06 janeiro 2013

FALTA DE ALIMENTOS: UM PROBLEMA REAL OU RESULTADO DE ESPECULAÇÕES? - Arina Jdanova

© Flickr.com/mollydot/cc-by-nc

Há um fato paradoxal: o planeta tem alimentos suficientes, mas um em cada oito habitantes da Terra passa fome. Segundo dados da ONU, a cada habitante do planeta correspondem em média 152 quilos de grãos por ano, ou seja, meio quilo por pessoa por dia. No entanto, as mesmas estatísticas indicam que hoje 870 milhões de pessoas em todo o mundo passam fome.

O mercado dos principais produtos alimentares estabilizou em finais de 2012. Depois dos recordes do verão, o índice dos preços mundiais dos grãos baixou ligeiramente, a carne também ficou mais barata de forma insignificante, enquanto o leite, pelo contrário, continua a subir. No geral, os produtos alimentares apresentam preços de tal forma elevados que podemos já falar de máximos históricos. Para isso existem várias razões, explica o perito da agência de análise independente Investkafe Daria Pichuguina.

“As condições climatéricas influenciaram de forma séria a segurança mundial. Também se sentiu a influência dos preços mundiais da energia, visto que os alimentos, para serem transportados, têm de usar derivados do petróleo e os preços do petróleo continuam a subir. Também temos de referir a concorrência internacional. Sabemos que a agricultura na Europa é subsidiada e é negado o acesso aos produtores de países terceiros.”

Os instrumentos derivados (títulos, obrigações, futuros), que são os instrumentos financeiros complexos associados a uma matéria-prima específica em circulação no mercado, influenciam em muito os preços dos produtos agrícolas. É assim que o sistema financeiro mundial funciona. Inicialmente, eles estavam diretamente ligados aos processos reais de compra e venda dos produtos alimentares, mas neste momento já se distanciaram da realidade produtiva. Por exemplo, o volume dos futuros de grãos apenas na bolsa de Chicago é dezenas de vezes, senão centenas, superior ao valor dos grãos realmente produzidos. Daí resulta que os mercados ditam preços deturpados, os quais começaram a aumentar justamente com o desenvolvimento do mercado de derivados, enquanto 40 anos antes os preços estavam a baixar, refere Daria Pichuguina.

“Nos anos da crise de 2008-09, houve um brusco salto dos preços dos alimentos que não estava associado a nenhumas condições climatéricas, mas sim ao fato de os instrumentos derivados serem na altura, como agora, muito procurados. Neste momento, existe a consciência desse problema e, no verão, ele foi debatido a nível internacional. No entanto, não se chegou a nenhuma conclusão, visto que é difícil regular esse mercado, que é liberalizado, e ainda não está claro o que poderá ser feito.”

Contudo, o diretor-geral do centro de informação e análise SovEcon,Andrei Sizov, indica igualmente o papel positivo dos especuladores.

“Esse instrumento serve para os produtores e consumidores poderem balizar os seus riscos e os especuladores, aliás, fornecem a liquidez necessária. Tanto para os consumidores como para os produtores é importante não só o nível absoluto dos preços, mas também a atividade econômica previsível, para que eles possam perceber quais serão os preços numa perspetiva semestral. Também não devemos esquecer que os preços elevados são um estímulo ao aumento da produção e um estímulo ao investimento nas empresas que se ocupam dos recursos materiais e técnicos para a agricultura.”

Os políticos europeus tentaram levantar a questão da regulação da atividade bolsista no mercado das matérias-primas, mas até agora ainda não foram apresentadas quaisquer propostas coerentes. Entretanto, o problema da regulação dos preços não é só um problema social e econômico, mas também político. A crise alimentar dos anos 2007-2008 provocou, como se sabe, distúrbios em muitos países em desenvolvimento e resultou no derrube dos governos do Haiti e do Madagáscar. A crise de 2010 contribuiu para uma alteração radical da situação política no Norte de África e no Oriente Médio. Neste ano, no entanto, os especialistas estão preocupados, além dos preços elevados, ainda com o fator climático. O mundo tem atualmente graves problemas de oferta e procura que surgiram nas últimas décadas devido às condições meteorológicas, à seca numas regiões e às cheias – noutras.

Extraído do sítio Voz da Rússia

Nenhum comentário:

Postar um comentário