30 junho 2012

MERCOSUL SUSPENDE PARAGUAI E INCORPORA VENEZUELA


Entrada da Venezuela vinha sendo bloqueada pelo Congresso paraguaio, que não ratificou decisão tomada já em 2006. Novo presidente paraguaio garante que eleições serão em abril de 2013.

O Mercosul decidiu, nesta sexta-feira (29/06), suspender o Paraguai do bloco até que sejam realizadas novas eleições no país. Por outro lado, incorporou a Venezuela como membro pleno. A informação foi divulgada pela presidente da Argentina, Cristina Fernández, anfitriã do encontro de cúpula realizado em Mendoza.

Os chefes de Estado e de governo do bloco convocaram uma reunião extraordinária para a admissão da Venezuela em 31 de julho próximo, no Rio de Janeiro.

Ao mesmo tempo, foi decidida a suspensão do Paraguai do "direito de participar dos órgãos do Mercosul e suas deliberações", até a "restauração da ordem democrática" naquele país. "De modo algum serão aplicadas sanções econômicas [ao Paraguai] porque nosso objetivo é a melhor qualidade dos povos do Mercosul", garantiu a presidente da Argentina.

No encerramento da cúpula, Cristina Fernández anunciou também a criação de uma comissão para supervisionar o processo eleitoral no Paraguai. "Esta comissão terá membros de cada um dos países da Unasul", adiantou. O novo presidente do Paraguai, Federico Franco, assegurou que as eleições serão realizadas em abril do próximo ano.

A presidente argentina antecipou que "o Mercosul e a Unasul irão aceitar a vontade do povo paraguaio nas eleições, seja qual for o resultado".

A Venezuela, quinto maior exportador de petróleo bruto e membro da Opep, é governada pelo presidente socialista Hugo Chávez. O ingresso da Venezuela como membro pleno do Mercosul foi decidido em nível político em 2006. Sua entrada no bloco, formado por Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, não se concretizou porque não foi ratificada pelo Congresso paraguaio.


Extraído do sítio Deutsche Welle

PARAGUAI É SUSPENSO DA UNASUL - Carolina Pimentel

Brasília – Assim como o Mercosul, a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) também decidiu pela suspensão temporária do Paraguai do grupo até as próximas eleições no país, em abril de 2013. A presidência rotativa do bloco estava com o Paraguai e foi passada para o Peru, que ficará com a coordenação da Unasul por um ano.

A Unasul é composta por 12 países da região, sendo que a Argentina, o Brasil e o Uruguai também integram o Mercosul.

A suspensão dos paraguaios dos dois blocos regionais ocorreu por causa do impeachment do então presidente Fernando Lugo, em processo que foi alvo de críticas das nações sul-americanas.

Com a destituição de Lugo, o vice Federico Franco assumiu o comando do governo paraguaio. Para os países vizinhos, o processo de impeachment foi conduzido com muita rapidez e sem chance de defesa adequada a Lugo. Os deputados e senadores paraguaios aprovaram a saída do ex-bispo católico em um dia.

Os membros do Mercosul e da Unasul decidiram não adotar sanções econômicas contra o país para não prejudicar o povo paraguaio.

Extraído do sítio Agência Brasil

VICE DO SERRA É ACUSADO POR DESVIO DE DINHEIRO PÚBLICO PARA ONG DOS DONOS DA VEJA


Entre as credenciais para ocupar o cargo de vice de José Serra (PSDB-SP), Alexandre Schneider (PSD-SP) tem contra si um processo onde é acusado por desvio de dinheiro dos cofres públicos da prefeitura e do estado de São Paulo para a Fundação Victor Civita.

A Fundação Victor Civita é a ONG ligada ao grupo Abril, dono da revista Veja.

No processo, acatado pelo juiz, os promotores do Ministério Público de São Paulo acusam:

1) O vice do Serra, como secretario municipal de educação, contratou a Fundação Victor Civita por relações de amizade e compadrio político, violando o princípio da impessoalidade;

2) A escolha foi feita "a dedo" ilegalmente, dispensando a necessária licitação, já que havia muitas outras instituições habilitadas a prestarem o serviço chamado “Projeto de Formação Continuada para Diretores e Supervisores”;

3) Quem fez o serviço, de forma terceirizada, foi o Instituto Protagonistés, cuja presidenta é Rose Neubauer, uma tucana, ex-secretária estadual de educação, e amiga de Schneider (Também causa estranheza a Fundação Victor Civita ter sido uma espécie de "laranja", apenas servindo de intermediária para a repassar o serviço contratado, sem licitação, para tal instituto).

4) As cartilhas do projeto foram impressas na gráfica da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, e a ONG dos Civita, junto com o Instituto da tucana, só pagou a matéria prima utilizada, sem ressarcir aos cofres públicos o valor dos serviços dos funcionários e outras despesas diretas ou indiretas, causando um prejuízo ao erário estadual. O presidente da Imprensa Oficial que autorizou essa maracutaia era Hubert Alquéres, outro a compor esta "ação entre amigos" demotucanos, segundo a denúncia.

Diante disso, os promotores pedem na justiça a devolução aos cofres públicos da prefeitura do valor de R$611.232,00, além das outras punições cabíveis.

O número do processo é 0006305-89.2010.8.26.0053 na 12ª Vara de Fazenda Pública - Foro Central (link aqui), e teve origem em representação apresentada pelo então vereador Beto Custódio (PT-SP).

A decisão judicial negando tentativa de Schneider de trancar o processo, dá detalhes da denúncia (figura acima).


Extraído do blog Os Amigos do Presidente Lula

27 junho 2012

PIG QUE É PIG DEFENDE O GOLPE NO PARAGUAI - Kerison Lopes

PIG (Partido da Imprensa Golpista). Essa expressão cunhada pelo deputado federal Fernando Ferro (PT-PE), popularizada a partir do jornalista Paulo Henrique Amorim, sintetizou perfeitamente o que representa a velha mídia brasileira. A repercussão nos órgãos do PIG sobre o golpe praticado contra o presidente Fernando Lugo no Paraguai só vem a comprovar. 

A posição oficial do PIG é acusar o Brasil de estar “a reboque da Venezuela”
O tratamento que tem sido dado por colunistas, editoriais e matérias sobre o assunto é uma afronta à liberdade de expressão. Ao contrário de toda a comunidade internacional, o PIG brasileiro defende abertamente o golpe praticado por latifundiários contra a democracia paraguaia, através de seus representantes no oligárquico Congresso daquele país. 

