Enquanto velha imprensa se perde em picuinhas, Lula e Dilma veem o país com outros olhos (José Cruz/ABr) |
A presidenta Dilma almoçou com o ex-presidente Lula em Brasília no Palácio da Alvorada na quarta-feira (25). Esticaram a prosa por mais de quatro horas. No encontro estavam os ministros Aloizio Mercadante (Educação), Guido Mantega (Fazenda) e Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência), além do ex-ministro da Comunicação Social Franklin Martins.
Com um grupo destes reunido, o que conversaram? Evidentemente sobre política, conjuntura nacional, internacional, economia e eleições, além de amenidades pessoais entre velhos amigos. Mas certamente nenhum deles é fonte que falaria confidências em off para jornalistas da velha imprensa.
Mas sabem como é... jornalista em Brasília, do lado de fora, fica com a "orelha ardendo", imaginando se estariam falando mal de seus amados patrões ou de correligionários políticos de oposição.
Mas mesmo sem ter como saber o que conversaram lá dentro, a gente vê publicada no jornal O Globo uma baboseira destas abaixo, ao gosto do chefe deles, que nem com muito boa vontade a gente consegue acreditar. Aliás a matéria nem foi assinada. O título da nota é " No primeiro dia da CPI, Lula se reúne com Dilma e ministros".
Acompanhe alguns trechos, devidamente comentados:
“Para acertar os ponteiros da Comissão que vai investigar Carlinhos Cachoeira...”
A CPI já tinha feito sua primeira reunião pela manhã e já havia aprovado os requerimentos, enquanto Dilma e Lula só se reuniram à tarde, o que demonstra o quanto a notícia é inventada.
“No primeiro dia de funcionamento da CPI mista do caso Cachoeira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou quatro horas reunido com a presidente Dilma Rousseff ... para defender sua posição favorável à investigação e unificar o discurso do PT e do governo no Congresso.”
Ai, ai, ai... Lula, se tivesse que "defender sua posição" sobre a CPI junto a Dilma, faria isso em um telefonema de dois minutos, jamais precisaria ir a Brasília, se reunir por quatro horas com a presidenta, três ministros e um ex-ministro, depois que a CPI já havia começado a funcionar, pela manhã.
“Nas conversas desta quarta-feira, Lula repetiu sua tese de que a investigação será a oportunidade de atacar os opositores do governo que estão sob suspeita, ainda que isso represente eventuais perdas no próprio PT.”
Como "chutam" esses jornalistas. A CPI é uma oportunidade para levar o país a reformas moralizantes, tais como eliminar o financiamento de campanha por empreiteiras, bicheiros e bancos, e para esclarecer suposta corrupção na imprensa, através de espionagem clandestina, empresarial e partidária.
“Paralelamente à reunião de Lula com Dilma, o presidente do PT, Rui Falcão, teve reuniões com o governador do DF, Agnelo Queiroz (PT), um dos alvos da oposição na CPI Mista, e depois com parlamentares do partido que integram a comissão, também para unificar o discurso. Falcão negou que o PT não esteja apoiando Agnelo, mas nos bastidores já se fez o cálculo: se Agnelo tiver problemas com Cachoeira, não terá como ser preservado.”
Falcão visitou Agnelo, manifestou apoio público, desmentiu boatos plantados de que teria pregado a renúncia do governador na semana passada, e a "fonte nos bastidores" de O Globo deve ser gente da tropa de choque de Joaquim Roriz ou José Roberto Arruda.
“À noite, no Congresso, os líderes petistas foram orientados pelo Palácio do Planalto a ter sobriedade e conter os arroubos na CPI, mantendo o foco já estabelecido. Delimitar, por exemplo, a investigação a contratos da Delta que já estão sob suspeitas.”
