04 julho 2012

OS INTERESSES CONVERGENTES QUE DERRUBARAM LUGO - Idilio Méndes Grimaldi*

Três interesses convergiram para a derrota de Lugo: os interesses das transnacionais do agronegócio e do setor financeiro; da oligarquia dona de terras, aliada ao capital transnacional e dos partidos políticos de direita. Todos apadrinhados pelos Estados Unidos da América. Por Idilio Méndez Grimaldi*, no La Jornada.


Os objetivos estratégicos são: reinstalação de uma “democradura” exclusivamente regida pela direita, com apoios dos Estados Unidos e de alguns países europeus como nos tempos da guerra fria; enfraquecimento e criminalização da esquerda e dos movimentos sociais; avanço da produção meramente extrativista agroexportadora, com o adiamento indefinido da industrialização do país; consolidação violenta do processo de saída dos campesinos do campo.

No campo geoestratégico, o Paraguai se converte aceleradamente em um problema cada vez mais grave para o Brasil e as possibilidades da União das Nações Sul Americanas, Unasul, e tende a se consolidar como uma base importante de operações dos Estados Unidos no processo de disputa pelo controle da América do Sul.

Latifundiários e o golpe

A União de Grêmio de Produção, UGP, que integra os produtores mecanizados do país, mas que na prática vale de refúgio para donos de terra, especuladores e pessoas que vivem de renda da terra, articulou toda essa trama contra Lugo. Quando a transnacional Monsanto teve inconvenientes para impor sua semente transgênica de algodão e de milho pelo não cumprimento das normas legais, começou a crescer a pressão da UGP. A Monsanto faturou – sem pagar impostos – em royaltues 30 milhões de dólares, somente em 2011, por sua soja transgênica, sem contar o faturamento pela venda de sementes. Uma parte desse montante se distribui anualmente entre os tecnocratas da UGP.

Este grêmio pressionou primeiro pela destituição de Miguel Lovera, um técnico que dirigia a instituição de controle e uso de sementes e agroquímicos no país. Depois, ameaçou com um protesto nacional, denominado “tratoraço”, que consistia no bloqueio de estradas com máquinas agrícolas e por último pressionou pelo julgamento político de Lugo.

A UGP é dirigida por Héctor Cristaldo, um empresário estreitamente ligado ao grupo empresarial dos Zuccolillo. Este grupo é sócil de Cargill, outra transnacional do agronegócio. O grupo Zuccolillo também é dono do diário ABC Color, dirigido pelo proprietário Aldo Zuccolillo. A linha editorial deste jornal está carregada de incitações e provocações às Forças Armadas e aos partidos políticos para derrubar Lugo desde o começo de seu governo.

A mídia e o golpe

Em janeiro deste ano, Aldo Zuccolillo se reuniu com o político do Partido Colorado, o também agroempresário Horacio Cartes. O senador colorado Juan Carlos Galaverna manifestou que Cartes saiu “deslumbrado” da entrevista com Zuccolillo. Segundo dados do WikiLeaks, publicado pelo próprio Zuccolillo, no ano passado, Cartes foi incluído pela DEA – agência antidrogas dos Estados Unidos, no narcotráfico e lavagem de dinheiro. O Departamento de Estado o “limpou”.

Chamativamente, no último período do governo de Lugo, Cartes foi o principal propulsor dentro de seu partido para o julgamento político a Lugo, apoiado pelo diário ABC de Zuccolillo. Finalmente, Cartes arrastou seu partido – que havia sido derrotado por Lugo em 2008 após 60 anos no poder – para promover a destituição do presidente. Isso ocorreu após os sangrentos acontecimentos de Curuguaty de 15 de junho passado, onde morreram seis policiais e 11 campesinos, em uma reapropriação de um latifúndio, propriedade do ex-presidente do partido Colorado, Blas Riquelme. Estas mortes serviram como principal desculpa para acelerar o processo de queda de Lugo.

Em uma volta de 180 graus, o Partido Liberal Radical Autêntico, PLRA, abandonou o co-governo com Lugo e da mão do seu presidente, Blas Llano, também se juntou ao julgamento político impulsionado pelo Partido Colorado, o diário ABC Color e a UGP.

Cartes e o golpe

Hoje , ao PLRA no poder após 70 anos, com Federico Franco como presidente do Paraguai, lhe resta um pouco mais que 13 meses para governar e terá que fazer o trabalho sujo de reprimir seus ex-aliados no governo: a esquerda, os movimentos sociais, que iniciarão uma sistemática resistência ao governo liberal, destruindo qualquer possibilidade de ganhar as eleições do outro ano. Horacio Cartes, pré-candidato pelo partido Colorado, sorri e vai melhorar suas chances com o apoio do ABC Color, da embaixada norte-americana e da UGP.

Finalmente nestes dias, Lugo e seus assessores deverão reconhecer que cometeram um grave erro: pensaram que podiam co-governar com o imperialismo, com a oligarquia feudal e com os partidos de direita, tributários dos poderes de fato e traidores da pátria. Como disse [o sociólogo argentino] Atilio Borón, é um erro pensar que um governo timidamente progressista, como foi o de Lugo, poderia prosperar conciliando com os interesses oligárquicos e imperialistas, sem se articular aos movimentos sociais e aos partidos de esquerda.

* Idilio Méndez Grimaldi é jornalista e pesquisador. Autor do livro os Herdeiros de Strossner. Membro da Sociedade Política do Paraguai, SEPPY.
** Tradução: Vanessa Silva.

Extraído do sítio Portal Vermelho

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