Na linha de frente dos interesses golpistas, os colunistas (ou “colonistas”, como bem cunhou Paulo Henrique Amorim) põem suas manguinhas de fora. Nesta quarta-feira (27) foi a vez de Elio Gaspari. Em sua coluna reproduzida por vários jornais, Gaspari profere um conjunto de ataques chulos ao Itamaraty pelo seu posicionamento na crise paraguaia. O baixíssimo nível do texto começa logo pelo título: “A leviana diplomacia do espetáculo”.

O posicionamento do Brasil na reunião da Unasul em não aceitar o golpe foi chamado pelo “colonista” como uma “truculenta intervenção nos assuntos internos do Paraguai”. Gaspari vai além da defesa do golpe no Paraguai e ataca a política externa brasileira por defender o multilateralismo, que para ele “é típica de uma política externa biruta”. Assim, o “colonista” entra na sua especialidade, defende os interesses dos Estados Unidos, país que financia suas opiniões sobre a ditadura brasileira e qualquer assunto de interesse ianque. 

Por falar em “colonista” defensor de interesses ianques, não poderia faltar Merval Pereira. Sua subserviência aos Estados Unidos já foi desmascarada inclusive por provas obtidas pelo WikiLeaks. Em texto publicado nesta terça-feira (26), ele defende que o que aconteceu no Paraguai não foi um golpe, mas a expressão máxima da democracia representativa. Golpe, para ele, está sendo praticado é pelos governos da Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina.

As sandices de Merval não param por ai. Fazendo eco aos golpistas paraguaios, diz que a reação internacional ao golpe é uma iniciativa “chavista”, que impôs a posição venezuelana a Unasul. Diz o colunista que a decisão do organismo em denunciar o golpe é “mais um movimento político dos chamados países bolivarianos do que uma reação em defesa da democracia, que continua em pleno vigor no Paraguai”.

Além dos "colonistas", os barões do PIG se manifestaram também através de editoriais. Também nesta terça, o jornal O Globo chamou o posicionamento do Brasil e da Unasul de “surto ideológico”. Além disso, destila ódio contra Hugo Chávez e mostra a linha que foi unificada como posição oficial do PIG: acusar o Brasil de estar “a reboque da Venezuela”. Foi esse também o tom adotado pelo editorial publicado pelo jornal Estado de São Paulo. 

Já o editorial da Folha de São Paulo culpa Fernando Lugo pelo golpe, que para ela não é golpe, e o acusa de implementar no Paraguai “uma plataforma esquerdizante”. Diz que o “ex-bispo católico Fernando Lugo conduzia um governo populista e errático, prejudicado pela conduta pessoal do mandatário”. O jornal da família Frias chega ao absurdo de dizer que o “melhor que o Itamaraty tem a fazer é calar-se e respeitar a soberania do vizinho”. 

O que se conclui mais uma vez com o comportamento da velha mídia brasileira é que ela é uma ameaça à democracia e precisa ser urgentemente regulada. Só assim pode-se impedir que o PIG chegue ao seu objetivo maior, que é conquistar golpes de Estado. Não é por menos que os mesmos veículos de comunicação foram protagonistas do golpe de 1964 e defensores da ditadura militar. 

O Brasil precisa possuir leis que garantam a longevidade da nossa democracia, coibindo o golpismo dos barões da mídia. Aliás, como foi definido como mote no último Encontro de Blogueiros em Salvador, não se necessita nada mais do que já garante a nossa Constituição. Basta regulamentar os artigos que tratam da comunicação. “Nada além da Constituição” foi lema ali definido. Tomara que também esse ataque golpista que o governo brasileiro recebe sirva pelo menos para tirá-lo da letargia, ou medo, de regulamentar tais artigos. 


Extraído do sítio Portal Vermelho

CASO ORLANDO: VEJA DIZ QUE NÃO TEM QUE DAR SATISFAÇÃO À VERDADE - Carla Santos



Já se passaram três semanas desde a absolvição de Orlando Silva pela Comissão de Ética da Presidência da República. Até o fechamento desta matéria, a revista Veja, base do processo contra o ministro, não deu uma linha sobre fato. A reportagem da TV Vermelho procurou o editor da Veja Brasília, Rodrigo Rangel, para saber o porquê do silêncio. Resposta: a Veja não tem que dar satisfação à verdade.



Em 12 de junho, a Comissão de Ética, por absoluta falta de provas, arquivou o processo contra o ex-ministro. O caso foi baseado em matérias da revista Veja com o policial militar João Dias, que acusou Orlando de ter recebido dinheiro ilegal de ONGs.

A matéria intitulada “Ministro recebia dinheiro na garagem”, da edição de 13 de outubro de 2011, foi assinada por Rodrigo Rangel, também editor da Veja Brasília. Rodrigo e Policarpo Junior, editor chefe do semanário em Brasília e um dos personagens envolvidos nos esquemas do bicheiro Carlinhos Cachoeira, se empolgaram na fabricação do texto. Ambos deram seis páginas para o suspeito PM João Dias e apenas oito linhas para a defesa de Orlando, por sinal, nenhuma apas do ministro.

Em entrevista à TV Vermelho, o ex-ministro afirma que, na época, foi apenas comunicado, por um editor daVeja, de que uma matéria sobre ele seria publicada no dia seguinte. Orlando afirma que a única chance de defesa que a revista ofereceu foi publicar uma nota do ministério na Veja Online. A edição impressa já estava a caminho das bancas.

Satisfação

Em agosto do ano passado, o mesmo Rodrigo Rangel chegou a ser agredido pelo lobista Júlio Fróes enquanto tentava cumprir uma das obrigações do bom jornalismo: ouvir o outro lado da história (aqui a notícia). Por que no caso de Orlando não foi possível ter o mesmo empenho?

Para saber esta e outras respostas é que a TV Vermelho procurou o editor da Veja. Basta ver o vídeo acima para saber a versão do outro lado: “Sim, mas eu tenho que dar satisfação a você?”, ironizou Rodrigo Rangel. 

Tentamos explicar que não era à repórter que o jornalista devia uma satisfação, mas sim aos milhões de brasileiros que foram enganados ao longo de oito meses, graças às mentiras veiculadas na Veja. Mas e a verdade, ela não merece nenhuma satisfação? “Agora não posso falar, agora não posso falar”, repetia o editor da revista à nossa reportagem.

Proceso na Justiça

O única tentativa do editor para justificar o absoluto silêncio da Veja sobre a absolvição de Orlando foi de que o processo continua correndo na justiça.

Então noticie, pelo menos, há quantas anda o processo na Justiça! Sim, porque até o presente momento há apenas um processo e este foi movido pelo próprio Orlando Silva contra os caluniadores João Dias e Célio Soares, funcionário do PM que disse à Veja ter entregue dinheiro ao ex-ministro.

