31 maio 2012

NÃO DESCARTÁVEIS - Gisele Brito

Fim de lixões garante melhoria ambiental, mas tira trabalho de catadores. Experiência positiva em Gramacho é exceção.

O maior lixão do País e da América Latina tem data marcada para encerrar suas atividades: 5 de junho. Situado em Duque de Caxias (RJ), às margens da Baía de Guanabara, o lixão de Gramacho recebia resíduos de toda a região metropolitana fluminense. Ele ganhou fama internacional devido ao documentário "Lixo Extraordinário". Após anos de negociação, os 1.063 catadores que retiravam da montanha gelatinosa de lixo acumulado ao longo de mais de 3 décadas seu sustento conseguiram garantir ressarcimento pela perda do posto de trabalho. A prefetura do Rio, em parceira com a União, irá pagar cerca de R$ 14 mil reais a cada um deles, além de garantir um fundo para a melhoria do bairro que o circunda.

"A gente tenta passar a experiência que tivemos aqui. Queremos que isso vire uma política pública. Vai fechar? Tem que ter investimento no catador, dar capacitação, dar opção", explica Alexandre Freitas Mariano, vice-presidente da Cooperativa de Catadores do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho.

Mas a história de sucesso da luta dos catadores de Gramacho ainda é uma exceção. Em fevereiro, o lixão de Itaoca, em São Gonçalo (RJ), encerrou suas atividades empurrando centenas de catadores para situação ainda mais precária do que a anterior. A empresa que passou a explorar o biogás proveniente da decomposição do lixo no solo paga R$ 200 para as famílias, mas o valor é considerado insuficiente pelos catadores do lixão.

Ao todo, existem 2.906 lixões no Brasil, espalhados por 2.810 munícipios, o equivalente a 50,5% das cidades brasileiras, segundo estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em muitos deles há catadores ameaçados de perder sua única fonte de renda. Até 2014, todos os lixões – áreas com dejetos a céu aberto – terão de ser fechados para atender as exigências da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), aprovada em 2010. Os resíduos terão de ser reciclados ou levados para aterros sanitários – onde o lixo é enterrado, e o chorume e os gases são controlados. Mas os catadores exigem que a PNRS seja cumprida integralmente, especialmente seus artigos que tratam da inclusão dos catadores de material reciclável.

"Todo o processo para o fechamento dos lixões tem que ser dialogado. Não pode ser uma coisa do tipo ‘bala, polícia, cerca’. É preciso levar sustentabilidade e dignidade do ponto de vista do trabalho e da moradia. É preciso impedir a exclusão dentro da exclusão com políticas públicas. A PNRS garante isso", diz Elisabeth Grimberg, uma das coordenadoras do Instituto Pólis.

Extraído do sítio Folha Universal

Ler também:
Jornal de Floripa: Lixão no Rio será fechado sem avaliação da contaminação ambiental


FOTOS DO LIXÃO DE GRAMACHO. 
Fotos realizadas durante ensaio fotográfico. 
Fotos de Kadu Niemeyer

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