, seguramente, foi exagerada a dose do protesto contra alguém que, sob financiamento de potências ou corporações estrangeiras ou não, é apenas uma blogueira que exprime suas ideias.

Yoani deve ser mesmo tudo o que dizem. Mantém, sim, relações com o Departamento de Estado Norte Americano, inventa – até prova em contrário – agressões físicas que teria sofrido do governo de seu país, recebe somas altíssimas de grupos políticos estrangeiros para acusar uma “ditadura” que lhe permite sair pelo mundo denunciando-a…

Contudo, os manifestantes contrários, ingenuamente, escolheram o campo dela para lutar. Yoani fundamenta seu sucesso internacional no papel de vítima que forjou, o de uma jovem de aparência meiga e coragem imensa para enfrentar uma cruel ditadura.

Nada mais conveniente do que aparecer, sozinha ou ao lado de um ou dois, sendo xingada por pessoas aparentemente iradas e em bando.

Yoani deve estar muito feliz. Os vídeos já gravados sobre o que lhe fizeram em termos de constrangimento moral – e, o que é pior, só com palavras de ordem em vez de com argumentos – certamente lhe servirão muito em outras oportunidades.

Abaixo, um desses momentos em que os críticos dela tiveram oportunidade de fazê-la responder a questionamentos e a desperdiçaram, permitindo-lhe um discurso protocolar e falsamente democrata.



O discurso da blogueira diante desse tipo de ação contra si acabou reforçado. Disse ela que prefere os apupos da democracia ao silêncio de uma ditadura que lhe facultou meios de estudar, de se formar, de adquirir cultura, de conseguir ir até morar no exterior, de recebe-la de volta e, ao fim, de também lhe permitir que saísse agora pelo mundo acusando seu país.

A visitante cubana, aliás, vem elogiando muito o nosso país, dizendo que gostaria que Cuba fosse igual. Afinal, aqui, no país das Maravilhas de Yoani, há liberdade de expressão, carros novos e internet rápida.

Infelizmente, em poucos dias a moça deixará o Brasil sem lhe ver um outro lado que, se lhe fosse apresentado junto com uma pergunta sobre se há situação igual na “ditadura” que denuncia, por certo a faria refletir que talvez este país não seja tão melhor que o seu e, em muitos aspectos, que talvez seja até pior.

Nos últimos dias, o carcomido debate da Guerra Fria sobre Cuba vem apontando como é melhor viver aqui do que lá porque temos internet rápida, carros novos, shoppings repletos de todos os tipos de quinquilharias caras que muitos, hoje – e só hoje –, podem comprar, mas que uma parte imensa deste povo não sabe nem o que são.

Uma visão menos superficial de nossa sociedade de consumo em contraposição ao “inferno socialista” de que Yoani fala, portanto, se faz necessária.

Fico me perguntando se não teria sido o caso de os manifestantes contrários a ela, respeitosamente, terem lhe proposto um debate público em vez de a terem feito ouvir seus longos discursos, palavras de ordem e xingamentos enquanto, com um sorriso democrático e sereno e um ar de “Eles não sabem o que dizem”, ouvia a tudo.

Poderiam, por exemplo, ter exibido uma sequência de imagens do nosso “país das maravilhas” e perguntado a Yoani se as desgraças sociais que veria existem em Cuba, e se internet rápida e carros novos compensam as legiões de crianças pelas ruas se drogando e se prostituindo, uma saúde pública que rouba a dignidade do povo, uma educação que não educa ninguém e tudo isso sob uma guerra civil em curso, com mortandade como a de qualquer guerra declarada.

Abaixo, algumas imagens da situação produzida pelo capitalismo que Yoani quer ver em seu país e que, por certo, produziria cenas iguais em pouco tempo se por lá fosse implantado. Aí talvez ela refletisse que, para evitar esse inferno em seu país, a falta de oferta de bens de consumo supérfluos é um preço até pequeno a pagar.











Extraído do Blog da Cidadania

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