Já houve uma primeira audiência. Célio Soares não compareceu e está desaparecido. Por este motivo, a Justiça não consegue intimá-lo para depor. O único a comparecer foi João Dias. Ele propôs a conciliação ao ex-ministro, que não aceitou. 

Além do processo movido por Orlando contra os caluniadores, há um inquérito, a pedido da Procuradoria Geral da União, em andamento no STJ (Superior Tribunal de Justiça). Inquérito não é processo, mas sim, investigação. Até o momento, o ex-ministro não foi chamado para depor. 

Impunidade

A grande ironia de toda esta história está nas duas frases que fecharam a primeira matéria, aquela de oito meses atrás: “A polícia e o Ministério Público têm uma excelente oportunidade para esclarecer o que se passava no terceiro tempo do Ministério do Esporte. As testemunhas [João Dias e Célio Soares] estão prontas para entrar em campo”.

Que piada. Mesmo dias depois da reportagem, João Dias se negou a comparecer ao Congresso para falar sobre o caso (aqui a matéria). 

Já se passaram oito meses. Orlando segue a batalha de cabeça erguida. E a Veja? Só mesmo um milagre tem evitado que o dono da revista, Roberto Civita, não seja chamado a depor na CPI do Cachoeira. 

Até quando a mídia vai ficar impune?

Extraído do sítio Portal Vermelho

24 junho 2012

O GOLPE DA MONSANTO NO PARAGUAI - Leonardo Wexell Severo



“A situação de expectativa gerada pela decisão dos legisladores de submeter o presidente Fernando Lugo a juízo político foi, finalmente, resolvida de um modo ordenado, pacífico e respeitoso da legalidade, da institucionalidade e dos critérios essenciais de equidade que devem presidir processos tão delicados como o que acaba de ser levado a bom termo. A destituição do presidente abre fundadas esperanças num futuro melhor.” (Editorial do jornal ABC Color).

“Um presidente sem respaldo, que se mostra negligente e incapaz, não pode seguir governando. Sem lugar a dúvidas, o erro mais grave de Fernando Lugo foi o respaldo outorgado a dirigentes de supostos camponeses que receberam carta branca do governo para invadir terras, ameaçar e desafiar o Estado de Direito. Lugo decepcionou a grande maioria da cidadania paraguaia com suas decisões errôneas, seu sarcasmo, sua desastrosa vida pessoal, sua ambiguidade e sua crescente amizade com inimigos declarados da democracia, como Hugo Chávez e os irmãos Castro.” (Editorial do jornal Vanguardia).

“Lugo tem princípios populistas (não necessariamente incendiários). A reputação de honestidade lhe ajudou a ganhar, porém necessitará um pouco da ajuda do céu para exercer a Presidência” (Informação da Embaixada dos EUA, datada de junho de 2008, vazada pelo WikiLeaks, antes da posse de Lugo).

Uma grotesca farsa caiu como raio em céu claro sobre o presidente constitucional do Paraguai, Fernando Lugo. Em questão de horas o mandatário teve o seu “impeachment” proposto, analisado e votado pelo Congresso, mediante um processo metodicamente orquestrado pelas multinacionais Monsanto e Cargill, a oligarquia latifundiária, as elites empresariais e sua mídia.

As comemorações estampadas nas capas dos principais jornais paraguaios dão a dimensão do ódio de classe, com as desclassificadas mentiras destiladas contra quem se dispôs – ainda que com vacilos e limitações - a virar a página de abusos e subserviência aos ditames de Washington e suas empresas.

O cerco midiático contra Lugo vinha se fechando, num país em que 85% das terras encontram-se nas mãos de 2% da população e onde os mesmos donos dos três principais jornais, umbilicalmente vinculados às transnacionais e ao sistema financeiro, também controlam as emissoras de rádio e televisão. Assim, de forma suja e monocórdica, foram convocadas manifestações, com bloqueio de estradas, para o próximo dia 25 de junho. Grandes “tratoraços” em protesto contra a decisão do governo em favor da saúde da população e da soberania alimentar - de não liberar a semente de algodão transgênico Bollgard BT, da Monsanto, cuja sequência genética está mesclada ao gene do Bacillus Thurigensis, bactéria tóxica que mata algumas pragas de algodão. A decisão, que afetava milionários interesses da multinacional estadunidense, havia sido comunicada pelo Serviço Nacional de Qualidade e Saúde Vegetal e de Sementes (Senave), uma vez que a liberação não tinha o parecer do Ministério da Saúde e da Secretaria do Meio Ambiente.

“A Monsanto, através da UGP, estreitamente ligada ao Grupo Zuccolillo, que publica o diário ABC Color, se lançou contra a Senave e seu presidente Miguel Lovera por não ter inscrito a sua semente transgênica para uso comercial no país”, denuncia o jornalista e pesquisador paraguaio Idilio Méndez Grimaldi.

Para tirar o Senave do caminho foi alegado o surrado argumento da “corrupção” no órgão, o mesmo estratagema da máfia de Carlinhos Cachoeira para tomar de assalto o DNIT e alavancar negociatas, via utilização de seus vínculos com a revista Veja para denunciar desvios no órgão – conseguindo inclusive a queda do ministro dos Transportes. Desta forma, “denúncias” por parte de uma pseudo-sindicalista do Senave, Silvia Martínez, ganharam manchetes na mídia canalha. O jornal ABC Color do dia 7 de junho último acusou o chefe do Senave, Miguel Lovera, de “corrupção e nepotismo na instituição que dirige”. Mas o fato é que a pretensa sindicalista advogava em causa própria, do marido e de seus patrocinadores. 

Conforme revelou Grimaldi, “Silvia Martínez é esposa de Roberto Cáceres, representante técnico de várias empresas agrícolas – todas sócias da UGP (Unión de Grêmios de la Producción) - entre elas Agrosán, recentemente adquirida pela Syngenta, outra transnacional, por 120 milhões de dólares”.

Algo similar à UDR (União Democrática Ruralista) de Ronaldo Caiado, e aos ruralistas da senadora Kátia Abreu, a UGP é comandada por Héctor Cristaldo, sustentado por figuras como Ramón Sánchez – vinculado ao setor agroquímico - entre outros agentes das transnacionais do agronegócio. “Cristaldo integra o staff de várias empresas do Grupo Zuccolillo, cujo principal acionista é Aldo Zuccolillo, diretor proprietário do jornal ABC Color desde sua fundação sob o regime de Stroessner, em 1967. Zuccolillo é dirigente da Sociedade Interamericana de Prensa (SIP)”, esclarece Idílio Grimaldi. O jornalista lembra que o Grupo Zuccolillo é o principal sócio no Paraguai da Cargill, uma das maiores transnacionais do agronegócio do mundo. “Tal sociedade” construiu um dos portos graneleiros mais importantes do Paraguai, o Porto União, a 500 metros da absorção de água da Companhia de Saneamento do Estado, sobre o rio Paraguai, sem qualquer restrição”, esclarece.

