27 fevereiro 2013

PAPA RECONHECE MOMENTOS DIFÍCEIS DURANTE SEU PONTIFICADO


Na Praça de São Pedro, Bento 16 faz última aparição pública frente a milhares de fiéis e afirma que "Deus não deixará afundar" a Igreja, mesmo em "águas agitadas".

O papa Bento 16, de 85 anos, fez sua última aparição pública como líder máximo da Igreja Católica nesta quarta-feira (27/02), na Praça de São Pedro, no Vaticano, diante de uma multidão de fiéis vindos de várias partes do mundo.

Em seu pronunciamento durante a audiência geral, o Papa reconheceu que houve turbulências durante os seus oito anos de pontificado, mas afirmou que "Deus não deixará afundar" a Igreja, mesmo em "águas agitadas".

"Houve momentos difíceis, durante os quais as águas estavam agitadas e o vento era contrário, como em toda a história da Igreja, e em que o Senhor parecia dormir. Mas sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas é a barca de Deus e ele não a deixará afundar", sublinhou.

Mais de cem mil pessoas compareceram à última grande aparição pública de Bento 16, que foi transferida para a Praça de São Pedro devido ao grande afluxo de fiéis. Antes do pronunciamento, o Papa percorreu a praça no Papamóvel. Bento 16 despediu-se com calma dos presentes, abençoando crianças e procurando contato com os peregrinos. Os fiéis balançaram cartazes de agradecimento e bandeiras. Diversos cardeais participaram da cerimônia.

Último aceno

Milhares de pessoas despedem-se do Papa
O Papa agradeceu a todos aqueles que demonstraram respeito e compreensão no último 11 de fevereiro, por ocasião do anúncio de sua renúncia. Ele afirmou ter tomado a decisão "com serenidade" e tendo em vista o bem-estar da Igreja. "Dei este passo com plena consciência da sua gravidade e excepcionalidade, mas também com grande serenidade de alma", afirmou.

Bento 16 deixa o comando da Igreja Católica na noite desta quinta-feira. Ele será então levado de helicóptero para a residência papal de verão do Vaticano, em Castel Gandolfo, nos arredores de Roma. A última ação pública de Bento 16 será um aceno de despedida, por volta de 17h30 desta quinta-feira, aos fiéis da diocese de Albano, a partir da residência em Castel Gandolfo.

Vaticano planeja era pós-Bento 16

Enquanto isso, o Vaticano se prepara para a escolha do próximo pontífice. Na próxima semana, a assembleia de cardeais irá se reunir, em preparação para a eleição do próximo Papa, em março, afirmou o porta-voz Federico Lombardi.

Há especulações de que o próximo líder religioso católico poderá ser um não europeu. "Posso bem imaginar que venha agora um Papa de outro continente. Somos uma Igreja do mundo", afirmou o arcebispo de Freiburg, Robert Zolltisch, presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha.

Extraído do sítio Deutsche Welle

POR QUE A DIREITA BATE BUMBO POR YOANI? - Breno Altman

Visita acabou demonstrando que a solidariedade em relação à Revolução de 1959 permanece viva na América Latina.

O direito de protestar faz parte da democracia. Essa garantia inclui apupos, gritos, gestos, cartazes e até o esculacho. Apenas exclui o exercício da violência direta, monopólio do Estado em seu papel regulador das relações sociais. Não se pode classificar, como modalidades aprioristicamente antidemocráticas, por exemplo, piquetes grevistas, ocupações de terra e bloqueios de estrada. Muito menos o recurso à vaia.

O sistema democrático, afinal, não tem como finalidade tornar a política o reino dos eunucos, mas normatizar o conflito de classes, partidos e grupos a partir de regras válidas para todos e resguardadas pelas instituições pertinentes.

Yoani Sánchez visita o Congresso Nacional brasileiro, em Brasília. A cubana foi recebida pelos principais representantes da oposição

Protegido por esse princípio, o então prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, organizou uma claque para vaiar o presidente Lula na abertura dos Jogos Panamericanos de 2007 e impedi-lo de discursar. A esquerda aceitou o fato como natural e tratou de mobilizar suas forças para, na garganta, neutralizar as cornetas conservadoras.

Na semana passada, quando a blogueira Yoani Sanchez chegou ao Brasil, diversas entidades e agrupamentos progressistas resolveram botar a boca no trombone, por considerarem insultante a visita de uma dissidente incensada e financiada pelos Estados Unidos, no eterno propósito de combater a revolução cubana.

Esses movimentos tomaram várias iniciativas para demonstrar que, a seu juízo, Yoani era persona non grata. As medidas tomadas, em alguns momentos, até passaram do ponto, caindo em provocações e deslizando para o exagero. Os ativistas eventualmente cometeram erros políticos, correndo o risco da antipatia do senso comum. Agiram, contudo, sob amparo da mesma Constituição que avalizou os protestos do Maracanã.

Inúmeros oráculos da direita reagiram com fúria descontrolada. Cerraram fileiras e acusaram os manifestantes de atentarem contra a democracia, sem pudores de expor sua dupla moral. Boa parte dos que supostamente se horrorizaram com as vaias contra a escriba, vale lembrar, vibrou com a armação de Maia e se dedica a estimular qualquer ação de repúdio, verbal ou física, aos petistas acusados no processo do chamado "mensalão".

Essa indignação pretensamente democrática dos setores conservadores exala o odor de sua contumaz hipocrisia. Claro, muitos cidadãos torceram honestamente o nariz, à direita e à esquerda, pois está sedimentado, em nossa cultura política, que o confronto é uma aberração da natureza. Mas a vanguarda reacionária está preocupada com qualquer outra coisa que não os bons modos.

A direita imaginou que o road show de Yoani Sanchez seria a apoteose midiática de uma nova voz contra o governo cubano. Acreditou que teria conforto para revalidar seu ponto de vista sobre o regime fundado em 1959, dando-lhe ares de unanimidade, em um momento no qual as atenções se concentravam na eleição de Raúl Castro para novo mandato presidencial e no aprofundamento das reformas do sistema socialista.

Essa aposta, além de subserviência ideológica aos Estados Unidos, voltava-se também para desgastar um aspecto importante da política internacional brasileira, qual seja, o apoio à economia cubana e à integração plena do país no bloco latino-americano. Não é à toa que os valetes da blogueira foram alguns ases da oposição mais iracunda, aos quais se somou o inefável senador Eduardo Suplicy.

Solidariedade a Cuba

Qual não foi a surpresa dessa gente, porém, quando reparou que não haveria pacto de silêncio e a empreitada estava sendo enfrentada por onde passasse sua heroína. O governo não saiu um milímetro de seu papel institucional, a favor ou contra a blogueira, mas uma fatia da esquerda resolveu dizer publicamente o que pensava, em alto e bom som.

