Chamado de "bispo dos pobres", Fernando Lugo entrou para a história do Paraguai ao enfrentar a cúpula católica para se candidatar e se tornar o primeiro presidente de esquerda do país.
Lugo também fez história ao quebrar a hegemonia de seis décadas do Partido Colorado à frente do poder no Paraguai (incluindo os 35 anos do regime autoritário de Alfredo Stroessner, entre 1954 e 1989).
Na Presidência, perdeu sua base de apoio, enfrentou oposição ferrenha e virou personagem do folclore político, quando vieram à tona os “filhos” do “presidente bispo”.
O conflito agrário que resultou em 18 mortes (entre camponeses e policiais) selou o destino de Lugo, cassado em um processo relâmpago de impeachment.
Em pouco mais de 24 horas, Lugo foi apeado do poder, no que foi chamado de “golpe parlamentar” por analistas e lideranças políticas do Paraguai e da região.
Eleito em abril de 2008, o paraguaio foi um presidente solitário. Governou sem apoio do Congresso e sob a mira de setores empresariais que questionavam sua capacidade de conter demandas reprimidas, como a dos agricultores dos sem-terra.
Sina
Lugo acabou repetindo a sina de outros presidentes paraguaios, que não conseguiram completar seus mandatos ao longo da turbulenta história do país.
Com pouco mais de seis milhões de habitantes, o Paraguai registrou, em sua história recente, vários hiatos de democracia e de estabilidade institucional.
Um deles levou o ex-presidente Raúl Cubas, destituído em 1999, a pedir asilo político no Brasil, onde Stroessner também viveu asilado.
Lugo, um novato na política tradicional, deixou o Palácio de López a apenas oito meses das eleições presidenciais, após perder o apoio decisivo dos liberais, do PLRA (Partido Liberal Radical Autentico), legenda do seu ex-vice e inimigo político, Federico Franco, agora seu sucessor.
Novato
Lugo chegou à Presidência usando seu carisma como religioso. Sua única experiência política até ser lançado pré-candidato em 2006 tinha sido a militância junto a movimentos sociais em sua diocese de San Pedro, uma das regiões mais pobres do país.
Segundo observadores paraguaios, Lugo “pecou” ao não fazer alianças políticas para tentar “sobreviver” à forte oposição dos congressistas.
Apesar de ter sido derrotado nas urnas, o Partido Colorado tinha a maior parte dos votos no Congresso e a simpatia da maioria dos 300 mil funcionários públicos filiados à legenda.
Quando Lugo foi eleito pela Aliança Patriótica para a Mudança, que incluía partidos da esquerda à direita, um diplomata brasileiro alertou a BBC Brasil sobre os problemas que viriam pela frente.
“Ele terá que ter muita cintura política para governar com este amplo perfil político e sem base própria no Congresso. Vai ser difícil agradar a todos e especialmente no Paraguai”, disse, na ocasião.
Filhos e câncer
Lugo sobreviveu ao cargo mesmo quando surgiram informações, em 2009, de seu primeiro filho, fruto dos tempos em que era bispo.
A notícia provocou comoção entre os paraguaios e virou motivo de deboche e até hit musical. O grupo de cumbia Los Angeles ganhou fama ao cantar que ‘Lugo tem coração, mas não usou condón (camisinha)”.
O então presidente e ex-bispo foi acusado por quatro mulheres de ser pai de seus filhos, mas reconheceu reconheceu a paternidade de apenas duas das quatro crianças.
Na Presidência, Lugo também enfrentou um câncer que o levou várias vezes à São Paulo, onde realizou o tratamento.
Publicamente, Lugo aparecia sozinho e era visto por seus colegas presidentes como um político “tímido e afável”, que mantinha hábitos da cultura paraguaia, como falar em guarani e tomar ‘tereré’ (chimarrão).
Lugo deixa a Presidência de um país que registrou forte crescimento econômico nos últimos (apesar da desaceleração recente), favorecido pelo boom da soja, mas com problemas sociais.
A expectativa é que ele volte para a casa onde morava, no município de Lambaré, na grande Assunção.
Na parede, quando ainda era candidato, Lugo mantinha um quadro com a frase de Paulo Coelho: “O mundo está nas mãos daqueles que têm a coragem de sonhar e de viver seus sonhos”.
Extraído do sítio BBC Brasil
Extraído do sítio BBC Brasil
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