Com a proteção do apodrecido Congresso que condenou Lugo, as transnacionais do agronegócio no Paraguai praticamente não pagam impostos, com uma carga tributária de 13% do PIB, tão insignificante que acaba inviabilizando os serviços públicos. Vale lembrar que a saúde e a educação eram totalmente privadas antes da ascensão de Lugo à Presidência, num país em que os latifundiários não pagam impostos. O imposto imobiliário representa apenas 0,04% da carga tributária, uns 5 milhões de dólares - segundo estudo do Banco Mundial – ainda quando a renda do agronegócio alcance cerca de 6 bilhões de dólares anuais, em torno de 30% do PIB.

Na sexta-feira, 8 de junho, a UGP publicou no ABC Color seus “12 argumentos para destituir Lovera” (http://www.abc.com.py/edicion-impresa/economia/presentan-12-argumentos-para–destituir-a–lovera-411495.html. Tais “argumentos” foram apresentados ao então vice-presidente da República, Federico Franco, correligionário do ministro da Agricultura e pró-Monsanto, recém nomeado “presidente”.

Na sexta-feira, 15, descreve Grimaldi, “em função de uma exposição anual organizada pelo Ministério de Agricultura e Pecuária, o ministro Enzo Cardozo deixou escapar um comentário à imprensa: um suposto grupo de investidores da Índia, do sector agroquímico, cancelou um projeto de investimentos no Paraguai pela alegada corrupção no Senave. Nunca esclareceu de que grupo se tratava. Nas mesmas horas daquele dia ocorriam os trágicos acontecimentos de Curuguaty, onde morreram onze camponeses e seis policiais”. O sangue derramado foi o pretexto utilizado pela direita para o impeachment.

Como na Venezuela, o uso de franco-atiradores

O que se sabe é que a exemplo da tentativa de golpe de Estado na Venezuela, onde a CIA utilizou franco-atiradores para assassinar os manifestantes contrários ao governo para jogar a culpa do massacre sob os ombros de Hugo Chávez, também em Curuguaty agiram franco-atiradores. E dos bem profissionais. E movidos pelos mesmos propósitos.

Na região de Curuguaty está localizada a estância de Morombí, propriedade do latifundiário e grileiro Blas Riquelme, dono de mais de 70 mil hectares. O “terrateniente” é uma das viúvas da ditadura do general Alfredo Stroessner (1954-1989), um dos principais beneficiados pela tristemente célebre Operação Condor, desenvolvida pela CIA no Cone Sul para torturar, assassinar e desaparecer com todo aquele que ousasse contrariar os interesses estadunidenses na região. Ele também foi presidente do Partido Colorado por longos anos e senador da República, sendo igualmente dono de uma rede de supermercados e estabelecimentos pecuários.

Como Riquelme havia se apropriado mediante subterfúgios legais de aproximadamente dois mil hectares pertencentes ao Estado paraguaio, camponeses sem terra ocuparam o local e solicitaram do governo Lugo a sua desapropriação para fins de reforma agrária. Um juiz e uma promotora ordenaram a retirada das famílias por meio do Grupo Especial de Operaciones (GEO) da Polícia Nacional, esquadrão de elite que, em sua maioria, foi treinado por militares dos EUA na Colômbia, durante o governo fascista de Álvaro Uribe.

Na avaliação de Grimaldi, que também é membro da Sociedade de Economia Política do Paraguai (SEPPY), somente uma sabotagem interna dentro dos quadros da própria inteligência da Polícia, com a cumplicidade da Promotoria, explicaria a emboscada na qual morreram seis policiais. Uma ação estrategicamente planejada com um objetivo bem definido. “Não se compreende como policiais altamente treinados, no marco do Plano Colômbia, pudessem cair tão facilmente numa suposta armadilha feita por camponeses, como quer fazer crer a imprensa dominada pela oligarquia. A tropa reagiu, matando 11 camponeses e deixando cerca de 50 feridos”. Entre os policiais mortos, ressalta, estava o chefe da GEO, Erven Lovera, irmão do tenente-coronel Alcides Lovera, chefe da segurança do presidente. Um recado claro e preciso para Lugo.

A serviço da Monsanto

Conforme o jornalista, no marco da apresentação preparada pelo Ministério da Agricultura – a serviço dos EUA -, a transnacional Monsanto anunciou outra variedade de algodão, duplamente transgênico: BT e RR ou Resistente ao Roundup, herbicida fabricado e patenteado pela multinacional, que quer a liberação da semente no país.

Para afastar incômodos obstáculos, antes disso o diário ABC Color vinha denunciando “presumíveis” fatos de corrupção dos ministros do Meio Ambiente e da Saúde, Oscar Rivas e Esperança Martínez, que também haviam negado posição favorável à Monsanto. A multinacional faturou no ano passado, somente com os royalties pelo uso de sementes transgênicas de soja no Paraguai, 30 milhões de dólares, livre de impostos, (porque não declara esta parte de sua renda). “Independente disso, a multinacional também fatura pela venda das sementes transgênicas. Toda a soja cultivada é transgênica numa extensão próxima aos três milhões de hectares, numa produção em torno de sete milhões de toneladas em 2010”, revela Grimaldi.

Por outro lado, acrescenta o jornalista, a Câmara de Deputados já aprovou projeto de Lei de Biosseguridade, que contempla criar uma direção de Biosegurança com amplos poderes para a aprovação do cultivo comercial de todas as sementes transgênicas, sejam elas de soja, milho, arroz, algodão... Este projeto de lei elimina a atual Comissão de Biosseguridade, ente colegiado de funcionários técnicos do Estado paraguaio, visto como entrave aos desígnios da Monsanto.

“Enquanto transcorriam todos esses acontecimentos, a UGP vinha preparando um ato de protesto nacional contra o governo de Fernando Lugo para o dia 25 de junho, com máquinas agrícolas fechando parte das estradas em diferentes pontos do país. Uma das reivindicações do denominado ‘tratoraço’: a destituição de Miguel Lovera do Senave, assim como a liberação de todas as sementes transgênicas para cultivo comercial”.