Bastou para os organizadores da visita reduzirem o número de eventos e Yoani cancelar sua ida para a Argentina, arremetendo diretamente para a República Checa. Temia-se que, em Buenos Aires, a recepção fosse ainda mais calorosa e massiva. O próprio Wall Street Journal, santuário do pensamento conservador, registrou que a presença da dissidente havia sido um tiro pela culatra e ressuscitado a solidariedade com a revolução cubana.

A mesma lucidez faltou a seus pares brasileiros. Como é de praxe, a imprensa tradicional recorreu à pena de articulistas que, com passado na esquerda, atualmente cumprem expediente como banda de música da direita. Outrora essa posição foi preenchida pelo talento político e literário de Carlos Lacerda, até de Paulo Francis. Infelizmente seus herdeiros têm poucas luzes e pálidos dotes narrativos, déficit que parecem compensar com um rancor irracional contra seu lado de origem.

E o ódio costuma ser, como se sabe, parteiro de ideias delirantes. Os manifestantes chegaram a ser comparados com os camisas-negras de Mussolini e as tropas de choque nazistas, enquanto Yoani Sanchez foi citada como equivalente cubana do sul-africano Nelson Mandela. São afirmações reveladoras de que não há limites para o reacionarismo quando as ruas ousam desafiar seu modo de ver o mundo.

* Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel. Artigo originalmente publicado no site Brasil 247.

Extraído do sítio Opera Mundi

LULA: "FHC DEVERIA FICAR QUIETO"

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu nesta terça-feira 26 às críticas feitas à presidenta Dilma Rousseff pelo seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso.

Mino Carta e Lula durante o laçamento do livro “O Brasil”. Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

“Acho que o FHC deveria no mínimo ficar quieto,” disse Lula no lançamento do livro O Brasil, do diretor de redação de CartaCapital, Mino Carta. “Eu acho que ele não deveria falar. O que ele deveria era contribuir para a Dilma continuar a governar o país bem. Ou seja, deixa ela trabalhar, ela sabe o que faz,” disse Lula.

Fernando Henrique havia dito que Dilma era “ingrata”, “cospe no prato que comeu” e acusou o PT de “usurpar” o projeto político do PSDB. A frase de FHC era uma resposta ao discurso da presidenta na semana anterior.

No aniversário de dez anos do PT no poder, Dilma afirmara que não havia herdado nada dos tucanos na presidência.

No evento, Lula disse que a princípio não responderia a perguntas. “Hoje é o dia do Mino falar,” repetiu ele diversas vezes. Sua presença no local causou alvoroço de pessoas que queriam tirar foto com ele. Depois, porém, Lula falou sobre política.

Rio de Janeiro

A direção nacional do PMDB decidiu nesta terça que não apoiará a campanha de reeleição de Dilma em 2014 caso o PT não abra mão da candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo fluminense. O PMDB quer o atual vice-governador, Luiz Fernando Pezão, como candidato.

Lula foi irônico ao ser perguntado sobre o assunto. “Como é que eu vou saber se eu não acompanho nem a política do estado de São Paulo? Eu, depois que deixei a presidência da República, deixei de acompanhar política de perto,” disse o ex-presidente.

Extraído do sítio CartaCapital

26 fevereiro 2013

CAOS POLÍTICO EM ITÁLIA AMEAÇA FAZER REVIVER TENSÃO SOBRE O EURO

El Economista, 26 fevereiro 2013

A derrota do primeiro-ministro cessante, Mario Monti, o candidato preferido da UE, nas eleições legislativas e senatoriais italianas, “põe em causa a política de austeridade de Merkel”, escreve o diário económico espanhol.

Monti, que teve apenas 10,1% dos votos para a Câmara de deputados e 9,1% para o Senado, ficou em quarto lugar, muito atrás das coligações de esquerda e de direita lideradas respetivamente por Pierluigi Bersani e Silvio Berlusconi e do Movimento 5 Estrelas de Beppe Grillo.

Este resultado traz nova incerteza às bolsas europeias e a Wall Street, escreve o jornal.

Extraído do sítio Press Europe

MERCENÁRIOS: UM MERCADO DE NICHO BASTANTE LUCRATIVO - Frédéric Burnand

Agentes da Blackwater no Iraque em 1995. (AFP)

Ao reduzir os efetivos e os orçamentos militares, os países europeus terceirizam inúmeras tarefas a empresas militares privadas. Segundo o especialista Alexandre Vautravers, essas companhias, principalmente as americanas, recebem fortunas pelo seu trabalho.

Desde os anos 1990, os exércitos europeus e dos Estados Unidos são apoiados por empresas militares privadas para cumprir tarefas que não são mais capazes de executar, especialmente na Europa.

Diretor do departamento de Relações Internacionais na Universidade Webster de Genebra, redator-chefe da Revista Militar Suíça, Alexandre Vautravers explica as razões.

swissinfo.ch: Como explicar o crescimento das empresas militares privadas? 

A.V.: As empresas militares privadas trabalham essencialmente nos mercados de nicho, seja as atividades que as forças armadas convencionais não querem ou não podem assumir. Militares custeados durante anos não são forçosamente rentáveis, segundo os responsáveis da defesa, que preferem então confiar a essas empresas toda uma série de tarefas de intendência e logística. Durante a guerra do Iraque, contratos extremamente lucrativos na área de lavanderias, higiene e limpeza foram assinados pelo Exército americano.

Essas empresas obtêm igualmente muitos contratos para a proteção de pessoas ou de construções, onde o engajamento de militares profissionais, treinados e fortemente equipados, nem sempre se justifica.

Enfim, elas ocupam as lacunas e a falta de pessoal qualificado. É o caso, por exemplo, dos pilotos de helicóptero. As forças armadas formam pilotos, mas eles não ficam muito tempo nos seus postos já que os salários na iniciativa privada são muito melhores. Então, para cumprir determinadas missões, os exércitos são obrigados a suprir suas carências através dessas empresas, contratando pilotos formados por elas próprias.

swissinfo.ch: Mas é realmente mais barato terceirizar esses serviços através de empresas militares privadas? 

A.V.: Suas tarifas são bastante elevadas. Como ressalta Joseph Stieglitz no seu livro "Three trillions dollars war" ("Guerra de três milhões de euros", 2008), seus custos são de duas a quatro vezes mais elevados do que nos exércitos regulares. Para algumas atividades bastante específicas no Iraque, essa proporção pode ir de um a dez.

Mas é preciso levar em conta que os contratos firmados com as empresas privadas podem ter uma duração bastante limitada, o que é difícil com um exército profissional, como nos Estados Unidos, França ou Alemanha, onde os contratos duram geralmente de três a cinco anos. A isso é necessário acrescentar a pressão política em todos esses países para reduzir os efetivo e, sobretudo, os custos. Nas forças armadas profissionais na Europa, de 60 a 70% do orçamento da defesa são gastos em salários.

swissinfo.ch: Estamos vivendo então uma forma de privatização da guerra? 

