17 abril 2013

INFLAÇÃO É PSICOSSOCIAL - Paulo Moreira Leite


Vamos combinar uma coisa. A inflação está caindo. Mesmo o tomate veio abaixo. A previsão do Bradesco é que no fim de 2013 ela fique em 5,4%. Uma queda de 1,1 ponto percentual em relação a hoje. Mesmo o estouro da meta, já disse aqui, equivale a 0,09%.

Vamos ver outros números. A China cresceu 7,7% menos do que o esperado. A recuperação americana está abaixo do esperado. A Europa é um pesadelo sem luz à vista.

A economia brasileira deve crescer em 2013, mas todas as projeções pioram. Quem falava em 4% ameaça falar em 3,5%. Quem falava em 3,5% agora fala em 3%. E assim por diante.

Neste cenário, nenhum economista com consciência poderia receitar uma elevação nos juros com a finalidade de recuperar a economia. Está na cara que a coisa só pode piorar. 

Mas o coro a favor da elevação dos juros é real e não diminuiu. 

Sua causa não é econômica. É psicossocial. Explico. Num país onde o rentismo sofreu um duro golpe com uma redução drástica iniciada pelo Banco Central em agosto de 2011, ele agora quer sua revanche. 

Todos concordam que a inflação está em queda e é bom que seja assim para garantir uma recuperação, mesmo que ela seja mais lenta do que o previsto.

O argumento é que muitos empresários se queixam de uma questão comportamental. Dizem que o governo precisa dar uma prova de que realmente não quer deixar a inflação subir e que isso implica em mexer no juro. 

É economia? Não, meus amigos. É política. 

Elevar os juros agora implica em aceitar duas consequências. A recuperação irá se tornar mais cara. Logo, mais difícil.

* Paulo Moreira Leite, desde janeiro de 2013, é diretor da ISTOÉ em Brasília. Dirigiu a Época e foi redator chefe da VEJA, correspondente em Paris e em Washington. É autor dos livros A Mulher que era o General da Casa e O Outro Lado do Mensalão.

Extraído do sítio Revista IstoÉ

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