Dado o golpe, como estamparam os grandes conglomerados de mídia no Paraguai neste sábado, “a manifestação da UGP foi suspensa”. Afinal, “há um novo governo, mais sensível ao mercado”.

Extraído do Blog do Miro

PRISÕES, PRIVATIZAÇÃO E PADRINHOS - Paul Krugman

Paul Krugman
Nos últimos dias, o "New York Times" publicou uma série de reportagens aterrorizantes sobre o sistema de casas de semi-internato de Nova Jersey -que serve como ala auxiliar, operada pelo setor privado, do sistema penitenciário estadual. A série é um modelo de jornalismo investigativo e todos deveriam ler esses artigos. Mas também é preciso que seja analisada como parte de um contexto mais amplo. Os horrores descritos são parte de um padrão mais amplo sob o qual funções do governo estão sendo a um só tempo privatizadas e degradadas.

Vamos começar pelas casas de semi-internato. Em 2010, Chris Christie, o governador de Nova Jersey -que tem conexões pessoais com a Community Education Centers, a maior operadora dessas instalações, para a qual no passado trabalhou fazendo lobby-, descreveu as operações da empresa como "uma representação do que há de melhor no espírito humano". Mas as reportagens revelam, em lugar disso, algo mais próximo ao inferno -um sistema mal gerido, com escassez de funcionários e equipes desmoralizadas, do qual os mais perigosos indivíduos muitas vezes escapam para causar estragos e no qual os criminosos menos violentos enfrentam terror e abusos da parte dos demais detentos.

A história é terrível. Mas, como eu disse, é necessário vê-la no contexto mais amplo de uma campanha nacional da direita norte-americana pela privatização de funções de governo, o que enfaticamente inclui a administração de prisões. O que move essa campanha?

Seria tentador dizer que ela reflete a crença dos conservadores na magia do mercado, na superioridade da concorrência livre sobre o planejamento governamental. E essa é certamente a maneira pela qual os políticos da direita gostariam de ver a questão enquadrada.

Mas basta pensar por um minuto para perceber que uma coisa que as empresas que formam o completo penitenciário privado - companhias como a Community Education ou a gigante setorial Corrections Corporation of America - não fazem é concorrer em um mercado livre. Elas na realidade vivem de contratos governamentais. Assim, não existe mercado, e portanto nenhum motivo para prever ganhos mágicos de eficiência.

E o fato é que, apesar das muitas promessas de que privatizar penitenciárias resultaria em grande economia de custos, essa economia - como concluiu um estudo abrangente conduzido pelo Serviço de Assistência Judiciária, parte do Departamento da Justiça norte-americano - "simplesmente não se concretizou". Os operadores privados de penitenciárias só conseguem economizar dinheiro por meio de "reduções em quadros de funcionários, nos benefícios conferidos aos trabalhadores e em outros custos trabalhistas".

Assim, é hora de conferir: as penitenciárias privadas economizam dinheiro porque empregam menos guardas e outros funcionários, e pagam menos a eles. E em seguida lemos histórias de horror sobre o que acontece nas prisões. Que surpresa!

O que deixa a questão dos motivos reais para a campanha pela privatização das penitenciárias, e de praticamente tudo mais.

Uma resposta é que a privatização pode servir como forma encoberta de elevar o endividamento do governo, já que este deixa de registrar despesas antecipadas (e pode até arrecadar dinheiro pela venda de instalações existentes), e eleva os custos de longo prazo de maneira invisível pelos contribuintes. Já ouvimos muito sobre dívidas estaduais ocultas em forma de passivos de pensão futuros; mas não ouvimos o bastante sobre as dívidas futuras que estão sendo acumuladas agora na forma de contratos de longo prazo com empresas privadas empregadas para operar penitenciárias, escolas e muito mais.

Outra resposta para a privatização é que ela representa uma forma de eliminar funcionários públicos, que têm o hábito de formar sindicatos e tendem a votar nos democratas.

Mas a principal resposta certamente está no dinheiro. Pouco importa o efeito que a privatização tenha ou não sobre os orçamentos estaduais. Pense, em lugar disso, nos benefícios que ela traz para os fundos de campanha e as finanças pessoais dos políticos e seus amigos. Com a privatização de mais e mais funções governamentais, os Estados se tornam paraísos de pagamento nos quais contribuições políticas e pagamentos a amigos e parentes se tornam parte da barganha na obtenção de contratos do governo. As empresas estão tomando o controle dos políticos ou os políticos estão tomando o controle das empresas? Pouco importa.

É claro que alguém vai certamente apontar que as porções não privatizadas do governo também enfrentam problemas de influência indevida, que os sindicatos dos guardas penitenciários e professores têm influência política e esta ocasionalmente distorce as decisões governamentais. É justo. Mas essa influência tende a ser relativamente transparente. Todo mundo sabe sobre as aposentadorias supostamente absurdas do setor público; já revelar o inferno das casas de semi-internato de Nova Jersey requereu meses de investigação pelo "New York Times".

O que importa, portanto, é que não se deve imaginar aquilo que o "New York Times" descobriu sobre a privatização de prisões em Nova Jersey como exemplo isolado de mau comportamento. Trata-se, na verdade, quase certamente de apenas um vislumbre de uma realidade cada vez mais presente, de uma conexão corrupta entre privatização e apadrinhamento que está solapando as funções do governo em muitas regiões dos Estados Unidos.

* Tradução de Paulo Migliacci

** Paul Krugman é prêmio Nobel de Economia (2008), colunista do jornal "The New York Times" e professor na Universidade Princeton (EUA). Um dos mais renomados economistas da atualidade, é autor ou editor de 20 livros e tem mais de 200 artigos científicos publicados. Escreve às segundas, no site da Folha, e aos sábados, na versão impressa de "Mundo".

*** Artigo publicado na Folha de S. Paulo, 23/06/2012.

Extraído do sítio Conversa Afiada

23 junho 2012

RIO+20 DEIXA MAIS FRUSTRAÇÕES DO QUE LEGADOS - Norma Moura

Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável resultou em documento cheio de boas intenções. Mas, como afirma o premiê Dmítri Medvedev, também "não tenho dúvidas de que poderíamos ter feito mais".

Foto: government.ru

O futuro que queremos não será exatamente o que teremos. Pelo menos é o que indicam os resultados preliminares da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, encerrada na sexta-feira (22), no Rio de Janeiro.

Sem especificar responsabilidades e prazos ou apontar fontes de financiamentos para ações que visem o desenvolvimento sustentável, sobretudo nos países em desenvolvimento, o documento final da cúpula, intitulado "O Futuro que Queremos", tem 49 páginas de boas intenções e poucas ações concretas.

