08 dezembro 2011

PÚTIN E MEDVEDEV ENFRENTAM REJEIÇÃO NAS ELEIÇÕES - Konstantin Von Eggert

Ao aparecerem na televisão russa na noite após às eleições da Duma, o presidente Dmítri Medvedev e o primeiro-ministro Vladímir Pútin não conseguiram esconder em suas expressões e sorrisos tensos a decepção em relação ao resultado obtido. O partido Rússia Unida foi desprezado pelos russos e sua participação na eleição nacional caiu de aproximadamente 64% para cerca de 50%, com resultados pífios principalmente em Moscou e São Petersburgo.

Ilustração: Niyaz Karim
Partidos da oposição, analistas eleitorais e jornalistas acusaram os governos das regiões russas e a polícia de colaborar para a manipulação de votos. Se não fosse pela fraude nas eleições, o partido poderia ter terminado em terceiro lugar nas duas principais cidades russas.


O chefe do comitê executivo do Rússia Unida, Andrêi Vorobiov, não quis falar em entrevistas sobre a perda de quase 15% dos votos. Assim como seus colegas, Vorobiov estava genuinamente perplexo com o resultado da eleição. O que os russos testemunharam no dia 4 de dezembro foi o retorno da política na Rússia – quando todos pensavam que já estava morta.


Várias conclusões podem ser tiradas a partir desse resultado. Primeiro, mesmo os resultados oficiais fossem considerados impecáveis (o que definitivamente não são), um sinal muito sério foi enviado para a classe dominante do país. Diferentes pessoas votaram contra o partido governante por razões distintas, mas todas deram um sinal de que a população está cansada do monopólio político do Rússia Unida e da corrupção associada a ele.



Em segundo lugar, é verdade que muitos na Rússia ainda acreditam que o Rússia Unida é um bando de “caras malvados” na corte do “bom tsar” Vladímir Pútin. Entretanto, também está claro que para uma grande quantidade de pessoas essa foi a chance de mostrar sua insatisfação especificamente em relação a Pútin. Nesse aspecto, a votação de dezembro pode ser vista como uma espécie de “rodada inicial” das eleições presidenciais da Rússia, marcada para março de 2012. Há grande expectativa de que Pútin seja eleito para exercer seu terceiro mandato no poder, mas a recente eleição lançou uma sombra de dúvida sobre isso.

Em terceiro lugar, essa foi a última eleição em que a televisão estatal desempenhou um papel decisivo. A penetração da internet na Rússia cresce massivamente: o antigo índice de 32 milhões de usuários por mês em 2008 alcançou a marca de 50 milhões de usuários diários em 2011. Até 2016, quando o próximo ciclo eleitoral começar, de 75% a 80% dos eleitores terão acesso à rede. Desmascarar a fraude eleitoral teria sido impossível sem smartphones, Facebook ou Twitter. Na verdade, uma política de verdade pressupõe sempre a interação com as pessoas. Porém, dessa vez o ativismo on-line tornou a organização off-line não só possível, mas eficaz. É por esse motivo que o governo poderá tentar introduzir uma legislação restritiva referente a internet – um processo a ser observado ao longo de 2012.

Isso nos leva à quarta conclusão. Essa foi a primeira eleição russa em que a nascente “classe média” na faixa dos 30 anos – autossuficiente, falante de inglês e habituada a tecnologia diversas – realmente foi às urnas. Essa é a geração que mais se beneficiou da “década de vacas gordas” – os dois primeiros mandatos de Vladímir Pútin como presidente, entre 2000 e 2008. Esses foram os anos de boom do petróleo, que tornou muitas dessas pessoas ricas. Muitas delas ignoraram a política por completo – apoiaram Pútin e o Rússia Unida. No entanto, a crise econômica, a corrupção e a estagnação política os desestimularam.

Finalmente, quanto mais as autoridades recorrerem a táticas de força, mais oposição irão produzir. Com a política de volta ao consciente coletivo, os russos percebem que ainda não há muitas alternativas ao redor. Não há forças políticas sólidas de centro-direita, e os quase 30% de eleitores nacionalistas moderados não têm ninguém a quem apoiar, deixando um terreno fértil para populistas e demagogos. O maior perigo para a Rússia agora é o potencialmente perigoso vazio que poderia surgir se medidas para modernizar o obsoleto e ineficiente sistema político da Rússia não forem tomadas em breve. 

* Konstantin von Eggert é comentarista da rádio Kommersant FM.


Extraído do sítio da Gazeta Russa

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