A.V.: De certa forma, sim. Porém essa privatização não é necessariamente apreciada por esses exércitos. Ela resulta da redução dos orçamentos de defesa dos países europeus. Um exemplo: desde 2010, o orçamento de defesa do Reino Unido sofre cortes bastante importantes. Assim o reabastecimento em voo está sendo operado, em parte, por uma sociedade militar privada. O mesmo acontece na guerra eletrônica: são empresas privadas que apoiam o exército britânico e lhe permite de conduzir a chamada "cyber-guerra".

Mesmo as operações de salvamento em mar, efetuadas até então pelos helicópteros da Royal Air Force, serão abandonadas por serem caras demais e assumidas por quatro empresas civis.

swissinfo.ch: O que ocorre nos Estados Unidos, o primeiro mercado dessas empresas militares? 

A.V.: O mercado americano é muito diferente. O orçamento para defesa dobrou entre 1997 e 2007 para chegar ao recorde, fazendo com que os EUA respondessem por 52% das despesas militares mundiais antes de primeira eleição de Barack Obama. A administração do presidente Bush fez um uso massivo das empresas privadas nas guerras do Afeganistão e do Iraque para preencher o fosso entre os objetivos fixados e a realidade do terreno.

A administração Obama tentou várias vezes de contrapor a essa tendência, participando notadamente da iniciativa de Montreux ou através do seu código de conduta para as empresas militares privadas. A partir de 2010 houve fortes pressões da administração para reduzir o número de empresas militares privadas, particularmente no Afeganistão. Isso irritou especialmente o governo afegão, que utilizava essas companhias para a proteção do presidente Karzaï, especialmente em época em que estavam reconstruindo o exército e a polícia afegã.

Uma série de atividades continua sendo terceirizada: infraestrutura, logística, guerra eletrônica, espionagem, pilotagem de aviões teleguiados, dentre outros. Os Estados Unidos continuam sendo o principal fornecedor de companhias militares privadas. Muitos antigos militares americanos criam a suas próprias companhias ou procuram trabalha nelas.

E muitas empresas estabelecidas na África e nos países do Golfo são, em sua grande maioria, americanas mais ou menos disfarçadas, interessadas em não ter a sua sede nos Estados Unidos.

Alexandre Vautravers
(rts.ch)
swissinfo.ch: Os países emergentes também utilizam serviços dessas empresas privadas? 

A.V.: A tendência é diferente nesses países pela simples e boa razão que os países emergentes dão uma importância muito grande ao princípio de soberania do Estado, em particular do seu monopólio de força legítima, ao contrário dos países ocidentais.

Com essa concepção mais clássica da defesa e das forças armadas, esses países estão em uma lógica de reforço das forças armadas nacionais, não na de terceirização para empresas militares privadas.

As empresas militares privadas estão assim presentes paradoxalmente nos dois extremos do espectro da defesa: nos países pós-industriais, ricos, mas onde a estrutura da defesa diminui - e nos países em via de desenvolvimento, pobres, e que dependem do apoio exterior. 

Vontade de controle na Suíça

Em janeiro de 2013, o governo suíço colocou em consulta um projeto de lei visando proibir às empresas de segurança estabelecidas na Suíça de participar diretamente em hostilidade no contexto de um conflito armado no exterior.

No fim de 2005, o governo suíço adotou um relatório sobre as empresas militares e empresas militares privadas (EMP). Ele encarregou o ministério das Relações Exteriores (DFAE) de lançar um processo em nível internacional para promover o respeito do direito internacional humanitário e dos direitos humanos pelas empresas militares e de segurança privadas operando em zonas de conflitos.

A publicação do que foi conhecido como "Documento de Montreux" é o primeiro resultado obtido conjuntamente pelo DFAE e o Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICR).

Em nove de novembro de 2010, 58 empresas de segurança privadas se reuniram para assinar um código de conduta internacional na qual elas se engajam em respeitar os direitos humanos e o direito internacional humanitário.

Em janeiro de 2013, 592 dessas empresas privadas haviam assinado o código de conduta. O faturamento da indústria militar privada está avaliado em 100 bilhões de dólares por ano.

Extraído do sítio Swissinfo.ch

LONDRES TAMBÉM PERDE O SEU TRIPLO A

Orlando Cue
Em 22 de fevereiro, o Reino Unido tornou-se a última nação europeia a perder a sua notação AAA, quando a agência de rating Moody’s reduziu a notação de crédito para Aa1. É embaraçoso para o primeiro-ministro, David Cameron, mas não um choque para os mercados, afirma “The Times”, que incentiva o Governo a prosseguir a política de austeridade.

A realidade da descida da notação de crédito do Reino Unido poderá revelar-se menos impressionante do que a expectativa. A retirada da notação AAA ao Reino Unido, nas próximas semanas, era aguardada por todos. A única surpresa foi a Moody’s ter tomado essa decisão antes da apresentação do orçamento, em março. A calma dos investidores quando a França e os Estados Unidos perderam as notações máximas indica que a reação dos mercados pode ser mais um encolher de ombros do que um estremecimento.

Contudo, do ponto de vista político, o facto é bastante importante, em especial porque [o ministro das Finanças] George Osborne disse que manter a notação AAA do Reino Unido seria um parâmetro de referência do sucesso da sua estratégia para a redução do défice. Alguns dos que o criticam, entre os quais o ministro sombra das Finanças, Ed Balls, afirmam que perder a notação prova que a estratégia fracassou e que Osborne deveria tentar uma nova abordagem. No entanto, este jornal acredita que o problema não reside em a estratégia elaborada pela coligação em 2010 ser errada. Reside no facto de o Governo não ter aplicado essa estratégia com a energia e a coragem política suficientes.

Economia com impostos baixos

Osborne estava absolutamente certo ao dizer que a prioridade era um plano credível para reduzir o défice orçamental e que isso deveria ser conseguido sobretudo através de cortes na despesa pública e não através de aumentos de impostos. Isso faria parte de uma passagem, a mais longo prazo, de um Estado com um montante elevado de despesa para uma economia com impostos baixos, com espaço para o florescimento do setor privado, liberto de regulamentação desnecessária. Com a ajuda da desvalorização da libra, verificar-se-ia um reequilíbrio da economia orientado para as exportações e para as regiões, e mais distante da City [centro financeiro de Londres] sobreaquecida e do resto do sudeste.

As razões de os progressos até agora realizados serem tão insatisfatórios escapam, em grande medida, ao controlo do Governo.

O crescimento não recuperou tanto quanto se esperava, em parte porque as exportações foram afetadas pela crise da zona euro. Entretanto, a queda da libra faz aumentar a inflação, o que colocou o consumo sob pressão.