Essa é a conclusão quando se ouve o barulho feito pelas organizações não governamentais que participaram do encontro.

Insatisfeitas com vários pontos do documento, elas acusam as autoridades internacionais de terem produzido um acordo acanhado frente aos desafios ambientais do planeta e de usarem a crise financeira mundial como desculpa para boicotar o financiamento de projetos para o desenvolvimento sustentável.

“Foi frustrante”, resumiu a ativista Iara Pietricovsky, representante da Cúpula dos Povos. Discurso dissonante das lideranças mundiais, que defenderam a Conferência como um avanço importante para o debate futuro sobre o meio ambiente.

O secretário-geral da Rio+20, Sha Zukan, defendeu o legado deixado. “Os líderes mundiais fizeram no Rio uma estrutura de ações. Construímos um grande legado sobre o futuro que queremos”.

A polifonia tornou o Riocentro, palco do encontro, em uma Babel moderna, onde diplomatas, políticos e ativistas ambientais não falaram a mesma língua.

O próprio secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, apresentou discursos divergentes em menos de 24 horas.

Na abertura do Segmento de Alto Nível da conferência, criticou o documento produzido com o esforço (hercúleo, diga-se de passagem) da diplomacia brasileira, definindo-o como pouco ambicioso.

No dia seguinte, lembrou-se de que é um representante diplomático, aceitou o diapasão oferecido pelo Itamaraty e afinou seu discurso com o da presidente do Brasil, Dilma Rousseff.

Em documento oficial, avaliou a Rio+20 como uma “base sólida para a promoção do desenvolvimento sustentável”.

Desentendimentos a parte, o fato é que, passados 20 anos da primeira conferência sobre meio ambiente (Rio-92), a sensação que fica é a de que os países ainda não entenderam a urgência em discutirseriamente alternativas para o modelo de desenvolvimento atual.

Futuro incerto

Como palco para a multiplicidade de expressões, a Rio+20 pode até ser considerada um sucesso, como querem nos fazer acreditar as autoridades brasileiras.

Mas como instrumento para salvar o planeta por meio da renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, a conversa sai do tom.

Isso porque quando se trata de colocar a mão no bolso, as nações mais ricas demonstram pouca disposição para o sacrifício.

Esse comportamento já era uma tendência antes da conferência. Agora, com a ausência de representantes de países de peso – tanto em termos de economia como de poluição, como o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e a chanceler alemã, Angela Merkel - ele se tornou a tônica dos negociadores na conferência.

Infelizmente, reverter o processo de esgotamento do planeta demanda mais do que discursos e boa vontade. É preciso dinheiro. Muito mais do que os US$ 20 milhões para financiar projetos de energia limpa na África anunciados pela secretária de Estado americana, Hillary Clinton.

Se o documento final da Rio+20 “é produto da ambição coletiva dos países que participaram dessa conferência”, como defendeu a presidente Dilma Rousseff, ao encerrar o evento, então os líderes mundiais foram realmente pouco ambiciosos.

Como disse o primeiro-ministro da Rússia, Dmítri Medvedev, também "não tenho dúvida de que todos nós podemos fazer mais.

Em seu pronunciamento na quarta-feira (21), o premiê russo lembrou que esse é um acordo global, com medidas que devem ser assumidas por todos.

“Há apenas uma verdade simples: somente em conjunto e juntos poderemos tornar nosso mundo mais amigável, mais seguro e confortável para a geração atual e as gerações futuras”, afirmou o premiê russo.

Em uma crítica velada a grandes nações, Medvedev garantiu que a Rússia vem mantendo suas responsabilidades, principalmente em relação ao protocolo de Kioto.

Como saldo do que deveria ser a urgência do planeta e vontade política mundial, ficou a criação do Centro Rio+ (Centro Internacional para o Desenvolvimento Sustentável).

Seu objetivo será o de ampliar os diálogos para a sustentabilidade, mas ainda não há data para sua instalação no Campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Também haverá uma espécie de promissória a ser descontada em 2013, para quando os líderes acertaram a retomada das discussões com a criação de um grupo de trabalho que deverá apresentar propostas a serem implementadas após 2015. 

A partir desta data, entrarão em cena os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, nos mesmos moldes dos Objetivos do Milênio.

A esperança é que os países-membros das Nações Unidas consigam, então, implantar em escala mundial uma economia verde que freie a destruição do meio ambiente ao mesmo tempo em que erradique a miséria. Um enorme desafio, seja hoje ou daqui a três anos.

* Norma Moura é jornalista e foi subeditora da sucursal de Brasília do Jornal do Brasil e da editoria de política do Correio Braziliense.


Extraído do sítio Gazeta Russa

RIO+20 BATE RECORDE NUMÉRICO E RESSALTA DIVISÃO ENTRE RICOS E POBRES - Nádia Pontes



Maior conferência da ONU adiou compromissos de desenvolvimento sustentável e ajuda financeira a países pobres. Sociedade civil: "fracasso épico", Dilma: "conferência democrática". Conta da Rio+20 será paga pelo Brasil.

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável chegou ao fim nesta sexta-feira (22/06), no Rio de Janeiro. Os 188 países representados, 105 deles por chefes de Estado, adotaram o documento final sem alterações importantes. O governo brasileiro elogiou o resultado da Rio+20 e a sociedade civil falou em "fracasso épico".

A presidente Dilma Rousseff fez um discurso de encerramento na plenária. "O Brasil se orgulha de ter organizado a mais participativa e democrática conferência na qual tiveram espaço diversas visões e propostas. Buscamos sempre manter um equilíbrio respeitoso entre as posições de todos os países".

Na visão de Dilma, o documento aprovado, "O futuro que queremos", lança uma agenda importante, que vai orientar o desenvolvimento sustentável. Antes, no entanto, a presidente comentara à imprensa que muitos países não estavam de acordo com a criação de um fundo para financiar ações sustentáveis nas nações mais pobres. "Os países desenvolvidos não querem que isso seja posto na pauta. E nós queremos que seja posto na pauta, mas agora temos de respeitar quem não quer."

Júbilo dos participantes ao fim da Rio+20
"O melhor que se podia conseguir"

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, reconheceu que a Rio+20 deixou a desejar em relação aos avanços que a Eco92 impulsionou. "É fácil falar que [o documento final da conferência] foi pouco ambicioso. Mas ninguém se sentou à mesa para colocar dinheiro adicional", criticou os países ricos.

