Todo mundo sabe que o lobby judaico nos Estados Unidos elege o presidente e orienta a política externa norte-americana. Não importa se Democrata ou Republicano, nenhum candidato à Presidência se atreve a contrariar os interesses de Israel. A importância do voto dos judeus americanos é tão decisiva que o candidato republicano Mitt Romney, que é mórmon, foi fazer campanha em Israel. Conseguiu a agradar os israelenses e ofender os palestinos ao chamar Jerusalém de capital de Israel e atribuir às diferenças culturais o motivo de a economia israelense ser mais bem sucedida que a Palestina. Até o moderado Mahmoud Abbas, Presidente da Autoridade Palestina, reagiu às declarações de Romney, classificando-as de racistas.
A grande imprensa norte-americana, que costuma jogar às claras na hora de se definir sobre qual partido vai apoiar nas eleições nacionais – Democratas ou Republicanos – talvez até porque os dois sejam muito parecidos – é unânime porém na defesa de Israel e raramente publica noticias que revelem o papel agressivo do país nas relações com os palestinos.
E no Brasil? Você como leitor dos nossos grandes jornais, como O Globo, O Estadão, Folha e ZH, costuma encontrar informações isentas sobre o que acontece no Oriente Médio ou elas refletem também um apoio sistemático à política de Israel com seus vizinhos árabes?
Faça um teste. Leia a noticia a seguir, publicada esta semana pelo site Opera Mundi e veja se você a viu em algum dos grandes jornais brasileiros:
Na ofensiva de 2008 e 2009 contra os palestinos da Faixa de Gaza, o exército de Israel matou 1.400 palestinos em apenas três semanas e teve 13 baixas. Num dos ataques, tanques israelenses destruíram uma casa onde estavam umas 30 pessoas. Com bandeiras brancas, homens , mulheres e crianças saíram para a rua em busca de um novo abrigo, entre elas Riyeh Abu Hajai e sua filha Madja. Soldados israelenses abriram fogo e mataram as duas. Como o caso teve grande repercussão, um tribunal das Forças Armadas de Israel acusou um militar, identificado como Sargento “S” de ser o autor dos disparos. Esta semana, saiu a sentença do tribunal. Ele foi condenado a 45 dias de prisão, pela acusação de ter disparado sem autorização dos seus superiores. Você leu certo: 45 dias e não 45 anos, ou 45 meses. O tribunal considerou que não ficou provada a relação direta en tre os disparos do militar e a morte das palestinas, embora o Sargento “S” tenha admitido que atirou na direção daquelas mulheres.
Outra notícia que você provavelmente não leu, se suas únicas fontes são os jornais brasileiros é sobre o relatório publicado no último domingo pela Breaking the Silence (Quebrando o Silêncio), uma organização de antigos oficiais do Exército de Israel dedicada à divulgação das ações militares nos territórios palestinos ocupados, aparentemente uma fonte que não pode ser acusada de estar a serviço dos palestinos. Mais de 30 ex-soldados contaram como trataram crianças e jovens palestinos durantes as operações militares e prisões entre 2005 e 2011, revelando um padrão de abuso e racismo.
Durante uma madrugada em 2009, todas as casas da cidade palestina Salfit, localizada na Cisjordânia, foram invadidas por soldados israelenses. A ordem do Comando Central era prender todas as pessoas que tivessem de 15 a 50 anos e levá-las para uma escola que havia se tornado provisoriamente um centro de detenção. Isso porque a Agência de Segurança de Israel, que realiza o serviço de segurança interna, queria coletar informações sobre as pedras que eram jogadas contra jipes militares nas estradas e ruas ao redor da cidade. Os militares colocaram vendas e algemas de plástico, muitas vezes apertando-as, nos jovens e adultos. Por sete horas, estes palestinos permaneceram sentados sem poder nem se mexer, sem acesso à água e comida, em um sol escaldante. Eles não sabiam por que estavam lá e nem o que seria feito pelos militares — um dos jovens urinou nas calças. Muitos ficaram com as mãos roxas pela falta de circulação sanguínea e outros com os braços dormentes por conta das algemas. Um dos garotos, de apenas 15 anos, pediu para ir ao banheiro e, antes de ser levado por um soldado, foi espancado ainda no chão.
Esta é apenas uma das histórias desse documento, repleto de descrições de intimidações, humilhações, violência verbal e física e de prisões arbitrárias por parte dos militares israelenses em circunstâncias cotidianas na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.
Um depoimento de um sargento de Hebron revela com precisão o que esses militares eram ensinados a pensar sobre os palestinos: “Eles eram vermes e em algum ponto, eu lembro que eu os odiava, odiava eles [palestinos]. Eu era um racista, estava tão zangado com eles pela sua sujeira, sua miséria, a porra toda”,
* Marino Boeira é professor universitário.
Extraído do sítio Sul21
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