10 abril 2013

A ANGÚSTIA DE GERDAU COM AS FINANÇAS DO RS E O SEU FUNDOPEM: QUASE MEIO BI E DEZ EMPREGOS - Marco Aurélio Weissheimer

Crítico contumaz e eloquente do que chama de ineficiência dos governos e do setor público em geral, o empresário Jorge Gerdau Johannpeter não hesita em recorrer a estes mesmos governos para obter isenções fiscais para seus negócios. Não é o único a fazer isso, mas essa aparente contradição ganha mais visibilidade pelos discursos inflamados que Gerdau costuma fazer aos seus pares contra a incompetência e a ineficiência do setor público, sempre devidamente amplificados por seus colegas donos de empresas de comunicação. Não foi diferente desta vez, na intervenção de Gerdau no 26º Fórum da Liberdade.

O empresário gaúcho criticou a falta de eficiência, produtividade e visão estratégica sobre “onde eu quero chegar” por parte do setor público. Gerdau também criticou “o domínio da politicagem sobre a gestão” e se disse angustiado com a situação financeira do Estado do Rio Grande do Sul, criticando o saque de R$ 4,2 bilhões em depósitos judiciais para o caixa único do Estado.

A preocupação e a angústia de Gerdau com a situação financeira do Estado não impede, porém, que ele siga recorrendo ao instrumento da isenção fiscal para tocar seus negócios. Em seus discursos autoelogiosos sobre práticas eficientes de gestão, o empresário gaúcho não costuma citar a ajuda que recebe dos governos ineficientes, politiqueiros e incompetentes, para empregar algumas das palavras que ele costuma usar.

Gerdau não costuma dizer que é um usuário frequente de políticas públicas, como o Fundopem, por exemplo. O Fundo Operação Empresa do Estado do Rio Grande do Sul é um instrumento de parceria entre os setores público e privado, que visa promover o desenvolvimento por meio de incentivos fiscais. Em duas reuniões do Conselho em 2013, já foram aprovados 37 projetos, envolvendo um valor de 1,3 bilhões em incentivos fiscais, com a criação de 2.145 postos de trabalho. Um sistema de georeferenciamento registra os projetos e as cidades já contempladas em 2013, com os investimentos envolvidos e a respectiva previsão de geração de empregos.

Nem sempre os maiores incentivos fiscais representam maior geração de postos de trabalho. Um dos maiores projetos de incentivos fiscais já aprovados para este ano beneficiou a Gerdau Aços Longos S/A, um investimento de quase meio bilhão de reais (R$ 475.519.127,33), com geração prevista de dez empregos.

O uso desse tipo de instrumento não ameniza as críticas do empresário ao setor público. Segundo ele falta governança e eficiência, falta saber “onde eu quero chegar”. Gerdau elencou a escala de valores que embasa sua visão estratégica de gestão: “o empresário tem que cuidar em primeiro lugar da família, em segundo lugar, da empresa e, em terceiro lugar, dos políticos”.

Alguém poderia dizer ao nobre e angustiado empresário que o Estado e os governos não existem para privilegiar a primeira pessoa ou a própria família. Até já foi assim, até que surgiu algo chamado Revolução Francesa. Parece que, para algumas cabeças, não chegou por aqui ainda.

Extraído do sítio Sul21

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