27 agosto 2012

CACETADAS (INTELECTUAIS, BEM ENTENDIDO) NAS FRASES FEITAS - José Dirceu

A entrevista que o Fernando Nogueira da Costa concedeu a Eleonora de Lucena, da Folha (“Concentração está no DNA dos bancos, diz economista”), é uma mostra do que está no livro lançado por ele sobre a história dos bancos no Brasil, com o sugestivo (e irônico, segundo o autor) título “Brasil dos Bancos”.

Fernando, que é um dos nossos clunistas fixos aqui do blog, já foi professor da presidenta Dilma Rousseff, ex-dirigente da Caixa Econômica Federal e da FEBRABAN (federação dos bancos) e atualmente é professor da UNICAMP, dá umas boas cacetadas no pensamento baseado em frases feitas, por exemplo de que os bancos não podem ser grandes demais.

“É uma ingenuidade histórica essa discussão nos EUA de que é preciso fragmentar os bancos para que eles não sejam grandes demais para quebrar. Os clientes querem bancos grandes demais que não possam quebrar”, diz, em uma das respostas.

Porém, ter grandes bancos não quer dizer deixá-los ao deus dará. Veja: “A lógica da liberalização anterior, quando a fiscalização se afrouxou, deixando a autorregulação para o mercado [é que gerou o escândalo da Libor, do dinheiro sujo no HSBC, as perdas do JP Morgan...]. Se não há limite, há maximização dos ganhos, bônus, levando a fraudes e manipulações”. E ainda: “Bancos precisam ser fiscalizados, regulados. A concentração não significa diminuição de competição”.

Continuando, no mesmo diapasão: “Eu me considero de esquerda, mas nunca demonizei banqueiro. As razões para a demonização não são justas. Há razões históricas - a crítica da igreja católica aos juros. Há um desconhecimento da população, que acha que o banqueiro é um explorador porque paga menos juros do que cobra. Qualquer negócio tem que dar lucro. É preciso cobrar uma regulação, não fazer crítica ao banqueiro”.

Desnacionalizar ajuda?

Segundo Fernando Costa, não: “Não é fragmentando o sistema bancário e abrindo as fronteiras que se aumenta a competição. Essa foi a tentativa dos anos 1990 e deu em nada. Nos anos 1980 deu em crise bancária e a desnacionalização. Os bancos vieram e poucos ficaram. Banco precisa de fiscalização. No Brasil, 45% do crédito está nos bancos públicos - os privados têm 38%, e os estrangeiros, 17%.”.

Ao contrário, a desnacionalização foi ruim: “Não trouxe nenhuma inovação, os juros não caíram. Mas a entrada do Santander fomentou a reação dos grandes nacionais. A aquisição do Real pelo Santander levou o Itaú a negociar com o Unibanco. A competição fomentou a concentração”.

Fomentar competição via bancos públicos é bom

Já as medidas adotadas pelo governo Dilma Rousseff de usar o poder de fogo dos bancos públicos para fomentar a competição foram positivas, no seu entender. Para ele, “é um avanço histórico fomentar a competição via Banco do Brasil e Caixa”.

Vamos ler e refletir sobre o que nos conta Fernando Nogueira da Costa em seu livro “O Brasil dos Bancos”. 

Em tempo: à ironia do título o autor contrapõe sua interpretação, a ‘moral da história’ da sua obra, vamos dizer assim, de que “a historia bancária não pode ser segregada da de seu povo. Não pode ser voltada para essa elite diminuta [que ele chama da ‘elite branca’ do país], que foi o erro estratégico dos bancos estrangeiros”.

Extraído do blog do José Dirceu

Nenhum comentário:

Postar um comentário