28 março 2012

O INFERNO DE TORRES - Luciano Martins Costa

O senador Demóstenes Torres, de Goiás, deixou a liderança do Partido Democratas e vai enfrentar um inquérito no Supremo Tribunal Federal, por iniciativa da Procuradoria Geral da República. Ele é suspeito de manter ligações com o empresário Carlos Augusto Ramos, vulgo Carlinhos Cachoeira, cujos negócios se caracterizam por funcionar nas bordas da lei.


O destino de Torres está praticamente definido pelo fato de que os três principais jornais de circulação nacional deram seu veredicto: primeiro em notas curtas, e agora com chamadas nas primeiras páginas, a situação do senador vai se agravando conforme ganha destaque na editoria de escândalos.

O caso é bastante claro: Demóstenes Torres, que fez carreira na polícia como delegado, foi promotor de Justiça e secretário da Segurança de Goiás, mantém um longo e fiel relacionamento com Cachoeira, personagem de sombras na crônica política dos últimos anos.

Voz da oposição

A Folha de S. Paulo revelou, inicialmente, que ele havia recebido presentes do empresário, entre os quais um aparelho de comunicação que dificulta o rastreamento de conversações por parte da polícia. O Globo informou depois que numa das conversas gravadas ele pedia a Cachoeira R$ 3 mil para pagar um taxi aéreo.

Há muito mais nesse balaio, inclusive os nomes de outros parlamentares que, com maior ou menor envolvimento, constam na lista de interlocutores privilegiados do empresário.

E que tipo de negócios toca o fabuloso empreendedor?

Consta do noticiário que Carlinhos Cachoeira explora jogos de azar, ou seja, sua rede de relacionamentos torna suspeitos todos os senadores e deputados que periodicamente tentam anular a legislação que pretendeu banir a jogatina do país.

A suspeita, como sempre, é de uma gorda compensação nas temporadas de campanhas eleitorais, quando os candidatos mais despachados correm atrás de verbas extras que os diferenciem no pacote igualitário das chapas partidárias.

No caso em questão, o que se revela na imprensa é que Demóstenes Torres mantém algo mais do que uma aliança circunstancial com o empresário – ele funcionaria como um agente permanente dos interesses da jogatina no Congresso.

Carlos Cachoeira é apenas a face conhecida de uma quadrilha que já teve como lobista um mafioso americano residente em Atlantic City, nos Estados Unidos, cuja presença foi detectada no Brasil nos anos 1980 pela revista IstoÉ.

Cachoeira representa uma rede de investidores que exploram o dinheiro fácil dos viciados de todos os tipos. A familiaridade com que transita pelos corredores do poder já valeu outros escândalos, como o que envolveu um antigo colaborador do ex-ministro José Dirceu.

Demóstenes Torres ficou conhecido justamente nesse período, quando se apresentou como uma das vozes mais tonitruantes da oposição na imprensa, a disparar denúncias contra integrantes do governo ou personagens próximos ao poder.

Intimidade com o poder

No outro lado do balcão, agora na condição de acusado, o senador tem se esforçado para evitar a abertura de um processo no Conselho de Ética do Senado. Ele sabe que, se for levado a julgamento por seus pares, corre o risco de perder o mandato e, por consequência da Lei da Ficha Limpa, ficar inelegível por oito anos.

Quanto ao provável inquérito no Supremo Tribunal Federal, ele conta com a extensa lista de processos à espera de julgamento e com a possibilidade de postergar uma decisão por muitos anos.

Por outro lado, ao pedir apoio político a seus colegas, Torres sabe que está passando um recado sutil: qualquer um pode ser envolvido na rede do empresário Carlos Cachoeira e mesmo uma fotografia durante um churrasco serve para alimentar um novo caso na imprensa.

A depender da longevidade e da autenticidade do interesse da imprensa no presente escândalo, temos dois cenários.

Num deles, a investigação se aprofunda, remexe referências antigas, como a que envolveu o nome do ministro Gilmar Mendes, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, e traz à luz as identidades dos investidores que Carlinhos Cachoeira representa, dando ao Brasil a oportunidade de iniciar uma Operação Mãos Limpas.

No outro, crucifica-se Demóstenes Torres – e os empresários da jogatina seguem molhando a mão de parlamentares com o dinheiro fácil e farto das máquinas viciadas, na esperança de transformar o Brasil numa grande Las Vegas.

Extraído do sítio Observatório da Imprensa

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