Alguns podem ter ficado surpresos com a desidratação eleitoral de que vem padecendo o candidato do PSDB a prefeito de São Paulo, José Serra. Sua longa trajetória política, seu conhecimento pela quase totalidade do eleitorado de todo país e a condição de líder da oposição que lhe deveria ter sido legada por seus 44 milhões de votos na última eleição presidencial, tudo isso torna espantosa sua situação na recente pesquisa Datafolha.
O espanto do espectador pouco atento à realidade real e que se fia na “realidade” midiática aumenta ainda mais porque não há quem negue a blindagem que o cacique tucano recebeu da irascível grande imprensa brasileira ao longo de toda a sua carreira política no período pós-redemocratização, tendo sido até objeto de juramento do falecido dono de um grande jornal de que não morreria sem vê-lo eleito presidente da República.
Alvo de processos na Justiça e de denúncias graves por força da vastidão de indícios materiais de envolvimento em corrupção que pesa contra si, Serra mereceu de uma imprensa que vive de denúncias contra políticos (em ampla maioria, petistas) o mais ensurdecedor silêncio diante de denúncias, quando não mereceu defesas abertas e até sua vitimização pela mesma mídia diante dos adversários políticos, sobretudo em anos eleitorais.
A situação de Serra na corrida eleitoral paulistana, porém, revela uma rejeição impressionante do eleitorado a si (37%) e ultrapassagem na primeira posição por um adversário com trajetória política que não chega aos pés da sua e que, como se não bastasse, é candidato por um partido de mentirinha.
Certamente há quem esteja ficando espantado com a situação eleitoral de Serra. Denúncias que ao menos cheguem perto de si jamais saem na mídia. Até hoje, nenhum grande veículo citou os fatos que envolvem São Paulo no escândalo do Cachoeira. Paulo Preto deve depor proximamente na CPI e ninguém que se informe só pela grande mídia sabe por quê.
Pode haver gente espantada com a débâcle eleitoral desse político, mas certamente esse espanto não ocorre com os leitores deste blog. Aqui se previu várias vezes o aprofundamento da sangria eleitoral de Serra. Há cerca de um mês, no post Desaprovação a Kassab é o grande fato da eleição em SP , foi dito o seguinte:
“Após Kassab declarar publicamente seu apoio a Serra e de este anunciar que faria campanha pela “continuidade” em São Paulo, ambos perderam apoio. (…) Tudo isso se conecta com o noticiário cada vez mais inevitável sobre a explosão da violência e da criminalidade em São Paulo e com o estado de espírito do paulistano diante de um cotidiano que já se tornou insuportável. São Paulo está imunda, uma legião de moradores de rua vaga desorientada pela cidade, a sensação de insegurança já atingiu níveis alarmantes, enfim, não se consegue achar praticamente nenhum paulistano que se diga satisfeito com a sua cidade”.
Esses fatos obrigam a uma reflexão: não há blindagem da mídia que, na era da internet e da informação instantânea, consiga proteger políticos ao menos do adversário que não conseguem derrotar: eles mesmos, quando exercem mal o poder que lhes foi delegado pelo povo.
Quando Serra se elegeu governador de São Paulo em primeiro turno em 2006 após ter deixado a capital do Estado nas mãos de Gilberto Kassab, o eleitorado paulista até aceitou a desculpa de que faria mais sendo governador. Bem, o fato é que ao menos o eleitorado paulistano ficou esperando o resultado do que o tucano lhe prometeu em termos de melhora de sua qualidade de vida e tal melhora jamais deu as caras.
A desidratação eleitoral de Serra e sua crescente rejeição nesta campanha eleitoral é a conta do prejuízo que São Paulo amarga hoje por ele ter abandonado o cargo de prefeito. A capital paulista descobriu quanto custa dar carta branca a um político que ninguém consegue cobrar, inclusive por ser protegido da mídia. Por conta disso, a desidratação eleitoral de Serra revela desidratação da credibilidade midiática também em São Paulo.
Extraído do Blog da Cidadania
Extraído do Blog da Cidadania
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