Cortes abruptos

A estagnação do crescimento teve como resultado maiores prestações de desemprego e Osborne permitiu, acertadamente, que estas conduzissem a uma emissão de dívida pública mais elevada do que o previsto, de preferência a impor mais cortes noutros domínios, para compensar.

Mas, sob estes números, a verdade é que a coligação não foi suficientemente longe nem agiu suficientemente depressa na reestruturação do Estado e na reforma dos serviços públicos. Em parte, esse facto reflete a influência dos liberais democratas no seio da coligação. Estes não reconheceram que encontrar novas formas de tributar mais fortemente os ricos é irrelevante para os desafios reais que a economia britânica enfrenta.

É certo que alguns departamentos governamentais estão agora a sofrer cortes abruptos. Mas não tão abruptos como a pouco judiciosa redução do investimento público que Osborne herdou dos trabalhistas. O investimento em infraestruturas, que poderia ser um fator determinante de crescimento económico, foi ainda mais prejudicado pelo fracasso do Governo em enfrentar os obstáculos surgidos em Whitehall e no sistema de planeamento. Também não se registaram progressos suficientes no esforço mais vasto no sentido de reduzir o peso da regulamentação sobre as empresas. Demasiadas decisões difíceis, como a necessidade de identificar um novo aeroporto central no Sudeste, foram evitadas.

Redobrar o empenho governamental

A descida da notação porá pelo menos à disposição de Osborne mais munições contra os pedidos dos trabalhistas no sentido da mitigação dos planos de redução do défice, no orçamento do próximo mês. Osborne poderá continuar a basear-se na política monetária para oferecer estímulos adicionais à procura e o facto de o Comité de Política Monetária do Banco de Inglaterra estar a analisar formas mais imaginativas para pôr em prática a sua estratégia de restritividade quantitativa é encorajador.

Contudo, isto não significa que o ministro das Finanças não deva fazer nada. Deve, pelo contrário, redobrar o empenho governamental em reduzir os encargos das empresas e em levar por diante uma reforma radical do setor público. É esta a única via para a recuperação da notação de crédito do Reino Unido.

* Publicado originalmente no The Times.

Extraído do sítio Press Europe

RAÚL CASTRO É REELEITO EM CUBA E DIZ QUE CUMPRE ÚLTIMO MANDATO


Irmão de Fidel Castro é confirmado no cargo pela Assembleia Nacional, que também aprova o nome do jovem engenheiro Miguel Díaz-Canel para ser o número dois do regime comunista.

A Assembleia Nacional de Cuba confirmou neste domingo (24/02) a reeleição do general Raúl Castro, de 81 anos, para um segundo mandato de cinco anos como presidente do país, como era esperado. Ao mesmo tempo, o general anunciou que este será seu último mandato, com o que fixou a data para o fim da era Castro no comando da ilha comunista.

Além disso, Castro nomeou o engenheiro eletrônico Miguel Díaz-Canel, de 52 anos, para o cargo de primeiro vice-presidente do Conselho de Estado e de Ministros, tornando-o assim o segundo nome do regime, atrás apenas do próprio Castro, e forte candidato à sucessão em 2018. A escolha foi ratificada pela Assembleia.

Castro elogiou a ascensão política do novo número dois do regime, afirmando tratar-se de uma medida de transcendência histórica que assegura a continuidade. "Sentimos serena confiança ao entregar às novas gerações a possibilidade de seguir construindo o socialismo", destacou, referindo-se também a vários outros dirigentes jovens do novo gabinete de governo.

A sessão deste domingo da Assembleia Nacional foi marcada ainda pela presença do líder revolucionário Fidel Castro, de 86 anos, que não aparecia no Parlamento desde agosto de 2010. O ex-presidente é deputado depois de ter sido eleito pelo círculo de Santiago de Cuba nas eleições de 3 de fevereiro último.

Raúl Castro assumiu o poder interinamente em 2006, quando Fidel Castro passou ao irmão as funções do governo devido ao seu estado de saúde. O governo de Raúl Castro centrou-se em impulsionar um plano de reformas para "atualizar" o socialismo cubano e reanimar uma economia em crise desde a queda do bloco soviético.

Extraído do sítio Deutsche Welle

WIKILEAKS: EUA ATUARAM PARA UNIR DIREITA VENEZUELANA EM 2012, MOSTRAM DOCUMENTOS

Telegramas provam realização de reuniões entre empresa de espionagem e líderes da oposição, como Henrique Capriles.

Os Estados Unidos fizeram um esforço de bastidores para unir a oposição venezuelana e tentar tirar Hugo Chávez do poder nas eleições de outubro de 2012, revelam documentos vazados pelo site Wikileaks. O site, criado pelo jornalista e ativista australiano Julian Assange vazou mais de cinco milhões de telegramas da empresa de espionagem norte-americana Stratfor.

A Stratfor alega prover informações para multinacionais com o desejo de investir na Venezuela. Entretanto, a troca de telegramas mostra outro cenário: a empresa trabalhou como uma agência de espionagem, com o objetivo de influenciar a política do país sul-americano, criando condições adequadas para o aumento da influência norte-americana.

Capriles, que obteve cerca de 45% dos votos, foi um dos líderes que se reuniu com a empresa de espionagem Stratfor

Nos emails são mencionados encontros com vários nomes da oposição venezuelana, como o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, o candidato derrotado no pleito, Henrique Capriles, Leopoldo Lopez, e o analista político direitista Rafael Poleo.

“Falei com Rafael Poleo poucos dias atrás”, diz uma fonte – segundo os telegramas, seria um proeminente economista venezuelano.

Cobrindo o período de julho de 2004 a dezembro de 2011, vários telegramas trazem conversas e informações sobre a política local. Um dos telegramas trata especificamente da campanha para as eleições presidenciais de 2012. Nele, a agência de espionagem fala de uma “revolução na Venezuela”: unir a oposição, fazer a campanha eleitoral e chamar o povo a votar (o voto é facultativo no país).

Ainda nesse telegrama, a Stratfor reconhece que seus serviços são procurados por atores políticos e a ação se desenrola em dois momentos: no primeiro instante, é feita uma análise da situação. Em um segundo momento, é aplicado um plano de ação, denominado pela empresa de espionagem como “missão”.

Há seguidas referências ao grupo sérvio CANVAS (Center for Applied Non Violent Action and Strategies, na sigla em inglês). O grupo recomenda quais os passos a serem tomados para derrubar Chávez, em um guia de “como fazer uma revolução” dentro dos limites legais e, assim, levar a oposição ao poder.

“Quando alguém nos pede ajuda, como é no caso da Vene (Venezuela), fazemos a pergunta ‘O que fazer?’, ou seja analisamos a situação (o documento de Word que te enviei) e depois vem a “missão” (o que ainda precisa ser feito) e também o conceito operacional – o plano de campanha”, diz o autor do telegrama ao destinatário.

