Bristol (EUA) – Há alguns anos o jornalista americano Adam Davidson, especializado em assuntos de economia, visitou o Haiti e observou um fato curioso, em uma região: alguns agricultores viviam de colher mangas mas cada um deles tinha apenas duas ou três árvores em que trabalhavam.
Davidson ficou intrigado, pois as plantações estavam em terrenos ao longo de um rio. Os agricultores poderiam irrigar suas terras e ter centenas de árvores, não apenas um par. Por que não o faziam? Seriam atrasados, desprovidos de iniciativa?
Nada disto. Depois de conversar com os agricultores, Davidson concluiu que não eram nem bobos nem preguiçosos. Sabiam que teriam mais mangueiras com a irrigação e sabiam também que, naquela região, contavam com recursos através de ajuda de governos estrangeiros. Mas havia um detalhe que os levava a preferir continuar como estavam. No vilarejo em que moravam, os títulos de propriedade eram incertos, confusos. Eles sabiam que se, de repente, tivessem centenas de árvores de onde colher mangas, apareceriam pessoas “bem relacionadas”, que se declarariam as legítimas proprietárias dos terrenos.
Aí está, em poucas palavras, porque países pobres continuam pobres. Porque neles as pessoas que trabalham, seja na terra, seja em outras atividades, não tem incentivo econômico para produzir, pois sabem que os lucros e as vantagens irão para terceiros.
Esta é a tese de um livro chamado Why Nations Fail (Por Que As Nações Fracassam), de Daron Acemoglu, Professor de Economia no Massachusetts Institute of Technology, e James Robinson, Professor de Ciência Política da Universidade de Harvard.
É um livro que recomendo para a presidente Dilma Rousseff, continuando no tema que abordei aqui na semana passada sobre a falta de transparência no Brasil e a precariedade de nosso ensino.
A tese do livro de Acemoglu e Robinson é simples: as pessoas precisam saber que progredirão com o fruto de seu trabalho (há um argumento mais poderoso do que este para a Reforma Agrária?) e precisam saber que a Justiça funciona no país em que vivem.
Ah, a Justiça… No Brasil é sabido que ela anda apenas para os ricos, para os “bem relacionados”. Quantos de nós não temos casos em que dependemos do bom funcionamento das Cortes, sejam elas, civis, criminais ou trabalhistas, e vemos que a Justiça no Brasil é morosa, incerta, ineficiente, corrupta?
Eu mesmo tenho dois casos que rolam na Justiça, sem uma conclusão, embora ambos já tenham sentença passada em julgado em meu favor. Um é uma reclamacão trabalhista em que fui vencedor contra o Jornal do Brasil. Outro é para levantar um dinheiro que pertence a mim e dois outros sócios da antiga empresa Circuito-1, que foi extinta e nada deve ao Fisco.
Um data de 1986, outro de 1987. Embora concluídos ambos, até hoje não conseguimos por a mão naquilo que nos pertence.
O Brasil está à frente do Haiti, mas não muito. Se nossos sérios problemas de ensino, de transparência, de igualdade de oportunidades e de uma sólida fundação legal não forem solucionados, nunca seremos um país do Primeiro Mundo.
Extraído do sítio Direto da Redação
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