Teixeira ironizou ainda a dependência do socorro financeiro que países em crise enfrentam. "É contraditório ver a África do Sul doando dinheiro para o Fundo Monetário Internacional no G20." O país integrante do BRICS situado no continente mais pobre do mundo vai liberar 2 bilhões de dólares para a instituição financeira.

Nikhil Chandavarkar, porta-voz do secretariado da ONU na Rio+20, preferiu dar uma outra resposta sobre essa divisão entre ricos e pobres na mesa de negociações. "Acho que conseguimos ver a complexidade dos hemisférios norte e sul. Até no sul, onde estão os emergentes, cada um tem seus próprios interesses. Isso fez com que o consenso no sul fosse muito difícil", disse em entrevista à DW Brasil, referindo-se ao Grupo dos 77+China, que inclui o Brasil.

Protesto antinuclear no Rio
"É o melhor que se podia esperar nesta época", Chandavarkar classificou o resultado da Rio+20, sem citar diretamente a crise financeira que consome a Europa. Mas as regras do jogo agora também são decididas pelos emergentes – apontou como maior ganho. "Acho que a arbitragem se move para o sul. Essa é a grande lição daqui."

O porta-voz mencionou o Brasil, Índia e África do Sul como atores importantes na tomada de decisões no plano internacional. A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável chegou ao fim nesta sexta-feira (22/06), no Rio de Janeiro. Os 188 países representados, 105 deles por chefes de Estado, adotaram o documento final sem alterações importantes. O governo brasileiro elogiou o resultado da Rio+20 e a sociedade civil falou em "fracasso épico".

A presidente Dilma Rousseff fez um discurso de encerramento na plenária. "O Brasil se orgulha de ter organizado a mais participativa e democrática conferência na qual tiveram espaço diversas visões e propostas. Buscamos sempre manter um equilíbrio respeitoso entre as posições de todos os países".

Na visão de Dilma, o documento aprovado, "O futuro que queremos", lança uma agenda importante, que vai orientar o desenvolvimento sustentável. Antes, no entanto, a presidente comentara à imprensa que muitos países não estavam de acordo com a criação de um fundo para financiar ações sustentáveis nas nações mais pobres. "Os países desenvolvidos não querem que isso seja posto na pauta. E nós queremos que seja posto na pauta, mas agora temos de respeitar quem não quer."

Críticas pesadas

"A Rio+20 vai ficar como a cúpula do embuste. Eles vieram, falaram, mas não agiram", foi como classificou a conferência Barbara Stocking, da ONG Oxfam, que também criticou a recusa das nações ricas a financiarem os menos desenvolvidos

Kumi Naidoo, da Greenpeace International, disse que a conferência entrará para a história como a "Rio menos20. "Os governos não conseguiram produzir o acordo histórico que precisamos para enfrentar a tempestade de crises que estão por vir: ecológica, econômica e de igualdade".

Até mesmo Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, ouviu as críticas de representantes da sociedade civil brasileira que participaram da paralela Cúpula dos Povos. O sul-coreano recebeu pessoalmente do grupo uma carta que repudia os resultados acordados pelos chefes de Estado.

Balanço de nove dias

A Rio+20 entra para história, pelo menos, na contagem numérica: foi a maior conferência das Nações Unidas já realizada, com 45.381 participantes, a maioria de delegados (12 mil) e membros da sociedade civil (9.856). Milhares de eventos aconteceram simultaneamente na cidade do Rio de Janeiro, durante os nove dias de reuniões, 500 deles só no centro de convenções Riocentro.

Encontro deixou insatisfações. "Cúpula do embuste"?
Na mesa de negociação, no entanto, uma das principais expectativas não foi atendida: a criação de metas de desenvolvimento sustentável em diferentes áreas foi adiada, e deve ser formulada até 2015. O documento prevê o estabelecimento de um fórum político de alto nível para o desenvolvimento sustentável dentro da ONU e o fortalecimento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que não vai virar uma agência da organização.

Também será criado um mecanismo jurídico dentro da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, que deve impor regras para conservação e exploração sustentável dos oceanos. Outro ponto foi a concordância em se desenvolver uma nova maneira de contabilizar a riqueza das nações, que vá além do Produto Interno Bruto (PIB).

"Agora os discursos acabam e o trabalho começa", despediu-se Ban Ki-moon da Rio+20. O secretário-geral agradeceu a dedicação pessoal de Dilma Rousseff ao tema e parabenizou o Brasil por ter sediado o evento. Os custos dos nove dias de reuniões no Riocentro serão assumidos pelo anfitrião. A cifra não foi revelada.

Extraído do sítio Deutsche Welle

LUGO, O "BISPO DOS POBRES" QUE SE TORNOU "PRESIDENTE SOLITÁRIO" - Marcia Carmo


Chamado de "bispo dos pobres", Fernando Lugo entrou para a história do Paraguai ao enfrentar a cúpula católica para se candidatar e se tornar o primeiro presidente de esquerda do país.

Lugo também fez história ao quebrar a hegemonia de seis décadas do Partido Colorado à frente do poder no Paraguai (incluindo os 35 anos do regime autoritário de Alfredo Stroessner, entre 1954 e 1989).

Na Presidência, perdeu sua base de apoio, enfrentou oposição ferrenha e virou personagem do folclore político, quando vieram à tona os “filhos” do “presidente bispo”.

O conflito agrário que resultou em 18 mortes (entre camponeses e policiais) selou o destino de Lugo, cassado em um processo relâmpago de impeachment.

Em pouco mais de 24 horas, Lugo foi apeado do poder, no que foi chamado de “golpe parlamentar” por analistas e lideranças políticas do Paraguai e da região.

Eleito em abril de 2008, o paraguaio foi um presidente solitário. Governou sem apoio do Congresso e sob a mira de setores empresariais que questionavam sua capacidade de conter demandas reprimidas, como a dos agricultores dos sem-terra.

Sina

Lugo acabou repetindo a sina de outros presidentes paraguaios, que não conseguiram completar seus mandatos ao longo da turbulenta história do país.

Com pouco mais de seis milhões de habitantes, o Paraguai registrou, em sua história recente, vários hiatos de democracia e de estabilidade institucional.

Um deles levou o ex-presidente Raúl Cubas, destituído em 1999, a pedir asilo político no Brasil, onde Stroessner também viveu asilado.

Lugo, um novato na política tradicional, deixou o Palácio de López a apenas oito meses das eleições presidenciais, após perder o apoio decisivo dos liberais, do PLRA (Partido Liberal Radical Autentico), legenda do seu ex-vice e inimigo político, Federico Franco, agora seu sucessor.