Segundo o telegrama da Stratfor, “por causa da completa desconfiança entre os diferentes grupos da oposição venezuelana, a empresa teve que fazer a análise inicial”. A empresa diz que “cabe à oposição venezuelana saber aonde quer chegar, ou em outras palavras, depende da oposição perceber que a falta de unidade poderia fazê-los perder a eleição antes mesmo dela ter começado.”

No entanto, a empresa de espionagem afirma em seu site que apenas “dá ferramentas e informações para que os clientes executem seus planos”. Mas no caso venezuelano, “devido à debilidade da direita venezuelana em se unificar”, precisou começar seu trabalho fazendo uma análise do cenário para criar um plano de ação, diz o telegrama.

Extraído do sítio Opera Mundi

PETRÓLEO NÃO É MAIS VISTO, MAS AINDA POLUI GOLFO DO MÉXICO - Fabian Schmidt


Passados quase três anos da catástrofe na costa americana, pouco se vê do vazamento, mas o óleo liberado pela plataforma Deepwater Horizon ainda está lá: dissolvido na água ou em longas faixas no fundo do mar.

Na catástrofe da plataforma Deepwater Horizon, em abril de 2010, entre 500 mil e um milhão de toneladas de petróleo cru vazaram no Golfo do México. O acidente teve graves consequências para a vida animal: aves, mamíferos e tartarugas marinhas morreram vítimas das manchas de óleo. A limpeza das praias também implicou a destruição de muitos ninhos e locais de desova de tartaruga.

Tartaruga marinha vítima da catástrofe
Hoje, o petróleo quase não pode ser mais visto, e a normalidade parece ter retornado ao Golfo do México – os navios pesqueiros voltaram a circular, e os turistas estão novamente frequentando as praias. Mas isso não significa que o óleo desapareceu. As consequências da catástrofe ainda são sentidas. As taxas de nascimento de golfinhos, por exemplo, são atualmente bem menores do que as de antes da catástrofe.

A principal razão é que mais da metade do petróleo vazado não chegou a atingir a superfície. Ao contrário de um derramamento de óleo de um navio, onde as manchas se espalham na superfície, no acidente da Deepwater Horizon boa parte do petróleo continuou no fundo do mar.

"O poço de petróleo tinha uma enorme pressão", diz Antje Boetius, bióloga do Instituto Alfred Wegener de Pesquisas Marinhas e Polares. E como o vazamento, explica, ocorreu por uma brecha muito estreita, o petróleo acabou saindo em forma de gotas e, por isso, continua no fundo do mar. "Gotas com apenas milésimos de milímetro de tamanho possuem uma superfície tão grande em relação ao seu próprio empuxo que não conseguem mais subir. Elas ficam à deriva em meio às massas d'água", completa a especialista.

Sob forte pressão, petróleo vazou em gotinhas microscópicas e não subiu à superfície
Essas finas gotas de petróleo se misturam, entre mil e 2 mil metros de profundidade, com partículas em suspensão, como plâncton e minerais, sendo então aglutinadas. Esse processo as torna mais pesadas, fazendo com que desçam para o fundo do mar. Lá, elas formam novas manchas de óleo.

"Elas se parecem com a poeira em casa quando não é aspirada – só que em vermelho e marrom", descreve Boetius o óleo no fundo do mar, que fica depositado em camadas espessas e nos recifes de corais.

Colônia de bactérias a postos

Como no Golfo do México há uma emersão natural de petróleo, ali se instalaram bactérias que conseguem metabolizar o óleo por meio de enzimas especiais. Essa colônia de bactérias decompõe lentamente o petróleo vazado. Por um lado, isso é bom, já que o óleo desaparece, mas esse produto do metabolismo das bactérias nem sempre é inofensivo, diz Detlef Schulz-Bull, químico do Instituto Leibniz de Pesquisas do Mar Báltico.

O grau de toxicidade de produtos metabólicos bacterianos depende principalmente da composição do petróleo. O petróleo cru contém uma parcela de compostos aromáticos biorefratários altamente tóxicos. Quando as bactérias digerem a complexa mistura que compõe o petróleo, é muito difícil verificar a toxicidade dos produtos metabólicos, adverte Schulz-Bull.

O motivo está no fato de, após o processo de conversão bacteriana, a mistura de substâncias se tornar ainda mais complexa. "E também a sua toxicidade provavelmente aumenta", diz o perito marinho.

O problema principal é que os produtos metabólicos, tais como os ácidos graxos, são mais solúveis em água do que os compostos originais formados por longas cadeias de hidrocarboneto. Por esse motivo, eles também são mais fáceis de serem consumidos por micro-organismos. E, dessa forma, chegam à cadeia alimentar – do plâncton para os peixes, e destes para as baleias, golfinhos e para o prato do ser humano.

Pulverização do solvente Corexit prejudicou bactérias
Outro problema é que as bactérias consomem grande quantidade de oxigênio, que pode acabar faltando no mar. Em seguida, entram em cena outras bactérias, que não precisam de oxigênio. "Quando elas entram em ação, provocam um efeito colateral desagradável: produzem sulfureto, ou seja, sulfeto de hidrogênio como produto final, espantando assim vermes, mexilhões e peixes", acrescenta Boetius.

Por esse motivo, a princípio, os biólogos temiam que o Golfo do México pudesse se tornar uma poça pútrida. Isso, porém, não aconteceu, já que as fortes correntes proporcionam um fornecimento contínuo de oxigênio e diluem o petróleo e os produtos metabólicos bacterianos.

Solventes retardam degradação natural

No entanto, agora ficou claro que os especialistas em combate à mancha de petróleo não facilitaram o trabalho das bactérias. Para evitar que chegasse à costa, eles pulverizaram grande quantidade do solvente tóxico Corexit sobre o óleo na superfície. Isso fez com que a mancha se dissolvesse, e assim criou-se um novo problema: o óleo e o Corexit chegaram em forma dissolvida à água, contaminando bactérias, larvas de peixes e organismos microscópicos.

"No combate a catástrofes provocadas pelo vazamento de petróleo, é preciso rapidamente estabelecer prioridades", explica Boetius, que diz que, provavelmente, os responsáveis tinham esperança de salvar pássaros, tartarugas e mamíferos marinhos com o uso de Corexit. "E o Corexit faz sentido, porque consegue espalhar o óleo fino. Mas a decomposição por meio das bactérias é retardada, e, quando o petróleo submerge para o fundo do mar, a decomposição é ainda pior."

