30 março 2012

1964-2012: "É TEMPO DE MURICI, CADA UM CUIDE DE SI"

O site do jornal O Globo dava ontem, em manchete garrafal, a quebra do sigilo bancário do demo, Demóstenes Torres, até há bem pouco tempo, um parceiro, digamos assim, do jornalismo imparcial chancelado pelos Marinhos. A revista Veja, cuja afinidade de propósitos com Demóstenes, segundo consta, poderá ser aferida pela intensa troca de telefonemas entre o senador e a alta direção da sucursal, em Brasília, trata o amigo agora como uma carga incômodo a ser jogada ao mar, o mais rápido possível (leia: Carta Maior pede ao STF acesso às investigações sobre Demóstenes e seus interlocutores associados). 

O Estadão, para arrematar, refere-se a 1964 - que ajudou a eclodir - como 'o golpe' de 64. Sintomático, a renovação do vocabulário se dá justamente na cobertura do cerco promovido por estudantes a integrantes da ditadura que comemoravam o golpe no Clube Militar, no Rio (leia o blog de Emir Sader). 

Quando atravessava o córrego de Angico, querendo conter seus homens, o Cel. Tamarindo foi morto, e seu corpo jogado sobre uma árvore.
Tempos interessantes. Se vivo, possivelmente o coronel Tamarindo, protagonista da Guerra dos Canudos (1896-1897), repetiria aqui a frase famosa: 'É tempo de Murici, que cada um cuide de si'. O bordão símbolo da debandada teria sido proferido pelo coronel Pedro Nunes Tamarindo ao constatar a desarticulação total das tropas no ataque a Canudos, após a morte do comandante Moreira César. 

Decorridos 48 anos do golpe militar de 1964, o conservadorismo brasileiro vive, sem dúvida, uma deriva decorrente da implosão da ordem neoliberal no plano externo e de três derrotas presidenciais sucessivas para o PT. Não tem projeto, não tem lideranças --Demóstenes pretendia ser um dos seus candidatos à Presidência, em 2014; Serra é contestado entre seus próprios pares, na prévia do PSDB. É tempo de murici. 

De volta, e afiado, Lula sintetizou bem esse período, personificando-o no declínio do eterno candidato tucano: 'Serra é o político de ontem; com idéias de anteontem'. Mas as safras passam. Cabe ao governo, e às forças progressistas, ocupar o vazio com respostas que não sejam apenas a mitigação daquilo que os derrotados fariam, se não estivessem cada qual cuidando de si.

Extraído do sítio da Carta Maior

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