Um grupo de pesquisadores ambientalistas embarca nesta quarta-feira, 2 de maio, em uma expedição rumo a um depósito de lixo quase cem vezes maior do que a Holanda que flutua no meio do Oceano Pacífico.
Poucos se fala sobre o “sétimo continente”. Trata-se de uma ilha de lixo 97 vezes mais extensa do que a Holanda, que possui cerca de 30 metros de espessura e localiza-se entre o litoral da Califórnia e do Havaí. Pesa cerca de 3,5 milhões de toneladas e se parece muito mais com uma enorme sopa de resíduos porque não é possível caminhar nela.
O oceanógrafo estadunidense Charles Moore a descobriu por acaso em 1999, porque não está perto de nenhuma rota marítima comercial ou turística. Os satélites não podem detectá-la: só pode ser vista a partir das pontes de comando dos barcos. Trata-se de uma das maiores ameaças ecológicas atuais.
Como o depósito está em águas internacionais, ninguém se importa com ele. Para conscientizar a comunidade internacional, nessa quarta-feira, 2 de maio, uma equipe de ambientalistas franceses partirá em uma expedição a partir de San Diego à ilha do lixo.
“Cerca de 80% dos resíduos provêm da terra firme, da população que habita os litorais. Chegam ao mar transportados pelos rios e pelo vento. Trata-se de todo tipo de resíduos que jogamos nos rios ou que provêm do lixo. Desde embalagens de detergente até o casco de um barco naufragado por um tsunami”, explica Alain Dupont. Mergulhador e especialista em travessia marítima, Dupont faz parte da primeira expedição europeia ao “sétimo continente”.
Dupont e seus quatro companheiros (mergulhadores, navegadores experientes e cientistas) têm vários objetivos para essa expedição de um mês. O primeiro: especificar quanto espaço ocupa a placa de lixo e que risco implica. “Os satélites atualmente detectam vários parâmetros como a temperatura da água, a altitude, a salinidade, a pressão ou a cor, por fotometria. No entanto, o plástico se desintegra em partículas de menos de um milímetro de tamanho, que entram em contato com os peixes e plâncton”, aponta Dupont.
O plástico não é biodegradável e geralmente pode levar mais de 100 anos para se decompor. O Greenpeace afirma que a proporção do plástico na área do continente lixo já é seis vezes maior do que a de plâncton. Os animais confundem as partículas de plástico com sua comida, não podem digeri-las e muitos acabam morrendo. Outros acumulam toxinas, prejudicando toda a cadeia alimentar.
Qual é a solução?
Repescar os resíduos é praticamente impossível porque custaria dezenas de milhares de euros. Nenhum governo se preocupa porque as placas estão em águas internacionais e legalmente eles não estão obrigados a isso.
De fato, este não é o único continente de lixo que existe. Há uma placa similar no Oceano Atlântico. Mas as campanhas contra jogar resíduos nas águas se concentram no máximo ao litoral e não ao alto mar.
Dupont insiste que este problema é tão grave como o da mudança climática e acredita ser crucial sensibilizar as novas gerações. “Nosso desafio principal nessa missão será redigir comunicados e informações diariamente, em tempo real, e enviar mensagens e imagens que o público possa seguir em nossa página na internet (em francês) e também via Facebook.”
A expedição foi financiada principalmente pela região da Guiana Francesa e pelo Centro Nacional de Estudos Espaciais, mas os ambientalistas continuam precisando de patrocinadores. O plano é colaborar com escolas e instituições que se unam ao projeto. Eles também pretendem trabalhar lado a lado com pesquisadores suíços e estadunidenses que investigam o fenômeno dos continentes de lixo.
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"Os plásticos que flutuam no oceano ficarão ali para sempre. Está praticamente confirmado que não há como tirá-los de lá. O que é preciso fazer é parar de jogar resíduos no mar para evitar que o fenômeno se amplie", explica Dupont. O problema cresce de forma exponencial. Os cientistas calculam que em 20 anos o sétimo continente será do mesmo tamanho da Europa.
Extraído do sítio RNW
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