Ajuda chegou tarde demais para alguns animais
Schulz-Bull tira daí uma lição: nenhum tipo de solvente deve ser utilizado em grandes derramamentos de petróleo, porque eles escondem somente os efeitos visíveis. Embora não possa ser visto, diz o químico, o petróleo ainda está presente, e a aplicação de Corexit torna tudo pior: "Adiciona-se ao sistema milhares de produtos químicos, que não são inofensivos, mas que em si já são tóxicos. Não se melhora realmente nada."

O químico também considera um erro a queima da mancha de petróleo, como tentou-se no Golfo do México, pois quando isso é feito em temperaturas baixas surgem compostos altamente tóxicos em altas concentrações, como hidrocarbonetos aromáticos policíclicos ou dioxinas. "Isso é um absurdo do ponto de vista ecológico", afirma.

Contra vazamentos de petróleo, só resta uma coisa a fazer, segundo o químico: é preciso cercar o óleo com barreiras de contenção, bombeá-lo e, se isso não funcionar, tentar agregá-lo na superfície, através do uso de materiais ecológicos, como pedaços especiais de madeira. Em seguida, pode-se tentar retirá-lo da superfície marinha.

Extraído do sítio Deutsche Welle

DITADURA MILITAR VIOLOU DIREITOS DE 50 MIL PESSOAS, DIZ COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE - Luciano Nascimento


Brasília – Os levantamentos feitos pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) estimam que 50 mil pessoas foram, de alguma forma, afetadas e tiveram direitos violados pela repressão durante a ditadura militar. O número inclui presos, exilados, torturados, mas também familiares que perderam algum parente nas ações durante o período de 1964 a 1985, além de pessoas que sofreram algum tipo de perseguição.

A CNV reuniu nesta segunda-feira (25) representantes de comissões estaduais e de várias instituições para apresentar um balanço dos trabalhos feitos e assinar termos de cooperação com quatro organizações.

A CNV assinou termos de cooperação com a Associação Nacional de História (Anpuh), com o Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito (Conpedi), com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e com o Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro. “Estamos compartilhando nossa metodologia, nossa estratégia com uma ampla gama de comissões da verdade já criadas, algumas em criação e outros grupos que estão em processo de criação de suas comissões”, disse o coordenador da CNV, Paulo Sérgio Pinheiro.

Pinheiro disse que os convênios assinados firmam parcerias de colaboração e troca de informações. “São acordos de cooperação e basicamente põem à serviço dessas instituições nossas competências, como por exemplo, o acesso aos arquivos e eventuais convocações para depoimentos,” disse.

Recentemente, a Comissão Nacional da Verdade recebeu da Petrobras mais de 400 rolos de microfilmes, além de microfichas e documentos textuais. O material, de acordo com a CNV, ajudará a entender como o regime militar monitorava os trabalhadores da empresa.

O coordenador da CNV estima que até o momento a comissão examinou “por baixo” cerca de 30 milhões de páginas de documentos e que fez centenas de entrevistas. Pinheiro disse que, em função do volume de informações, a CNV deve continuar pesquisando até o final de 2013, quando a comissão deverá ter o esqueleto do relatório final em mãos. “O relatório tem que estar nas mãos da presidenta da República até dia 16 de maio. Em princípio, acordamos entre nós que até dezembro a grande minuta do relatório tem que estar pronta”, disse.

Extraído do sítio Agência Brasil

VITÓRIA DE ARGO NO OSCAR ANUNCIADA POR MICHELLE OBAMA GERA CRÍTICAS NO IRÃ

Para agências de notícias oficiais, filme distorce a realidade e premiação se torna política.

Cartoon de Carlos Latuff - Opera Mundi
O anúncio da vitória do Oscar de melhor filme para "Argo", de Ben Affleck, realizado pela primeira-dama Michelle Obama, gerou forte repercussão no Irã. As agências de informação locais classificaram o filme de “distorção da história” e a participação da esposa de Barack Obama de “politização dos prêmios”. "Argo" é uma história de ficção baseada em fatos reais que relata o resgate de seis funcionários da Embaixada dos Estados Unidos em Teerã em 1980, logo no início da Revolução Islâmica no país.

A agência Mehr afirmou que "o Oscar mais político" foi concedido para "um filme anti-Irã" e acrescentou que o fato de Michelle Obama ter feito o anúncio foi um claro indício da politização dos prêmios. Com este Oscar, "Hollywood sacrifica o cinema artístico e de qualidade para premiar as palavras políticas de ordem e a distorção da realidade", disse a Mehr, que destacou outro filme indicado, "Lincoln", de Steven Spielberg, como merecedor do prêmio de melhor filme.

A agência estudantil iraniana "Isna" afirmou que "Argo" é um filme que "distorce a história" e classificou o filme como "político". Segundo a Isna, Hollywood "tenta colocar um filme vulgar no mesmo nível das melhores obras do cinema" com esta premiação.

Já o cineasta iraniano Behruz Afjami, em comentários divulgados pela Mehr, afirmou que "Argo" foi produzido "com fins propagandísticos" e que o fato de ter ganhado o Oscar de melhor filme "é o maior golpe contra o prestígio da Academia de Hollywood".

No site do jornal "Aftab", outro cineasta local, Sirus Alvand, disse: "'Argo' não merecia o Oscar; se não fosse pelo tema, sua produção não o mereceria por nada".

A fita dirigida e protagonizada por Ben Affleck é um drama político sobre o rocambolesco resgate de seis funcionários da Embaixada dos Estados Unidos em Teerã em 1980, durante o episódio histórico conhecido como “crise dos reféns”, e também conseguiu os prêmios Oscar de melhor roteiro adaptado e melhor edição.

Após o triunfo da Revolução Islâmica do Irã, no dia 4 de novembro de 1979 um grupo de estudantes islâmicos, com apoio do regime, ocupou a Embaixada dos EUA em Teerã durante 444 dias, e mantiveram 66 cidadãos americanos como reféns no princípio, dos quais 52 ficaram até o final.

Em maio de 1980, Washington rompeu suas relações com Teerã, cujo regime era liderado pelo fundador da República Islâmica do Irã, o aiatolá Khomeini.

* Com informações da agência de notícias.

Extraído do sítio Opera Mundi

25 fevereiro 2013

ESQUERDA: CAMINHO DO CORAÇÃO - Rodolpho Motta Lima


Pode parecer redundante (e, cá para nós, é mesmo) a insistência com que esta coluna se refere aos temperos e destemperos da mídia global ao tratar da matéria política em nosso país. Além das inúmeras razões já exaustivamente expostas para essa insistência, a verdade é que ela também tem motivos históricos. A vantagem dos cabelos grisalhos (se é que existe) é que aquele que os detém pode falar daquilo que vivenciou, que testemunhou. Nos tempos da ditadura, presenciei a sustentação que essa mídia deu ao regime militar da repressão, dos assassinatos e das torturas. De lá para cá, lembro-me de muitos episódios antidemocráticos em que ela se envolveu e não é por acaso que , no ambiente da internet, já esteja carimbada como um dos componentes da sigla PIG (Partido da Imprensa Golpista). Quer alguns deles? Pesquise o caso da Proconsult, a edição do debate Lula x Collor, o episódio da “bolinha de papel” do Serra...

