10 agosto 2012

CRISE NA EUROPA LEVA À FUGA DE CAPITAIS E DE PESSOAS - Vitali Mirny


A ajuda aos países do sul da Europa e Irlanda que se encontram em crise não é mais que o fornecimento de dinheiro sob determinadas condições e com certo interesse - a fim de evitar o colapso financeiro da zona do euro.

É interessante o fato de, ao mesmo tempo que o FMI e da União Europeia prestam ajuda financeira a nestes países, muito dinheiro continua a deixar os países devedores, considerados uma área de risco.

São capitais das sociedades financeiras, títulos, investimentos fracassados e, finalmente, os recursos pessoais dos cidadãos que desejam retirar seu dinheiro da área de instabilidade financeira.

Os analistas europeus estão assistindo com atenção aos fluxos de dinheiro em ambos os sentidos e, em primeiro lugar, o dinheiro, que, como dizem aqui, vai "da periferia para o centro" ou "do Sul para o Norte da Europa" (já que os países mais afetados são precisamente os do sul da Europa).

A UE não dispõe de mecanismos legais que possam bloquear o movimento de capitais. A lei não proíbe a um empresário nacional ou estrangeiro, ou a uma empresa registrar sua empresa ou seu escritório na Alemanha, por exemplo, ou na Holanda (e começar a pagar impostos lá).

É pela intensidade da fuga de capitais de um país que se fazem previsões sobre a possibilidade e prazos de superação da crise financeira deste país e a repatriação posterior destes capitais.

A imprensa espanhola recentemente dados comparativos: em maio de 2011, saíram da Espanha nove bilhões e meio de euros, mas o saldo de Madrid foi, naquela altura, positivo, pois no país entraram, simultaneamente, 24 bilhões de euros.

Nos primeiros cinco meses deste ano já se observa outro quadro. De janeiro até maio de 2012, de acordo com dados do Banco Central de Espanha, deixaram o país 163 bilhões de euros, o equivalente a 16% do produto interno bruto.

"O governo está fazendo tudo dentro das suas possibilidades," declarou em relação a este fato a secretária de Estado dos Assuntos Fiscais, Marta Kurras, reconhecendo, no entanto, que, para acabar com esta “hemorragia”, é necessário restaurar a confiança dos investidores e dos cidadãos na economia espanhola.

Se analisarmos a situação em Portugal e Irlanda, países que, em geral, cumprem as suas obrigações para com os três credores internacionais e onde a fuga de capitais não é novidade mas um fato consumado, os analistas apontam para outro fenômeno - o declínio constante de depósitos das pessoas físicas em bancos nacionais .

Alguns especialistas europeus acreditam, ao mesmo tempo, que é possível interpretar o conceito de fuga de capitais da maneira mais ampla, incluindo também "a fuga" (ou seja, a emigração) da força do trabalho, e com isso - a perda de investimento que o Estado fez, através da educação, nas pessoas que estão deixando o país.

A fuga da força do trabalho de países endividados da zona de euro (Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda) ameaça transformar a UE em região de exportação de profissionais qualificados. E acima de tudo - de jovens, já que, em Espanha e na Grécia, metade dos jovens não tem emprego.

A diretora do Instituto Nacional Português de Administração, Helena Rato, acredita que a situação atual da emigração em Portugal é semelhante à dos anos 60 do século XX, durante a ditadura de Salazar e a guerra colonial. Naquele período, numa década, cerca de 1,6 milhões de portugueses deixaram o país. No ano passado, Portugal registrou 150.000 emigrantes.

Na Espanha, em 2011 foi registrado um saldo migratório negativo: saíram do país 507.000 pessoas e só entraram 407.000.

Os portugueses se dirigem, geralmente, para ex-colônias - Angola e Brasil, enquanto os espanhóis - para Argentina, Bolívia e Equador.

Os emigrantes, diz a imprensa portuguesa, também têm a oportunidade de aprender o idioma alemão e tentar a sua sorte na Alemanha, um país que, aos olhos de muitos aqui no sul da Europa, não foi afetado pela crise.

Extraído do sítio Voz da Rússia

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