O Grupo RBS está preparando um carnaval de fim de ano para o lançamento do seu “Guia de Ética e Autorregulamentação Jornalística”. É o segundo “Guia de Ética” que a RBS lança nos últimos anos. O primeiro, intitulado “Guia de Ética e Responsabilidade Social do Grupo RBS” consiste em um “conjunto de orientações éticas e editoriais” destinado a “proporcionar aos colaboradores do Grupo RBS o conhecimento dos valores da empresa, assim como sua aplicação prática em situações de trabalho”. Publicado em 2004, o primeiro Guia de Ética é apresentado como uma “síntese de um processo de auto-regulamentação que vem sendo aperfeiçoado pela RBS desde sua fundação”.
Agora, a RBS lança um novo Guia de Ética associado ao tema da regulamentação. Nesta quinta-feira, o site do jornal Zero Hora antecipa editorial que será publicado no domingo e pergunta aos leitores: “Você concorda com o editorial que defende a autorregulamentação jornalística como direito do público?” Alguns comentários enviados até as 18h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa de domingo.
O editorial afirma:
“Por considerar a liberdade de expressão uma conquista inerente às democracias e por defender o uso responsável deste direito como forma de promoção do ser humano e de desenvolvimento das sociedades, o Grupo RBS rejeita qualquer tipo de controle da informação”.
A não ser é claro o controle da informação exercido pelo próprio Grupo RBS, que chama isso de “auto-regulamentação jornalística”.
Cabe lembrar dez episódios mais ou menos recentes onde o Grupo RBS colocou em prática a sua concepção de “auto-regulamentação jornalística” e rejeitou qualquer tipo de “controle da informação”, em geral pela prática da omissão:
1. O uso privilegiado, por alguns jornalistas, durante o governo Yeda Crusius, de senhas exclusivas de agentes do Estado para acessar o Sistema Integrado de Consultas da Secretaria de Segurança Pública. O nome desses jornalistas não veio a público pois o processo corre em segredo de justiça. A RBS já ingressou na Justiça diversas vezes para quebrar sigilos de processos invocando o interesse público. Se esse pedido é negado, denuncia imediatamente cerceamento da liberdade de imprensa. Neste caso, curiosamente não há tal interesse.
2. A existência de um braço midiático da fraude do Detran denunciado pelo Ministério Público Federal. Recordando o que diz a página 56 dessa denúncia:
“Os denunciados integrantes da quadrilha não descuidavam da imagem dos grupos familiares e empresariais, bem assim da vinculação com a imprensa. O grupo investia não apenas na imagem de seus integrantes, mas também na própria formação de uma opinião pública favorável aos seus interesses, ou seja, aos projetos que objetivavam desenvolver. A busca de proximidade com jornais estaduais, aportes financeiros destinados a controlar jornais de interesse regional, freqüentes contratações de agências de publicidade e mesmo a formação de empresas destinadas à publicidade são comportamentos periféricos adotados pela quadrilha para enuviar a opinião pública, dificultar o controle social e lhes conferir aparente imagem de lisura e idoneidade”.
3. O assassinato do sindicalista Jair Antonio da Costa, em 2005, e do colono sem terra Eltom Brum da Silva, em 2009, que até hoje permanecem impunes. Alguém aí leu alguma reportagem investigativa sobre essas mortes, sobre quem eram essas pessoas e como ficou a vida de seus familiares e amigos depois da ação policial truculenta que tirou suas vidas?
4. O processo, por prática de monopólio, movimento por procuradores do Ministério Público Federal de Santa Catarina, contra o grupo RBS, no episódio envolvendo a compra do jornal A Notícia, de Joinville.
5. A participação da própria RBS no processo de privatização da Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT) e de outras empresas de telecomunicação no Brasil.
6. Quanto a Gerdau já ganhou em isenções fiscais no RS?
7. Quanto dinheiro a Aracruz despejou em publicidade na mídia gaúcha prometendo uma nova era de desenvolvendo com as plantações de eucaliptos? A empresa se envolveu no cassino da especulação financeira com fundos derivativos e acabou quebrando.
8. A vida e os interesses da população pobre de Porto Alegre atingida por obras preparatórias à Copa do Mundo de 2014. A RBS fez um estardalhaço porque Porto Alegre “perdeu a Copa das Confederações” e só se preocupa com a situação do estádio Beira Rio. As pessoas comuns que já estão tendo suas vidas afetadas merecem tratamento mais do que secundário.
9. Quantos jornalistas da RBS já aproveitaram a exposição midiática massiva que tem nos veículos da empresa para se lançar na carreira política, contrariando expressamente o que está escrito no Código de Ética da empresa? Ana Amélia Lemos é apenas o exemplo mais recente.
10. Por que, em casos policiais, há um tratamento diferenciado se os envolvidos são pobres ou ricos. Recentemente, um caso envolvendo um jovem pobre de apelido Jundiá, acusado em um caso de estupro, teve ampla cobertura nos veículos do grupo. O mesmo não aconteceu quando um adolescente filho de um executivo do grupo em Santa Catarina esteve envolvido em um caso similar.
Todos os meios e espaços de comunicação exercem algum tipo de controle e seleção da informação. Menos a RBS, é claro, que se apresenta como expressão do interesse público e das cláusulas pétreas da Constituição. A mistificação ideológica cultivada diariamente por essa empresa está atingindo o nível do delírio.
Extraído do sítio RS Urgente de Marco Aurélio Weissheimer
Extraído do sítio RS Urgente de Marco Aurélio Weissheimer
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