Essa apregoada hegemonia de audiência deveria trazer consigo responsabilidades com o povo que a sustenta. Não é assim, porém, que a banda toca e, lamentavelmente, em nome dos interesses neoliberais, valem todos os recursos para iludir, desinformar, alienar, suprimindo-se a importância daquilo que não interessa destacar e conferindo-se um relevo desproporcional a tudo que ajuda a construir uma não disfarçada plataforma político-ideológica. Um verdadeiro partido, mas que dispõe de meios inacessíveis a qualquer organização partidária, com a vantagem de que não se submete a eleições e praticamente fala sozinho...

Mas esse quadro monopolista nefasto, se bem analisado, deixa nu algo que se tenta enfaticamente negar ou esconder: não morreram as ideologias e, queiramos ou não, todos somos tendentes, em nossa visão do mundo, a trilhar caminhos em que o coração nos leva para a esquerda ou para a direita.

Se a queda do muro e a própria globalização constituíram “vitórias” da direita – chegando-se a apregoar, então, um mundo ideologicamente unificado - , não demorou muito para que essa fosse uma vitória de Pirro, a julgar pelas crises que o nada civilizado capitalismo vem impondo ao mundo. Voltam a ser discutidas alternativas a esse sistema que, no fundo, busca perpetuar elites dominantes e fortíssimas corporações financeiras. As massas estão indo às ruas com movimentos de ocupação para defender valores sociais e exigir a representação de seus autênticos interesses. Não é por acaso que, na América Latina, proliferam, hoje, governos nitidamente de esquerda, eleitos pelo povo, na Venezuela, na Bolívia, no Equador, no Uruguai etc . E mesmo aqui, apesar de uma certa despersonalização ideológica, fruto da funesta “governabilidade” que impõe a participação dos Sarneys, dos Calheiros e outros do gênero .

Voltando a mídia e seus desígnios, saúdo o texto de Mário Augusto Jakobskind sobre a vinda da blogueira cubana Yoáni Sánchez ao Brasil, e endosso por inteiro o que ali se contém. Na tentativa de dar à discutida personagem um destaque que ela não tem, fazem isso com tal estardalhaço que, é claro, acabam por provocar reações cujo acerto nem quero discutir, fruto do inconformismo dos que enxergam nessa farta cobertura o mesmo jeito unilateral e manipulador de sempre, onde o contraditório não se manifesta. Afinal, há muitos cubanos que poderiam vir ao Brasil para falar bem do seu país. E se alguém quiser argumentar que estariam “a serviço do regime castrista”, é claro que podem também valer os argumentos dos que acham que Yoáni está a serviço de outras entidades... Se ‘O Globo” pode intitular os manifestantes contrários à cubana de componentes de uma “minoria histérica” – usando o recurso de sempre, de se valer de “especialistas” colhidos a dedo - é evidente que a direita pode esperar retaliações e qualificações pouco nobres para os seus representantes e é óbvio que nem todas serão controladas pelos gritos do Senador Suplicy. É o confronto entre direita e esquerda em plena atividade...

Um detalhe significativo, que, embora pareça insignificante, torna óbvia a luta ideológica que se trava em nosso país: na edição de quarta-feira, dia 20.02, o Jornal “O Globo” – repetindo o que fizera o Jornal Nacional no dia anterior – dedica espaço bem maior às escaramuças que envolveram a cubana do que ao pronunciamento da mais importante de nossas mulheres, a Presidenta Dilma, sobre as últimas medidas que buscam a extinção da miséria no país. Nada mais emblemático: Cuba é, historicamente, muito mais um problema para os americanos do que para nós. Afinal, é uma ilhazinha que ousou enfrentar o império do Norte e que, ao longo de mais de 50 anos, jamais permitiu ao poderoso vizinho – mesmo com a vergonhosa Guantánamo em suas entranhas – promover a volta do antigo sistema de quintal

O nosso problema, imensamente maior, é mesmo a desigualdade, que cerca de indignidade a existência de milhões de brasileiros miseráveis. Ao privilegiar Yoáni em relação a Dilma, os globais deixam bem claras suas posições, seus interesses, seus compromissos, suas posturas de direita que transcendem o ambiente nacional. E robustecem as teses de quem considera que é preciso mudar esse panorama midiático, o mais urgentemente possível. Quanto à dicotomia esquerda x direita, está mais evidente do que nunca. No fundo, além dos racionais aspectos econômicos, ela reflete a forma como cada um se sente, a direção para a qual cada coração aponta. O meu, por exemplo, volta-se assumidamente para a esquerda e, a esta altura, nem penso em mudar-lhe o rumo. Ele vai muito bem assim, obrigado... 

Extraído do sítio Direto da Redação

24 fevereiro 2013

NOTA DE ESCLARECIMENTO SOBRE REPORTAGEM NO GLOBO - José Dirceu

Nota de esclarecimento sobre a reportagem publicada ontem, sexta-feira, no jornal O Globo com declarações minhas sobre a Lei da Ficha Limpa...

Isoladas e sem o devido contexto, minhas declarações reproduzidas na reportagem tendem a induzir eventuais equívocos em sua interpretação.

Minhas objeções à Ficha Limpa se referem a características pontuais, e não à sua essência. O que critiquei – e sempre o fiz desde o início – são o caráter retroativo e o fato de a lei tornar como definitivas e transitadas em julgado decisões adotadas em segunda instância.

Eu já havia manifestado tal posicionamento em 2011, por exemplo, louvando a iniciativa da Ficha Limpa, mas alertando para estes dois pontos (veja aqui ).

A esse propósito, é importante destacar que, em fevereiro de 2012, quando o Supremo Tribunal Federal decidiu que a lei era constitucional, quatro ministros votaram contrariamente, alertando justamente para o fato da retroatividade. Para eles, a lei deveria valer apenas para quem for condenado depois que norma começou a vigorar.

Portanto, tanto é legítima minha crítica que o próprio Supremo decidiu sua validade por pequena maioria (sete votos a quatro), mais de um ano após haver empate sobre o mesmo assunto na Corte, sem consenso sobre sua constitucionalidade naquela ocasião.

Aproveito para rejeitar, mais uma vez, a tentativa frequente de associação entre o PT e a contestação à Ficha Limpa. Dados do Tribunal Superior Eleitoral e dos Tribunais Regionais Eleitorais mostram que o PT é um partido ficha limpa – o que deixa claro que a legenda não tem motivos para temer tal lei.