De novo: a reunião da CPI foi de manhã, portanto não havia mais o que recomendar de noite, pois já estava feito. E, desde as denúncias contra Demóstenes, a maioria dos líderes petistas tem demonstrado bastante seriedade, evitando tripudiar e evitando tornar a CPI um circo de especulações como quer a oposição. Quanto à investigação sobre a Delta, o governo federal já disponibilizou os contratos na Internet no site do DNIT, portanto sequer faz sentido falar em "delimitar" investigações sobre estes contratos.
“O ministro da Secretaria Geral, Gilberto Carvalho, que esteve no almoço e é considerado um interlocutor de Lula no Planalto, já estaria trabalhando para convencer o ex-presidente a se acalmar e “tirar a faca dos dentes”.
Aqui O Globo se enrola todo na invencionice e cai em contradição: se escreveu no primeiro parágrafo que houve uma reunião de quatro horas "para aparar arestas", e se Carvalho é "interlocutor de Lula no Planalto", como diz acima, como ele poderia estar trabalhando para "acalmar" Lula? Trabalhando a serviço de quem? De Dilma? Mas a Presidenta estava na reunião. Para quê interlocutores? Fica claro que é tudo inventado. Aliás, Lula tem demonstrado bastante calma. Quem tem demonstrado estar à beira de um ataque de nervos são jornalistas de determinados veículos da imprensa.
“Um dos maiores temores do governo e do PT é em relação ao magoado ex-diretor do Dnit, Luiz Antonio Pagot, que pode comprometer o governo, ao escancarar detalhes de contratos do Ministério dos Transportes com a construtora Delta. Foi diante de argumentos como esses que Lula estaria moderando o tom beligerante em relação à CPI.”
Mais um "chute". Pagot já prestou esclarecimentos em duas comissões no Congresso antes de deixar o cargo no DNIT. O órgão já passou por auditorias e foi investigado. Se há mágoa agora é contra seus algozes: a turma da revista Veja com a turma de Cachoeira, que planejaram matérias na revista contra ele e comemoraram sua queda por estar atrapalhando interesses do grupo de Cachoeira em contratos da Delta.
“Outra suposta divergência entre Lula e Dilma foi na escolha do relator da CPI. Enquanto Lula brigou pela indicação do ex-líder Cândido Vaccarezza (PT-SP), considerado incendiário, Dilma queria o líder do PT na Câmara Paulo Teixeira (PT-SP). Com o impasse, a escolha recaiu sobre o mineiro Odair Cunha.”
Outra contradição: a divergência é "suposta", mas o jornalista advinha tudo dentro da suposição. É difícil acreditar que Lula e Dilma tenham entrado em disputas internas da bancada do PT, onde qualquer dos três nomes eram bem qualificados. No máximo, podem ter conversado sobre qual nome seria mais adequado. Daqui a pouco vão dizer que disputas de vereadores de qualquer município do Brasil é uma briga entre Lula de um lado e Dilma do outro. Além disso, qualquer jornalista bem informado sabe que Vaccarezza tem desempenhado nos últimos tempos papeis de articulação e conciliação, o que não tem nada incendiário.
“A conclusão hoje é que a escolha do Odair Cunha para relator da CPI foi a melhor, justamente por causa da sua sobriedade – disse um dos participantes da reunião no Alvorada.”
O único parágrafo da matéria que foi fiel à verdade, apesar de a conclusão não ter sido fruto dos motivos expostos
E tem mais
A matéria do jornal ainda fala do lançamento do documentário sobre a transmissão do cargo presidencial de Lula para Dilma, motivo da viagem de Lula, e termina quebrando a cara ao patrulhar o ex-presidente, quando conclui: "O ex-presidente foi a Brasília em jato fretado pelo Instituto Lula. O aluguel estimado é de cerca de R$ 30 mil."
O Instituto Lula se capitalizou no ano passado com as palestras do ex-presidente para empresas no Brasil e no exterior, portanto teve receitas de sobra para este gasto – que de resto também carece de comprovação. Mas não se vê o jornal ter a mesma preocupação com os vôos de líderes tucanos como José Serra e o senador Aécio Neves.
Extraído do sítio Rede Brasil Atual
Extraído do sítio Rede Brasil Atual
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