E a Rio + 20 parece que é mesmo igual a zero. Ou seja, nada de novo no front, muito pelo contrário. O planeta, que segundo os cientistas atingiu o seu limite em matéria de degradação do meio ambiente, vai sofrer ainda mais as consequências do consumo desenfreado e para os mais pessimistas poderá nem resistir a um Rio + 40.
<A Cúpula dos Povos, que a Rede Globo tenta folclorizar, de alguma forma representa um avanço em termos de mobilização dos movimentos sociais. Este é o maior fato que a mídia de mercado tenta de todas as formas jogar para debaixo do tapete.
A propósito, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) cometeu uma violência sem tamanho. De forma ilegal requisitou a Polícia Militar do Estado do Rio para fechar a rádio comunitária da Cúpula dos Povos. Pela lei, uma rádio comunitária não pode ser fechada pela PM. Neste caso é acionada a Polícia Federal.
A justificativa é a de sempre, ou seja, que a onda da rádio interferia na faixa dos aviões comerciais. Mentira. Neste caso, a rádio Globo, muito mais potente e próxima também do aeroporto Santos Domont, deveria ser fechada.
A Anatel na verdade fez o jogo das rádios comerciais que utilizam o argumento contra as rádios comunitárias de que interferem nas faixas de comunicação dos aviões. E além do mais, a violência não foi divulgada pela mídia de mercado, que sempre defendeu o fechamento das rádios comunitárias.
Quanto à cobertura, com raras e honrosas exceções, incluindo-se a TV Brasil e, para os assinantes de TV a cabo, a NBR, o canal do governo federal, o telespectador não está sendo contemplado como deveria. E se ficar sintonizado nas TVs comerciais terá uma visão apenas da economia verde, a nova coqueluche do capital.
A propósito, algumas horas antes do início oficial da Rio + 20 aconteceu a inauguração no Forte Copacabana de um espaço patrocinado pela Federação da Indústrias do Rio de Janeiro, Firjan, em associação com a Rede Globo, empresários de São Paulo e outros poluidores da natureza do gênero, que ganhou o nome de Humanidade.
Quem acompanhou os discursos dos colunáveis presentes à inauguração, entre eles o Prefeito Eduardo Paes, Eliezer Batista etc, e conhecendo o passado deles, ficou abismado com tanta hipocrisia.
Para se ter uma ideia, um dos homenageados foi Eliezer Batista, pai do hoje homem mais rico do Brasil, Eike Batista, riqueza, por sinal, em grande parte devida a valiosas contribuições (informações) do referido ex-Ministro de vários governos, antes e depois de 1964, por isso mesmo detentor de informações estratégicas sobre as riquezas do Brasil.
Seria cômico se não fosse trágico, os maiores responsáveis pelo consumo desenfreado causador de violações do meio ambiente discursando para a plateia como se fossem tremendos defensores da ecologia. É o tipo do esquema me engana que eu gosto...
Além da coqueluche da economia verde, o termo sustentabilidade passou a ser uma espécie de passe livre até dos poluidores do meio ambiente para ingressar no paraíso. Muitos aplicadores do termo se forem mesmo esmiuçados não terão de forma alguma sustentabilidade.
Talvez no embalo do pai Eliezer, Eike Batista bateu o recorde destes dias em matéria de cinismo. Acreditem se quiser, o bilionário embarcando na onda verde saiu-se com a seguinte frase: "o compromisso ambiental está no DNA da EBX” (a empresa de propriedade deste senhor).
Cínico e mentiroso. Vale sempre recordar que a sua consagrada EBX, além de expulsar moradores que ocupavam há anos um local em São João da Barra, no norte fluminense, sem pagar indenização, provoca tremendos danos ao meio ambiente em seu projeto de construção de um porto e de um complexo siderúrgico.
E toda a empreitada por lá, com a ajuda do amigo Governador Sérgio Cabral, que utilizou aviões particulares do empresário bilionário para ir à Bahia. Lembram? Aqui cabe uma pergunta: o que fez o Secretário do Meio Ambiente, Carlos Minc, para evitar tudo isso?
No Riocentro, representantes oficiais de vários países passaram dias debatendo e tentando fechar um documento que provavelmente acabará saindo bastante resumido para evitar mais polêmicas.
Mas O Globo, com um caderno especial sob o patrocínio, entre outros, da Coca Cola, Siemens, Klabin, segue enaltecendo a chamada "economia verde", que se resume a uma estratégia do capital para manter os lucros e continuar tudo como está com algumas pinceladas.
Neste dias de intensos debates sobre o meio ambiente, vale a pena dar uma recuada no tempo e relembrar um importante discurso na Rio 92 feito por Fidel Castro:
"Caso se queira salvar a humanidade da autodestruição, há que se distribuir melhor as riquezas e tecnologias disponíveis no planeta. Menos luxo e menos desperdício em uns poucos países para que haja menos pobreza e menos fome em grande parte da Terra. Não mais transferências ao Terceiro Mundo de estilos de vida e hábitos de consumo que arruinam o meio ambiente. Faça-se mais racional a vida humana. Aplíque-se uma ordem econômica internacional justa. Utilíze-se toda a ciência necessária para um desenvolvimento sustentável sem contaminação. Pague-se a dívida ecológica e não a dívida externa. Desapareça a fome e não o homem”.
Hoje, Jean Ziegler, ex-deputado socialista suiço, atualmente consultor das Nações Unidas, atualiza os números que confirmam a situação descrita 20 anos atrás:
“A cada cinco segundos, uma criança de menos de dez anos morre de fome. Cinquenta e sete mil pessoas morrem de fome diariamente. Um bilhão de pessoas são gravemente afetadas ou sofrem sequelas graves devido à desnutrição. A agricultura poderia alimentar com 2.200 calorías diarias 12 bilhões de pessoas, e somos somente 7 bilhões. Não existe uma fatalidade objetiva na fome. Uma criança que morre de fome é uma criança assassinada. O problema não é a produção mas o acesso, os preços. A fome é pura violência estrutural, uma ordem canibal do mundo”.
Em suma: passaram-se 20 anos e nada. Ou melhor, com a diferença do surgimento de uma falsa saida, a economia verde para se resolver os problemas do mundo, mas sempre evitando tocar no principal, ou seja, as verdadeiras causas responsáveis pela enfermidade do planeta: o consumo sem limites que favorece os países industrializados que não querem gastar dinheiro para salvar o Planeta.
Extraído do sítio Direto da Redação
Extraído do sítio Direto da Redação
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