Há dois FHCs, o FHC1, intelectual que se esforça por se tornar figura referencial do país; e o FHC2, imediatista, capaz de pequenos atos de mesquinharia. Frequentemente, FHC2 atropela FHC1.
Eleita presidente, Dilma Rousseff entendeu a importância de uma oposição civilizada, programática. Candidato a presidente pelo PSDB, mesmo derrotado José Serra poderia empalmar o comando do PSDB, mantendo o partido no modelo selvagem exibido em 2010. E resolveu apostar em FHC1.
Ao levantar a bola de FHC1, Dilma pretendeu transformá-lo no principal interlocutor da oposição e, ao mesmo tempo, esvaziar a guerra de preconceitos alimentada pelo serrismo.
Não era tarefa fácil, mesmo porque a belicosidade de Serra abriu espaço para um conjunto de políticos e colunistas de estilo virulento, que só conseguiriam se manter à tona em tempos de guerra. Serra inaugurou uma cadeia produtiva do ódio que permitiu a ascensão de inúmeros aventureiros incapazes de solfejar uma nota fora desse compasso. Vide Roberto Freire.
Para quem avança além das manchetes de jornal, estava claro o conflito armado de FHC1 com Serra. Bastou FHC apontar Aécio Neves como candidato potencial do PSDB às próximas eleições para Serra incumbir Marco Antonio Villa de fuzilá-lo.
Ao receber o reconhecimento de Dilma, aplacou sua veia belicista, parecia pacificado com sua biografia permitindo que FHC1 se impusesse sobre FHC2. Seus pronunciamentos deixaram de lado o imediatismo do dia a dia. Estava quase tomando o lugar que, por direito, cabe aos ex-presidentes, de figura referencial e voz crítica do país.
Mas não resistiu a essa invencível guerra de egos com Lula, sua eterna diferença. FHC2 voltou à tona, e tentou se valer do julgamento do "mensalão" para tirar sua casquinha.
Com a Nota Oficial, aparentemente Dilma se deu conta de que a síndrome do escorpião acompanhará FHC pelo restante de sua existência.
Extraído do Blog do Nassif
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