20 maio 2012

WIKILEAKS DESNUDA A ESPIONAGEM PRIVADA DOS ESTADOS UNIDOS



Wikileaks voltou ao ataque com as revelações na Internet e agora com uma massa de documentos que põem a descoberto as atividades do instituto estadunidense Stratfor, considerado uma agência de serviço secreto na sombra.

O site alternativo começou a publicar nesta semana cinco milhões de mensagens eletrônicas desse centro especializado em análise de estratégias geopolíticas, datados entre julho de 2004 e fins de dezembro passado.

Sob o título "Os arquivos da inteligência global", o Wikileaks deixa ver o funcionamento interno da firma privada e ilustra como construiu e paga uma rede internacional de informantes através de contas em bancos suíços e cartões de crédito.

Muitos de seus provedores são agentes encobertos, trabalham como empregados públicos, pessoal de embaixadas e jornalistas, e recorrem ao suborno e lavagem de dinheiro em busca de evidências confidenciais.

"Os e-mails também demonstram o tráfico de influências nas empresas de inteligência privadas dos Estados Unidos", precisou o portal, enquanto assegurou possuir provas sobre os nexos entre Stratfor com escritórios do governo norte-americano e multinacionais. Nesse ponto, qualificou ao instituto "como um editor de inteligência" que oferece serviços exclusivos a grandes corporações como Dow Química Co. de Bhopal, Lockheed Martin, Northrop Grumman e Raytheon.

Também citou ao Departamento estadunidense de Segurança Nacional, o corpo de Marines e a Agência de Inteligência de Defesa entre os principais assinantes da Stratfor.

Outras das questões internas da companhia que ficarão a nu são seus métodos psicológicos, exemplificado com uma mensagem do diretor executivo do centro, George Friedman, à analista Reva Bhalla na data de 6 de dezembro de 2011.

"Você deve ter o controle dele. Isso implica o controle financeiro, sexual ou psicológico... Assim é como pretendo iniciar nossa conversa em sua fase seguinte ", indica o correio sobre como explorar dados de um informante israelense em relação ao estado de saúde do presidente venezuelano, Hugo Chávez.

O novo material detalha, ademais, as tentativas de Stratfor para desestabilizar o Wikileaks e os ataques de Washington contra seu fundador, Julian Assange, sob detenção domiciliária em Londres desde 2010 por acusações de violação sexual.

Segundo o meio digital, mais de quatro mil e-mails mencionam o jornalista australiano, quem denunciou várias vezes a profundidade política de seu caso pela difusão de 250 mil cabos secretos trocados entre os Estados Unidos e suas embaixadas sobre a preparação de operações de espionagem e atentados terroristas.

STRATFOR, UMA CIA NAS SOMBRAS 

A Stratfor foi fundada em 1996 no Texas por Friedman, cuja trajetória inclui serviços como assessor em temas de segurança de altos oficiais das Forças Armadas, do Colégio de Guerra do Exército estadunidense e da Universidade de Defesa Nacional.

Em ocasiões tem sido chamada como uma "CIA -Agência Central de Inteligência - nas sombras" pelo tipo de investigação e análise que realiza, seus métodos para obter a informação e a quem a proporcionam.

"Como se trata de uma empresa privada, tem um alcance que outros não possuem. Não têm que justificar de onde vem o dinheiro nem quem os comissiona nem para quê", disse a BBC Mundo Richard Weitz, analista de Hudson Institute.

Segundo o especialista, a firma pode receber dinheiro de uma petroleira para empreender um estudo ou, como em Bhopal, Índia, monitorar os movimentos sociais depois do desastre tóxico da fábrica da Dow Chemical/Union Carbide em 1984, com saldo de ao menos meio milhão de afetados.

Também aludiu às atividades de espionagem contra um governo estrangeiro a pedido de algum cliente do Estado.

"Se a CIA precisa informação mas não pode ficar envolvida pela delicadeza da situação - como espiar Israel ou os países da OTAN -, utiliza-se o pessoal da Stratfor para que o façam diretamente", assegurou o especialista em temas de segurança.

Nesse sentido, Weitz falou das amplas redes de informantes que fornecem dados e documentos, muitas vezes roubados de grupos ou governos sob investigação em troca de dinheiro.

Friedman, por sua vez, confirmou que os e-mails publicados pelo Wikileaks pertencem a sua empresa mas advertiu que alguns podem estar "falsificados ou alterados", numa tentativa em minimizar o impacto do escândalo à escala internacional. "Stratfor trabalhou para construir boas fontes em muitos países. Estamos orgulhosos das relações que construímos, que ajudam os analistas a entender melhor os problemas em vários países por meio dos olhos da gente que vive ali", disse.

E ainda, desvinculou o instituto do governo estadunidense e pediu desculpas a seus clientes pelas conseqüências ocasionadas depois das revelações de sua correspondência privada.

O Wikileaks associou-se com mais de 25 ativistas e meios jornalísticos do mundo, entre eles o jornal argentino Página 12, o mexicano La Jornada, o costarriquense La Nación e o italiano La Repubblica para examinar e divulgar os correios nas próximas semanas.

"Os leitores descobrirão o interno da Stratfor, cujo sistema de mensagens classifica as correspondências em categorias como alfa, tática e seguro e nomes em código para as pessoas de especial interesse como os Izzies (membros de Hezbollah), ou Adogg (Mahmoud Ahmadinejad), adiantou o site alternativo.

Hackers do movimento Anonymous precisaram que obtiveram os e-mails no final do ano passado e os entregaram ao Wikileaks para torná-los públicos.


Extraído do sítio Agência Prensa Latina

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