13 fevereiro 2013

LEGADO DE BENTO XVI SERÁ MARCADO POR SUA RENÚNCIA - David Willey

Bento 16 anunciou que irá deixar o pontificado no dia 28 de fevereiro

O papado de Bento 16 pode não ter sido glorioso. Mas sua renúncia significa que ele será lembrado por muitos anos.

À medida que os últimos dias, horas e minutos do breve pontificado de quase oito anos de Bento 16 chegam ao fim, até que ele se aposente, no fim de fevereiro, minha mente se volta para a figura de outro dos poucos papas na história que abandonaram voluntariamente o posto.

O papa Celestino 5º foi castigado por aquele que talvez tenha sido o maior dos grandes poetas da Itália, Dante Alighieri, por sua "covardia" em abandonar o trono de São Pedro, no fim do século 13.

Ao deixar o pontificado, ele ocupava o posto havia apenas cinco meses e oito dias.

Em seu poema épico A Divina Comédia, Dante colocou Celestino no inferno por ter sido um notório mau administrador e ter feito "a grande recusa" – basicamente por ter sido um fracasso como papa e ter retornado à vida que gostaria de viver, como eremita.

No entanto, apenas alguns anos depois, Celestino foi canonizado por um de seus sucessores.

Mais recentemente, Celestino foi venerado tanto pelo papa Paulo 6º – que visitou seu túmulo perto de Áquila, na Itália, em 1966, o que gerou especulações de que ele próprio estaria considerando a aposentadoria – quanto, em 2009, pelo papa Bento 16.

Decisão solitária

Tendo testemunhado o lento e doloroso declínio do antecessor imediato de Bento 16, o papa João Paulo 2, rumo à mudez e à semiparalisia, enquanto lutava com bravura contra o mal de Parkinson, eu só posso simpatizar com a decisão corajosa de Joseph Ratzinger de evitar similar morte lenta enquanto ainda no posto.

Há relatos não confirmados de que ele sofreria do mesmo mal.

É pouco provável que o papa Bento 16 entre para a história como um administrador bom e eficaz da Igreja.

O Vaticano testemunhou uma série de conflitos internos e traições durante seu reinado, e suas tentativas de reformar a Cúria Romana, o governo central da Igreja, não foram bem sucedidas.

Ele foi obrigado a se desculpar para vítimas do abusos sexuais de crianças por membros do clero em diversos países, entre eles os EUA, a Grã-Bretanha, Malta e Irlanda.

Ele fracassou em seus esforços de conter o contínuo abandono de fiéis em muitos países ocidentais, apesar de a Igreja Católica continuar a crescer em partes da África e da Ásia.

Também foi durante o pontificado de Bento 16 que se levantou a suspeita de que o Banco do Vaticano praticava lavagem de dinheiro e não respeitava normas financeiras internacionais, e seu diretor foi forçado a renunciar no ano passado após uma conturbada reunião de diretoria.

Mas Bento 16 poderá finalmente ser melhor lembrado pela sua decisão solitária de abandonar voluntariamente a liderança dos 1,3 bilhão de católicos e o comando do minúsculo Estado da Cidade do Vaticano – uma decisão tomada porque ele simplesmente sentiu que não estava mais apto para o trabalho.

De certa maneira ele separou a quase mística função de representante de Deus na Terra do trabalho bem mundano de administrar a organização internacional mais antiga do mundo – que sobreviveu a dois milênios de cismas, supostos reformistas e guerras, assim como a ambições territoriais, familiares e políticas.

A descrição do cargo para o sucessor de Bento 16, quem quer que seja, deve refletir estas enormes mudanças nos requisitos para a liderança da Igreja Católica Romana que ocorreram durante este que foi o primeiro papado completo do século 21.

Extraído do sítio BBC Brasil

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