04 dezembro 2011

NACIONAL: PIONEIRISMO E DECADÊNCIA MO FUTEBOL DE SÃO PAULO - Mario Henrique de Oliveira

Tradicional clube da Barra Funda foi um dos que introduziu o futebol no Brasil, mas hoje pena na última divisão do estado. Os apaixonados lamentam.

Os paulistanos costumam se referir ao Nacional Atlético Clube como aquele simpático clube da Barra Funda que fica em frente aos centros de treinamento do Palmeiras e do São Paulo, onde é possível alugar quadras, ou até o próprio estádio, para jogar uma pelada com os amigos. Hoje, se tem o Nacional mais como um clube recreativo do que de futebol, mas os que pensam isso não sabem a história que ali é guardada, nem o amor que ele pode despertar.

Apesar de ter sido fundado oficialmente apenas em 1919, o Nacional é um dos principais responsáveis pela introdução do que é hoje o esporte mais popular no Brasil. Quando Charles Miller trouxe da Inglaterra, em 1894 a primeira bola de futebol e um livro de regras, foi pelo Nacional que ele jogou. Quer dizer, era o Nacional, mas só não tinha esse nome ainda. Charles veio trabalhar na São Paulo Railway, e foi esse time, contra a equipe da Companhia de Gaz, ambas de donos ingleses, os responsáveis pela primeira partida de futebol da história do Brasil, em 14 de abril de 1895.

A São Paulo Railway continuou a jogar, mas o clube de futebol só foi fundado oficialmente em 1919. O Nacional jogou sob o nome da empresa inglesa até 1946, quando a concessão inglesa acabou e a estrada de ferro foi nacionalizada. Daí o nome, , ainda que suas cores, azul, vermelho e branco remetam diretamente à bandeira britânica. Em 1935, o clube, ainda como São Paulo Railway, foi um dos membros-fundadores da Federação Paulista de Futebol, disputando as competições da elite nas quase duas décadas seguintes. Deixou as atividades de lado por dois anos, em 1953, o que caracterizou o início da decadência. Voltou em 1955, mas, logo em 1959, foi rebaixado à segunda divisão para nunca mais voltar.

A maior derrocada veio em 2009, quando desceu à Segunda Divisão (que, na verdade, equivale à quarta divisão no futebol paulista), patamar mais baixo em sua história, que conta com dois títulos da Copa São Paulo de Juniores. Desde então, disputando um campeonato profissional por apenas dois ou três meses do ano, fica difícil montar um time e manter esse elenco. Em 2011, fez uma das piores campanhas do futebol profissional do estado, conseguindo uma vitória, dois empates e onze derrotas, perdendo ainda três pontos por escalar um atleta de forma irregular. A diretoria também parece não ter forças para fazer o Nacional voltar a figurar na elite, ainda assim seus poucos, mas fiéis torcedores, continuam a sonhar com isso.

Só Cláudio Nascimento parece fazer mais força do que toda a diretoria. Apaixonado pelo Nacional desde 1984, quando conheceu o clube em uma visita, ele é seu principal divulgador. É dele o único site na web sobre o Nacional. Isso mesmo, o clube não tem nem site oficial. Sentindo falta de um local onde fosse possível encontrar noticias do clube, ele lançou o http://nacionalac.webnode.com.br/, que, segundo ele já trouxe mais retorno do que esperava.

Cláudio Nascimento sonha em ser presidente do Nacional (Foto de Mário Henrique de Oliveira)
“A ideia era só fazer um registro de quem é o Nacional, onde ele vai jogar e como foi o jogo, mas todo dia, quando chego em casa à noite, abro o e-mail e tem um monte de mensagem, desde mãe pedindo para colocar o filho na peneira do clube até diversos pedidos de camisa. Esses dias mesmo mandei uma para Rondônia e outra para um carioca, botafoguense, que disse que em São Paulo torcia para o Nacional”, revela.

Sócio e bastante conhecido nas dependências do clube, ele é sempre questionado por novidades. “Sempre vem alguém me perguntar alguma coisa. ‘Ei, Cláudio, tá sabendo disso?’, ‘e aquele jogador?’, tento ficar por dentro do clube”, conta, “mas tem muito conselheiro que não deixa eu saber mais”.

A explicação, de acordo com ele, é simples. Funcionário da Caixa e próximo de se aposentar, Cláudio mantém o sonho de um dia ser presidente do Nacional, mas, apesar de diversos e insistentes pedidos, ele não consegue ver o estatuto do clube. Nele, dizem, está algo que impede Cláudio de assumir a função: o fato de não ser um metroviário.

O atual presidente é Airton Santiago, que está no cargo há 30 anos e que “recebeu de herança” o posto de seu pai. “A cada dois anos tem eleição, mas o seu Airton é reeleito. Ele diz também que ninguém se candidata. Faz sempre eleição segunda-feira à noite que é para ninguém aparecer. A gente vê muito puxa-saco dele lá”, fala Cláudio.

Sede do Nacional Atlético Clube. Google Maps
Enquanto isso, o Nacional vai naufragando. Com a queda para a B-1, Cláudio diz que a média de torcedores nos jogos caiu para 100, 150 pessoas, “normalmente gente que está no clube e fica sabendo que vai ter jogo”, afirma. Para ele, a ajuda de algum clube grande seria importante, mas até quando houve isso, a diretoria se mostrou preguiçosa. Em 2010, o clube fez uma parceria com o Corinthians. O ex-jogador Vampeta veio ser o técnico. O Nacional estava novamente na mídia. Mas o acordo que era para durar foi interrompido com menos de um ano. Cláudio conta que o Corinthians viu que o Nacional não fazia nada, deixava tudo para eles resolverem.

Mas ele continua nadando contra a corrente. Contra a terceirização, que hoje vai desde a escolinha do clube até seus funcionários, contra a má vontade dos dirigentes e conselheiros. A favor, apenas o amor. Assim como seu site e a torcida que fundou, sempre terá Alma Nacional.

A diretoria do Nacional e seu presidente foram procurados pela reportagem, mas não quiseram conceder entrevista.

Extraído do sítio Spresso SP

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