A energia nuclear foi um dos pontos principais de debate e do programa dos candidatos à eleição presidencial francesa. No país que mais depende desta forma de energia, a ampla variedade de posições sobre este tema produziu um debate intenso quer entre esquerda e direita, mas também entre os próprios candidatos de esquerda.
Foto: Philippe Leroyer/Flickr
O programa de Nicolas Sarkozy é claro na afirmação do nuclear como uma opção estratégica fundamental para contornar a dependência das energias fósseis. A posição de Marine Le Pen, embora muito vaga, defende a continuidade do nuclear para garantir a independência nacional da França no setor energético, embora tenha admitido que a energia nuclear é perigosa e que a longo prazo deva ser equacionada a sua substituição.
Eva Joly, dos Verdes, apresentou o único programa abertamente pela extinção da produção de energia nuclear. Aliás, foi sob a pressão de um acordo assinado entre Verdes e o Partido Socialista Francês que o programa de François Hollande passou a integrar medidas concretas para a redução da energia nuclear a curto e a médio prazo. Em particular, o encerramento da central de Fessenheim nos próximos cinco anos. A central de Fessenheim, localizada na Alsácia perto de uma falha sísmica, é a mais velha central francesa, em atividade há 35 anos, e também a que comporta maiores riscos de ocorrência de um acidente grave. Outra medida importante é a redução a 50% da energia nuclear na produção de energia elétrica até 2025. O valor atual é de 75%, sendo o mais elevado do mundo. No entanto, Hollande defende a continuidade do programa de construção do novo reator EPR (European Pressurised Reactor/Evolutionary Power Reactor).
Jean-Luc Mélenchon defende uma saída progressiva do nuclear e propôs a realização de um referendo sobre a questão. Entre os seus apoiantes diretos, o Partido Comunista Francês defende a continuidade do programa nuclear, enquanto o Partido de Esquerda é contra.
Entre declarações confusas e pouco claras sobre o assunto, o candidato Philippe Poutou do NPA admitiu a falta de unanimidade dentro do seu partido sobre a questão da energia nuclear, embora o seu programa proponha a saída da energia nuclear dentro de 10 anos.
A candidata da Lutte Ouvrière, Nathalie Arthaud mostrou-se favorável à energia nuclear no quadro de uma gestão pública.
No caso de vitória de Sarkozy, não se espera nenhuma alteração ao programa nuclear francês nos próximos cinco anos. No caso de vitória de Hollande, pelo menos existe a esperança de uma inflexão das prioridades energéticas do país e do encerramento da central de Fessenheim, no entanto nada de radicalmente diferente ocorrerá certamente no panorama energético francês.
* Rui Curado Silva - Investigador no Departamento de Física da Universidade de Coimbra.
Extraído do sítio Esquerda.net
Extraído do sítio Esquerda.net
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