Novato

Lugo chegou à Presidência usando seu carisma como religioso. Sua única experiência política até ser lançado pré-candidato em 2006 tinha sido a militância junto a movimentos sociais em sua diocese de San Pedro, uma das regiões mais pobres do país.

Segundo observadores paraguaios, Lugo “pecou” ao não fazer alianças políticas para tentar “sobreviver” à forte oposição dos congressistas.

Apesar de ter sido derrotado nas urnas, o Partido Colorado tinha a maior parte dos votos no Congresso e a simpatia da maioria dos 300 mil funcionários públicos filiados à legenda.

Quando Lugo foi eleito pela Aliança Patriótica para a Mudança, que incluía partidos da esquerda à direita, um diplomata brasileiro alertou a BBC Brasil sobre os problemas que viriam pela frente.

“Ele terá que ter muita cintura política para governar com este amplo perfil político e sem base própria no Congresso. Vai ser difícil agradar a todos e especialmente no Paraguai”, disse, na ocasião.

Filhos e câncer

Lugo sobreviveu ao cargo mesmo quando surgiram informações, em 2009, de seu primeiro filho, fruto dos tempos em que era bispo.

A notícia provocou comoção entre os paraguaios e virou motivo de deboche e até hit musical. O grupo de cumbia Los Angeles ganhou fama ao cantar que ‘Lugo tem coração, mas não usou condón (camisinha)”.

O então presidente e ex-bispo foi acusado por quatro mulheres de ser pai de seus filhos, mas reconheceu reconheceu a paternidade de apenas duas das quatro crianças.

Na Presidência, Lugo também enfrentou um câncer que o levou várias vezes à São Paulo, onde realizou o tratamento.

Publicamente, Lugo aparecia sozinho e era visto por seus colegas presidentes como um político “tímido e afável”, que mantinha hábitos da cultura paraguaia, como falar em guarani e tomar ‘tereré’ (chimarrão).

Lugo deixa a Presidência de um país que registrou forte crescimento econômico nos últimos (apesar da desaceleração recente), favorecido pelo boom da soja, mas com problemas sociais.

A expectativa é que ele volte para a casa onde morava, no município de Lambaré, na grande Assunção.

Na parede, quando ainda era candidato, Lugo mantinha um quadro com a frase de Paulo Coelho: “O mundo está nas mãos daqueles que têm a coragem de sonhar e de viver seus sonhos”.


Extraído do sítio BBC Brasil

FRANCO ASSUME PRESIDÊNCIA DO PARAGUAI E RESPONDE A ACUSAÇÕES DE GOLPE

Vice-presidente assumiu cargo apenas uma hora e meia após o julgamento de impeachment que cassou o então presidente Lugo.


O novo Presidente paraguaio, Federico Franco, junto dos novos ministros de Relações Exteriores, José Félix Fernández, e do Interior, Carmelo Caballero, durante una conferência de imprensa no Palácio do Governo

Federico Franco, vice-presidente de Fernando Lugo, assumiu nesta sexta-feira (22/06) a Presidência do Paraguai em uma sessão conjunta do Legislativo realizada apenas uma hora e meia após o julgamento de impeachment que cassou o então presidente.

O político, filiado ao Partido Liberal Autêntico Radical de viés conservador, realizou discurso perante os parlamentares no qual garantiu a vigência de princípios democráticos respondendo às acusações de que o processo contra Lugo se tratou de um golpe. “A transição é realizada dentro da ordem constitucional”, afirmou ele.

O novo presidente também garantiu aos governos latino-americanos que "manterá o respeito irrestrito à Constituição e as leis e aos tratados e acordos internacionais, assim como ao cumprimento das obrigações internacionais". 

Em seu discurso, Franco continuou com a tática da oposição de utilizar as mortes em Curuguaty para legitimar o golpe contra Lugo. O político, que sempre entrou em choque com os movimentos sociais de esquerda ligados ao antigo presidente, exigiu justiça pelas mortes dos camponeses sem-terra. 

O novo presidente se direcionou, em seguida, ao Palácio do Governo para ocupar seu novo escritório, onde anunciou sua equipe ministerial que terá integrantes de todas as legendas que apoiaram o impeachment. 

Em sua primeira entrevista coletiva, Franco procurou endereçar os problemas com os líderes vizinhos que não reconheceram seu governo como legítimo. Ele pediu que os governantes "entendem" a situação criada em seu país e aceitem que fará "o maior dos esforços para que isto se normalize".


A situação do Paraguai será discutida na reunião da Cúpula do Mercosul, a se realizar nesta próxima terça-feira (26/06), e na Unasul (União das Nações Sul-Americanas), que está analisando o caso desde quinta-feira (21/06). Em nota nesta sexta-feira (22/06) à tarde, a Unasul afirmou que o impeachment do presidente paraguaio Fernando Lugo é uma “ameaça à ruptura da ordem democrática, ao não respeitar o devido processo”.

O processo de impeachment contra Lugo deverá ser avaliado por ambas as organizações por meio da clausula democrática que estabelece o dever de manter a ordem democrática nos países membros. 

O presidente do Equador, Rafael Correa, qualificou o impeachment de "golpe ilegítimo" e disse que não reconhecerá nenhum outro presidente do Paraguai que não seja Lugo. A presidente argentina, Cristina Kirchner, também nomeou o processo de “golpe de Estado”. "É um ataque definitivo às instituições que reedita situações que acreditávamos absolutamente superadas na América do Sul e na região, em geral", afirmou ela. “A Argentina não vai convalidar [o impeachment].”

O líder venezuelano, Hugo Chávez, classificou o impeachment como uma “farsa” e afirmou que não irá reconhecer o governo de Franco. “O governo venezuelano não reconhece esse ilegal e ilegítimo governo que se instalou em Assunção”, disse ele. A presidente do Brasil, Dilma Roussef, inicialmente manteve o tom de seus colegas sul-americanos, mas depois, moderou "não está decidido nem foi inteiramente discutido" o que fazer diante da questão paraguaia. "E não cabe fazer ameaças neste momento, pois não contribui para a busca de uma solução".

Histórico

Franco assumiu a vice-presidência de Lugo para selar a aliança entre seu partido de viés conservador, o Partido Liberal Radical Autêntico, e a coalizão de centro-esquerda (Aliança Patriótica para a Mudança), que apoiava o antigo presidente.

Desde 2008 quando tomou posse, em diversas ocasiões, Franco discordou da política progressista do antigo presidente e entrou em conflito com diversos movimentos sociais de esquerda. O político, vinculado às elites paraguaias, assumiu posição contrária ao governo de Hugo Chavez, barrando a entrada da Venezuela no Mercosul. 


Extraído do sítio Opera Mundi