Extraído do Blog do Zé Dirceu

"O ALTO COMISSÁRIO DO GOLBERY NÃO TOMA JEITO" - Tarso Genro

Como Elio Gaspari foi do velho Partidão e depois se tornou confidente do General Golbery, fazendo, a partir daí, uma carreira de jornalista mordaz e corregedor de todos os hábitos do país, ele se dá o direito de não só inventar tolices nas suas colunas, como também enganar os mais desavisados.

Defende as suas teses principalmente a partir da falsificação da posição dos seus adversários de opinião. Para defendê-las, Elio sempre desqualifica os seus adversários com textos de estilo ferino, que não raro beiram a difamação. Os que se sentem agredidos raramente se defendem, não só porque ele não publica as respostas na sua coluna, mas porque talvez temam despertar nele uma ira ainda maior, que também não abre espaços para o contraditório.

Já fui alvo algumas vezes das suas distorções e falsificações, mas sobre este tema da reforma política preciso responder formalmente, porque se trata de um assunto extremamente relevante para o aperfeiçoamento democrático do país, sobre o qual existem divergências elevadas, tanto dentro da esquerda como da direita democrática.

A estratégia usada por Elio Gaspari para promover suas crônicas foi muito comum na época da ditadura, quando o SNI - através de articulistas cooptados - recheava de informações manipuladas a grande imprensa, sobre a “subversão” e as “badernas estudantis”. O regime tentava, desta forma, tanto manter o controle da opinião pública, como dividir a oposição legal e a clandestina, num cenário em que povo já estava cansado do regime. Elio Gaspari parece que se contaminou com este vício e combinou-o com uma arrogância olímpica: desqualifica todo mundo, não respeita ninguém, o que pode significar uma volúpia de desrespeito a si mesmo, ensejada pela sua trajetória como jornalista com idéias muito próximas de um ceticismo anarco-direitista.

Vários dirigentes políticos, tanto da oposição como da situação - da direita e da esquerda - que não estão satisfeitos com o sistema político atual, debatem uma saída: uma reforma política para melhorar a democracia no país. Todos sabemos que não existe um sistema ideal e perfeito, mas que é possível uma melhora no sistema atual, que pode tornar mais decente a representação e os próprios partidos. Este debate para melhorar a democracia e dar maior coerência ao sistema de representação tem despertado a santa ira de Elio Gaspari, que dispara para todos os lados, mas nunca diz realmente qual é a sua posição sobre o assunto.

No seu artigo “O comissariado não toma jeito”, no qual sou citado nominalmente como defensor de fisiologismos, ele atinge o auge na deformação das opiniões de pessoas que ele não concorda. Vincula, inclusive de maneira sórdida estas opiniões a dirigentes políticos condenados na ação penal 470, para aproveitar a onda midiática que recorre diariamente a estas condenações, não só para desmoralizar a política e os partidos, mas para tentar recuperar os desastrados anos do projeto neoliberal no país, nos quais, como todos sabemos, não ocorreu nenhuma corrupção ou fisiologismo.

As deformações de Elio são explícitas quando ele examina dois pontos importantes da reforma política: o “voto em lista fechada” e o “financiamento público” das campanhas eleitorais. Sobre o voto em lista “fechada” ele argumenta, em resumo, que a “escolha deixa de ser do eleitor”, que vota numa lista preparada pelo Partido, que captura o seu direito de escolha.

Pergunto: será que Elio não sabe que a escolha na “lista aberta” (sistema atual), é feita, também, a partir de uma relação de nomes que é organizada pelos Partidos? E mais: será que Elio não sabe que a diferença entre um e outro sistema é que, no atual, o voto vai para a “fundo” de votos da legenda e acaba premiando qualquer um dos mais votados da lista, sem o mínimo nexo com a vontade do eleitor? Repito, qualquer um da lista, sem que o eleitor possa saber quem ele está ajudando eleger!

Na lista fechada é exatamente o contrário. O eleitor sabe em quem ele está votando. E sabe da “ordem de preferência”, que o seu voto vai chancelar, a partir do número de votos que o Partido vai amealhar nas eleições. O eleitor faz, então, previamente, uma opção partidária - inclusive a partir da qualidade da própria lista que os Partidos apresentaram - e fica sabendo, não só quem compõe a lista do seu partido, mas também a ordem dos nomes que vão ter a preferência do seu voto.

Na lista aberta, ao invés de crescer o poder político dos partidos - que Elio parece desprezar do alto da sua superioridade golberyana - o que aumenta é o poder eleitoral pessoal de candidatos que, neste sistema de lista aberta, carreiam os votos dos eleitores para qualquer desconhecido. Por mais respeito humano que se tenha por figuras folclóricas que ajudam eleger pessoas com meia dúzia de votos, não se pode dizer que a sua influência pessoal possa ser melhor que a influência das comunidades partidárias, por mais defeitos que elas tenham.

A tegiversação sobre o financiamento público das campanhas não é ridícula, porque é simplesmente uma falcatrua argumentativa. Elio diz que este tipo de financiamento não acabará com o “caixa 2” e que tal procedimento vai levar a conta para o povo, que ele chama gentilmente de “patuléia”. Vejamos se estes argumentos são sérios.

Primeiro: ninguém tem a ilusão de acabar com o “caixa 2”, que acompanhará as campanhas, enquanto tivermos eleições. O que devemos e podemos buscar é um sistema que possa diminuí-la, substancialmente, através - por exemplo - de um controle “on line”, de todos os gastos das campanhas, num sistema financiado por recursos conhecidos e previamente distribuídos aos partidos.

Este sistema certamente diminuirá a dependência dos partidos em relação aos empresários e permitirá um controle mais detalhado dos gastos, pois cada partido terá um valor previamente arbitrado, para ser fiscalizado à medida que os recursos forem sendo gastos. Reduzir, portanto, a força do poder econômico sobre as eleições, este é o objetivo central do financiamento público.

Quanto à transferência das despesas para o povo, qualquer aluno do General Golbery - digo aqui da modesta situação de fisiológico que me foi imputada - sabe que as contribuições dadas pelas empresas aos partidos e aos políticos, são “custos” de funcionamento de uma empresa, que integram o preço dos seus produtos e serviços, que são comprados pelo consumidor comum ou pelo Estado.

Quem paga por tudo, sempre, é o povo que trabalha e compra e o Estado que encomenda, compra e paga. O defensor da patuléia, portanto, não está defendendo nem a “viúva” metafórica nem o Estado concreto. Está, sim, defendendo a atual influência do poder econômico sobre os processos eleitorais, de uma forma aparentemente moralista, mas concretamente interessada: acha que o sistema assim está bem. Uma forma de fisiologismo altamente disfarçado. O alto comissário do Golbery não toma jeito.

* Tarso Genro é Governador do Rio Grande do Sul.

Extraído do sítio Carta Maior