13 setembro 2012

MUNDO ÁRABE EM PÉ DE GUERRA - Eliakim Araújo


A população e a mídia estadunidense ainda não absorveram totalmente o golpe que representou a morte do embaixador Christopher Stevens e seus três auxiliares, no consulado estadunidense em Benghazi, exatamente no dia em que o país celebrava os mortos nos atentados de 11 de setembro de 2001.

É claro que os atentados de 2001 foram muito mais graves, não só pelas perdas humanas e materiais, mas, sobretudo, porque escancaram a vulnerabilidade da nação apregoada então como a mais forte e poderosa do mundo. 

O ataque ao consulado em Benghazi, entretanto, tem componentes internos que não existiam há 11 anos, quando Bush estava começando seu primeiro mandato e até saiu politicamente fortalecido do episódio. Desta vez, o país vive uma feroz campanha eleitoral que divide o país entre o conservadorismo radical da direita e o pensamento liberal de um presidente que não conseguiu cumprir a maioria das promessas de campanha.

Enquanto em 2001 o país se uniu em torno da tragédia, independente de partidarismos, desta vez o republicano Mitt Romney, com o apoio da mídia conservadora, se aproveitou da situação para transformar o ataque ao consulado e a morte do embaixador em um fato político, numa evidente estratégia de conquistar dividendos eleitorais. Romney criticou a política externa da Casa Branca, classificando-a como fraca em relação aos países muçulmanos e de não proteger adequadamente escritórios e funcionários estadunidenses no exterior. As urnas dirão em novembro se a estratégia foi correta. Penso que não.

Na guerra de palavras que se seguiu, Obama cutucou o adversário – em entrevista ao “60 Minutes” - ao afirmar que Romney “tem a tendência de atirar primeiro para mirar o alvo depois”. Em seguida, deitou cátedra em cima do rival: “no exercício da presidência, aprendi que as declarações devem se basear em fatos e devem ser pensadas antes de serem ditas”.

Mas a verdade é que, política interna à parte, os Estados Unidos estão num beco sem saída. Não podem sair atirando e ameaçando deus e o mundo com seu poderio militar, como fez Bush. Ao contrário, na terça-feira, dia seguinte ao ataque, Obama e Hillary condenaram vigorosamente os assassinatos mas fizeram questão de afirmar que a Líbia continua sendo parceira e que o atentado não foi praticado pelo povo líbio, mas por alguns extremistas que serão apanhados com a cooperação do governo local.

Numa espécie de pedido de desculpas, a secretária Clinton foi à TV na manhã desta quinta-feira para dizer que os Estados Unidos não têm nada a ver com o vídeo anti-Islã e não concorda com seu conteúdo em nome do respeito e da liberdade de cultos religiosos prevista na Constituição do país.

O que se especula hoje, quinta-feira, é se o atentado foi ou não planejado. O fato de ter acontecido exatamente no aniversário da derrubada das torres gêmeas dá uma pista, pois o filme que deu motivo à revolta estava postado na internet desde julho. Nesse caso, especulam analistas militares, a Al Qaeda estaria por trás da ação.

Outra hipótese é de ter sido praticado por simpatizantes do ex-presidente Muammar Khadafi, cuja derrubada teve a forte participação da chamada “aviação aliada”, apoiada pela Casa Branca.

Certamente nenhum presidente gostaria de estar neste momento na pele de Barack Obama, que combate em duas frentes. Internamente, tendo que enfrentar a irresponsabilidade e o perigoso desconhecimento de Romney, que teve que encerrar uma entrevista às pressas porque se enrolou nas respostas aos repórteres, e externamente tendo que cobrar providências dos aliados do mundo árabe para a proteção de seu pessoal diplomático e de suas instalações.

Nesta quinta-feira, dois navios de guerra estadunidenses estão se deslocando para a costa da Líbia e um contigente de marines já foi despachado para dar proteção à embaixada naquele país. E as informações que circulam dizem que, pelo menos em sete países, há manifestações anti-americanas em torno das embaixadas dos EUA.

Extraído do sítio Direto da Redação

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