É jovem (56 anos), viúvo, razoável pinta, arrumado, verbo solto, experimentado repórter de TV (no popularíssimo Aqui, Agora, do SBT). Já teve votações espetaculares como deputado federal, a primeira em 1994 (pelo PSDB). Depois de tucano experimentou ser corvo de Paulo Maluf, agora é uma águia macedista, alado seguidor do bispo Edir Macedo, imperador do PRB e da Igreja Universal do Reino de Deus.
Celso Russomanno lidera com folga há algumas semanas a disputa pela prefeitura paulistana onde enfrenta simultaneamente, e sem estresse, duas feras eleitorais – José Serra e Lula da Silva.
Opinionistas, politólogos, musas acadêmicas, pesquisólogos e especialistas em eleições acham que o fenômeno não se aguenta nas pernas, e talvez por isso sequer tentam interpretações mais originais para explicá-lo. Já se falou em desgaste da polarização PT-PSDB, em cara nova, neopopulismo, cacarequismo, nova classe média etc., etc. As acusações de corrupção, falsidade ideológica e outras tantas do Código Penal não colam em Russomanno.
Poucos analistas se animam a tocar na explicação fundamental: a formidável politização da religião. Não é a defesa do consumidor que dá robustez à candidatura de Russomanno. É o apoio da maior organização evangélica neopentecostal da América Latina – e talvez a maior do mundo.
Rumo ao passado
A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) é uma potência política, econômica, midiática. Edir Macedo, seu fundador, é incomparavelmente mais poderoso do que foi o reverendo coreano Sun Myung Moon, apóstolo da Igreja da Unificação, falecido há dias.
Mesmo que Mitt Romney seja eleito presidente dos EUA e convertido em líder de uma superpotência mundial, Edir Macedo continuará como papa de uma congregação global articulada pelo fanatismo e pelo fundamentalismo.
Colocar Russomanno no centro de uma guerra santa é temerário, mas talvez seja exatamente este o tríplice sonho de Edir Macedo – ser perseguido pela Santa Madre Igreja, desembaraçar-se de Lula e aniquilar a grande imprensa que tanto o incomoda. Isso explica a superficialidade das análises midiáticas sobre a arrancada de Celso Russomanno. Melhor fingir de avestruz, comer areia, do que enfrentar as manadas das seitas político-religiosas iluminadas por holofotes de neon.
Falar no poder da IURD significa trazer para a ribalta o poder recôndito do Opus Dei, hoje um dos polos do poder político brasileiro que a esquerda teima em ignorar e à direita não interessa badalar.
Estamos viajando a galope em direção à Idade Média. Seu ícone, bem penteado e bem vestido, não precisa de novas mídias nem de redes sociais; sua força está contida numa mensagem de apenas 19 caracteres: votem em Russomanno.
Extraído do sítio Observatório da Imprensa
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