Quase um ano depois de o governo brasileiro rejeitar o pedido de extradição do ex-ativista de extrema-esquerda para a Itália, o jornal francês Le Monde publica uma longa entrevista com Cesare Battisti.
A. de Freitas |
"O porto de Cananeia é um refúgio ideal para quem não quer ouvir os ruídos do mundo." Dessa maneira, o jornal francês apresenta o local onde Battisti vive atualmente e é chamado pelos moradores de "Piradinho", por fazer longas caminhadas sozinho na beira do mar, geralmente com um jornal embaixo do braço. Battisti está satisfeito com sua vida no Brasil, escreve Le Monde. Fala com simpatia dos moradores de Cananeia, que "não estão acostumados a ter um gringo entre eles" e mesmo assim o tratam com respeito, normalmente.
Logo que a entrevista aborda os seis anos de detenção no Brasil e o longo processo envolvendo seu pedido de extradição, devido à condenação na Itália por quatro homicídios, Battisti critica duramente o jornal Folha de S.Paulo. Ele relata ao Le Monde que o jornal paulista "armou uma armadilha para denegrir" sua imagem. Segundo Battisti, a Folha de S.Paulo o procurou para uma entrevista no mês de setembro, com a proposta de "restabelecer a imparcialidade" sobre seu caso e no final acabou publicando um artigo enviesado.
Battisti relata que apareceu na primeira página, sorridente, com uma cerveja na mão, sob o título "a doce vida clandestina". O ex-ativista italiano afirma que o jornalista que o entrevistou o induziu a afirmar que a revolução armada era uma brincadeira. Battisti considera ter sido vítima de uma armação feita por "pessoas próximas da embaixada italiana, grupos de extrema-direita, conservadores de outra época" que querem a sua cabeça.
No restante da entrevista, o ex-militante explica que fez parte de uma geração em que todos os jovens que lutaram contra o autoritarismo pegaram em armas. Afirma que não se arrepende de nada, mas reconhece que, hoje, seria uma besteira recorrer à luta armada para obter mudanças na política. Por fim, diz que gostaria de se reconciliar com os italianos, citando países que promoveram leis de anistia.
Ao Le Monde, Battisti não dá nenhum detalhe se foi ajudado pelo serviço secreto francês quando fugiu da Europa para a América do Sul. E diz que gostaria de um dia voltar a Paris, onde morou e se construiu intelectualmente.
Extraído do sítio da RFI
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